A CHINA E O CHÁ: ENSAIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA BEBIDA NA CULTURA E NAS PRÁTICAS ALIMENTARES CHINESAS por Felipe Ruzene


Considerações iniciais

Perdendo hoje apenas para a água como a bebida mais consumida do mundo, o chá é preparado de muitas formas e suscita variadas práticas [GILBERT, 2008, p. 8]. A parte dita “Oriental” do mundo mantém uma relação ainda mais forte com o chá em suas diferentes formas. Usamos aspas por entender que o “Oriente” é uma invenção “ocidental”, europeia em grande parte, para afirmar um estilo de pensamento estruturado na distinção entre ambos, conforme afirma Edward Said [1996, p. 13-39]. Voltando ao chá, a China se destaca como o maior produtor e o maior consumidor global em volume absoluto, correspondendo a impressionantes 41% do mercado atual [INDEX BOX, 2022]. Essa relação entre a China e o chá é longínqua, certamente anterior à dinastia Han (c. 206 AEC a 220 EC) [BENN, 2015].

 

Por isso, neste breve texto, consideraremos as múltiplas potencialidades do chá na China, limitando-nos aos períodos anteriores ao século XIX, quando tal produto se tornou uma commodity mundial. Longe de negar a extensa e bem produzida bibliografia acerca do chá no mercado global, após os anos 1800, nosso recorte diz respeito à história do chá como bebida nas esferas cultural e religiosa chinesas. Assim, optamos principalmente por fontes referentes às dinastias Tang e Song (581-1279 EC), período em que a literatura do chá encontrou seu ápice na China imperial.

 

As principais evidências da história do chá vêm das elites chinesas e refletem as práticas e interesses de uma classe privilegiada. Entretanto, é possível, com o devido cuidado, vislumbrar os valores simbólico-culturais do chá para a sociedade chinesa de modo geral, passando pelo inconsciente de ricos e pobres [BENN, 2015, p. 3]. Não pretendemos, porém, inclusive pela limitação do espaço, apresentar uma história abrangente do chá, mas introduzir às práticas e significações simbólicas da bebida, sobretudo nas dinastias citadas. Tratando, dessa forma, das múltiplas recepções do chá na cultura alimentar chinesa.

 

Para tanto, abordaremos a interpretação mitológica da origem da bebida, o desenvolvimento e a disseminação do chá na China e um pouco sobre a formação da literatura especializada durante o período tradicional. Perceberemos, pois, que na atualidade o chá é um alimento mundialmente difundido, mas nem sempre foi assim, e podemos aprender muito sobre as dimensões do gosto e as práticas alimentares na sociedade imperial chinesa estudando seu desenvolvimento e disseminação.

 

 

O desenvolvimento do chá enquanto marcador cultural chinês

Pouco há sobre as origens do chá. Sabemos apenas que a bebida pode ter sido consumida pela primeira vez na China há mais de 4000 anos [GILBERT, 2008, p. 8]. Em verdade, não é central à História da Alimentação buscar as origens dos alimentos, mas compreender as temáticas integradoras das memórias gustativas, sentimentos e práticas alimentares no interior das estruturas culturais. Logo, a alimentação vai muito além de apenas comer e beber, revelando conotações simbólicas, sociais, políticas e culturais, mostrando-se um relevante fragmento das práticas que definem determinada sociedade [SANTOS, 2011, p. 111]. Como afirmou Michel de Certeau [2001], as práticas culturais (e nelas incluiremos a alimentação) revelam as maneiras de se fazer o cotidiano.

 

Apesar do exposto, materiais bastante populares a respeito da história do chá frequentemente atribuem a origem da bebida ao mítico governante e herói chinês Shennong (神農), o Imperador Vermelho (r. 2737– 2697 AEC) [BEEN, 2015, p. 21]. Essa versão, que aparentemente teve início com os grandes autores clássicos da história do chá na China, ainda hoje é reafirmada, sem qualquer mérito histórico, por sites, reproduções midiáticas e, até mesmo, obras com alto grau de seriedade.

 

De acordo com o décimo nono capítulo da obra Huainanzi (淮南子) – um clássico da filosofia chinesa, escrito na dinastia Han (c. 139 AEC) pelo Imperador Liu An (c. 179-122 AEC) e os sábios de sua corte – em tempos antigos as pessoas se alimentavam de plantas e bebiam apenas água, de modo que constantemente sofriam por doenças e envenenamentos provenientes de sua alimentação. O heroico Shennong, intitulado “fazendeiro divino”, teria pessoalmente testado várias ervas em nome da humanidade, definindo dentre elas aquelas adequadas ao consumo [LIU, 2010, p. 888-889].

 

Adiante, em meados da dinastia Tang, o escritor Lu Yu [1974, p. 115] narra que o Imperador Vermelho teria descoberto, acidentalmente, a bebida. De acordo com o mito, Shennong estava esquentando água à sombra de uma pequena árvore silvestre que balançava com o vento. Casualmente uma folha teria se desprendido dos galhos e caído na água fervente, criando uma infusão. O sabor surpreendeu o monarca, que se sentiu profundamente revigorado após terminar a bebida. Assim teria nascido a primeira xícara de chá.

 

Ao que indicam as fontes, o clássico de Lu Yu foi a primeira obra a vincular, e de modo bastante convincente, o chá a um herói cultural, uma figura importante para a mitologia, agricultura e medicina na China. Aparentemente, a conexão lógica entre o Imperador Shennong e o chá se deve justamente às potencialidades similares que congregam. Afinal, a planta também se fez célebre por sua relevância para a agricultura e economia chinesas, bem como por seus efeitos medicinais, considerados muito benéficos para corpo e mente [BENN, 2015, p. 30]. O sobrenatural que cerca a imagem de Shennong não se limitou à descoberta do chá, visto que ele é considerado o último dos Três Augustos, reis-deuses lendários que usaram seus poderes extraordinários para melhorar a vida das pessoas durante a Antiguidade chinesa [HUCKER, 1975, p. 22-23].

 

Historicamente, apesar de haver algumas poucas controvérsias quanto ao assunto, os estudiosos supõem ser bastante provável que a origem do chá seja realmente a China [BENN, 2015, p. 5-6]. Muitas vezes a Índia também é evocada como o berço do chá, entretanto, embora o chá selvagem possa ter crescido espontaneamente na região de Assam, no Leste indiano, a planta do chá não foi ali cultivada e comercializada até a invasão britânica do século XIX [STANDAGE, 2005, p. 168]. Como já mencionado, nossa pretensão não é a de vasculhar as fontes para reconstituir as origens do chá, mas entendê-lo como parte importante da história chinesa e destacado marcador cultural desde a China Antiga.

 

O chá, inserido nas análises teórico-metodológicas da História da Alimentação, acompanha com afinco a economia, sociedade e cultura diversas. Como protagonista ou coadjuvante, contribuiu com inúmeras transformações dos espaços e das relações humanas, participando desde a comensalidade familiar cotidiana, até episódios de revolta e guerra – como as Guerras do Ópio [STANDAGE, 2005, p. 163-167] e a festa do chá de Boston [DINELLI, 2015, p. 38].

 

O termo Chá () diz respeito tanto à bebida, quanto à planta (Camellia sinensis) que lhe dá origem. Na realidade, em português há uma palavra (tisana) para definir as infusões que não sejam preparadas exclusivamente a partir das folhas dessa planta. Entretanto, o termo é pouco usual, visto que se popularizou o nome chá como sinônimo de quaisquer infusões, sejam de flores, frutos, raízes ou ervas [WEIR et al, 2012, p. 43]. Comumente, os chás chineses são classificados em seis categorias, de acordo com a idade e tamanho das folhas, oxidação, tratamento pós-colheita, qualidade do produto etc. São elas: chá verde (绿茶), amarelo (黄茶), branco (白茶), oolong (青茶), vermelho (红茶) e preto (黑茶) [WEIR et al, 2012, p. 43]. A maior parte do chá consumido na China (tanto no período estudado, quanto na atualidade) é de chá verde, não oxidado [BENN, 2015, p. 8].

 

Como bem apontou o pesquisador estadunidense James A. Benn em sua obra Tea in China [2015], a história do chá não é a de uma China “atemporal e imutável”. Ao invés disso, as inúmeras e drásticas mudanças da história chinesa – que impactaram a economia, agricultura, trabalho, sociedade e cultura – refletiram também nas práticas de cultivo, comércio e consumo de chá. Tanto foi que a própria infraestrutura do sistema imperial assegurava a difusão do produto, permitindo a composição de uma bebida nacional capaz de unir as macrorregiões da China Imperial [BENN, 2015, p. 3].

 

Segundo Benn [2015, p. 2, tradução nossa]: “o chá na China tradicional não era apenas uma mercadoria para ingestão diária; veio entrelaçado com uma série de associações e suposições sociais e culturais complexas”. Atualmente, o chá (a partir das ritualísticas sulistas da China medieval) passou a exercer um poder simbólico de marcador cultural para diversas sociedades do “Oriente” – inclusive, sendo apropriado e reinterpretado pelos denominados “ocidentais”, como na adesão ao gosto britânico no início do século XVIII [STANDAGE, 2005, p. 158]. A partir de então os europeus passaram, semelhantemente aos chineses, a beber chá como um símbolo de riqueza e sofisticação, embora o fizessem sob a égide de suas próprias consciências culturais [GILBERT, 2008, p. 8].

 

A difusão da cultura do chá

O hábito de beber chá regularmente teve início durante a China Medieval com os monges budistas, prática mais tarde incorporada pelos literatos e, a posteriori, rapidamente adotada pela população em geral [BENN, 2015, p. 3]. Dessa difusão da bebida entre os chineses nasceu a necessidade de um recipiente que não adulterasse o sabor dos melhores chás (como ocorria com o uso de xícaras de madeira, metal ou barro, por exemplo), essa demanda estimulou o desenvolvimento da célebre porcelana chinesa [GILBERT, 2008, p. 8].

 

Preliminarmente, é necessário notarmos a heterogeneidade das práticas relativas ao consumo de chá ao longo do tempo. A difusão da bebida se confunde com a própria história da China, de modo que o consumo de chá passou por numerosas formatações até a sua composição tal como é no cerimonial moderno. Os métodos de infusão do chá, por exemplo, passaram por profundas modificações.

 

Em tempos mais remotos, entre as dinastias Hang e Sui (cerca de 206 AEC a 618 EC) as folhas, ainda frescas, eram mergulhadas em água quente para preparação da bebida. Já na dinastia Tang (618 a 907 EC), o chá era comercializado em formato de bolos (folhas de chá não fermentadas eram cozidas no vapor, misturadas com um aglutinante e moldadas em bolos para que pudessem ser embalados e transportados por longas distâncias), posteriormente moído e infundido em água muito quente, mas não fervendo. Neste período aparecem possíveis aromatizantes para os chás, normalmente cascas de frutas cítricas, mas também sal, especiarias, cebola, cebolinha, gengibre, jujuba (açofeifa), bagas de corniso, frutas secas ou hortelã-pimenta que eram fervidos junto ao chá para agregar sabores, como explicou Lu Yu [1974, p. 116] em O clássico do chá (Chájīng).

 

O autor faz questão de enfatizar seu menosprezo a essa técnica de preparo, pois transforma o chá em uma espécie de “sopa” [BENN, 2015, p. 9]. Apesar dos protestos de Lu Yu, o consumo do chá salgado como sopas não foi uma prática finda. A cultura Hakka (ao sul da China continental) ainda hoje possui em sua culinária o tradicional Lei Cha (擂茶): um preparo de chá moído em pilão com especiarias, ervas e/ou temperos, que dá origem a um caldo condimentado e salgado. O lei cha é comumente servido puro ou acompanhado de amendoim e arroz, em outros casos é usado como acompanhamento de uma refeição principal. Atualmente, esse caldo hakka passou a integrar a alta gastronomia, sendo reinterpretado no cardápio dos restaurantes mais renomados da China.

 

Durante a dinastia Song (960 a 1279 EC), o chá torrado e moído era batido com água quente para formar um líquido leitoso com uma espuma bastante apreciada. Diversos tratados surgem nesse período, orientando quanto ao consumo do chá, às diversas qualidades dos produtos e instruindo os amantes da bebida para que não fossem enganados pelos comerciantes. A partir da dinastia Ming (1368 a 1644 EC) é que o chá passou a ser infusionado em água fervente, assemelhando-se aos modos atuais de consumo – folhas de chá não fermentadas que são cozidas, enroladas e secas, depois comercializadas a granel. Somente no século XV surgiu o chá Oolong, produzido a partir de folhas oxidadas, depois murchas, cozidas, enroladas e secas para interrupção do processo de oxidação. O chá preto (ou vermelho, para os chineses) só apareceu na China em meados do século XIX [BENN, 2015, p. 5-9].

 

Um dos benefícios do chá para a economia e agricultura na China, deve-se ao fato de ser uma planta com potencial de cultivo mesmo em terrenos elevados ou regiões montanhosas, salvaguardando o nível do solo para o plantio de outros produtos de igual importância, como o arroz. Tal fato também auxiliou na difusão do chá dentro dos monastérios budistas e taoístas. Afinal, como a China possui uma geografia bastante irregular, os templos eram frequentemente edificados em áreas montanhosas, onde a prática agrícola se mostrou limitada [CIVITELLO, 2008, p. 18].

 

O chá contém cafeína, motivo pelo qual a bebida age como estimulante sobre o corpo e a mente. Tal efeito foi profundamente evocado a favor do consumo de chá entre poetas e sacerdotes chineses, desde a Antiguidade. Além disso, o chá era reconhecido como capaz de reduzir dores de cabeça e no corpo, conter a febre, auxiliar na digestão e no bom movimento intestinal, promover a saúde, bem-estar e longevidade dos indivíduos, bem como combater os efeitos do álcool – no pensamento tradicional chinês, o álcool inebriante e o chá revigorante representavam polos antagônicos, yin e yang [BENN, 2015, p. 6-11]. Não obstante, Lu Yu [1974, p. 111] enfatiza que: “A moderação é a própria essência do chá. O chá não se presta à extravagância”.

 

Beber chá era considerado um grandioso medicamento, promovendo a cura de uma ampla gama de males, desde ataques epiléticos até disenteria. Foi utilizado inclusive como enxaguante bucal pelos chineses da dinastia Tang – o que não é de todo estranho, visto que ele realmente possui alto teor de fluoretos [CIVITELLO, 2008, p. 84]. De fato, muitos dos benefícios do chá à saúde humana foram ratificados pela medicina moderna [Cf. WEIR et al, 2012].

 

Segundo Lilia Dinelli [2015, p. 35], desde o século VI EC, os monges budistas encontraram no chá o estado ideal para a prática da meditação: a bebida garantia o relaxamento do corpo ao mesmo passo que auxiliava a dominar o sono. Não à toa, no Hana Matsuri (花祭), festa budista que celebra o nascimento de Śākyamuni Buddha (o Buda histórico, Sidarta Gautama), uma imagem jovem do príncipe é banhada pelos fiéis com chá doce. Uma referência ao néctar que, segundo a tradição, choveu sobre a terra no dia do nascimento do monge desperto. O chá (assim como o vinho na tradição judaico-cristã) passou a representar uma série de significados simbólicos para a religião budista, criando profundas relações entre o comer e o rezar [cf. SOUZA, 2018].

 

Alguns estudiosos, como Dinelli [2015, p. 38], apresentam a hipótese de que o grande consumo de chá levou o povo chinês a se tornar sereno e tranquilo. Essa interpretação, além de atribuir juízos de valores às práticas alimentares, perpassa um já extenso debate dos orientalistas quanto à visão estereotipada que retratada os povos do “Oriente” exclusivamente a partir de um rol seleto de influências do budismo ou do confucionismo, comumente sob uma óptica marcada pelo redutivismo “ocidental” [SAID, 1996, p. 129].

 

A literatura e os estudos relativos ao chá

Segundo Meng Yuanlao, escritor de uma das fontes clássicas do período Song, Dongjing Meng Hua Lu (東京夢華錄), ou Sonhos de Esplendor da capital oriental, o povo chinês detinha sete necessidades básicas e diárias. Eram elas: lenha (, chái), arroz (, mĭ), óleo (, yóu), sal (, yán), molho de soja (, jiàng), vinagre (, cù) e, é claro, chá (, chá) [CIVITELLO, 2008, p. 87]. Assim, mesmo antes das grandes composições literárias acerca da bebida, o chá já aparece como recorrente elemento do cotidiano chinês.

 

Durante as dinastias Tang e Song, escritos a respeito do chá eram classificados em temáticas específicas (agricultura, economia, geografia, literatura etc.) [ZANINI, 2017, p. 46]. A literatura relativa ao chá foi reconhecida na China como um gênero individual durante a dinastia Ming (1368-1644 EC), com a publicação da coletânea Chashu (Escritos sobre o Chá) em 1612. Na atualidade, o termo chashu (茶書) passou a designar, como rótulo geral, os ensaios acerca do chá escritos no período imperial chinês [ZANINI, 2017, p. 44-45].

 

O já referido texto de Lu Yu, como indica o próprio título (clássico), pretendia o status de pedra fundadora da tradição do chá e de seu cerimonial. De fato, o Chajing impactou profundamente o processo de difusão do consumo de chá na China Antiga. Durante séculos seu trabalho foi recebido como fonte inspiradora para os amantes da bebida, sendo considerado de inigualável importância para a cultura do chá – mesmo após os métodos de produção e consumo se alterarem daqueles prescritos por Lu Yu [ZANINI, 2017, p. 45].

 

Ao optar pelo recorte das dinastias Tang e Song, não negamos as múltiplas e complexas atividades da cultura do chá em períodos posteriores, tais como o uso do chá de folhas soltas, o desenvolvimento do bule e a expansão de obras literárias a respeito da bebida durante as dinastias Ming e Qing (aproximadamente dos séculos XIV ao XX). Em verdade, partimos da leitura que as práticas e significados entorno do consumo de chá na atualidade, desenvolveu-se a partir de mutações e permanências de práticas anteriores, antigas e medievais, não representando caracteres inéditos [BENN, 2015, p. 3]. Em verdade, esse recorte se deve à observação de que, durante as dinastias Tang e Song, o consumo de chá, o desenvolvimento de casas de chá e o chá enquanto temática de inspiração artística, “tornaram-se parte do tecido da vida chinesa” [GILBERT, 2008, p. 8, tradução nossa].

 

Referências:

Felipe Daniel Ruzene é graduando da Licenciatura em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Bacharelado em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano (BAT). Também estudou no Colégio Técnico Industrial de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista (CTIG/UNESP), na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAr) e na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Membro discente do grupo de pesquisa Antiga e Conexões/UFPR, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Renata Senna Garraffoni. E-mail: felipe.ruzene@ufpr.br

 

BEEN, J. A. Tea in China: a religious and cultural history. Honolulu: University of Hawai‘i Press, 2015.



CERTEAU, M. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

 

CIVITELLO, L. Cuisisne and culture: a history of food and people. 2ª Ed. Hoboken: John Wiley & Sons, 2008.

 

DINELLI, L. “Experiências com o chá e com o país do chá” in Convenit Internacional, v. 19, p. 35-40, 2015.

 

GILBERT, M. J. “Chinese Tea in World History” in Education About Asia, v. 13, n. 2, p. 8-14, 2008.

 

HUCKER, C. O. China's Imperial Past: an introduction to Chinese History and Culture. Palo Alto: Stanford University Press, 1975.

 

INDEX BOX. Tea market in China, 2022. Disponível em: https://app.indexbox.io/report/090210h090240/156/

 

LIU, A. The Huainanzi: a guide to the theory and practice of government in early Han China. Tradução: John S. Major [et al.]. New York: Columbia University Press, 2010.

 

LU, Y. The classic of tea: origins & rituals. Tradução: Francis Ross Carpenter. New Jersey: The Ecco Press, 1974.

 

SAID, E. W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução: Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

SANTOS, C. R. A. dos. “A comida como lugar de história: as dimensões do gosto” in História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, p. 103-124, 2011.



SOUZA, P. R. “Comer e rezar: o papel das práticas alimentares no estudo da religião” in Revista Último Andar: Cadernos de Pesquisa em Ciências da Religião, n. 32, p. 111-121, 2018.

 

STANDAGE, T. “O poder do chá” in História do mundo em 6 copos. Tradução: Antonio Braga. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. p. 157-173.

 

WEIR, T. L. et al. “Medicinal chinese teas: a review of their health benefits with a focus on fermented tea” in Herbalgram: American Botanical Council, v. 94, p. 42-47, 2012.



ZANINI, L. “Chinese writings on Tea: classifications and compilations” in Ming Qing Yanjiu, v. 21, p. 44-57, 2017.

19 comentários:

  1. Suelen Bonete de Carvalho4 de outubro de 2022 às 00:04

    Olá! Adorei o teu texto, achei muito rico em informações da cultura chinesa. A China consome chá antes da meditação para acalmar e deixar a pessoa serena certo? Minha pergunta é: existe um ritual do chá na China como existe no Japão? Se sim, o ritual japonês foi inspirado no chinês?
    Suelen Bonete de Carvalho

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Suelen. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pela dúvida e elogios!

      Quando as pessoas pensam sobre os aspectos religiosos e culturais do chá no leste da Ásia, elas podem pensar primeiro no Japão e não na China, por causa da fama da cerimônia do chá japonesa. Porém, foi na mão dos monges chineses que o chá ganhou novas perspectivas e foi considerado um representante de preceitos filosóficos, como respeito à natureza, humildade, paz e tranquilidade. Adquirindo caracteres cerimoniais por razões sociais/culturais/materiais e não meramente doutrinários.
      Portanto, há na China um cerimonial para o consumo da bebida. Sua liturgia, que remonta pelo menos ao século XVIII, preocupava-se com a atitude ante à cerimônia, escolha do chá (em virtude de fragrância, forma e sabor), seleção da água, definição dos assessórios, ambiente e técnica empregada. O Gong Fu Cha (工夫茶), cerimonial do chá chinês, possui múltiplos estilos, variando de acordo com a região e influências artístico-filosóficas.
      Por sua vez, o chá ingressa ao Japão entre os séculos VII e IX EC, por intermédio do monge budista Eichu (永忠), que conheceu a planta e suas funcionalidades medicinais quando viajou à China. Embora diversa, a cerimônia do chá japonesa, ou Chanoyu (茶の湯), também se desenvolveu por influências taoístas e budistas, relacionando a bebida com a natureza e filosofia. Logo, é plausível supor uma relação entre os cerimoniais.

      Caso queira saber mais sobre a liturgia da cerimônia do chá chinês, sugiro a leitura do primeiro capítulo da obra “Tea in China: A Religious and Cultural History” (2015) de James A. Been.

      Espero ter sanado sua dúvida!

      Felipe Ruzene

      Excluir
    2. Suelen Bonete de Carvalho6 de outubro de 2022 às 21:59

      Muito obrigada pela resposta e indicação do livro. Confesso que teu texto me despertou uma vontade de saber mais sobre o assunto!
      Suelen Bonete de Carvalho

      Excluir
  2. Olá, tudo bem? Gostaria de parabenizar pela escrita fluida e objetiva do texto. Minha curiosidade sobre o tema se dá em relação as casas de chá: é possível identificar ou problematizar a estrutura sociocultural chinesa a partir delas? Quem serve, quem frequenta, redes de sociabilidade? Eu sei que o teor do seu texto não tem a pretensão de discutir essa especificidade, mas foi algo que me chamou a atenção.

    Att.
    Jessica Caroline de Oliveira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Jessica. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pelos elogios e pela dúvida!

      De fato, como minha pesquisa caminha nas interpretações Pós-Estruturalistas da História Cultural, não me debrucei muito sobre a sociabilidade nas casas de chá do período imperial. Mas é uma proposta bastante interessante! Nas fontes consultadas observamos que as casas de chá, cháwū (茶屋), eram bastante heterogêneas e parecem ter surgido com a difusão da bebida como elemento social entre as dinastias Tang e Song. Segundo relatórios Song referenciados por James Been (2015, p. 125-126), diversos indivíduos registraram casas de chá, não apenas nobres e proprietários de terras, mas também camponeses, pequenos proprietários e mosteiros budistas e taoístas.
      Lu Shusheng (1509-1605), autor da dinastia Ming, escreveu a obra Cha Liao Ji (茶寮记), “Um registro de casas de chá” [em tradução livre]. Nela encontramos registros detalhados das experiências do autor em diversos desses estabelecimentos na China (BEEN, 2015, p. 184). Os locais variavam desde casas formais (frequentadas por nobres e grandes proprietários, onde o chá era servido junto com aperitivos por vassalos ou empregados domésticos e entretidos por poetas, atores, cantores de ópera, contadores de histórias ou malabaristas), até casas errantes (nas quais o chá era compartilhado por iguais, fervido em uma pequena fogueira sobre o chão, de onde os próprios convivas se serviam enquanto conversavam e recreavam-se uns com os outros).
      Assim, não só é possível problematizar a estrutura sociocultural chinesa a partir das casas de chá, bem como podemos observar as diferentes relações sociais que o chá suscitava: a sociabilidade cotidiana e uso medicinal para os mais pobres, ou o uso contemplativo de budistas e taoístas, até o cerimonial como marcador das elites sociais – que faziam uso do chá para difundir a cultura considerada erudita (poesia, música, teatro, filosofia, xadrez, etc).

      Referência: BEEN, J. A. Tea in China: a religious and cultural history. Honolulu: University of Hawai‘i Press, 2015.

      Espero ter sanado sua dúvida!

      Felipe Ruzene

      Excluir
  3. Olá Felipe, tudo bem? Ótimo texto e adorei a forma como foi explorado o tema. História da alimentação é sempre impressionante. Gostaria de perguntar se na sua pesquisa você encontrou algum contato com os islâmicos no sentido de consumo de chá.

    Meus cumprimentos,
    Pietro Enrico Menegatti de Chiara

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Pietro. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pelos elogios e pela dúvida!

      Minha pesquisa, concentrada na China Antiga e Medieval apresenta poucas literaturas relacionadas às práticas de consumo de chá no Islamismo. Porém, posso lhe ressaltar o que apresenta Marc Jacob Gilbert em seu artigo “Chinese Tea in World History” (2008), uma das bibliografias do texto. O autor destaca que a partir da dinastia Tang, quando o chá passou a ser comercializado em formato de bolos, uma série de possibilidades de exportação se abriram para os chineses. Essa tecnologia de exportação foi se desenvolvendo com o tempo até que a China conquistasse o mercado europeu, norte-africano e islâmico. Segundo Gilbert (2008, p. 11) no Oriente Médio o chá (assim como o café) se beneficiou da proibição de bebidas alcoólicas. Com a ascensão do Islã o chá substituiu o vinho como bebida social.
      A partir do século XVIII surgiu uma diferença considerável na prática de consumo de chá entre chineses e islâmicos, o açúcar. O chá constituía uma das principais formas de comércio e moeda no Oriente Médio e Norte de África, mas seu chá era adoçado com açúcar ou mel e por vezes acompanhado de frutas secas ou tâmaras que, pelo alto dulçor, já se encarregava de adoçar a bebida. Além disso, o chá islâmico, assim como no Brasil, refere-se a uma série de infusões (de frutas, flores, castanhas ou ervas) e não representa, necessariamente, uma bebida proveniente da planta de chá.
      Vale lembrar que, quando o chá da China ingressa no mundo islâmico, toda a ritualística budista/taoísta chinesa é substituída por uma consciência envolta nas leis muçulmanas e na abstenção do álcool!

      Referência: GILBERT, M. J. “Chinese Tea in World History” in Education About Asia, v. 13, n. 2, p. 8-14, 2008.

      Espero ter sanado sua dúvida!

      Felipe Ruzene

      Excluir
  4. Vittoria Sampaio Neto Belizário6 de outubro de 2022 às 02:11

    Como a cultura do chá e da cerimônia do chá na China impactaram outras culturas asiáticas? Ex: Cultura de cerimônia do chá japonesa.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Vittoria. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pela dúvida!

      Foi na mão dos monges chineses que o chá ganhou novas perspectivas e foi considerado um representante de preceitos filosóficos, como respeito à natureza, humildade, paz e tranquilidade. Adquirindo caracteres cerimoniais por razões sociais/culturais/materiais e não meramente doutrinários.
      A liturgia do chá, que remonta pelo menos ao século XVIII, preocupava-se com a atitude ante à cerimônia, escolha da bebida (em virtude de fragrância, forma e sabor), seleção da água, definição dos assessórios, ambiente e técnica empregada. O Gong Fu Cha (工夫茶), cerimonial do chá chinês, possui múltiplos estilos, variando de acordo com a região e influências artístico-filosóficas.
      O chá e a ritualística chinesas ingressam ao Japão entre os séculos VII e IX EC, por intermédio do monge budista Eichu (永忠), que conheceu a planta e suas funcionalidades medicinais quando viajou à China. Embora diversa, a cerimônia do chá japonesa, ou Chanoyu (茶の湯), também se desenvolveu por influências taoístas e budistas, relacionando a bebida com a natureza e filosofia.
      Na Coreia o chá já havia sido introduzido pelos chineses desde a dinastia Tang e permaneceu vívido. Durante a dinastia coreana Joseon (1392-1910), a família real e nobres utilizavam o chá em rituais. Havia o “ritual do chá”, cerimônia cotidiana, e o “ritual especial do chá”, reservado para ocasiões específicas. O povo coreano também começou a fazer uso do chá para realizar rituais ancestrais e usavam como exemplo a cultura chinesa, sobretudo os ensinamentos de Zhu Xi (um sábio neoconfucionista chinês).

      Caso queira saber mais sobre a liturgia de cerimônia e impactos do chá, sugiro a leitura do primeiro capítulo da obra “Tea in China: A Religious and Cultural History” (2015) de James A. Been.

      Espero ter sanado sua dúvida!

      Felipe Ruzene

      Excluir
    2. Vittoria Sampaio Neto Belizário6 de outubro de 2022 às 19:24

      Muito obrigado :)

      Excluir
  5. Olá Felipe, tudo bem?
    Parabéns pelo ótimo texto super bem explicativo, minhas perguntas são, qual a visão dos próprios chineses sobre essa visão estereotipada do povo chines como sereno e tranquilo por conta do consumo de chá? A china atualmente é produtora de diversas matérias primas, é possível que eles abandonem o cultivo do chá? ou a cultura citada no texto é tão forte que parat de cultivar o chá é inviável?

    Andressa Rodrigues da Silva Soares

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Andressa. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pelo elogio e pelas dúvidas!

      De fato, muitas vezes a China que a gente conhece é só uma China “zen”, retratada sob a influência do budismo ou do pensamento confucionista. Infelizmente esse estereótipo não escapa nem a alguns textos acadêmicos! Os autores chineses apresentam como os estereótipos sobre seu povo prejudicam as relações e criam uma China fantástica, que não existe na realidade e, portanto, não pode ser investigada. O Prof. Dr. Evandro M. de Carvalho escreve e fala sobre as interpretações e as visões desses estereótipos. Abaixo deixo um link de um vídeo do professor sobre esses aspectos: http://www.chinahoje.net/fala-sobre-a-china-para-alem-dos-estereotipos/

      No que diz respeito ao abandono do cultivo do chá, ele é, de fato, inviável. Não apenas pela questão cultural e por ser item de necessidade básica na China, mas também por gerar uma renda econômica gigante. O fim do cultivo do chá representaria uma crise sócio-econômico-cultural para os chineses da atualidade. Para que tenhas ideia, a China é hoje o maior produtor mundial de chá (mais de 2,6 milhões de toneladas), o fim desse mercado representaria uma grande queda no PIB da segunda maior economia do mundo, fim de inúmeros empregos e falência de outras tantas indústrias ligadas ao chá (como a de cerâmica e embalagens, por exemplo). Além de gerar escassez não só na China, mas em outros tantos mercados consumidores, como Reino Unido, Índia, EUA, etc...

      Espero ter sanado suas dúvidas!

      Felipe Ruzene

      Excluir
  6. Olá Felipe muito obrigado por este texto esclarecedor desse fenômeno que acaba por ser visto de forma tão generalista no ocidente. Minha pergunta é: existe alguma evidencia do uso, ou até mesmo de alguma transliteração, destes escritos na Ásia central do período? Considerando que influencias culturais e religiosas, principalmente budistas, já alcançavam as montanhas hoje chamadas de Indocuche no atual Afeganistão. (por exemplo se não me engano os Budas de Bamião são contemporâneos à dinastia Tang)
    Atenciosamente,
    Kai Andri Jakob

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Kai. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pelo elogio e pelas dúvidas!

      Segundo James A. Been, em “Tea in China” (2015), os monges budistas e os monastérios foram um dos principais responsáveis pela difusão do chá, não só na China, mas em boa parte do mundo asiático. Marc Jacob Gilbert considera que as influências budistas sobre o consumo da bebida podem ter chegado inclusive ao mundo islâmico. Graças as trocas culturais entre o clero budista, muitos textos, práticas e interpretações relativas ao chá correram por boa parte do mundo dito “Oriental”.
      Sabemos que alguns textos, como “Huainanzi” de Liu An e “Chájīng” de Lu Yu, foram amplamente traduzidos e divulgados entre várias nações asiáticas, tanto por monges, quanto por nobres e intelectuais. Adiante, também, várias obras sobre o chá surgem, escritas por autores japoneses, coreanos, indianos, norte-africanos, etc… Assim surgem liturgias e filosofias relativas à bebida, como o “chanoyu”, o Caminho do Chá japonês, desenvolvido pelo mestre samurai Sen no Rikyu. Aparentemente as mais variadas consciências que abordam o consumo cerimonial do chá têm relação, direta ou indireta, às práticas budistas e taoístas chinesas.

      BEEN, J. A. Tea in China: a religious and cultural history. Honolulu: University of Hawai‘i Press, 2015.

      Espero ter sanado suas dúvidas!

      Felipe Ruzene

      Excluir
  7. Lucas ferreira da cunha6 de outubro de 2022 às 19:23

    Olá Felipe, tudo bem?
    Parabéns, ótimo texto foi muito esclarecedor o texto,estou fazendo meu tcc sobre a dinastia Ming e o seu texto anuviou algumas questão que estavam em aberta no meu TCC, a minha pergunta e,qual foi a sua maior dificuldade na formulação nos topico "A difusão da cultura do chá" e no "A literatura e os estudos relativos ao chá" ?

    desde ja agradeço a atenção
    att:
    Lucas Ferreira da cunha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Lucas. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pelo elogio e pelas dúvidas!

      Em "A difusão da cultura do chá", um tópico mais abrangente, há inúmeras fontes, de diversos períodos, que tratam sobre a formação do chá como bebida cultural na China. Contemplamos desde “O clássico do chá” (Chájīng, 茶经) de Lu Yu, escrito na dinastia Ming (c. 760 EC), até coletâneas acadêmicas contemporâneas, tais como “The Ancient Art of Tea” (2011), “A Journey to the Tea Countries of China” (2012) ou “Tea in China” (2015). Assim sendo, a maior dificuldade na formação deste tópico foi sintetizar, em cerca de mil palavras, um assunto que por si próprio já poderia ser temática de uma tese inteira. Afunilar a abrangência bibliográfica, creio ter sido essa a maior dificuldade.
      No que diz respeito “A literatura e os estudos relativos ao chá”, esse tópico tem a pretensão de apresentar as grandes composições literárias acerca da bebida e o reconhecimento delas dentro de um gênero individual a partir da dinastia Ming. Logo, faço apenas o apontamento sobre esse caso que, embora simples, evidencia a relevância cultural do chá, mesmo na literatura. Como o texto foi escrito tendo por base a revisão bibliográfica, a dificuldade deste tópico foi apresentar ao leitor toda a relevância das fontes utilizadas, inclusive dentro da cultura (alimentar e literária) chinesa.

      Espero ter sanado suas dúvidas!

      Felipe Ruzene

      Excluir
  8. Carla Cristina Barbosa
    Parabéns pela pesquisa.
    "Beber chá era considerado um grandioso medicamento, promovendo a cura de uma ampla gama de males, desde ataques epiléticos até disenteria"- Refletindo sobre o texto - Gostaria de saber sobre o modo de preparo do chá nas dinastias mencionadas. Esse preparo faz parte de uma tradição alimentar?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Carla. Tudo bem?

      Primeiramente, agradeço pelo elogio e pelas dúvidas!

      O preparo do chá, desde as origens, faz parte de tradições alimentares que remontam (discursivamente) aos monges e filósofos chineses, budistas e taoístas. Evidente que há inúmeras formas de beber chá, desde a tradição cerimonial oficial até modos considerados “marginalizados”, como o Lei Cha (擂茶) Hakka, citado no texto. O chá hoje é tão inserido na cultura alimentar chinesa que não podemos falar em uma tradição, singularmente, mas tradições (no plural). Há diversas formas de se consumir a bebida e isso desde à Antiguidade.
      Lu Shusheng (1509-1605), autor da dinastia Ming, escreveu a obra Cha Liao Ji (茶寮记), “Um registro de casas de chá” [em tradução livre]. Nela encontramos registros detalhados das experiências do autor em diversas casas de chá na China. Os locais variavam desde casas formais (frequentadas por nobres e grandes proprietários, onde o chá era servido junto com aperitivos por vassalos ou empregados domésticos e entretidos por poetas, atores, cantores de ópera, contadores de histórias ou malabaristas), até casas errantes (nas quais o chá era compartilhado por iguais, fervido em uma pequena fogueira sobre o chão, de onde os próprios convivas se serviam enquanto conversavam e recreavam-se uns com os outros). Com esse relato de Lu Shusheng percebemos quão complexas eram (e ainda são) as tradições de consumo de Chá na China!

      Espero ter sanado suas dúvidas!

      Felipe Ruzene

      Excluir
  9. Texto excelente, vontade de saborear um bom chá depois da leitura! Grato por sua presença no evento! =)
    André Bueno

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.