MARIA MADALENA NO MOVIMENTO DO JESUS HISTÓRICO por Elois Alexandre de Paula


Introdução

Maria Madalena é uma personagem um tanto enigmática de versões distintas construídas sobre esta mulher, e no tocante a teologia a suas narrativas referente à sua pessoa e sua História apresentam interpretações pelos evangelhos, sendo uma delas de uma mulher pecadora ou sendo Maria Madalena dita como prostituta. Já dentro da literatura, como exemplo a obra o Código Da Vinci, romance de Dan Brown [2004] apresenta essa personagem não como uma prostituta, mas como uma suposta companheira de Jesus e mãe de uma filha fruto de uma relação carnal com Jesus o nazareno. Um romance um tanto polêmico que apresenta alguns nuances históricos sobre Maria, representada também na Longa metragem do filme com o mesmo nome o ‘Código da Vinci’.                                                              

 

Logo de início o que se referem a esses fatos, de pontos de vista históricos, podemos afirmar que são mitos. A ideia aqui e de propor a discussão de Maria Madalena dentro do movimento do Jesus Histórico para referenciar e comparar pelo meio acadêmico a pontos que a historiografia vem abordando e discutindo há quase dois séculos. Neste contexto dentro, de uma visão epistêmica, a proposta aqui e de compreender e analisar a trajetória dessa personagem e a sua relação com Jesus, sua influência e sua participação em diversos acontecimentos entre a sua vida e também na sua morte do nazareno.                                                                 

Apesar de, para alguns historiadores as discussões sobre Maria de Madalena ou Maria de Magdala serem hipotéticas, referente a esta personagem ser histórica, sua presença na trajetória de Jesus apresenta questões pouco debatidas dentro de um contexto teológico, e que esta mulher possivelmente teve uma grande influência dentro da sociedade Judaica, inclusive entre as igrejas e o judaísmo na qual analisamos pela documentação.

 

Qual das “Marias?” As discussões sobre a sua identidade nos Evangelhos

Maria Madalena é de certa forma envolvida em um grande mistério e que muito se tem discutido sobre a sua identidade, tanto pela teologia e também pela História campos e pela literatura, como já citamos aqui o romance de Dan Brown em o ‘Código Da Vinci’. Neste contexto, essa personagem misteriosa, analisamos primeiramente pela documentação dos evangelhos em três versões distintas no que se diz a sua identidade, na qual podemos analisar dentro das possibilidades desses textos no apresentam. Em primeiro lugar o nome Madalena do hebraico Migdal ou Maria de Magdala (Magdala de origem aramaica) que significa torre, vem do nome de uma cidade em que ela viveu. Esta cidade de Migdal ou Magdala localizada ao lado do lago de Tiberíades era um importante centro de comércio na sua época. Esta cidade próspera destacada pela rota internacional que produzia e comercializava peixe salgado, tecidos e produtos agrícolas, importantes para o desenvolvimento da cidade. [Tommaso, 2006].

                                                                                                        

Neste contexto a possível localização de Maria Madalena tem uma relação geográfica com Jesus no mar ou lago da Galileia, muito próximo a Tiberíades, ou Migdal, cidade costeira na qual viveria Maria. [Crossan, 2010].  Com relação a sua identidade existem momentos específicos narrada nos evangelhos que na qual citam o nome de Maria envolvendo este nome em três acontecimentos envolvendo esta personagem e Jesus. No primeiro momento no evangelho de Lucas Maria Madalena e apresentada como uma mulher que seguia Jesus após que ele expulsou 7(sete) demônios que a possuíam:

 

“E ACONTECEU, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus;  e os doze andavam com ele,

2 E também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios, [Evangelho Lucas, Cap.9-1,2 Bíblia sagrada 1994].”

 

Esse tipo de manifestação de possessão era um fato recorrente dentro da cultura Judaica, principalmente com relação às mulheres, em que vários acontecimentos de exorcismos eram bem mais recorrentes. Segunda a tradição Judaica, as mulheres eram mais suscetíveis à possessão demoníaca por serem essas mais próximas ao pecado, e que as mulheres eram a causa do pecado original quando Eva seria a responsável por coagir Adão seu companheiro ao pecado.                              

 

Outra identidade relacionada à Maria Madalena vem de uma referência de um episódio anterior a sua possessão demoníaca, quando uma pecadora anônima unge os pés de Jesus na casa de Simão e a mesma e perdoada:

 

“Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com perfume, e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si mesmo: "Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é: uma pecadora.” [Lucas 7:37-3]”

 

Esse acontecimento, no trecho Lucano, percebe-se outra relação a Maria com o pecado, e que nos demais versículos esta personagem tem o perdão de Jesus pelos seus erros mundanos, se apresentando aparentemente como uma mulher arrependida e submissa ao rabi que implorava pelo perdão deste. A terceira versão é que Maria, no Evangelho de João, está na unção de Betânia, e nele é Maria, irmã de Marta e de Lázaro, que unge Jesus: [Tommaso, 2006]. Esta versão relacionada a esta personagem, e que teve maior aceitação pelo meio teológico, inclusive pela igreja católica, foi a imagem de Maria Madalena além da pecadora ganhou o titulo de a “Prostituta”. Para [Tommaso, 2006]a confusão da identidade de Maria estendeu-se até o século III, até que no Século VI o para Gregório Magno (540-604) declarou que Maria Madalena, Maria de Betânia e a pecadora eram a mesma pessoa. De certo modo essa declaração Papal criou o estigma relacionado a vida e a relação dessa personagem que é uma declaração que é motivo de discussões.                                                                                                              

Com relação a essa declaração do Papa Gregório entre os anos de 540-604, foi o período da alta idade média que foi marcado por um tempo de perseguições as mulheres como um verdadeira caça as bruxas, em que esses fatos são descritos na obra  ‘Malleus Maleficarum- O Martelo das Feiticeiras’ de [Heinrich Kramer e James Sprenger, 1997]. Esta obra descreve as perseguições contra as mulheres que pensavam ou que agiam contra os preceitos e regras de comportamentos impostos pelos dogmas da igreja católica. Ainda nesta obra se faz uma alusão a Maria Madalena em que a igreja, pelas bulas papais, faz um reducionismo patriarcal desconstruindo a imagem a presença histórica dessa personagem pela censura. Portanto desde o Século I se tentou de desvirtuar, censurar ou criar versões de uma imagem negativa sobre essa personagem que ainda em uma extensão cronológica até no século XX se tinha apresentava uma imagem de Maria a prostituta.                                                                                                                         

Um exemplo deste estigma de imagem de prostituta e com relação ao cinema mudo do início do Século XX, no qual segundo [Chevitarese, 2012], esses filmes em sua maioria são impossíveis, em suas imagens, de desassociar Maria Madalena da prostituição ou da mulher pecadora. Analisando o contexto cronológico, ainda nos tempos atuais a visão dessa personagem para muitos e está ligada a Maria prostituta arrependida ou a pecadora. Essa visão distorcida sobre a identidade sobre Maria Madalena foi construída por um pensamento extremamente machista, pelos dogmas da igreja, e tal pensamento sempre esteve moldado pela ignorância com relação a esta personagem e também sobre ao próprio Jesus Histórico. Maria Madalena dentro de suas várias faces é uma mulher hibrida, na qual as diversas narrativas sobre ela foram descritas pela teologia e pela mitologia, diferente do que a Historiografia aborda.

 

Maria Madalena e as Discussões na trajetória de Jesus Histórico

Para discutir sobre Maria Madalena, essa personagem um tanto enigmática, observamos dentro de uma perspectiva sociológica do contexto da personagem como igual se nos referimos ao contexto do Jesus Histórico, dentro das comunidades como Migdal, Nazaré e outras cidades importantes da Judeia que estava sobre domínio romano.


Importante relembrar que essas comunidades tinham como tradição a religião Judaica, e que tinha princípios e regras dentro de um domínio patriarcal e que as mulheres eram extremamente submissas ao controle patriarcal. Como exemplo, os casamentos na maioria eram formados em arranjos entre as famílias dessa tradição Judia, as mulheres tinham que respeitar uma série de regras impostas pelo marido, sendo elas tratadas como um produto de objeto. Um exemplo dessa ideia está entre os dez mandamentos, cita no livro de: [Êxodo, capítulo 20], versículos 1 a 17: Não desejai a mulher do teu próximo, sendo que o texto original é Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença'. Logo em uma interpretação mais rigorosa a mulher e comparada aos demais pertences da casa do seu semelhante, ou seja, a mulher tem um valor aqui como propriedade.


Maria Madalena assim como Jesus pertenciam a essa tradição Judaica, assim é importante abordar nesse ponto qualquer descrédito ou intolerância aos Judeus, pois Jesus nasceu Judeu, viveu como Judeu e morreu como Judeu. Não existe até o momento uma relação de Maria Madalena tenha casado diante os registros históricos, apenas algumas especulações de um possível casamento em Migdal. Essa especulação foi representada na série mexicana Maria Magdala produzida por Lina Uribe, Darío Vanegas e Jaqueline Vargas, [2018] na sua cidade casou-se contrariada ao seu pedido de seu pai ao se casar com um Judeu chamado Ur. Logo depois, pressionada pela violência de Ur, Maria foge da sua residência e logo foi presa como escrava por um centurião romano.                                                        

 

Outro fato que não existe também provas históricas é que entre Maria Madalena e Jesus Histórico havia um relacionamento afetivo ou que até mesmo Maria era supostamente esposa de Jesus. Essa versão foi difundida pelo fato de uma passagem do texto apócrifo de Felipe em que relatava que “Maria beijava Jesus”, ora, a questão do beijo era comum também entre Jesus e seus apóstolos, sendo assim essa ideia de Jesus e Maria terem um matrimônio e uma mera especulação que não se prova tal versão.

                                                                                           .   

Os textos testamentários nos fornecem narrativas da ressurreição de Jesus e o quanto está enfatizando a presença das mulheres nesse início do movimento cristão, e uma das mulheres que se apresentam neste episódio pós-morte e ressurreição do nazareno é Maria Madalena conforme quadro explicativo segundo: [Chevitarese, 2012].

 

Quadro 1. Mulheres visitam ao Túmulo

 

Nestes textos evangélicos, observamos que logo após a morte de Jesus as mulheres visitaram seu túmulo para colocar adornos e perfumes ao mestre, como cita o trecho de Marcos na primeira linha “E, passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. Marcos 16:1”. Assim seguindo esse acontecimento, os textos de Mateus, João e EvPe 12:50, fazem –se visitar o túmulo do nazareno e em todos descrevem a presença de Maria Madalena [Chevitarese, 2012]. Vale ressaltar que era comum as mulheres visitarem os túmulos, pela tradição judaica eram elas que choravam e também  batiam no peito como uma forma de luto, consequentemente as mulheres como Maria Madalena realizaram essa prática pela morte do seu “salvador”.                                       

 

Outra presença de Maria Madalena é referente ao acontecimento da ressurreição de Jesus, em que as mulheres ao levar os aromas tinham dificuldade de remover a pedra do túmulo de Jesus. Porém ao chegarem ao sepulcro viram a pedra tumular removida e observaram que o sepulcro se encontrava vazio; as versões dos textos de Marcos 16:4; Lucas 24:2; João 20:1; Ev.Pedro 9:37, mencionam que a pedra apenas foi removida, já para  Mateus 28:2 a pedra teria sido removida por um anjo em que essas mulheres teriam visto o mesmo [Chevitarese, 2012].                              

 

Mas o detalhe que Maria Madalena estava presente nesse episódio e das diversas narrativas bíblicas dos evangelistas informam versões distintas sobre aparição angelical, o ponto foi a aparição de Jesus, dado como ressuscitado, e o mesmo se apresentou para as mulheres, sendo elas Maria ou Maria Madalena, antes até de Pedro, como cita os textos de Mateus 28:9-10 e também o de João 20:14-17. Já os textos de Lucas 24: 34 e de Paulo aos coríntios 1.15:5 afirmam que Jesus apareceu primeiro a Pedro, sendo assim para Chevitarese [2012], torna-se bastante contundente a preocupação dos textos Lucanos e Paulino em terem uma ideia de divisão de gênero com apreciação a visão de Pedro da imagem de Jesus ressuscitado.  

 

Com relação aos textos de João, este apresenta o nome de Maria Madalena como testemunha na aparição de Jesus Ressuscitado e como informante da boa nova aos demais discípulos:

 

“E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro.

E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.

E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.

Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.

Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Rabôni, que quer dizer: Mestre.

Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.

Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto. João 20:11-18” 

 

Esse fato da presença de Maria sublinha sua relação com a imagem de Jesus ressuscitado como a escolhida para dar a boa nova aos demais discípulos; mas por outro lado, trechos Paulinos tentam obscurecer a presença de Maria não somente nesse fato, como em outros acontecimentos no período inicial da formação da igreja. Crossan [2010] faz uma reflexão com relação aos textos de Paulo, em que alguns momentos passam a mensagem de um conservadorismo baseado em modelo de um cristianismo Romano com preceitos de uma sociedade patriarcal, como cita Paulo aos Efésios 5:22-24: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos”.                                                        


De toda a forma os textos evangélicos apresentam narrativas que Maria Madalena era uma seguidora fiel do nazareno, que infelizmente os textos foram ou tiveram interpretações de uma mulher limitada a uma pecadora arrependida, pouco valorizada a sua trajetória pelo viés teológico.

 

Analisando a segunda possibilidade de documentação, discutimos os textos da biblioteca de Nag Hammadi, ditos como textos apócrifos (textos que não poderiam ser lidos ao público); essa documentação apresenta um prisma diferente com uma trajetória de vida de Maria Madalena com uma maior influência na vida de Jesus. Esses documentos, dentro de uma análise cronológica, foram escritos em meados do século IV, com a mesma escrita o grego copta e que se pode fazer uma referencia como fonte para o entendimento diferenciado sobre Maria e o próprio Jesus Histórico.  Muito além dos mitos construídos sobre a personagem, a ideia é descrever  o contexto daquela sociedade Judaica também pelos textos de Nag Hammadi. Assim observamos em ambas documentações, diante da múltipla atestação, que apesar de ter uma narrativa diferenciada dos evangelhos canônicos, os textos de Nag Hammadi fornecem informações mais consistentes de que Maria Madalena se apresentou como uma seguidora fiel de Jesus em sua vida e também após a sua morte.

 

Dentro destes textos, como o próprio evangelho de Maria Madalena e de Felipe, se observa uma Maria com um discurso mais intelectual e provido de maturidade sobre o contexto de vida que ela estava inserida. As mensagens nesses evangelhos pela visão gnóstica (aquele que tem o conhecimento) como cita Matias [2013] Maria Madalena se apresenta detentora de conhecimento e de uma maturidade espiritual, como a “Sophia” (sabedoria). Estes textos apresentam Maria Madalena com uma grande influência na vida missionária de Jesus e dos discípulos, em que ela tem uma voz ativa entre eles e sua representatividade é bem descrita nos trechos desses evangelhos o de Maria Madalena:

           

“Então Maria se levantou, beijou todos e disse aos seus irmãos: Pare de chorar e se aflija e seu coração não é mais compartilhado porque sua graça irá acompanhá-lo e protegê-lo. Louvemos a sua grandeza porque Ele nos preparo, 20 Ele nos fez homem. Com estas palavras, Maria converte seus corações para o bem e eles começaram a discutir sobre as palavras do [Salvador].         

Pedro disse a Maria: “Irmã, sabemos que o Salvador prefere você a outras mulheres, relata-nos as palavras do Salvador que você tem na memória, aqueles que você conhece, mas nós não sabemos e não ouvimos”. [L’ÉVANGILE SELON MARIE BG 1, Biblioteca Nag Hammadi] “

 

É notável neste trecho do evangelho de Maria o quanto sua participação e o quanto ela influencia pelas suas palavras o ordenamento e o controle das situações em que os demais seguidores de Jesus estariam um tanto preocupados, Maria tenta acalmá-los com um beijo e pede para pararem de chorar.  Mas notadamente existe um desconforto por parte de Pedro ao citar que o “Salvador a preferia a ela do que as outras mulheres”. Porém ela responde a Pedro:

 

”Pedro falou e discutiu questões semelhantes e perguntou-lhes sobre o Salvador: "É possível que Ele tenha tido uma conversa com uma mulher em segredo - para nosso conhecimento - e não abertamente para que nós deveríamos, formar um círculo e todos escutar isso? Ele teria escolhido, de preferência nós?

Maria respondeu e disse: "O que está escondido de você, vou lhe dizer", e ela começou a dizer-lhes: "Eu", disse ela, "eu vi o Senhor em visão. e eu disse a ele: Senhor, eu te vi neste dia em visão. Ele respondeu e disse para mim: Abençoado, você que não o incomoda à minha vista porque, onde está o intelecto..”    

Jesus ainda completa essa posição de Maria com relação a ideia do conhecimento: “Não é nem por meio da alma nem por meio do pneuma que ele vê, mas o intelecto [sendo] entre os dois é lido [i] quem percebe o visão e é ele”. [L’ÉVANGILE SELON MARIE BG 1, Biblioteca Nag Hammadi]

                                                        

Esse discurso detalha a importância e a influência de Maria Madalena com os discípulos e para, além disso, a sua participação na vida ativa de pregação de Jesus o Nazareno, assim esses textos de Nag Hamaddi apresentam uma nova discussão de que Maria provavelmente era muito mais que uma seguidora, mas provavelmente uma discípula de Jesus.                                                                        

 

O fato de que Maria seria uma discípula de Jesus se apresenta em raros momentos nos evangelhos e até mesmo nas epistolas de Paulo, que apesar deste ator dar pouca importância a Maria, este faz uma alusão a ela como uma discípula importante na pregação em Roma. Tal fato segundo Tommaso [2006] está presente nas cartas de Paulo aos romanos, que segundo Paulo, Maria “trabalhou muito” para a comunidade em Roma. Poderia Maria Madalena ter atuado fora do território da Palestina, pois de se tratar que Maria era de Migdal, ela teria conhecimentos da cultura Helênica e Romana, e também detentora do conhecimento do latim e do grego? Dentro desse contexto Greco Romano, possibilitaria que Maria pudesse ser uma pregadora da palavra de Jesus em outros domínios do império romano?

 

Outro texto Apócrifo de Felipe, que já abordamos aqui sobre o beijo entre Maria Madalena e Jesus, que para muitos era uma relação conjugal, analisamos aqui pelo lado de um confronto e de posição dentro da missão de Jesus, conforme o texto de Felipe-Nag Hamaddi: “Quanto Maria, o Senhor [afeiçoado o amou] mais que [todo] o discípulo [e] o beijou na boca. O restante dos [discípulos] 64 [. . ] Eles lhe disseram: Pedro perguntou: “Por que você o ama mais do que a todos nós”. Esse questionamento é notável, e Pedro estaria intrigado pelo quanto Jesus considerava Maria Madalena, e isso causou a Pedro um sentimento de descrédito pela aproximação entre Maria e Jesus.                                             


Deste modo, esses acontecimentos que revelava o quanto Maria era admirada por Jesus, consequentemente após a morte do salvador se tentou obscurecer a imagem de Maria, principalmente nos anos iniciais da formação da Igreja Cristã. Assim poucas são as citações da vida de Maria principalmente nos evangelhos. Pedro certamente se sentiu ameaçado por esta mulher, que era motivo de seus questionamentos do seu envolvimento com o Nazareno.                                                  


Porém nos momentos mais difíceis da vida de Jesus, Maria estava presente e compartilhou do seu sofrimento desde a sua prisão até após a sua morte. Já Pedro, apesar de ter sido um mártir pela igreja católica, negou a Jesus três vezes quando ele estava preso na fortaleza Antonia e levado ao sumo sacerdote, conforme comentado no evangelho de Lucas 22:54-71.Então como pode ser Pedro o fundador da igreja? Sendo que Maria Madalena estava presente junto Jesus em seus momentos de dor? O fato que a igreja durante longo tempo desconstruiu a história de Maria por uma ideia de um pensamento preconceituoso e machista, assim Pedro foi instituído pela igreja católica o primeiro Papa da igreja, e o símbolo de Pedro com sua rede está forjada como imagem no anel Papal, com uma forte influência de uma teologia baseada no patriarcal por milênios, desconsiderando assim a presença da mulher no controle da igreja.                    

 

Assim durante anos Maria Madalena foi esquecida e ignorada desde o início do cristianismo arcaico, pois seria difícil esta personagem e sua história resistir a uma sociedade com um pensamento machista, pensamento este pautado por conceitos e teologias preconceituosas.

 

Considerações Finais

Não é de hoje que discutimos e observamos as tendências machistas e preconceituosas referente a figura do feminino em todos os setores da sociedade. No nosso século ainda vemos o quanto a sociedade tem tendências machistas e que tenta ridicularizar e minimizar a importância feminina, tanto social, político e religioso, na qual este último é sustentado pelo conceito do fundamentalismo. A História apresenta diversas pesquisas sobre a mulher e suas perspectivas de lutas, embates sociais para promover seu pertencimento, visibilidade na trajetória nos mais diversos períodos.                                                                                    

 

Porém sobre Maria Madalena, a historiografia, através de diversas possibilidades, consegue resgatar a biografia escondida ou “Obscurecida” dessa personagem, e graças a análises de diversas fontes e demais outros trabalhos, em que existe uma discussão mais ampla sobre a trajetória dessa personagem. As mais variáveis Hipóteses têm sido abordadas e questionadas sobre a imagem e a importância dessa personagem desde o Século I. Dentro dos mitos e hipóteses, Maria de Madalena traz provocações sobre sua trajetória e sobre o contexto do papel da mulher daquele período dentro da sociedade Judaica. Portanto, Maria Madalena, no movimento de Jesus Histórico, desde a segunda metade do Século I, tem sua importância diante das pesquisas e pelas diversas análises acadêmicas nas quais fundamentamos essa discussão.

 

Referências

ELOIS ALEXANDRE DE PAULA. Graduado em História Fafi-UV União da Vitória-PR, Especialista em História Cultura e Arte UEPG, Ponta Grossa-PR

 

BROWN, Daniel Gerhard. Mário Dias CORREIA (trad.). O Código da Vinci. Edi Sextante, Rio de Janeiro, 2004.

 

CHAVES,  Júlio Cesar Dias. A biblioteca copta de Nag Hammadi uma historia da pesquisa, Oracula, São Bernardo do Campo, 2.4, 2006. Acesso em http://www.uel.br/laboratorios/religiosidade/pages/arquivos/textosNaqHammadiLERR.pdf. 12/07/2022

 

CHEVITARESE, André Leonardo. Maria Madalena no cinema mudo: Jesus no Cinema: “Um Balanço Histórico e Cinematográfico entre 1905 e 1927” Rio de Janeiro: Klínē Editora, 2012.

 

CROSSAN, Jonh Dominic. CHEVITARESE, André Leonardo. CORNELLI, Gabriele (Org). A descoberta do Jesus histórico: A vida de Jesus histórico. São Paulo, Ed Paulinas, São Paulo, 2°edi, 2010.

 

CROSSAN, Jonh Dominic. CHEVITARESE, André Leonardo. CORNELLI, Gabriele (Org). A descoberta do Jesus histórico: As Duas Vozes Mais Antigas da Tradição de Jesus. São Paulo, Ed Paulinas, São Paulo, 2°edi, 2010.

 

KRAMER, Heinrich, SPRENGER, James. Tradução de PAULO FRÓES O Martelo das feiticeiras, Record: Rosa dos Tempos,12° edi, Rio de Janeiro, 1997

 

LUCAS. MATEUS. MARCOS. JOAO, Evangelhos. Bíblia sagrada, Edi:Loyola, São Paulo, 1994

 

MATIAS, Carlos Almir. A participação das mulheres nos círculos gnósticos cristãos nos séculos ii e iii. Dissertação de mestrado, Londrina, 2013. 

 

TOMMASO, Wilma Steagall. ‘Maria madalena nos textos apócrifos e nas seitas gnósticas’. Revistas Puc SP, Último Andar [14], São Paulo,  2006: ACESSO EM https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/12896.

 

Evangelho de Felipe: acesso em https://www.naghammadi.org/wp-content/uploads/2015/08/NH-II-3-Évangile-selon-Philippe.pdf

 

Evangelho de Maria Madalena: Acesso em: https://www.naghammadi.org/wp-content/uploads/2015/05/BG-1-%C3%89vangile-selon-Marie.pdf

 

MARÍA MAGDALENA, Série: Direção:Felipe Cano, Rodrigo Lalinde, México, 2018

10 comentários:

  1. Boa tarde, Elois! Gostei muito do seu texto. Tenho um interesse pela figura de Maria Madalena e as apropriações que dela se fizeram ao longo do tempo. Queria apenas deixar como sugestão o capítulo Maria Madalena do livro As damas do século XII do Georges Duby. Ele faz um apanhado interessante sobre como o século XII foi fundamental para a alteração na percepção em relação à mulher e usa a imagem de Maria Madalena como exemplo

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  2. BRUNA Agradeço pela leitura do texto. Estendo também o agradecimento referente a bibliografia de George Duby... foi uma excelente indicação que pretendo realizar a leitura. ELOIS

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  3. Boa-noite, Elois! Parabéns pelo texto tão revelador sobre a essência de Madalena. nem sabia que tem o Evangelho dela. Através do curso bíblico pelo CEBI/DF muita coisa passei a saber. E o seu texto veio complementar! Ai se todas as mulheres conhecessem quem foi esta mulher! Sucessos!

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    1. BOM DIA IVANIZA, Agradecido.... estamos na busca de novas fonte . ATENCIOSAMENTE ELOIS

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  4. Rogério Silva de Mesquita4 de outubro de 2022 às 22:12

    boa noite , gostaria de saber de você qual a importância do papel da Maria Madalena, após a morte de Cristo? existe algum texto que retrate sobre esse assunto?

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    1. BOA NOITE ROGÉRIO. Sobre a questão sobre a importância dessa personagem no movimento de Jesus sem Jesus, as fontes que temos alguns trechos Lucanos, evidenciando a presença de Maria na "Ressurreição", mas essas informações estão no campo teológico e não da História. Não se tem maiores informações de Maria referente a sua influência no movimento de Jesus sem Jesus, ou seja, não existem maiores informações e existe uma discussão que essa personagem seria apenas teológica .
      ATENCIOSAMENTE ELOIS ALEXANDRE DE PAULA

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  5. Antonio José de Souza5 de outubro de 2022 às 13:46

    Olá, Elois!
    Tudo bem? Espero que sim.

    Parabéns pelo interessante texto!
    Acho extremamente válida a problematização que você levanta sobre a desimportância do feminino em diferentes épocas, culturas e contextos. Antes da História eu estudei Teologia e, entre tantas disciplinas exegéticas (trocando em miúdos, são àquelas focadas na interpretação dos livros da Bíblia), apenas uma era exclusivamente sobre uma personagem feminina; refiro-me à Mariologia: estudo teológico sobre Maria – a mãe de Jesus. No entanto, ao final, ficou claro o quanto tal personagem é ‘silenciosa’ nos Evangelhos.

    Abraço!

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    1. CARO ANTONIO. Fico feliz pela sua análise deste trabalho que ainda temos muito a compreender os questionamentos sobre o contexto do feminismo naquele período e a Hipotética construções históricas dessa personagem. Acredito que muito tem de discutir e entender sobre essa personagem. ATENCIOSAMENTE ELOIS ALEXANDRE DE PAULA

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  6. Olá. Parabéns pela discussão.

    No começo do texto você explica um pouco como essa imagem mais popularizada de Maria Madalena, como a prostituta e não tão importante seguidora de Jesus, ganha mais força, por exemplo, a partir de ações do Papa Gregório e da Igreja. É nesse período dos últimos séculos do Império Romano e da Alta Média que os textos sagrados são escritos, o cristianismo vai sendo constituído, seus personagens e doutrinadas sendo construídos, com a Igreja Católica consolidando-se como a instituição hegemônica que detém a verdade da fé cristã e sua principal propagadora, uma que fez que ao mesmo tempo a Igreja também consolidava-se como uma força militar, econômica e política. E, uma vez que essas bases definidas pela Igreja Apostólica Romana se espalharam por toda a Europa Ocidental e o Novo Mundo, chegando até o Brasil atual, a minha pergunta portanto é: qual é a visão mais comum sobre a personagem de Maria Madalena entre os cristãos do Oriente Médio e muçulmanos? A construção feita pela Igreja Católica também têm influências sobre a religião dessas pessoas fora de regiões dominadas historicamente pela cultura cristã romana? Ou talvez a caracterização seja muito próxima devido aos seus valores, principalmente o machismo e tentativa de diminuição de personagens femininas, serem também parecidos com os europeus da Alta Idade Média e dos nossos tempos na América Latina?

    Obrigado.

    Luís Miguel Réus

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    1. Luis Miguel agradeço pela leitura do texto. Sobre as questões sugeridas posso referir a questão de documentação que temos em mãos. Os textos dos evangelhos Fazem uma citação muito breve e o que temos de documentação do seculo II, ou três de Maria Madalena circulavam na bacia mediterrânea, em grego copta. Sendo assim não tenho conhecimento se Maria Madalena tem algum registro ou comentário dentro da religiosidade Muçulmana. Mas um fato de sua questão que sempre existiu dentro dessas religiões e dessas sociedades uma visão machista deixando de lado a figura feminina, talvez isso não tenha gerado alguma informação sobre a personagem Maria Madalena. Outra questão existem teorias que Maria Madalena como personagem hipotética, e que a mesma poderia ser uma personagem teológica. Acredito que existe um vácuo de tempo de que temos muito a pesquisar sobre a existência de Maria e a sua relação com o real Jesus histórico na qual também pesquisamos. ATENCIOSAMENTE ELOIS ALEXANDRE DE PAULA

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