Seja
na data de concepção bíblica, narrada por seus fiéis, ou naquela relativizada
pelos acontecimentos históricos subsequentes ao ano inaugural de nosso
calendário vigente, o cristianismo tem protagonismo inquestionável nas
construções de poder ao redor do mundo. Desde as pequenas esferas, que tangem o
comportamento individual daqueles que nela creem, até a intervenção direta em
decisões da alta política, a irmã do meio da tríade abraâmica tem sua história
intrinsecamente amarrada na formação do mundo que hoje conhecemos. No entanto,
à medida que a Igreja Católica se tornava um colosso, em frente a outras
denominações mais ortodoxas, como representante direta da prática cristã no
Ocidente, ao menos até o advento da Reforma Protestante, também seus dogmas e
decisões passaram a ter cada vez mais relevância e para um público mais
abrangente, esses muitas vezes tolhidos de suas crenças originárias.
Em
se falando do Sul Global, mais precisamente da América Latina, a Igreja exerceu
um papel tão fundamental quanto controverso no processo de colonização do
chamado Novo Mundo, com destaque para o período das Grandes Navegações dos
séculos XV e XVI, onde sacerdotes missionários constantemente integravam as
comitivas de exploradores. Através da ordem religiosa Companhia de Jesus, cujos
membros recebem a denominação de jesuítas, a catequização fez parte integral
das práticas de aproximação para com os povos originários, sendo essencialmente
exercida através de movimentos paralelos de doutrinação religiosa e assimilação
cultural.
A
mesma Companhia de Jesus disfrutou também de algum protagonismo na Ásia, onde,
poucos anos depois, buscava aprofundar a influência ocidental na região para
além da atividade comercial já intensamente praticada por mercadores europeus.
Difundido de maneira mais intensa no até então Império da China já no fim do
século XVI, o catolicismo se deparou de imediato com um ambiente inóspito e com
os primeiros sinais de que o caminho para seus objetivos não seria fácil. Como
prenunciado inicialmente, já são mais de quatro séculos marcados por poucas
concordâncias e muitas desavenças entre a Igreja e o gigante asiático.
Como
era de se esperar, apesar das intensas mudanças históricas no xadrez global e
reposicionamento estratégico da Igreja como peça nesse complexo tabuleiro, a
chegada do Partido Comunista da China (PCCh) ao poder no país adicionou — ao
menos — um grande fator complicador nas relações bilaterais entre esses dois
atores internacionais. Enquanto o PCCh fundava a República Popular da China —
daqui em diante chamada apenas de China —, a Igreja seguiu resistente a
negociar com simpatizantes do comunismo e até hoje mantém relações diplomáticas
com a República da China, nome oficial do território de Taiwan. Condição sine
qua non para o estabelecimento de relações bilaterais, o reconhecimento da
China continental parece ainda ser um entrave significativo no debate.
O
Papa do Sul Global e a virada de chave nas relações
Recém-entronizado
como novo Papa da Igreja, em 2013, Francisco logo iniciaria seus esforços para
implementar aquilo que carregava consigo como ideal desde sua época de
anonimato na Argentina. Ainda nos primeiros dias de papado, uma carta foi
enviada a Xi Jinping a fim de parabenizá-lo pela missão de presidir a República
Popular da China, posto que que o líder chinês chegava ao cargo no mesmo
período. Os esforços de aproximação não se demonstrariam levianos, uma vez que
a tentativa de contato, ainda unilateral, se repetiria por mais numerosas
oportunidades.
Passado
algum tempo, foram organizadas comitivas da Santa Sé em direção ao gigante
asiático, com o objetivo de mapear e explorar os “muitos pontos de encontro
entre a China e o Vaticano”, segundo palavras do bispo argentino Marcelo
Sánchez Sorondo, presente em um desses encontros. Buscar similaridades entre
ambos os entes de poder passou a ser uma arma bastante eficaz na
desmistificação dessa relação historicamente truncada, afinal estamos falando
das “duas únicas instituições milenares do planeta” (IHU, 2018).
Para
o professor Francesco Sisci (IHU, 2018), um ponto de virada na relação
sino-vaticana, ao menos sob a ótica chinesa, se deu em setembro de 2015, quando
Bergoglio e Xi Jinping estiveram ao mesmo tempo nos EUA. Observar a relevância
atribuída pela mídia local à presença do Sumo Pontífice teria alertado o
presidente chinês a potenciais ganhos na construção de uma relação amistosa com
a Santa Sé. Afinal de contas, Sisci (IHU, 2018) completaria sua análise
afirmando que “[...] se o Vaticano é tão poderoso, não se trata apenas de gerir
esses poucos milhões de católicos chineses”, segundo o lado chinês.
Já
sob a ótica da Santa Sé, fechar um acordo com Beijing é de suma importância
para superar a divisão na prática do catolicismo chinês, tanto visando promover
a liberdade religiosa a seus fiéis quanto logrando exercer na prática o caráter
essencialmente universalista da Igreja Católica. Não obstante, Francisco não
demonstrou pressa durante o amadurecimento das negociações e indicou saber
muito bem que caso acelerasse certamente tropeçaria. Sem fugir de perguntas a
esse respeito, Francisco (2018) já respondeu a questionamentos sobre uma
possível ida à China dizendo “[...], mas as portas do coração estão abertas. E
penso que fará bem a todos uma viagem à China. Eu gostaria de a fazer...” Ao
citar o pioneiro jesuíta Matteo Ricci em uma entrevista concedida em 2016, o
Pontífice é paciente ao dizer que “[...] a experiência de Ricci nos ensina que
é necessário dialogar com a China, que é uma fonte de sabedoria e história. É
uma terra abençoada de muitas formas”. Essa não seria a primeira e nem a última
vez que o Papa jesuíta recordaria os passos do histórico missionário da
Companhia de Jesus.
“Pessoalmente,
sempre olhei para a China como uma terra rica de grandes oportunidades e, para
o povo chinês, como artífice e guardião de um patrimônio inestimável de cultura
e sabedoria, que se aperfeiçoou resistindo às adversidades e integrando as
diferenças, e que não por acaso, desde os tempos antigos, entrou em contacto
com a mensagem cristã. Como dizia com grande perspicácia o Padre Matteo Ricci,
desafiando-nos para a virtude da confiança, ‘antes de contrair amizade, é
preciso observar; depois de a ter contraído, é preciso fiar-se’. É minha
convicção também que o encontro só pode ser autêntico e fecundo, se se verificar
através da prática do diálogo, que significa conhecer-se, respeitar-se e
caminhar juntos para construir um futuro comum de maior harmonia.” (FRANCISCO,
2018)
Dos
estudos mútuos às mesas de negociações
O
ano de 2016 estabelece um marco nos avanços das relações bilaterais
sino-vaticanas a partir do momento em que um papa recebe, de maneira inédita,
resposta proveniente do mais alto governante chinês. Xi Jinping não só
respondeu a mensagem como enviou a Francisco uma réplica da Estela de Xian,
item importantíssimo da literatura cristã que se trata do mais antigo contato
da civilização chinesa com o cristianismo e data de cerca de 635 d.C.
(CARLETTI, 2008, p. 21), quando missionários siríacos enviados pela Igreja Oriental
teriam deixado o elemento sob os cuidados da dinastia Tang (PELIKAN,
2015). Segundo Sisci (IHU, 2018), o recado estava além do ato da resposta, mas
também incluiria uma mensagem de pertencimento do cristianismo à história
chinesa, visando dissociar a prática de um pretenso ocidentalismo intrínseco.
Logo
no ano seguinte das posses de Francisco e de Xi Jinping, mais precisamente em
2014, ambos os Estados já haviam retomado contato oficial em busca de
solucionar a questão que historicamente mais afasta os dois governos: a questão
da nomeação dos bispos chineses. Essa questão muito pouco — ou nada — tem a ver com reconhecimento
estatal ou formalização das relações bilaterais, mas sim envolveria um acordo
meramente religioso. A Santa Sé alegava ambicionar apenas o gozo de alguma
normalidade no trato de questões religiosas em território chinês. Já a
representação chinesa na negociação apontava ainda intransigências pontuais por
parte do Vaticano, que não entenderia os perigos que a ingerência ocidental já
levou à China.
Após
incontáveis reuniões, a notícia de que um acordo acerca do assunto estaria
encaminhado veio de um dos maiores entusiastas da ideia: o Cardeal Pietro
Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé. Ao afirmar que em breve não haveria mais
questionamentos acerca da legitimidade ou clandestinidade na Igreja chinesa, no
início de 2018, o religioso preparou o terreno para um documento que já vinha
sendo tratado a muitas mãos e há muitos anos. Parolin que, recentemente, ao
escrever o prefácio de obra dedicada ao estudo de missões na China, inicia
tomando para si as palavras outrora usadas por Pio XII em direção aos chineses:
“Antes de tudo desejamos manifestar o nosso caloroso afeto por todo o povo da
China” (PAROLIN, 2021, apud FRANGUELLI, 2021).
Reações
acaloradas em um ambiente já fragilizado
Todavia,
a singela prévia de notícia dada pelo Cardeal já seria suficiente para
despertar reações dos mais diversos níveis. Do lado conservador da Igreja, mais
uma oportunidade de tecer duras críticas ao papado “indisciplinado” de
Francisco, mas mesmo na China o bom prognóstico não foi unanimidade. Enquanto
John Tong, Cardeal chinês e bispo emérito de Hong Kong, recebeu as boas novas
com expectativa de pacificação dos conflitos, Joseph Zen, também Cardeal chinês
e bispo emérito, chegou a utilizar o termo “comercialização da Igreja” ao se
referir ao acordo.
Ainda
no fim de 2017, as primeiras notícias sobre a possibilidade de normalização das
relações já surgiam em noticiários chineses. As primeiras críticas não chegaram
a ser realisticamente impactantes por terem sido rebatidas através do uso da
própria figura do Papa, levando consigo sua habilidade inquestionável de
acalmar os ânimos. Ao informar que Francisco estaria acompanhando as
negociações pessoalmente, a Secretaria de Estado não deixou muita margem para
dúvidas sobre a seriedade do caso. O grande assombro daqueles pertencentes à
Igreja “clandestina” era, porém, que o Papa fosse enganado pelo governo de
Beijing, abrindo as portas para aqueles que haviam aprisionado e torturado os
seus sem garantias da contraparte.
Em
setembro de 2018, finalmente era assinado um acordo provisório entre a Santa Sé
e o governo de Beijing em face da nomeação dos bispos chineses. Tratando-se de
um claro reflexo da mudança nas políticas adotadas pelas respectivas lideranças
em ambos os países, cabe, ainda assim, ressaltar alguns fatores que podem ter
sido predominantes para essa guinada a um entendimento. A pesquisa pode ser
enquadrada no âmbito das análises de Política Externa, onde elementos como
cultura e religião, em particular a chamada Faith Diplomacy emerge como
um fator condicionante na construção das relações de força no cenário
internacional (LEIGHT, 2011, apud CARLETTI, 2019).
O
olhar diferenciado do governo Xi para o fator religioso
Se
quando chegou ao poder Xi Jinping implementou uma política fortemente
nacionalista, tudo leva a crer que o passar dos anos e sua habilidade
diplomática o levaram a considerar outros caminhos para a manutenção do
acelerado desenvolvimento chinês. Para além dos convencionais meios de coerção
e demonstração de força, a China tem se aventurado por práticas que poderiam
perfeitamente se encaixar no conceito de soft power cunhado por Joseph
Nye. Segundo BECARD (2019), citado por CARLETTI (2019), Wang Huning teria sido
o responsável por levar tal conceito ao país asiático, sendo ele muito útil
desde os acontecimentos da Praça Tiananmen – repressão violenta empregada pelo
governo chinês a manifestações pacíficas que aconteciam no local, resultando em
um massacre que produziu imagens bastante negativas da China para o mundo
(SPENCE, 2013, p. 581) – e atingindo seu auge nos Jogos Olímpicos de 2008, em
Beijing. Proeminente teórico político chinês, Huning compõe o Comitê Permanente
do Politburo do PCCh, ou seja, a mais alta cúpula do partido. Pelo mesmo
motivo, é apontado por muitos como principal ideólogo do governo comunista.
Em
2001, o então presidente Jiang Zemin pela primeira vez reconheceu que a
religião poderia agir como força estabilizadora na sociedade e, assim, pode ser
considerada uma força positiva para o desenvolvimento nacional (LEUNG, 2005,
apud CARLETTI, 2019). Uma vez compreendida a relevância do fator religioso como
atenuador de problemáticas na interação com outros entes do sistema
internacional, a disputa que surge internamente à China é: abraçar o que seria
“chinês por essência” ou admitir uma religiosidade de fato livre? Ainda que,
por exemplo, os ensinamentos de Confúcio não necessariamente se sobreponham à
atividade religiosa, é bastante difícil imaginar um povo com uma tradição tão
longínqua quanto os chineses aderindo massivamente a práticas sincréticas com
ritos ocidentais em algum grau.
Frequentemente
trazido de volta aos discursos públicos por Xi Jinping, o pensamento confuciano
tem sido instrumentalizado politicamente, sob o prisma da religião, a fim de
preencher uma lacuna sentida pelo povo chinês com um elemento fortemente
identificado com a história local. A China sabe que não poderá competir pela
liderança global apenas com o incremento da sua força econômica e militar.
Embora necessárias, estas dimensões de poder não são suficientes. Sabe-se que
deve haver valores, padrões morais e éticos para apoiar a ascensão chinesa no
mundo. Em outras palavras, é preciso ter soft power. E, neste quesito, o
pensamento de Confúcio e sua imagem são capitais culturais valiosos a serem
explorados. (CARVALHO, 2019)
Depois
de algum tempo vigente, ainda que cercado de polêmicas envolvendo
principalmente trocas de bispos sob ordem expressa do Vaticano e
pronunciamentos acalorados do já referenciado Cardeal Joseph Zen, principal voz
de resistência à negociação com o governo comunista, o acordo provisório deu
sinais de fragilidade. A despeito de seus 90 anos, o Cardeal Zen não se limita
a exercer suas atividades religiosas na clandestinidade, mas concede também
muitas entrevistas e se coloca como publicamente oposto a qualquer concessão do
Vaticano ao regime comunista. O respeitado bispo emérito de Hong Kong já teve a
oportunidade até mesmo de se reunir com o Papa a fim de debater a situação na
região, já que sua radicalidade quase intransigente, em termos políticos, não
se reproduz no quesito religioso e por fim Zen não estaria completamente errado:
“Por
muitos anos, a Igreja de Hong Kong apoiou o Papa em sua empolgação, agindo como
uma ponte entre as duas comunidades. Quando ouvimos críticas da comunidade
oficial contra a comunidade clandestina, defendemos esta última dizendo que sua
posição é legítima. Em vez disso, quando ouvimos a comunidade clandestina
criticar a comunidade oficial como se todos fossem traidores da Igreja,
dizemos: ‘Não! Nem todos eles! Porque conhecemos esses irmãos. Vivemos juntos
há muito tempo. Muitos deles são fortes e corajosos, mantendo a verdadeira fé
enquanto estão em uma estrutura tão desfavorável.’” (ZEN, 2019, tradução minha)
A
aparente vitória do clima de incerteza
No
fim de 2020, pouco depois de trocar notas diplomáticas com Roma a fim de
renovar o acordo por mais dois anos, o governo de Beijing estabeleceu abertura
de processo de seleção de bispos sem nenhuma anuência papal. Não cogitando
apresentar explicação oficial, o lado chinês, que alega estar agindo em
consonância com o previsto no acordo, esse já não mais dentro da validade e
ainda sob sigilo, segue colecionando casos de perseguição a praticantes
“subversivos” do catolicismo no país. Cerca de uma centena de policiais
invadiu, em maio de 2021, um seminário católico a fim de prender a liderança
religiosa local, famoso ativista não-alinhado com o governo central. Na
ausência do monsenhor no local, dezenas de sacerdotes e seminaristas foram
detidos. (IHU, 2021) Já há apenas dois meses, em dezembro de 2021, bispos
subordinados ao governo de Beijing realizaram inédita reunião a portas fechadas
com aqueles que atuam em Hong Kong e respondem ao Vaticano. Relatos do encontro
dão conta de que foi uma reunião voltada para levar uma mensagem e que Xi
Jinping nunca teria sido tão enfático ao descrever seu desejo de religião com
“características chinesas”.
Apesar
de seguir defendendo o diálogo, Francisco começa a ficar esvaziado em seu
discurso, uma vez que as alegações de desconfiança acerca do governo chinês não
se mostraram totalmente infundadas. Em sua mais recente entrevista sobre o
tema, o argentino afirmou que "[...] a China não é fácil, mas estou
convencido de que não deveríamos desistir do diálogo" e disse ainda que
"[...] você pode ser enganado no diálogo, pode cometer erros, tudo isso...,
mas é o caminho. Uma mente fechada nunca é o caminho". (PULLELLA, 2021)
Referências
Felipe
Vidal Benvenuto Alberto é mestrando em Relações Internacionais pelo PPGRI da
UERJ, bacharel em Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais
pelo CEFET/RJ, com período de mobilidade acadêmica na Faculté des Sciences
Juridiques, Politiques et Sociales da Université de Lille e pesquisador do
Núcleo de Estudos Atores e Agendas de Política Externa (NEAAPE) do IESP/UERJ.
CARLETTI,
Anna. A Faith Diplomacy de Xi Jinping: as Implicações Político-Religiosas do
acordo provisório sobre a nomeação dos bispos católicos na China. Conjuntura
Internacional, v. 16, n. 3, p. 24-33, 1 dez. 2019.
_________,
Anna. Diplomacia e Religião: Encontros e Desencontros nas Relações entre a Santa
Sé e a República Popular da China de 1949 a 2005. Brasília: FUNAG, 2008.
CARVALHO,
Evandro Menezes de. Reflexões Sobre o Confucionismo no Socialismo com
Características Chinesas. In: CARVALHO, Evandro Menezes de; SILVEIRA, Janaína
Camara da (orgs.) A China por Sinólogos Brasileiros: Visões sobre Economia,
Cultura e Sociedade. Rio de Janeiro: Batel, 2019. p. 99-124.
FRANCISCO.
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Acessado em: 21 de fevereiro de 2022.
FRANGUELLI,
Bruno. Cardeal Parolin em livro sobre a China: “tudo está dentro de um plano de
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Acessado em: 21 de fevereiro de 2022.
IHU,
China-Vaticano: vigília de um possível acordo. Artigo de Francesco Sisci.
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Acessado em: 20 de fevereiro de 2022.
_____,
O arrastão de Pequim no seminário católico: preso um bispo. Revista Insituto
Humanitas Unisinos, 24 de maio de 2021. Disponível em:
https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/609515-o-arrastao-de-pequim-no-seminario-catolico-preso-um-bispo.
Acessado em: 20 de fevereiro de 2022.
PELIKAN,
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ZEN, Joseph. For Love of My People I Will Not Remain
Silent: On the Situation of the Church in China. San Francisco: Ignatius Press, 2019.
Caro Filipe, com satisfação que leio seu texto! =D Sobre a questão da nomeação dos bispos, refere-se a católicos estritamente ou o Vaticano está conseguindo atuar sobre a igreja católica patriótica - e aliás, como esta se situa nesse jogo de negociações?
ResponderExcluirgrande abraço,
André Bueno
Olá, professor André! É um prazer ter meu texto lido por você. Em relação à sua pergunta, me refiro no texto estritamente aos bispos que congregam com a fé católica apostólica romana. No entanto, segundo todos os envolvidos nas negociações pelo lado do Vaticano, o objetivo de longo prazo em qualquer acordo debatido seria pôr fim na segregação entre esses dois entes do catolicismo na China. Isso se daria preferencialmente pelo reconhecimento do governo chinês quanto à autoridade papal único no que se refere à nomeação de bispos, ainda que haja algum custo de intervenção governamental no cotidiano da prática católica pelos chineses. A Associação Patriótica Católica Chinesa é um ente um tanto complexo, pois não nega o reconhecimento da liderança papal e, portanto, não representa um cisma religioso, mas está inserida no contexto da burocracia estatal chinesa e conta com figuras bastante influentes no Partido Comunista da China. Esse último motivo faz com que haja bastante resistência interna a negociações que poderiam simbolizar uma significativa diminuição de privilégios.
ExcluirOlá Felipe, ótimo texto sobre o envolvimento político e religioso e que vai ao encontro do que o Brasil vive nesse momento. Parabéns.
ResponderExcluirMinha pergunta é sobre quais pontos o vaticano poderia ou deveria ceder para que o catolicismo saia da clandestinidade na China e até onde você acredita que o governo chinês poderá ceder?
Olá, Marcos! Agradeço pelo comentário e concordo com você quanto a certas similaridades no ganho de relevância das religiões nas relações estatais, bem como nas agendas de política interna por todo o mundo. Quanto aos pontos de cessão que cada ente pode aderir, é inevitável que entremos no campo das especulações, uma vez que os acordos bilaterais negociados são mantidos em sigilo. No entanto, aderindo a esse exercício de imaginação, me parece razoável dizer que o Vaticano estaria mais disposto a ceder a determinadas exigências chinesas, sendo essa opinião embasada no fato dos fiéis clandestinos - historicamente perseguidos - não serem exatamente simpáticos à aproximação recente entre os Estados. A principal alegação desses indivíduos é de que o governo chinês seria traiçoeiro e uma espécie de "anistia" em prol da pacificação das relações não seria o melhor dos caminhos, pois o Partido Comunista da China (PCCh) cedo ou tarde violaria o acordado. Já da parte chinesa, a nomeação de bispos pelo Papa não parece ser o grande problema, mas sim as potenciais ingerências estrangeiras que isso traz ao território chinês. De acordo com o Direito Canônico, um indivíduo não precisa nem mesmo ser nativo daquele país para que seja nomeado bispo. Logo, não é difícil imaginar as problemáticas que figuras alheias aos quadros do PCCh e detentoras de liderança social representariam ao modelo de governança pretendido pelo país.
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