Apresentação do tema
e discussão teórica
“Then at the height of the summer Emperor Meiji passed away. I felt as
though the spirit of the Meiji era had begun with the Emperor and had ended
with him. I was overcome with the feeling that I and the others, who had been
brought up in that era, were now left behind to live as anachronisms” (SOSEKI,
1957, pág. 240)
A
trecho acima, do romance, Kokoro (1914),
de Natsume Soseki, é parte da carta de suicídio do protagonista, na qual ele
procura comparar o fim da vida com o fim de uma era, era este que representava
toda uma compreensão de mundo e de sentido, e que se sintetizava na imagem do
imperador Meiji, trazendo a impressão de que o indivíduo que fez parte daquele
mesmo período também estivesse forçado a encarar seu próprio fim. Esta era a
sensação que Sensei, o protagonista do romance, sofria como um indivíduo que
fora destituído de seu tempo, perdendo toda base que dava significado à sua
existência.
A
obra Kokoro é constituída por duas
partes. A primeira consiste na descrição do protagonista, Sensei, a partir de
uma ótica de um estudante, o qual o toma como um critério para a análise das
relações pessoais à sua volta, em particular aquelas que se situam no âmbito das
questões familiares. A segunda parte se volta para a apresentação da carta de
Sensei ao estudante, na qual aquele narra o período de sua juventude (KATO,
1983, pág. 139-140). A obra literária apresenta um diálogo entre dois sujeitos
de mundos distintos, expondo duas perspectivas de mundo a respeito do processo
de modernização pelo qual passava Japão, e o impacto deste nas relações sociais
e particulares dos indivíduos. É partindo da narrativa sobre a interação dos
protagonistas com os demais sujeitos que Soseki desdobra os conceitos de
moderno e de individualismo presentes no Japão, o que são considerados pelo
autor provindos de uma origem externa introduzida pelos valores do Ocidente.
Tal situação é descrita na medida em que o estudante o considera Sensei como
seu mentor, por conta dos relatos autobiográficos que este último lhe faz. São
nestas passagens que Soseki fornece elementos referentes à sua perspectiva
sobre o individualismo como uma possível ameaça às tradições japonesas, na
medida mesma em que o vê como uma espécie de egocentrismo pelo qual o indivíduo
passa a usar sua condição social para abusar de outros (MONZANI, 2011, pág.
52).
Durante
a Restauração Meiji, o termo “literatura” (bungaku
文学), como arte literária,
não existia no Japão. Porém, pode-se pensar que o Japão teve uma experiência
literária, por meio das referências da produção poética da China, e da Coréia,
contendo uma forte presença da filosofia confucionista, como observa Brett de Bary:
“This was because of
that time of the Meiji Restoration in 1868, the inclusive term “literature”, or
bungaku, did not yet exist in
Japanese, and different genres were referred to by their specific names.
Karatani therefore emphasizes Sôseki’s relationship to kanbungaku, a modern Japanese term we have carried over into the
English translation to emphasize its specificity in the Japanese context.
Literary Chinese, much like Latin in Europe prior to the seventeenth century,
was the common written language of the Chinese, Japanese, and Korean
intelligentsia into the late nineteenth century.” (BARY, 1992, pág. 4)
Entretanto
no decorrer do período Meiji ocorre uma ressignificação dos valores
confucionistas por meio das interpretações da escola neo-confucionista Mitogaku, como foi visto anteriormente.
Nesse aspecto as obras literárias escritas em chinês, tinham como função,
segundo Karatani, inserir a escrita chinesa para o padrão gramatical japonês,
incorporando, uma nova forma de escrita conhecido como kanbun, deixando de ser uma literatura propriamente chinesa. Além
disso, é importante ressaltar que grande parte das obras escritas, em kanbun, era realizada por autores
japoneses, como aponta Bary:
“Kanbun texts,
however, could be said to have been canonical in so far as they were the basis
for the education of the Tokugawa elite. Such texts included Chinese Confucian
classics; Chinese poetry, historical writing, and essays, as well as writings
in diverse genres produced by Japanese.” (BARY, 1992, pág.4)
Nesse
sentido, é importante ressaltar que a noção de “literatura” trabalhada por
Soseki não se passa pela institucionalização de uma literatura nacional
japonesa, mas consiste antes na tentativa de propor uma “teoria da literatura”
no Japão (KARATANI, 1993, pág. 14-15). Neste aspecto, Soseki busca desenvolver
uma forma para poder definir a literatura japonesa, isto é elaborar uma
expressão linguística própria no romance japonês. Karatani investiga tal
característica através da formação da língua japonesa, que, por sua vez, teve
como base a escrita chinesa, cuja literatura se dava pelo termo kanbungaku:
“É através desse recurso que Soseki aponta a
distinção da perspectiva ocidental e oriental em relação ao comportamento entre
o indivíduo e o espaço, pois o autor japonês trata o kanbungaku como uma paisagem artística (sansuiga), logo, um quadro, em que tanto o sujeito e o objeto fazem
parte da mesma pintura, sem que haja uma separação de ambos os componentes.
Desse modo, a noção de identidade individual no viés ocidental se tornava
incompatível com a realidade japonesa.” (KARATANI, 1993, pág. 18-20).
Desse
modo, Natsume Soseki é um dos escritores que, em suas obras, têm como
preocupação ilustrar um período em que a forma, ou qualquer estrutura de
conhecimento ou modo de viver passa a se sujeitar à mudança, de maneira que não
haja princípios ou bases sólidas que sustentem a cultura japonesa, através da
descrição dos gestos e comportamentos do indivíduo, o japonês, e da interação
pessoal do sujeito com o outro, o que por sua vez, é moldada pelo processo de
modernização referente à era Meiji. Nesse aspecto, a problemática da concepção
do “moderno” presente nas narrativas de Soseki e a maneira de como este se
manifestada no meio urbano japonês, se assemelha à noção de “moderno”
apresentada por Baudelaire, no sentido de tratar a realidade como algo
transitório, e frágil, ao mesmo tempo em que se mantém referências a valores
transcendentes:
“A
modernidade é o transitório, o fugidio, o contingente, a metade da arte, cuja
outra metade é o eterno imutável. (...) Esse elemento transitório, fugidio,
cujas metamorfoses são tão frequentes, não se tem o direito desprezá-lo ou de
dispensá-lo.” (BAUDELAIRE, 2010, pág. 35).
Baudelaire
expressa a sua noção de “modernidade” na arte ocidental, aplicando esta mesma
ideia nas manifestações cotidianas da sociedade europeia, isto é nos gestos,
formas de vestir, representando, assim, os valores sociais existentes,
apontando que a forma passa a se tornar líquida, ou seja, a estrutura que
define os valores sociais passa a se tornar frágil. Nesse sentido, o que se
observa no caso de Soseki é a posicionamento de um sujeito pertencente a uma
noção de realidade, cujos valores sociais eram definidos por uma estrutura
rígida e imóvel, e que uma vez deparando-se com um mundo que passa a sofrer
mudanças sociais, passa ele mesmo a se transformar enquanto indivíduo, porém,
enfrentando as contradições que se manifestam em sua nova realidade, a qual
passa a se tornar paradoxal.
Essa
problemática se demonstra mais clara, no momento em que a obra fala sobre o
relacionamento entre Sensei e seu amigo K, no aspecto em que ambos expõem suas
respectivas visões de mundo, no momento em que discutiam sobre o sentimento de
afeto que K tem com a Ojosan e o conflito que o mesmo tem em relação
compreensão de mundo:
“K had always been
fond of the phrase, “concentration of mind”. When I first heard K mention it, I
thought it likely that “concentration of mind” implied, among other things,
“control of passions”. When I learned later that much more than this was
implied, I was surprised. It was K’s belief that everything had to be
sacrificed for the sake of “the true way”. Even love without bodily desire was
to be avoided. Pursuit of “the true way” necessitated not merely restraint of
appetite, but total abstinence; K made all this clear to me when he was living
alone and trying to support himself. I was already in love with Ojosan by that time, and I used to argue
with him whenever he brought up the subject of “the true way”. (…) What I
feared was the harm he might cause me if he decided to change his ways. It was
simply self-interest that prompted my remark.” (SOSEKI, 1957, pág. 215)
A
passagem acima aponta duas concepções de sujeito, a primeira corresponde à
figura de K, em que é retratado como uma pessoa pertencente aos valores
tradicionais, representados pelo ideal budista que é identificado nos elementos
tais como “concentração de mente” e “caminho correto”, prezando principalmente
a repressão dos desejos do ego individual em prol de um todo. Assim, o aspecto
do “caminho correto” que K tanto preza é a consciência de que o indivíduo se
faz pertencente de um conjunto, dito como mundo, de modo que a pessoa em si, é
desprovida de significado e valor, assim como o mundo, ou a natureza em si não
possui sentido. Ela é caótica, apesar de seguir uma ordem natural, ditado pela
natureza material, o que leva a concluir que o sujeito e a natureza em si, é
vazia. A segunda concepção se passa pela imagem de Sensei, em que se preza o
indivíduo, ou seja, o mundo é ditado pelo ser. Pode se notar as características
do homem “moderno” na atuação do protagonista do fato deste temer da
possibilidade de seu amigo K mudar a sua forma de pensar em prol de seus
desejos, assim como próprio Sensei havia mudado na sua maneira de ser no
momento quando passou a apresentar sentimentos em relação à Ojosan. Essa mudança é o que caracteriza
o “moderno”, pois é o elemento que altera as relações pessoais no decorrer da
narrativa da obra Kokoro, além de ser
encarado como um problema externo.
Dessa
forma, o ponto que se identifica nessa questão é justamente a preocupação das
questões individuais, como fator que acarreta o desaparecimento do
reconhecimento do outro, provocando o distanciamento de K e de Sensei. Tal
distanciamento não se dá em função de um atrito por ambos desejarem a mesma
pessoa, mas pelo aspecto de K ter permanecido com sua visão de mundo, enquanto
Sensei já havia mudado, como pessoa, ou seja, não era mais o mesmo amigo que K
outrora conhecera. Nesse sentido, Soseki aponta uma ruptura dos valores que
davam significado à sociedade japonesa que, por sua vez, dá lugar a concepções
de modernidade provenientes de ideais estrangeiros.
Outro
ponto importante que a figura de Sensei demonstra é a ausência de significado,
a renúncia à vida, restando apenas o sentimento de melancolia e culpa pela morte
de seu amigo K, devido a um conflito amoroso na sua juventude, assim buscando
conformidade com a morte, se identificando com o suicídio de K e com o
falecimento do imperador. Neste aspecto, Soseki utiliza o recurso de Monomane, isto é imitação, no sentido de
o indivíduo apresentar um gesto em conformidade com a atuação de outrem, ou
seja, o ato da pessoa se parecer com o outro. Nesse caso, trata-se de uma
valorização do coletivo em detrimento do indivíduo, como uma forma de prazer na
sensação de fazer parte de um todo, como aponta o antropólogo Michitaro Tada:
“Ocorre-me
agora que a razão pela qual sentimos prazer ao experimentar a desintegração do
“eu” é que, no fundo, o que sentimos de fato é um grande alívio durante essas
experiências. E isso ocorre porque em nossa sociedade existe uma unidade
garantida, baseada no pressuposto de que todos nós “nos parecemos” com outro
alguém. Dessa forma, somos firmemente amparados pela interconectividade que
esse acordo tácito implica. Por essa razão, quando experimentamos uma
desintegração do “eu”, permanecemos não obstante confiantes e à vontade, pois
recorremos ao sentido subjacente de uma unidade assegurada que nos apoia”
(TADA, 2009. Pág. 25).
É
nesse comportamento que o personagem de Soseki encontra conforto e alívio ao
buscar a identificação e o desejo de realizar o mesmo ato de renúncia à vida do
imperador e do seu leal general Nogi, pois, ambos representam os valores e as
tradições que foram responsáveis pela formação da geração de Sensei. Esta
circunstância pode ser descrita como um homem no seu tempo, que perante a vinda
de um mundo totalmente distinto do seu, escolhe abdicar de sua vida, assim como
seus contemporâneos fazem, permanecendo assim no seu respectivo tempo, além
disso, ocultando sua individualidade e se alinhando com o coletivo. Partindo
disso, tal posicionamento é mais que uma válvula de escape dos problemas
pessoais do protagonista, mas uma postura social da parte do personagem em
relação ao mundo em que se identifica.
Materiais e Métodos
O
trabalho é conduzido por meio da reflexão de Karatani Kojin da sua obra Origins of Modern Japanese Literature de
1993. Por meio desse material, é
permitido que se possa desenvolver uma análise histórico de como o conceito de
identidade do “eu”, no sentido
moderno foi sendo desenvolvido e presente na literatura japonesa, partindo da
obra de Natsume Soseki, no caso, o Kokoro
de 1914. Nesse sentido, o foco se dá na atenção da produção literária
japonesa, no espectro do romance, acompanhando como o elemento da modernização
vinda do ocidente para a sociedade japonesa se manifesta no campo da literatura.
A
discussão sobre a conceituação da identidade do “eu”, no campo da cultura e do
espectro social japonês, foi desenvolvido uma reflexão com as perspectivas
apresentados por Tada Michitaro e Nakagawa Hisayasu no que concerne a respeito
de linguagens gestuais e expressões da fala japonesa que nos permitem
interpretar e analisar facetas do “eu” japonês e de suas nuanças com a
introdução da modernidade no período Meiji.
Conclusão
Nesse
sentido, Soseki manifesta em Kokoro o
conceito de identidade japonesa mergulhado no coletivo no aspecto da morte como
forma de um posicionamento defensivo perante o estrangeiro, isto é a presença
do “moderno” ocidental no cotidiano japonês. Ou seja, trata-se de uma reação,
pelo menos na obra de Soseki, ao individualismo fator que é visto como algo
externo pelo autor, e apontado como característico do processo de modernização
que se fez no Japão moderno. Nota-se ao longo da narrativa que o “eu” japonês
sempre se encontra inserido num contexto ou circunstância específica, dotado de
um determinado sentido, levando sempre em conta o fator da pessoa se comparar
com o outro, buscando semelhanças não propriamente de um determinado indivíduo,
mas de um todo, fator que demonstra um alinhamento do indivíduo com a
sociedade. Hisayasu Nakagawa identifica esse fenômeno na língua japonesa, em
que se observa a ausência da autoafirmação do eu japonês em que o “eu” sempre
se encontra inserido num determinado contexto, ou seja, o seu significado
provém de um fator externo e não de si.
“Para
chegar a uma explicação mais concreta, vou utilizar o exemplo seguinte. Supunha
que uma criança esteja assustada diante de um cão enorme. Para tranquilizá-la,
chego perto dela e digo, em francês: “Não tenha medo, não chore eu estou aqui com você”. Mas, em japonês,
vou dizer, em tradução literal: “Não tenha medo, não chore, seu paizinho está com você”,
qualificando-me em relação a ela como seu
paizinho (ojisan, em japonês). O eu é definido, em função da
circunstância, pela relação com o outro: sua validade é circunstancial, ao
contrário do que ocorre nas línguas europeias, nas quais a identidade se afirma
independentemente da situação” (NAKAGAWA, 2008. Pág. 25-26).
O
eu japonês, portanto, se encontra
inserido num determinado locus o que
limita a sua forma de ser empregado. Esta questão se faz presente na realidade
japonesa até nos dias atuais, fator que se configura não apenas na linguagem,
mas também repercute tanto no aspecto comportamental do indivíduo como na
sociedade como um todo. A problemática, porém, que se observa na sociedade
japonesa moderna é o que Michitaro Tada aponta como “sociedade informe”, isto é
que apesar de haver uma estrutura definida por uma linguagem que, por sua vez,
circunscreve as ações do indivíduo no cotidiano, inserido numa noção de coletividade,
esta mesma linguagem é desprovida de significado e sentido, ou seja, ela é
vazia (2009, pág. 126). Este fator é identificado no personagem de Soseki,
porém, este consegue solucionar o problema ao se integrar com os valores
existentes de seu tempo.
Referências
Levi
Yoriyaz Mestrando em História do Programa de Pós Graduação da Instituição de
Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp; 2
Fontes:
SOSEKI, Natsume. Kokoro. Chicago: Henry Regnery Company, 1957.
BARY, Brett de. Introduction .In:
KARATANI, Kojin. Origins of Modern Japanese Literature. Duke University Press
Books, Durham and London, 1993.
BAUDELAIRE, Charles. O Pintor da Vida
moderna. In: DUFILHO, Jérome (Con);
KARATANI, Kojin. Origins of Modern Japanese Literature.
Duke University Press Books, Durham and London, 1993.
MONZANI, João Marcelo Amaral Reimão.
Uma abordagem do romance Kokoro de
Natsume Sôseki. Dissertação apresentada ao Departamento de Letras Orientais
para título de mestre em Letras – Língua, Literatura e Cultura Japonesa, São
Paulo, 2011.
NAKAGAWA, Hisayasu. Introdução à
cultura japonesa: ensaio de antropologia recíproca. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
TADA, Michitaro. A cultura gestural
japonesa: manifestações modernas de uma cultura clássica. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Olá,
ResponderExcluirConforme indicado em seu texto, o termo "literatura" como arte literária não existia no Japão durante a Restauração Meiji. Como essa produção era encarada? Para além da filosofia confucionista, quais referências influenciavam esta produção?
abraços,
Victor Raphael Rente Vidal
Olá Victor, postando novamente a resposta. A produção textual na era Meiji era encarada como se fosse uma pintura retratando uma paisagem, onde Soseki tenta comparar a escrita com a pintura, utilizando a ideia de sansuiga (imagens de montanhas e rios), além de levar em consideração que a própria caligrafia japonesa era encarada como uma obra de arte, isto é a representação de uma palavra-caractere refletiria a ideia de sansuiga. Já a respeito de referências que fortemente colaborou para o desenvolvimento da arte escrita japonesa, foi o budismo Zen, onde podemos ressaltar autores do século XII e XIV, como Kamo no Chomei e Yoshida Kenko, e também figuras do século XVIII, como Matsuo Basho.
ExcluirO conceito de modernidade japonês é um tema com vasa possibilidade de exploração, principalmente pela troca e criação de teorias que se formaram durante o século XIX.
ResponderExcluirJá após a Restauração Meiji (1868), pensadores de diferentes escolas já discutiam sobre o processo de modernização e papel da história na formação da identidade nacional - ainda não estabelecida na época.
Estudo Fukuzawa (1875) e sua obra relacionada ao conceito de civilização e processo de "importação' desta mesma, como um processo de modernização da sociedade japonesa. Para ele, estes conceitos estão ligados a unicidade nacional, aspecto que para ele estava presente no processo civilizacional das sociedades ocidentais.
Gostaria de saber se é possível ver em Soseki, o contato com a modernização ocidental como aspecto de formação de identidade nacional e unificada no Japão?
O conceito de modernidade japonês é um tema com vasa possibilidade de exploração, principalmente pela troca e criação de teorias que se formaram durante o século XIX.
ResponderExcluirJá após a Restauração Meiji (1868), pensadores de diferentes escolas já discutiam sobre o processo de modernização e papel da história na formação da identidade nacional - ainda não estabelecida na época.
Estudo Fukuzawa (1875) e sua obra relacionada ao conceito de civilização e processo de "importação' desta mesma, como um processo de modernização da sociedade japonesa. Para ele, estes conceitos estão ligados a unicidade nacional, aspecto que para ele estava presente no processo civilizacional das sociedades ocidentais.
Gostaria de saber se é possível ver em Soseki, o contato com a modernização ocidental como aspecto de formação de identidade nacional e unificada no Japão?
Eder Milesky.
Boa tarde Eder. Obrigado pela pergunta. A respeito da questão de estabalecer uma relação de Soseki com a modernização ocidental, identidade nacional do Japão, ela é possível. Tem uma obra que Soseki escreve chamada "Bungakuron" - Theory of Literature em 1906. Nesta obra, ele faz uma análise a respeito da ideia de 'literatura' concebida na Europa (no caso o britânico) e a compara com as manifestações artísticas japonesas. A sua estrutura e forma de análise apresenta semelhanças com a abordagem de Fukuzawa Yukichi, no sentido de haver um reconhecimento de que as nações ocidentais (sobretudo Império Britânico e Estados Unidos) apresentam um elevado nível de superioridade bélica, científico-tecnológica, daí a necessidade de "importar" modelos de modernização. Porém, Soseki também enxerga o processo de modernização como um problema, no aspecto de trazer estranheza e atritos com a cultura japonesa. Nesta parte, Soseki realiza uma tentativa de distinguir "literatura ocidental" com a arte japonesa, o que a partir disso poderiamos pensar em 'identidade nacional japonesa'. Mas a sua abordagem se alinha mais para as ideias de Okakura Kakuzo (1863-1913) a respeito da arte japonesa atrelada à identidade relativa ao Japão (obras como 'Ideals of the East" de 1904 ou "O livro do chá" de 1906).
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