Introdução
Os debates acerca da Base Nacional Curricular Comum
[BNCC] possibilitaram importantes reflexões públicas acerca do lugar ocupado
pela História enquanto disciplina escolar e, consequentemente, acerca daquilo
que era/é abordado em sala de aula. Nesse sentido ganhou visibilidade
[principalmente nas considerações sobre a primeira e segunda versão da BNCC] a
discussão sobre a pertinência, ou não, de se estudar História Antiga e Medieval
num país como o Brasil. No caso de afirmações positivas, outras indagações eram
necessárias: como estudá-las? Que usos do passado queremos e devemos realizar?
Guarinello [2013], ao escrever sobre a História Antiga, argumentou que a mesma faz
parte do repertório cultural brasileiro ocupando um papel importante na
construção de nossa identidade que, desde o século XIX, foi alvo de um projeto
de ocidentalização empreendido de forma consciente por nossas elites políticas
e intelectuais. Tal afirmação pode ser estendida para pensarmos a chamada Idade
Média. Sobre a questão, Pereira e Giacomoni [2019] enfatizam que há um uso
político do chamado passado medieval; uso esse que [longe de possibilitar um
conhecimento historiograficamente orientado sobre tal temporalidade] colaboram
para perpetuar e “[...] justificar posições conservadoras, preconceituosas e
discriminatórias, atingindo minorias, religiosidades e outras formas de
existências e de vida que não fazem parte da sua visão do que seria a
Civilização Ocidental” [s/p.].
Os apontamentos acima fazem com que os medievalistas,
tal qual Berriel [2020], argumentem sobre a necessidade dos estudos da área
dialogarem com os teóricos dos estudos de pós-colonialismo e decolonidade.
Nesse sentido, descolonizar a Idade Média significa muito mais que apenas
reconhecer que o termo em questão é uma construção européia, nascida durante a
Modernidade e que traz em si os fundamentos colonialistas. Embasado em Maria de
Lourdes Rosa, o autor defende que decolonizar a Idade Média significa romper
definitivamente com uma História universal cujo centro seria a Europa.
A partir da leitura de Teixeira e Pereira [2016]
podemos argumentar que o estudo e ensino de História Medieval não podem ser
reduzido a uma visão caricaturada de “pertencimento de teor conservador”, ao
contrário, podem nos instrumentalizar para compreendermos fenômenos políticos e
sociais do presente como, por exemplo, as complexas questões envolvendo o
“mundo árabe” e o Islã; principalmente num contexto em que “ [...] o Estado
Islâmico se apropria de formações políticas medievais [o califado] e assume um
discurso ‘cruzadista’ de retomada dos territórios da Península Ibérica.”
[TEIXEIRA, PEREIRA, 2016, p.24]
Neste ponto argumentamos que estudar a Idade Média,
principalmente tendo a cultura islâmica como ponto de partida, significa estar
atento às demandas políticas, sociais e acadêmicas do presente.
“Uma das maiores dívidas da produção humanística
brasileira, dentro ou fora da academia, é com questões relativas ao Oriente
Médio, quaisquer que sejam elas. São poucos os historiadores, críticos
literários, sociólogos, estudiosos de filosofia, enfim, de qualquer área das
humanidades, que se dedicam ao assunto.” [JAROUCHE, 2012, p. 3]
De acordo com Jarouche [2012] ainda que acontecimentos
como o 11 de Setembro de 2001 e, uma década depois, os movimentos políticos e
sociais denominados de Primavera Árabe tenham despertado o interesse de
estudiosos brasileiros para temas referentes ao Oriente Médio e a Cultura
Árabe, estes assuntos ainda podem ser considerados marginalizados.
Tendo em vista a produção do conhecimento histórico e
sua capacidade para questionar estereótipos acerca do passado e do presente,
vale destacar que, de acordo com Bissio [2012] - ao contrário de uma caricatura que torna o
Islã representante do atraso e da
ignorância em oposição a um mundo Ocidental culto e civilizado herdeiro da
chamada cultura greco-romana - durante a Idade Média “foram os árabes herdeiros
e sucessores da ciência helênica” permitindo que os territórios ocupados por
esse grupo fossem um espaço de grande efervescência cultural e intelectual.
Parte dessa produção intelectual árabe produzida ao
longo do medievo esteve relacionada com as viagens empreendidas por esses povos
naquele contexto. Entre os vestígios produzidos nessas ocasiões encontramos o
relato de Ahmad Ibn Fadlan, escrito no século X, intitulado no Brasil de Viagem
ao Volga. É nesse relato que dedicaremos nossa atenção.
Sobre a
fonte
No século X Ahmad Ibn Fadlãn recebeu uma ordem do
califa da dinastia abássida Almuqtadir Billãh para deslocar-se até o reino dos
búlgaros do Volga [na região da atual Bolgar, Rússia] visando atender a
solicitação do rei dos búlgaros, realizada por meio de uma carta endereçada ao
citado califa, pedindo auxílio na construção de uma mesquita, um mimbar e um
forte de proteção. O pedido, que oficialmente tinha como base um suposto
interesse em propagar o Islã enquanto fé, tinha nas entrelinhas uma dimensão
política: visava o apoio do califa contra aqueles que visavam subjugar os
eslavos [CRIADO, 2019].
As solicitações foram recebidas e aceitas pelo califa
que enviou uma comitiva encarregada de entregar
à Almas Ibn Yaltw-ar dinheiro e orientações acerca da fé islâmica. Ibn
Fadlãn participou dessa comitiva na condição de secretário-geral do califa e
porta-voz dos fiéis. Nesse sentido, podemos argumentar que a viagem empreendida
por Ibn Fadlãn, e realizada entre
921-922 d.C ou, 309-310 H. [Hégira], foi de caráter oficial e político/diplomática
[CRIADO, 2019].
De acordo com Criado [2019] o relato de viagem
produzido por Ibn Fadlãn foi utilizado no século XIII d.C [VII H.] sendo,
depois disso, encontrado novamente, ainda que de forma incompleta [pois não há
vestígios do retorno à Bagdá] somente em 1923 no Irã. O pesquisador ainda nos
informa que essa versão parcial passou a circular em 1939.
O referido relato circulava em vários idiomas; entre
eles o inglês [versão mais procurada pelos estudiosos de literatura árabe que
desejavam ter contato com a obra]. Em 2018 a editora Carambaia, numa parceria
realizada com Pedro Criado, publicou uma versão em português traduzida
diretamente do árabe. A grande procura fez com que uma nova edição
bilíngue fosse publicada em 2019
[CRIADO, 2021], versão essa utilizada neste trabalho.
Sobre a pertinência da fonte enquanto objeto de estudo
historiográfico cabe aqui os apontamentos realizados pelo seu tradutor, Pedro
Criado [2019]:1] apesar de não podermos definir exatamente qual o impacto desse
relato para viajantes e estudiosos que vieram depois de Fadlãn, é inegável sua influência, uma vez que a cultura árabe o
consagrou como um dos principais representantes do espírito e legado islâmico
de sua época. 2] O relato de viagem de Ibn Fadlãn possibilita compreendermos e
estudarmos regiões distintas como o norte e o leste europeu, assim como
sudoeste asiático e Islã; 3] além de ser o único testemunho ocular de uma
cerimônia funeral viking, o que influenciou no modo como tal cultura foi vista
ao longo do tempo dentro e fora das produções acadêmicas, sendo o filme 13º
Guerreiro, de 1999 [produzido por John McTiernan e Michael Crichton e estrelado
por Antonio Banderas] um exemplo desse fenômeno. 4] Por se tratar de um relato
produzido por um observador atento, o leitor/analista do relato consegue não apenas
visualizar as imagens e situações por ele descritas, mas também entender
questões como alteridade e subjetividade presentes na narrativa.
A viagem
Viagem ao Volga pode ser inserido no gênero textual
literatura de viagem [CRIADO, 2021]. Cabe destacarmos dois pontos: o
significado da viagem para o Islã medieval e dos produtos dessas viagens que
aqui estamos denominando de literatura de viagem. Aqui recorremos à Bissio
[2010, p.5] que argumenta o seguinte:
“Para os muçulmanos, todo conhecimento humano, seja
relacionado à religião ou não, tem a sua origem em Allah, o Deus único e o
escopo do que os seres humanos podem conhecer é claramente delimitado pelo
Corão, que invoca a onisciência de Deus [BISSIO, 2010, p.5 ].”
De acordo com a autora, no mundo islâmico medieval a
viagem possuía dois sentidos: 1] era uma forma de expressar a fé e, além disso
2] constituía-se de um mecanismo de construção do saber sendo que estes dois
elementos estavam articulados. No que
diz respeito ao primeiro ponto, a autora nos relembra que um dos cinco
fundamentos do Islã é a peregrinação à Meca. Isso fazia com que mulçumanos, de
al-Andalus até Índia e China, se deslocassem a fim de cumprirem suas obrigações
rituais.
A peregrinação, viagem de cunho religioso, fazia parte
do mundo muçulmano que replicava os passos de seu profeta como uma jornada em
busca de sabedoria e iluminação divina. O Corão, livro sagrado do Islã,
transcrito a partir das falas do profeta, contendo 114 suras, foi considerado
por tempo
"A única fonte aceita pelos muçulmanos para
orientar-lhes a conduta. Mas logo ficou claro que ele era insuficiente para dar
conta de todas as situações que iam se apresentando e exigiam respostas.”
[BISSIO, 2010,p.2]
Especialistas foram assumindo a missão de, dentro dos
domínios islâmicos, reunir testemunhos e decisões do profeta Maomé e que
pudessem servir de referência para os fiéis. Desta feita, a viagem além de ser
um dos fundamentos do Islã, também colaborou para sua ampliação e
adaptação. Nesse sentido, a autora nos
informa que:
“[...] a viagem como método de estudo foi, durante a
Idade Média, assumida como um dever por todos os muçulmanos que aspiravam a
integrar o círculo dos eruditos, fossem eles a especializar-se em ciências
corânicas, ou em ciências naturais - astronomia, matemáticas, medicina - que
também adquiriram grande desenvolvimento. A viagem pode ser considerada um tema
que unificou a história do Islã medieval.” [BISSIO, 2010, p.3]
Com uma cultura que tanto valorizava as letras e o ato
de viajar surgiu na civilização árabe textos sobre tais experiências. São
registros e contos daqueles que viajavam em decorrência das mais distintas
razões: comércio, religião, busca por
conhecimento ou guiados pela própria curiosidade. Viajar se tornou um
ato característico do povo arábe, mesmo que para eles já fosse reconhecido os
riscos de tal ato: contrair doenças, se deparar com assaltos, desvios de rota e
ocasionalmente morte. Ibn Fadlãn, por exemplo, não apenas é consciente desses
perigos a serem enfrentados, como também o expressa em vários momentos de sua
narrativa. Estes perigos são perceptíveis na própria escolha do trajeto a ser
realizado: a opção por um caminho longo está relacionado com a consciência de se
evitar passar por territórios de grupos inimigos. Os perigos da viagem podem
ser vistos em passagens tais como:
“[...]Também lhe foi solicitado que nos deixasse
seguir em frente e enviasse uma carta ao seu governante em HuWarizm para que
ele não dificultasse a nossa passagem e outra ao guardião do portão dos turcos
para que nos escoltassem e não pusessem nenhuma dificuldade à nossa passagem.”
[IBN FADLÃN, 2019, p. 27]
O trecho acima demonstra que mesmo em territórios
aliados, uma série de medidas eram necessárias para garantir ao viajante chegar
ao seu destino com o mínimo de segurança. Tais questões nos fazem compreender
as razões pelas quais aqueles que partiam passavam por ritos de purificação
sendo-lhes inclusive recomendado que deixassem por escrito seu testamento
[BISSIO, 2010].
Apesar dos riscos de diferente natureza que poderiam
surgir ao longo da viagem, o próprio percurso era compreendido como fonte de
experiências e, portanto, conhecimento [BISSIO, 2010]. No relato de Ibn Fadlãn
há em vários momentos descrições sobre seu espanto acerca de práticas culturais
totalmente distintas daquelas com as quais ele estava acostumado em seu lugar
de origem. Em alguns momentos as diferenças são lidas a partir de um olhar
negativo, em outros elas possibilitam importantes reflexões, inclusive sobre si
mesmo e suas crenças e costumes.
Destacamos os trechos em que o tema da higiene é
colocado em questão pelo viajante. Dentre os vários relatos sobre o assunto,
apresentamos o seguinte:
“Eles são as mais imundas criaturas de Deus. Não se
limpam depois de defecar ou urinar, não se lavam depois das impurezas rituais e
não lavam as mãos depois de comer [...] Todos os dias, impreterivelmente, eles
lavam o rosto e a cabeça com a água mais imunda e nojenta que há.” [IBN FADLÃN,
2019, p. 80-81]
A seguir o relato destaca a prática de, um a um, os
homem se lavarem utilizando a mesma bacia [com a mesma água] apesar das pessoas
que utilizaram o recipiente anteriormente terem assoado o nariz e cuspido nela.
Neste ponto chamamos a atenção para a observação realizada por Bissio [2010] de
que o relato de viagem mulçumano, ao contrário dos relatos cristãos, possuem
como princípio conhecer a si mesmo. Aqui podemos ressaltar a temática da
higiene. Criado [2010] nos chama atenção para o fato das cinco orações diárias
serem um dos pilares do Islã. Para a realização adequada do rito, antes da
oração é realizada a ablução sendo, portanto,
diariamente cinco. O relato de Ibn Fadlãn nos apresenta a questão de que
“a higiene enquanto um valor” [CRIADO, 2021], portanto algo praticado
cotidianamente e por todos os grupos, é um hábito socialmente construído
constatação que o viajante só pôde perceber ao vivenciar a experiência da
viagem e observar em lócus que outros povos poderiam, e possuíam, práticas
distintas das suas.
A questão feminina é outro ponto em que a alteridade é
acentuada no relato analisado. Ao falar dos Oguzes e suas mulheres, o viajante
fez a seguinte descrição: “Suas mulheres não se cobrem na presença de homens,
conhecidos ou forasteiros. Da mesma forma, uma mulher não esconde nada de seu
corpo diante de ninguém” [IBN FADLÃN, 2019, p. 37]. Neste momento, Ibn Fadlãn descreve seu
constrangimento diante de comportamentos tão diferentes dos quais estava
habituado podendo ser observado em expressões como “escondemos os olhos.” [IBN
FADLÃN, 2019, p. 38]
Entretanto, se o relato é a descrição e a análise de
um viajante sobre aquilo que viu e ouviu durante seu percurso, em vários
momentos há também vestígios sobre o fato de que aqueles povos citados na obra
também olhavam para Ibn Fadlãn e os demais membros da comitiva com um olhar
crítico. Um exemplo disso está na continuação da passagem, quando é descrito
que o marido da mulher citada por Ibn Fadlãn ri dele e dos demais que demonstraram
não estarem confortáveis com a situação. Vemos, portanto, que aquilo que
podemos chamar de choque cultural não é uma via de mão única e pode
possibilitar aos envolvidos reflexões sobre aquilo que creem e praticam.
Breves
considerações
Durante o medievo as viagens entre os mulçumanos se
caracterizaram como importante instrumento de expressão da fé e de aquisição de
conhecimento, sendo importante destacar não apenas o conhecimento em relação ao
“outro”, mas também em relação a si: suas práticas, crenças, costumes e tudo o
mais que pudesse caracterizar o viajante como um fiel de Allah. No caso do
relato em questão, o contato com povos não arabizados (ou em vias de tornar-se)
possibilitou ao viajante contato não apenas com climas e vegetações totalmente
distintas daquela de Bagdá, mas também com práticas e valores que, em quase
nada, se assemelhavam aos seus. Embora estejamos olhando tudo a partir da
perspectiva de Ibn Fadlãn, encontramos em sua narrativa indícios de que
enquanto ele observava [e por vezes julgava] tudo atentamente, os grupos com os
quais teve contato também faziam o mesmo com ele e sua comitiva.
Referências
Felipe Lomba Ferreira é graduando em Licenciatura em
História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e estuda em sua iniciação
a construção identitária armênia a partir do cinema.
Bruna Alves Lopes é graduada em Licenciatura em
História, mestre e doutora em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG). É professora colaboradora do Departamento de
História da mesma instituição.
BERRIEL, Marcelo Santiago. Pour un autre Moyan Age au
Brésil: a perspectiva decolonial na busca de uma episteme para a compreensão
dos medievalismos brasileiros. Revista Antíteses, Londrina, v.13, n.26, 2020.
p. 68-96.
BISSIO, Beatriz. A viagem e suas narrativas
no Islã medieval. REVISTA
LITTERIS, 2010. p.
BISSIO,
Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe islâmica clássica através da
obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2012.
CRIADO,
Pedro Martins. Apresentação: a viagem de um relato. In: IBN FADLÃN, Ahmad.
Viagem ao Volga. São Paulo: Carambaia, 2019.
CRIADO,
Pedro Martins. Clube de leitura na quarentena: conversa sobre o livro Viagem ao
Volga. Youtube, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cGiSx2kdFkE&t=146s&ab_channel=EditoraCarambaia . Acesso 18/09/2022.
CRIADO,
Pedro Martins; JUNIOR, Afonso. Viajantes do islã medieval. Youtube, 2021.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=kObr18V3s7Q . Acesso 18/09/2022.
GUARINELLO,
Norberto Luiz.História Antiga. São Paulo, Contexto.2013.
GOODY,
Jack. A ideia de um Renascimento. In Renascimento: Um ou Muitos?. São Paulo,
Fundação Editora da UNESP [FEU], 2011.
IBN
FADLÃN, Ahmad. Viagem ao Volga. São Paulo: Carambaia, 2019.
JAROUCHE,
Mamede Mustafa. Prefácio. In: BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a
civilização árabe islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn
Battuta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
PEREIRA,
Nilton Mullet; GIACOMANI, Marcello Paniz. A Idade Média Imaginada: usos do
passado medieval no tempo presente. Café História. 2019. Disponível em:
https://www.cafehistoria.com.br/usos-do-passado-medieval-idade-media/#:~:text=A%20Idade%20M%C3%A9dia%20foi%20palco,filos%C3%B3fica%20e%20de%20mulheres%20escritoras.
Acesso: 17/09/22.
TEIXEIRA, Igor Salomão; PEREIRA, Nilton
Mullet. A Idade Média nos currículos escolares: as controvérsias nos debates
sobre a BNCC. Diálogos. Vol.20. n.3.2016. p.16-29.
Boa tarde. Bem interessante a abordagem dos usos do passado medieval e a formas de olhar o Islã em uma perspectiva decolonial. Os relatos de viagem e os hadiths são importantes nesse processo. Mesmo sabendo que o trabalho foi direcionado a outra fonte, gostaria de saber sua opinião acadêmica sobre o seguinte ponto, já que é algo que também tangencia a introdução de vocês: a interpretação de documentos de época, como o Corão e os hadiths, como base/justificativa para as ações dos Estados Islâmicos.
ResponderExcluirGrata.
Vanessa dos Santos Bodstein Bivar
Bom dia, Vanessa! Agradecemos sua leitura e comentário. Acreditamos que temos uma carência de conhecimento tanto sobre os povos árabes quanto sobre o Islã que, desde sua origem, sempre foi muito plural; e esse desconhecimento nos leva a certa caricaturas. No caso do chamado Estado Islâmico acredito que fazemos uma leitura apropriada a partir da perspectiva do usos do passado, pois por mais que esses grupos queiram reivindicar uma leitura "pura" em relação aos livros sagrados, vemos que essa leitura é muito marcada por questões políticas/sociais do presente. Há um texto do Gilvan e da Gilvana Gomes intitulado Inventar uma Sunnah:
Excluiro Estado Islâmico, salafismo e inovação que discute muito bem isso.
Muito obrigada
ExcluirBoa Noite carissimos , Felipe e Bruna ,grato pelas publicaçoes . Sou estudante de Antropologia iniciando e tenho grande interesse nas viagens arabes aos Orientes , principalmente Ibn Faldlan , Ibn Battuta e Ibn Khaudun ,muito interessante as referencias a essa "Filosofia do Peregrino '' no mundo arabe. Eu assisto canais da Indonesia ,por exemplo e vejo nos noticiarios deles as mulheres usando o hijab ,vejo o quanto foram longe nossos irmaos arabes e suas influencias culturais no Sudeste Asiatico. Baseado na dissertaçao da Viagem ao Volga e sua importancia para compreendermos os arabes ,sem o etnocentrismo europeu, porque nosso pais ainda inssiste em ignorar essa rica cultura ,visto que e crescente o numero de pessoas que demonstram interesse nessas tradiçoes culturais ? Poderiam avaliar qual o tamanho do prejuizo e atrazo que nos temos por ignorar esse mundo tao plural dos nossos irmaos arabes ?Grato, Ricardo dos Santos Barbarra.
ResponderExcluirBoa tarde Ricardo! Ficamos muito contentes em saber de seu interesse pelo tema. Penso que para responder a primeira questão temos que considerar diversos fatores como não só a histórica tentativa de apagamento de culturas não europeias como também o reavivamento de esteriótipos e da xenofobia advindas da Guerra ao Terror, tendo em vista que a mesma tomou o aspecto de uma cruzada contra o Oriente. Creio que esse desinteresse pelo Oriente Próximo é herdado dos antigos colonos e reproduzido até os dias de hoje. Para a segunda questão acho importante a concepção de Paul Veyne da história como "Viagem ao Outro", negando o outro vamos contra nosso próprio trabalho como historiadores, empobrecendo assim nossa visão de mundo e impedindo uma história mais plural. Acho que os grandes prejuízos que tivemos até agora foram o não reconhecimento devido da influência árabe na nossa cultura e o limitar da nossa visão de mundo, pois não conhecendo o outro não legitimamos o seu diferente estilo de vida como o que é, diferente, e sim o tomamos como errado. Espero que eu tenha ajudado com as dúvidas e obrigado por ter perguntado. Felipe Lomba Ferreira.
ResponderExcluirOlá Bruna e Felipe, gostei muito do texto. Na opinião de vocês qual o impacto que esse olhar ampliado pode exercer na construção da idéia de "mundo medievo", tanto na universidade quanto no ensino básico? Penso especialmente, uma vez que existe uma imagem muito arraigada, via especialmente a cultura de massas, em torno da qual certas imagens canônicas do passado europeu se retroalimentam e se fortalecem. Obrigada!
ResponderExcluirJanaina de Paula do Espírito Santo
Oi Jana, boa noite, tudo bem? Acredito que ampliar nossa visão sobre a idade média incluindo e pensando os orientes acaba desconstruindo o mito que a Europa criou em torno dela mesma como o berço do progresso, descartando o resto do globo. Não apenas isso, mas pensar questões como a escrita, índices de alfabetização, higiene e cultura nos faz perguntar também quais foram os processos que transformaram o polo da pesquisa que foi o mundo árabe, real herdeiro do legado helênico, no que hoje é vulgarmente conhecido como um território assolado por guerras, retratado midiaticamente como bárbaro e extremista religioso.
ExcluirNós que agradecemos você por ter lido e comentado sobre o que fizemos!
Abraço, Felipe Lomba Ferreira