Como o Ensino de História Asiática
pode impactar nossas vidas de forma positiva? Por que mobilizar um conteúdo
considerado tão “distante” do cotidiano brasileiro em nossas salas de aula?
Enquanto professora, acredito que precisamos mobilizar a História para formar
bons cidadãos, ou seja, seres humanos críticos e empáticos que vivem em
sociedade de forma harmônica e justa, ou que pelo menos lutem por um mundo de
equidade. O olhar para o passado, com nossas questões atuais, para vivências
que já não habitam o presente, provoca na mente humana toda uma sorte de
sentimentos. Nos permite pensar novos caminhos, a profundidade dos processos em
que vivemos e o quanto nossos ancestrais lutaram para conseguir certos direitos
e melhores condições de vida.
Dessa forma, considero que a
História Asiática tem muito a contribuir com nosso campo de estudos. Aqui farei
um pequeno recorte no imenso e profundo nicho da História da Ásia, pretendo
trabalhar duas Graphic Novels
contemporâneas da quadrinista sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim, Grama (2020) e A Espera (2021), pois ambas fazem uso da História e da recordação
como recurso narrativo. Assim, pretendo contribuir para a pesquisa sobre o
recorte temporal da primeira metade do século XX no Leste Asiático, tomando
como recorte espacial a península coreana e o império japonês. Acredito que
este reforço pode estimular os pares a implementar tais conteúdos em suas
práticas docentes, ou até mesmo ampliar o número de referências sobre o
assunto.
Neste trabalho eu mobilizo os
quadrinhos para analisar sua representação do espaço histórico. Não pretendo
tomar as Graphic Novels como “fontes
perfeitas”, tal coisa sequer existe, tampouco como um reflexo fiel do real,
aqui trato do conceito de representação.
Ou seja, entendo que a quadrinista mobiliza de fato suas fontes orais,
documentos históricos, em conjunto com sua criatividade, com a imagem que ela
tem desses grupos e da interação que ela tem com os locais que trabalha
[CHARTIER, 2002, 159]. O teórico literário Robert Tally, acentua que na
literatura há um espaço e temporalidade próprias, lugares e momentos no tempo
são forjados pelos autores, até mesmo quando são inspirados por fontes
históricas [TALLY, 2019, p.17]. A dimensão artística de um quadrinho não pode
ser esquecida, contudo isso não anula seu valor como fonte de pesquisa.
É
importante ressaltar que as histórias em quadrinhos são um recurso atrativo
para os estudantes e o público em geral, porque “são o espaço do lúdico e sua
narrativa, tal como o cinema, envolve uma estrutura diferente dos livros de
História tradicionais” [LIMA, p.164, 2017]. Trabalhar com tais recursos leva o
público em geral, assim como nós, historiadores, a ter um olhar mais
interessado sobre certos eventos históricos que muitas vezes nos passariam
despercebidos. Dificilmente, no Brasil, as pessoas conheceriam as histórias das
mulheres de conforto, da violência da colonização japonesa na Coreia e da
própria guerra entre as Coreias sem produções artísticas. A título de exemplo,
podemos pensar tanto nos objetos de pesquisa que selecionei neste trabalho,
quanto em diversas outras produções, como o romance de Min Jin Lee, Pachinko, também lançado como série de
televisão em 2022. Ou ainda, série dramática Mrs. Sunshine (2018), e filmes como A criada (2016) e Louvor a
morte (2018).
Contudo,
caro leitor, acredito que neste ponto se você não leu as obras a que me referi
como objeto deve estar ansioso para saber do que se trata. Pois bem, a graphic novel, Grama, foi publicada originalmente em 2017 na Coréia do Sul e conta
a história das “mulheres de conforto” do exército japonês, em especial da
coreana Ok-Sun Lee. O caso retratado na obra é uma experiência individual,
ocorrida em 1942, Ok-sun, sofreu ao ser separada da família, levada para um
estado fantoche japonês e tornada escrava sexual dos soldados japoneses durante
anos [GENDRY-KIM, 2020, p.481]. Além disso, a quadrinista destrincha várias
particularidades da sociedade coreana da época, como a “adoção” de jovens
garotas por outras famílias, para que as meninas trabalhassem como empregadas
ou até prostitutas em troca de comida ou algum dinheiro para os pais.
Gendry-Kim critica a pobreza e as diferenças de classe, assim como o
colonialismo japonês e a violência do machismo/patriarcado sobre a vida das
meninas e mulheres coreanas, com vários graus de violências vivenciados por
suas personagens.
A
autora usa como combustível de sua narrativa as recordações da idosa, “vovó”
Ok-Sun Lee. Essa carismática senhora, uma das principais expoentes do movimento
de divulgação dos crimes de guerra sofridos por meninas de todo sudeste
asiático durante o domínio colonial japonês, morou por mais de três décadas na
China, depois de ser separada da família ainda adolescente. Aos cinquenta e
cinco anos, voltou para Coréia do Sul, com a ajuda de um programa televisivo de
1997 que juntava famílias separadas no contexto da guerra. A “vovó” Lee, narra
sua história desde 1934, retratando a infância difícil em meio a pobreza e
desigualdade social da Coréia (Joseon) na época.
Em
seguida, a vemos ser mandada para ainda mais longe de casa, onde é abusada
sexualmente tanto por um prisioneiro, como, e neste caso diversas vezes, por
soldados japoneses. Ao fim da guerra, quando o campo onde era mantida foi
esvaziado, ela vaga sem qualquer suporte, até conseguir um novo lar, por meio
de um casamento com um homem mais velho que já possuía filhos. É ali, na China,
que ela passa boa parte de sua vida, longe de sua terra natal e dedicando sua
vida a criar os filhos do marido.
Já
a graphic novel, A espera, foi
lançada em 2020 também na Coréia do Sul. Nesta obra Keum Suk recorre às
memórias de sua própria mãe e de outras mulheres coreanas para contar histórias
de separação familiar. Setenta anos após a Guerra da Coreia, muitas famílias
seguem separadas, visto os avanços tímidos entre as relações amistosas entre
Coreia do Sul e do Norte, e foi justamente essa problemática que moveu a autora
rumo ao novo trabalho. Keum Suk mobiliza documentos históricos, testemunhos
orais e outras fontes para recontar a história da guerra da Coréia sobre a
ótica de coreanas, e da vida das meninas e mulheres de meados do século XX. Sua
principal personagem no quadrinho é cruelmente separada do filho enquanto
fugiam do conflito, novamente a violência causa trauma na vivência dessas
sujeitas históricas que ganham vozes por meio da arte da autora.
Ao
mobilizar memórias de idosas Gendry-Kim entra em uma dimensão de análise
bastante complexa, segundo a psicóloga Ecléa Bosi
“o velho se interessa pelo passado bem mais que o adulto, mas daí não se segue
que esteja em condições de evocar mais lembranças desse passado do que quando
era adulto, nem, sobretudo, que imagens antigas, sepultadas no inconsciente
desde sua infância” [BOSI, 1987, p.23]. Ou seja, não é possível, nem mesmo usando
testemunhos orais de pessoas que vivenciaram tais acontecimentos retomá-los e
retratá-los de forma “exata”, a memória não é confiável, contudo, também não é
uma dimensão descartável [HUYSSEN, 2000]. As memórias e recordações, são
preciosas fontes históricas, resguardadas por meio de testemunhos orais,
diários e afins, que nos ajudam a entrar em contato com passados e experiências
diversas [ASSMANN, 2011].
Ressalto, que o recorte histórico
tema das Graphic Novels analisadas é
extremamente pertinente, tanto no que concerne ao tema de violência contra
mulheres na sociedade atual, quanto aos silenciamentos de suas experiências e
ainda uma questão geopolítica complexa que permeia a Coreia do Sul e o Japão. Grama em especial, se faz especialmente
crítica, se levarmos em conta os acordos feitos entre Coréia do Sul e Japão no
ano de 2015. Neste caso, as questões relativas às questões coloniais e das
mulheres de conforto foram praticamente silenciadas por ambas as nações em nome
da cooperação econômica. Ou seja, as mulheres de conforto viram suas narrativas
serem novamente reprimidas, inclusive por seus próprios representantes
políticos.
Nesse cenário, o ativismo da vovó
Ok-Sun Lee e da quadrinista, dão voz e rostos aos traumas, violências e
apagamentos sofridos por mulheres durante o século XX naquela região [LEE,
2022, p.169]. Gendry-Kim reafirmou em entrevista que quando trata das memórias
traumáticas de suas entrevistadas, não trata apenas de um problema delas,
enquanto indivíduos, mas sim de um problema da sociedade, que também se
relaciona a classes sociais. Afinal, em todas as suas obras a autora trabalha
justamente com mulheres das classes menos abastadas, que foram vendidas,
violentadas e sequestradas do seio de suas famílias, seja pelos colonizadores japoneses,
ou por homens coreanos [GENDRY-KIM, 2022].
Em A espera, é a pobreza e o machismo que assombram a personagem
principal em sua infância e já lhe mostram a crueldade do mundo, da sociedade
na qual está inserida. A guerra, posteriormente, iria tornar tais dimensões
ainda mais terríveis, a fome, a violência dos homens (inclusive,
norte-americanos), e a separação de famílias nos faz sentir a dor dos sujeitos
que vivenciaram isso no passado. Outro fator importante problematizado nas
obras, é a relação dos jovens com os idosos, muitas vezes, estes últimos são
ignorados, a própria autora reflete sobre sua impaciência na relação com a mãe.
Durante a própria história, Keum Suk
denota a dificuldade em entrevistar suas fontes orais, as idosas por vezes
“desviavam do tema” a que se propunham falar, elas divagavam, voltavam a contar
a mesma história repetidas vezes ou até esqueciam de momentos importantes
[BOSI, 1987, p.342]. Ambas as graphic
novels, demoraram anos para serem concluídas, tanto devido a idade e tipo
de entrevistas dada por suas fontes, quanto a elementos artísticos criativos
narrados pela autora, como bloqueios criativos, viagens aos locais que retrata
e as longas pesquisas em arquivos, jornais e fotografias na China, Japão e
Coreia.
De volta ao enredo de Grama, no que concerne as “mulheres de
conforto” narrativas históricas entram em conflito, uma vez que o governo
japonês negue a ideia de escravidão sexual e defenda que se tratava de
prostitutas voluntárias para o esforço de guerra japonês [LEE, 2022, p.169)]. E
não foi apenas o governo japonês que quis silenciar acerca de seus crimes de
guerra, o patriarcado coreano marginalizou e incentivou que essas mulheres se
calassem sobre suas experiências. Nos últimos cinco anos, a Organização das
Nações Unidas, passou a encarar como “escravatura sexual” ou “escravidão
sexual”, o caso das “mulheres de conforto”. Além disso, no relatório
apresentado por Radhika Coomaraswamy, no Conselho de Direitos Humanos das
Nações Unidas, a violência sofrida por essas meninas e mulheres foi considerada
uma escravidão sexual promovida por militares japoneses durante o período da
guerra [NAM, 2018, p.19].
A historiadora coreana Lee Jin,
reforça: “É preocupante lembrar que foi somente em 1991, quase meio século após
a Segunda Guerra Mundial, que uma mulher de conforto falou pelas vítimas pela
primeira vez na Coreia do Sul. Muitas mulheres de conforto nos países do Leste
Asiático não foram bem-vindas por suas famílias ao voltar para casa. Em vez
disso, eles enfrentaram o ostracismo “já que a castidade pré-marital era
tradicionalmente considerada mais importante até do que a própria vida –
escolher sobreviver ao real e voltar para casa era considerado uma vergonha
para a família” [LEE, 2022, p.170].
Corroborando com a documentação
analisada por Lee Jin e Sun Young Nam, os testemunhos presentes nas obras de
Keum Suk Gendry-Kim evidenciam esse silenciamento, seja por suas próprias
famílias de forma explícita ou implícita. A sociedade extremamente patriarcal
prefere fechar seus olhos para os crimes cometidos, tanto na nação das vítimas,
quanto na dos agressores. Keum Suk, lança luz aos crimes e problematiza o
silêncio, assim como a própria vovó Ok-Sun. Essas manifestações públicas também
incentivaram outras que foram “mulheres de conforto” a falar publicamente,
algumas testemunharam em tribunais, programas de tv e até inspiraram filmes
biográficos, como no caso de I can speak (2017).
A memória dessas mulheres foi
sublimada por anos, não só por terceiros, mas por si próprias, por ser
traumática, afinal muitas delas sequer conseguem contá-las por décadas
[ASSMANN, 2011, p.249]. Tanto a autora, quanto a própria Ok-Sun relatam que
muitas daquelas que passaram por esses processos de violência tiraram a própria
vida, devido a extrema “desonra” que isto representaria para sua família. Tal
impossibilidade de falar sobre os ocorridos por décadas denota a sensibilidade
e complexidade das entrevistas feitas pela quadrinista coreana, não por acaso
foram anos para finalizar as entrevistas. Isso também corrobora para que o
público em geral tenha contato com um período de tanta violência que por anos
foi abafado, e que segue gerando discussões calorosas entre comunidades
políticas.
Nesse contexto, trabalhar com Graphic Novels mostra-se um artifício
para o historiador, uma vez que o meio gráfico consegue passar de forma mais
impactante as ações abomináveis dos soldados e os eventos perturbadores que se
passam no período histórico analisado [LEKSHMI, ARATHI, KRISHNA PRIYA, 2021,
p.2923]. Sobretudo se pensarmos em mobilizar estes recursos para os anos finais
do Ensino Médio, seja na Educação Regular ou na de Jovens e Adultos, e até
mesmo para a divulgação de tais acontecimentos históricos na sociedade. As
histórias em quadrinhos de Keum Suk tratam de temas terríveis, realmente
dolorosos, contudo, o traço da autora faz com que nós leitores sejamos tocados
pela emoção, não me acanho em dizer, até derramando lágrimas, sem
necessariamente apelar para cenas de violências explícitas.
Keum Suk Gendry-Kim por meio de sua
arte, faz com que a história que representa às memórias de suas entrevistas,
venham ao leitor carregadas de emoções, com seus traumas evidenciados e
visíveis. Segundo Lekshmi, Arathi e Krishna Priya: “a angústia de suas almas,
que nunca pode ser traduzida no meio tangível das palavras, encontra alívio na
arte honesta e controlada de Keum Suk Gendry-Kim. Um romance gráfico é único
porque, onde as palavras param, a arte começa e o verdadeiro artesão cria sem
esforço uma mistura harmoniosa de ambos os meios” [LEKSHMI, ARATHI, KRISHNA
PRIYA, 2021, p.2924].
Tanto em Grama, quanto em A Espera,
Keum Suk busca representar lugares do passado, e ao fazer isso a autora acaba
por se relacionar tanto aos sujeitos que mobiliza em suas entrevistas, quanto
aos locais que busca representar. Assim, por meio de experiências cotidianas,
atitudes, memórias e recordações das pessoas que habitavam tais lugares do
passado, há uma representação complicada meada de interseção de eventos
históricos, narrativas, traumas e assim por diante [TALLY, 2019, p.18]. Ou
seja, a graphic novel, consegue
ilustrar por meio do olhar da autora aquilo que suas fontes lhe relatam, seja a
partir de testemunhos orais, ou das outras documentações por ela usadas,
documentos oficiais, historiografia, fotografias e afins.
A representação espacial feita por
Keum Suk Gendry-Kim em seus quadrinhos leva problemáticas extremamente atuais
ao público, o passado silenciado, esquecido e por muitas vezes desprezado
vivenciado por estas mulheres entra em contato conosco. Keum Suk deu vida,
rostos e voz as senhoras Ok-Sun Lee, Kim, Lee e tantas outras (GENDRY-KIM,
2020), que foram violentadas, separadas de suas irmãs, filhos e até mesmo de si
mesmas, de suas memórias, voz e honra. Nós historiadores temos muito a
contribuir nestas discussões, mesmo de longe, devemos ser empáticos, nos
colocar no lugar dessas sujeitas históricas, e dar ouvido a elas enquanto podem
falar. Os relatos orais destas senhoras constituem uma fonte histórica a ser
trabalhada, problematizada e analisada para aprofundar nossas pesquisas acerca
de tais recortes temporais e especiais.
Referências biográficas:
Mestre no Programa de Pós-graduação
em História e Espaços da UFRN. Graduada em História Licenciatura pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Referências bibliográficas:
ASSMANN, Aleida. Espaços da
recordação: formas e transformações da memória cultural. São Paulo: Unicamp,
2011.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade:
lembranças de velhos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e
representações. Algés: DIFEL, 2002.
GENDRY-KIM, Keum Suk. A Espera. São
Paulo: Pipoca & Nanquim, 2021.
GENDRY-KIM, Keum Suk. Grama. São
Paulo: Pipoca & Nanquim, 2020.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela
memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000
LEE, Jin. Opening up a world and the
temporal – normative dimension: Keum Suk Gendry-Kim Grass as World Literature.
In: HODAPP, James. Graphic Novels and comics as world literature. New York:
Bloomsbury Academic, 2022.
LEKSHMI, S.P. ARATHI, P.S. KRISHNA
PRIYA, M.T. Role of
Translation in the Rise of Asian Graphic Novels. Annals of R.S.C.B.,
ISSN:1583-6258, Vol. 25, Issue 5, 2021, Pages: 2920 – 2926.
LIMA, Douglas Mota Xavier de.
História em quadrinhos e ensino de História. Revista História Hoje, v.6, n.11,
p.147-171, 2017.
NAM, Sun Young. As relações diplomáticas entre a
Coreia do Sul e o Japão: o caso das ‘Mulheres de Conforto’ da Coreia.
Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais. Universidade de Lisboa,
2018.
SESSÃO DE BATE PAPO COM A AUTORA DA
GRAMA, KEUM SUK GRENDY KIM (08/08/2021) - Centro Cultural Coreano no Brasil.
Disponível em <youtube.com/watch?v=PePYgx5-2V0> Acessado em 09 de agosto
de 2022.
TALLY JR. Robert T. Topophrenia:
Place, Narrative, and the Spatial Imagination. Indiana: Indiana University
Press, 2019.
Olá Krishna, gostei muito do seu texto. Estudo também quadrinhos como um espaço de empatia histórica. No caso desses silenciamentos, isso se torna mais forte ainda, já que o ensino de história também forma pensando em desenvolver a ideia do "outro" como um elemento de educação cidadã. Minha questão é, na sua opinião, como lidar com esse elemento da memória em quadrinhos cujo apelo é esse grau de emoção e identificação.
ResponderExcluirObrigada pelo texto, gostei muito.
Janaina de Paula do Espírito Santo
Boa noite, muito obrigada Janaina por suas considerações.
ExcluirAcredito que como qualquer fonte histórica e recurso didático, temos que alertar nossos leitores que a liberdade criativa dxs autorxs está presente. E que esse fato não anula essas produções como fonte, pelo contrário, as amplifica. Faz com que tanto nós, pesquisadores, quanto o público se sinta compelido a aprender história, a se emocionar com ela. E no nosso caso, como profs devemos sempre deixar explicito a presença do "eu" do autor, dos sentimentos que permeiam qualquer produção humana.
Krishna Luchetti
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCara Professora Krishna,
ResponderExcluirConfesso que me emocionei lendo o texto e tive que parar para organizar tudo que desejo abordar neste comentário.
Uma problemática que considero especialmente relevante é a cultura, observamos a dificuldade das vítimas da guerra, contra o Império Japonês, de contar as agressões sofridas - tomo como outro exemplo o Massacre em Nanking, que depois de anos de silêncio foi ter um dos seus primeiros relatos publicados quase nos anos 2000, com o livro de Iris Cheng.
Os governos, que estavam debilitados, preferiram realizar acordos econômicos e silenciar as vítimas, do que ter as suas histórias contadas e então realizar uma negociação. Observamos até os dias de hoje a negativa da sociedade japonesa em relação as agressões feitas contra os outros países, isto porque o governo teve um especial cuidado em reescrever a história e trocar as invasões por "intervenção" e, por muitas vezes, 'florear' os ocorridos.
As vítimas são, ainda por cima, culpabilizadas quando inseridas novamente na sociedade. O ato é redirecionado a elas, lhes responsabilizando sobre a violência sofrida, como se tal estivesse sobre seu controle ou fosse reação direta de suas ações. E estas situações ocorrem em diversos locais até os dias de hoje, como podemos observar em casos brasileiros, onde a mulher passa diversas vezes por outra agressão ao relatar a violência sofrida.
Gostaria que falasse um pouco sobre o que pensa a respeito da responsabilidade do Estado sobre contar as histórias dessas vítimas ou, até mesmo, do ato de silenciá-las.
Agradeço pelo texto incrível.
Atenciosamente, Kawanna Alano Soares.
Boa noite, Kawanna muito obrigada por suas palavras! Eu fiquei muito feliz em causar esses sentimentos em você! Fico muito honrada com seu comentário e reflexões.
ExcluirNo que concerne a responsabilidade do Estado sobre a narrativa das vítimas, bem essa é uma questão bastante complexa. Em um mundo ideal o Estado "agressor" deveria se responsabilizar por suas ações passadas, indenizando e prestando desculpas devidas as vítimas. Contudo, os jogos de poder entre essas noções fazem com que muitas vezes isso seja inviável. No caso das relações Japão/Coréia/China, ainda existe a questão do orgulho patriarcal confucionista, somada a questão de dominância cultural/territorial. Dessa forma, as vítimas é quem tem quebrado o próprio silêncio na maioria dos casos, e com resistência tanto dos agressores, quanto dos conterrâneos. Esse jogo, político, infelizmente tende a continuar se acirrando, sobretudo com a escalada do conservadorismo japonês. Por isso, discussões sobre esse tema se fazem tão necessária em nossa prática.
Espero que eu tenha atendido ao seu pedido.
Muito obrigada novamente por suas reflexões e comentário!
Atenciosamente, Krishna Luchetti.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, Krishna!
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Sua proposta de levar as duas graphic novels para o contexto da sala de aula é muito interessante e certamente pode ser a base para diversas discussões e até mesmo identificações (das próprias histórias familiares) por parte dos alunos.
Enquanto lia seu texto me lembrei que Ricouer, ao tratar da memória e da história, comenta que o movimento de rememorar é como uma luta contra o esquecimento e também contra a repetição do horror, nesse sentido, você acha que o uso dessas (e de outras) obras no contexto escolar é não só uma forma de ensino da história de outros países mas um meio de colocar em relevo ou deixar em atenção a necessidade de não se deixar que situações como essas voltem a ocorrer ou do perigo de que situações como as mostradas nas outras possam acontecer novamente?
Vitória Ferreira Doretto