Introdução
Em sua constituição, Taiwan nunca havia
experimentado um corpo de legislações anti-homossexualidade. Até mesmo durante
a Ocupação Militar Japonesa no país (1895-1945) não existia nenhuma lei contra
a homossexualidade masculina – isto porque a própria tradição japonesa detinha
uma percepção do homoerotismo muito semelhante à da China pré-moderna, ou seja,
como uma forma de expressão e extensão do próprio poder social –, entretanto as
desigualdades de gênero cegavam a sociedade em relação ao erotismo feminino
[LEE, 2017].
Ocorre que, com o findar da Segunda Guerra
Mundial, os anos subsequentes foram marcados por grandes mudanças na comunidade
internacional como um todo. O avanço do comunismo pelo Oriente, encabeçado pela
União Soviética, alterou as estruturas políticas e sociais de muitos países – incluindo a
China, que devido a Revolução Xinhai de 1911, havia
saído de um regime monárquico para uma República instável, baseada em um
governo provisório. Com o novo sistema político e o país conturbado, movimentos
separatistas foram surgindo em todo o território, concentrados principalmente
no sul e liderados pelo Kuomintang (KMT), também conhecido como Partido
Nacionalista Chinês [KONG, 2019].
Nesse ínterim, após a China continental
passar pela Revolução Comunista, em 1949, o Kuomintang (KMT) foi forçado a se
retirar para a ilha de Taiwan onde, através de seu poder e influência,
instaurou a Lei Marcial, torturando e executando milhares de pessoas num
período conhecido como “Terror Branco”. Além disso, a anterior situação em
relação à comunidade queer foi alterada com a chegada deste Regime Autoritário
de Chiang Kai-shek (1950-1975), promulgando a Lei da Indecência que proibia o uso
de roupas consideradas inadequadas em relação ao papel de gênero exercido pelo
indivíduo [LEE, 2017].
Inicialmente, o Partido Nacionalista
perseguiu políticos opositores, intelectuais e a elite da ilha; mas não demorou
muito para que prendessem qualquer pessoa, independente de classe social ou
ocupação, que indicassem qualquer simpatismo ao comunismo ou que se recusasse a
seguir a nova ordem imposta. Apesar disso, a oposição formal e organizada à
esse sistema começou a dar sinais de seu surgimento após o incidente de
Kaohsiung, em 1979, onde o Partido Nacionalista Chinês aprisionou participantes
de um protesto anti-governo, organizado pela Revista Formosa [TAI-LIN,
2005].
A declaração de Anne Frank, em seu diário
escrito durante o período nazista na Alemanha, pode ser aplicada nesta
situação, isto porque mesmo os cidadãos não estarem autorizados a terem um
posicionamento, com o governo dizendo-lhes: “para manter a boca fechada, mas
não podem impedi-lo de ter a sua própria opinião. Mesmo que as pessoas ainda
sejam muito jovens, elas não devem ser impedidas de dizer o que pensam” [1947,
p. 144].
Logo, a população taiwanesa se organizou
contra a opressão do partido, independente de todas as tentativas de repressão
e controle realizadas pelo KMT durante as quase quatro décadas no poder. Em
1986, a resistência, que clamava por um governo democrático fora da Lei
Marcial, resultou na criação do Partido Democrático Progressista – em inglês Democratic Progressive Party (DPP) –, se opondo
ao KMT. No ano seguinte a Lei Marcial é derrubada, após 38 anos em vigor, e o
Partido Democrático Progressista assume o poder. A ativista Annette Lu, em
2005, declarou sobre este ocorrido que: “As pessoas devem perdoar, mas nunca
devem esquecer uma página tão trágica da história de Taiwan" [TAI-LIN,
2005].
Após a abolição da Lei Marcial, nos anos 90
começaram a emergir movimentos das minorias sexuais e de gênero, The Movement. Onde a, assim conhecida,
Coalizão Arco-Íris opunha-se contra quaisquer tipo de controle sobre os corpos
ou sexualidades alheios, mobilizando pessoas em larga escala em busca da
mudança social. Se for realizada uma comparação, existem aspectos do Movimento
Taiwanês que não pode ser aplicado ou compreendido pelo Euro-Americano; isto
porque abrange o confucionismo e ambivalência da população, voltada para o
regime de Partido Único da China e ao imperialismo cultural “ocidental” no
pós-Guerra Fria [LEE, 2017].
As consequências do colonialismo na Ásia
afetaram inclusive a concepção de sexualidade, justamente por isso a coalizão
arco-íris se apresentava como um projeto de descolonização em curso, carregando
valores identitários e ideológicos; onde o “Movimento não é mais apenas uma
guerra entre ingovernáveis queers e os outros normativos, mas um processo de
democratização do próprio ‘ativismo’” [LEE, 2017, p. 3] e os taiwaneses, que
haviam contestado o governo autoritário, levantavam-se novamente contra a
repressão das minorias.
A dicotomia da
existência queer na China, Hong Kong e Taiwan
Nos três espaços chineses – China
continental, Hong Kong e Taiwan – as identidades queer são fortemente
caracterizadas e marcadas pelas diferentes tradições nacionais, culturais e
estruturas sociais; revelando formas muito específicas de ativismo
cívico-político.
Isto porque Hong Kong, como uma colônia
britânica de 1842 a 1997, destacou-se da China Continental na era Pós-1949; em
que desenvolveu uma cultura colonial distinta, enfatizando o Estado de Direito
com liberdade de expressão e o empreendedorismo econômico. Apesar de grande
parte da população da ilha ser originária da China continental, a identidade
Kong, em oposição à chinesa, surgiu em 1960 com a vinda da geração pós-guerra
nascida localmente. Ainda mais com um governo colonial tentando reforçar o
ideário da sociedade de Hong Kong ser capitalista moderna, contrastando com uma
“China comunista atrasada” [KONG, 2019].
Entretanto, esta identidade política foi
suprimida pelo desenvolvimento da identidade cultural, decorrente do sucesso
econômico e a expressão cultural. Neste espaço, analisa-se uma Comunidade Queer
foi criminalizada em 1842 sob o domínio britânico e depois descriminalizado
pelo governo colonial, em 1991. Mesmo que a homossexualidade nunca tenha sido
uma ofensa criminal em Taiwan, os homens eram frequentemente acusados de
ofensas contra “costumes virtuosos” (shanliang
fengsu) sob a Lei de Infração Policial [KONG, 2019].
Em Taiwan, a população consistia em um
pequeno número de taiwaneses austronésios aborígenes e uma maioria de chineses
Han, e em sua constituição passou por diversos governos. Esteve sob o controle
do Império Japonês, do partido Kuomintang de Chiang Kai-shek e, após sua
derrota, pelo Partido Comunista de Mao Zedong em 1949. Sendo que cerca de duas
milhões de pessoas, da China continental, fugiram para Taiwan; tentando-se
consolidar a cultura chinesa, purgar as influências japonesas e suprimir
qualquer cultura local taiwanesa. A ilha gradualmente constituiu uma identidade
taiwanesa distinta, em vez da chinesa – primeiro sob o presidente do KMT, Lee
Teng-Hui eleito em 1996, e depois sob o presidente pró-independência do Partido
Democrático Progressista Chen Shui-bian de 2000 a 2008. Sendo que em 2016,
nesta ilha, os jovens gays taiwaneses já vinculavam sua identidade sexual com
orgulho, dentro de sua identidade nacional [KONG, 2019].
Na China Continental, a identidade nacional
foi firmada sob o pano de fundo do “Século da Humilhação Nacional” sofrido
desde a dinastia Qing. Em seu período republicano (1919-1949), a política
nacional chinesa focou na construção de uma identidade da nação em relação à
ocidentalização. Durante o período de Mao (1949-1978), voltou-se para um
coletivismo com viés marxista-maoísta-leninista, caracterizado pela humildade,
altruísmo e patriotismo. Desde a abertura em 1978 ao continente, o país passou
por transformações, com uma abordagem mais agressiva e assertiva para
construção da nação; definindo valores e perspectivas próprias. Crescendo, cada
vez mais, o ideário da União Chinesa em busca de uma unificação de diferentes
raças e etnias, incluindo tibetanos, uigures, taiwaneses, hong-kongers e
macaenses [KONG, 2019].
Sendo despenalizado o crime de
“hooliganismo”, usado para prender homossexuais na China Continental, apenas em
1997 e ainda a Associação Psiquiátrica Chinesa deixou de considerar a
homossexualidade um doença mental em 2001. Destaca-se ainda que o antigo modelo
ocidental médico, que caracterizava os homossexuais como doentes mentais ou
desviantes sociais, foi extremamente influente nos três locais e por mais que a
sua influência esteja gradualmente diminuindo, ainda marca a sociedade. Podendo
ser percebido na prática ainda existente na China Continental da “terapia de
aversão'', que busca tornar pessoas homossexuais em heterossexuais [KONG,
2019].
A ilha de Hong Kong, do pós-guerra, foi
influenciada principalmente pela cultura britânica e a de Taiwan pela cultura
estadunidense. Ainda assim os três locais têm uma orientação voltada
principalmente ao mercado, que desempenha um papel relevante na formulação da
sociedade moderna e das identidades tongzhi,
sinônimo de LGBTQ, que surgiram na década de 1980 e 1990. Onde o pink money, dinheiro decorrente de
pessoas da comunidade queer, desenvolvido dentro da economia de Hong Kong
impactou de forma particularmente impressionante a China Continental da época.
Desenvolveu-se então uma infraestrutura de consumo desta economia rosa,
visibilizando "gays ocidentalizados do guetos” [KONG, 2019].
Nos anos 2000 surgiu o ativismo queer,
inspirado pela ascensão de movimentos políticos LGBTQ no Ocidente. Nota-se no
âmbito cinematográfico as diferenças de abordagens dos três locais em relação a
conteúdos que envolvem a Comunidade Queer; onde na China Continental a censura
escala de forma veloz, implementando-se cada vez mais regras em torno de
demonstrações homoafetivas nos setores de comunicações; em compensação Hong
Kong e Taiwan, que possuem raízes divergentes na sua construção de identidade,
investem cada vez mais em produções queer.
A organização da
comunidade queer em Taiwan
Independente de seu amplo reconhecimento como
o país mais progressista em relação aos direitos sexuais e igualdade de gênero
no leste da Ásia, em Taiwan ainda levantavam-se oposições em relação ao The Movement, que se firmavam sob o
pretexto de serem os guardiões da família e da infância, pautando seus valores
tradicionais na mescla do cristianismo e do confucionismo.
Este conservadorismo emergiu em 2012,
queixando-se vigorosamente contra as Paradas do Orgulho LGBT+ em Taiwan, quando
este introduziu a ideia de “Revolução do Casamento''. A coalisão encontrou
resistência quando procurou promover um currículo de Ensino Médio que abordava
o tema ‘sexualidade’, em 2011, e ao pedido de Emenda do Código Civil em busca
de reconhecer as diferentes formulações de ‘família’, em 2013 – em vez do
simples casamento entre pessoas do mesmo sexo [LEE, 2017].
Em meados de 2013, de forma controversa, o
Orgulho LGBT+ de Taiwan incluiu o conceito de ‘refugiados sexuais’, defendendo
a liberdade sexual de todos que tinham seu eroticismo degradado ou
marginalizado - incluindo incesto, relacionamentos poliamorosos, praticantes de
BDSM e de chem-sex, entre outros.
Esta ação deu início a debates furiosos dentro da própria comunidade, onde os guai-bao-bao (“bons gays”) sentiram-se
humilhados pelas ideias do movimento. Estas demandas por “libertação” sexual, e
não o simples reconhecimento legal e inclusão social, faccionaram o ativismo
[LEE, 2017].
Outro conflito veio à tona em 2015, quando na
Parada do Orgulho LGBT+, com o tema “Aja quem você é, não a sua idade”, a
ramificação Frente Democrática Popular discursou a favor da descriminalização
das atividades sexuais consensuais envolvendo crianças e jovens. Este ato
afetou gravemente as eleições parlamentares daquele ano de candidatos gays e
lésbicas, dificultando a sua participação e o diálogo com os eleitores. Sendo
possível identificar as formas como o Movimento era visto sob um caráter
unitário, mesmo sendo fortemente heterogêneo [LEE, 2017].
Apesar dos conflitos e cóleras dentro do
próprio Movimento, com a nova liderança no governo ocorreram mudanças
importantes nas mais diversas áreas, incluindo referente às pessoas LGBTQIA+.
Ressalta-se que desde o início dos anos 2000 vários direitos notáveis da
Comunidade Queer estavam sendo conquistados – como o que permitia que gays,
lésbicas e bissexuais ingressassem abertamente no exército [TAIWAN, 2002]; a proibição
da discriminação com base em identidade de gênero e orientação sexual pela Lei
de Educação pela Equidade de Gênero [TAIWAN, 2004]; a ilha tornou-se a primeira
localidade na Ásia a reconhecer legalmente o casamento entre pessoas do mesmo
sexo [TAIWAN, 2019]; e a retirada da obrigatoriedade da cirurgia de resignação
de sexo para a mudança de gênero em documentos oficiais [TAIWAN, 2021].
Apesar desses grandes avanços, a luta pela
conquista desses direitos não foi, e continua não sendo, fácil nem rápida;
principalmente nos primeiros anos após o fim da Lei Marcial. Isto porque, mesmo
que Taiwan nunca tenha proibido a homossexualidade, as pessoas da comunidade
LGBTQIA+ sofriam com uma forte e violenta discriminação, devido a inclusão da
dicotomia homo/heterossexual criada pelo Ocidente Moderno e forçada contra a
Ásia durante o Neo-Colonialismo [LEE, 2017].
O filme “Seu
Nome Gravado em Mim” – Your Name Engraved Herein, em inglês, e 刻在你心底的名字 em chinês –, de 2020, mostra parcialmente
esta realidade sob o ponto de vista de dois estudantes de uma escola militar no
primeiro ano depois da derrubada da Lei Marcial. É importante analisar a
importância cinematográfica em tornar visível e impedir o apagamento de
acontecimentos, para que então a civilização conheça sua história e evite
cometer os mesmos erros.
Análise cinematográfica e impactos de “Seu
nome gravado em mim”
Dirigido por Patrick Kuang-Hui Liu, “Seu Nome Gravado em Mim” ocorre
dentro de uma escola militar, em 1987, onde dois rapazes tornam-se amigos e
acabam se apaixonando. Durante o filme, há diversas cenas mostrando a
discriminação contra pessoas LGBT+ – como uma agressão de um
menino gay no banheiro da escola; a detenção do Manifestante Chi Chia-wei, em
homenagem ao ativista pelos direitos LGBT+ em Taiwan; e entre outras. Estes
ocorridos fazem com que os protagonistas tenham medo de demonstrar os sentimentos
que guardam.
Concomitantemente, a trama intercala com a história de um dos
protagonistas, chamado A-Han e interpretado por Edward Chen. Relatando algumas
conversas do menino com o padre católico da escola, onde conta sobre sua paixão
secreta e questiona por quê seu amor vai em objeção aos ensinamentos da bíblia.
Em que, uma das dúvidas levantadas por A-Han ao padre, declarava de forma
visceral, balançando o telespectador: "Deus não disse “Peçam, e lhes será
dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta”? Eu tenho
batido à porta com tanta força. Por que Ele não escuta?” [SEU NOME GRAVADO EM
MIM, 2020].
O Diretor Patrick Liu relata que ao escrever o roteiro, por ter nascido
e sido criado em um ambiente cristão, pensou que: “ninguém pode desempenhar o
papel de Deus e julgar as pessoas por seu gênero ou por quem elas querem amar”.
Evidencia-se que 80% do arco de A-Han é baseado na própria experiência do
diretor, expondo que não tinha a intenção inicial de fazer um filme gay, mas
sim de uma experiência pessoal: “É sobre o meu primeiro amor e, meu primeiro
amor, aconteceu de ser uma história sobre um garoto gostando de outro” [TIME, 2020, tradução própria].
O filme “Seu Nome Gravado em Mim” é a obra cinematográfica LGBT+ de
maior bilheteria em Taiwan, recebendo diversas indicações no Golden Horse Award e levando alguns
prêmios para casa, muitos consideram o filme como um “futuro clássico do cinema
LGBT+”. Todavia, o diretor ainda acrescenta que “esse filme não é apenas sobre
amor, mas também sobre os direitos LGBT em Taiwan. Eu espero criar um filme
para contar suas histórias e, que as comunidades LGBT, se sintam livres para
amar agora” [LIU, 2021, tradução própria].
Considerações finais
É notável a diferença histórica dos Direitos da Comunidade Queer em
Taiwan, que perpassou por períodos de normalidade para invisibilidade,
agressões, ilegalidade, legalidade e, a então busca por, inclusão social. O
país deixou de ser um lugar com uma discriminação opressiva em cima da
comunidade LGBTQIA+ no Século XX para uma das mais desenvolvidas em questão dos
direitos deste grupo no Século XXI.
Entretanto, há a necessidade de deixar fresco, na memória do povo
taiwanês e do mundo, os caminhos e a luta que essa minoria enfrentou e ainda
enfrenta; sendo relevante ressaltar a fala do ativista Yang Hsien-hung, sobre o
período do Terror Branco em Taiwan: "Embora seja doloroso relembrar as
injustiças do passado, fazer isso é nossa melhor defesa contra a
repetição" [YANG, 2005, tradução própria].
O exemplo taiwanês mostra como a ingerência internacional afeta o
desenvolvimento nacional. Normas estatais, governança e opressão de minorias de
gênero e sexuais apresentaram-se em Taiwan, onde o Estado e Organizações
Não-governamentais Cristãs Conservadoras dificultaram ainda mais o ativismo da
sociedade civil. Não existindo mais a ideia de uma oposição nítida entre o povo
e o estado, o local ou o global, isto porque esta junção tornou-se obstáculo
considerável à libertação de queers marginalizados [HO, 2010].
E uma das formas de se manifestar e lutar por direitos é através dos
setores de comunicação – televisivos, cinematográficos e entre
outros –, onde a representação e o
ato de normalizar práticas e identidades queers é essencial. Encaixando-se nesta magnitude, um dos
objetivos almejados pelo filme de Patrick Liu, em mostrar que a comunidade
LGBTIA+ pode ter liberdade e esperança, mas sem nunca esquecer como ela foi
conquistada.
Nesta toada, cita-se Elie Wiesel [1986], sobrevivente do Holocausto e
autor de renome mundial, que em seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel da
Paz expressou: “Tentei manter a lembrança viva, que tentei lutar contra aqueles
que se esqueceriam. Porque se nos esquecermos, seremos culpados, seremos
cúmplices. [...] E que é por isso que jurei nunca ficar em silêncio quando e
onde quer que seres humanos passem por sofrimento e humilhação. Devemos sempre
apoiar os lados. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio
encoraja o atormentador, nunca o atormentado”.
Referências bibliográficas
Bacharel Kawanna Alano Soares, graduada pela Universidade da Região de
Joinville (Univille), no curso de Ciências Jurídicas, em 2020. Especialização
em Relações Internacionais: Geopolítica e Defesa, pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul em andamento. Currículo Lattes disponível em:
http://lattes.cnpq.br/7931975558100604.
Graduanda Gabriella Onofre, cursando História na Universidade Estadual
do Centro-Oeste no Paraná, no curso de Licenciatura em História. Currículo
Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/2210578739816548.
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Bom dia, Kawanna
ResponderExcluirEm primeiro lugar quero lhe parabenizar pelo texto, estou maravilhada tanto com sua escrita quanto com a pauta. Eu assisti ao filme e dei uma aula sobre ele durante meu estágio docente do mestrado na disciplina de História, Gênero e Sexualidade, por isso mesmo fiquei super feliz lendo sua produção.
Em segundo lugar, é triste vermos a escalada do conservadorismo em diversas partes do planeta, tanto em nosso país, quanto no leste asiático. Acredito que essa "expansão" conservadora, não só está atacando por meio de discursos preconceituosos as conquistas e o movimento LGBTQIA+, como também quer minar as mesmas vedando legislações e até mesmo derrubando-as.
Diante disso, enquanto pesquisadora, como você acredita que nós podemos contribuir para impedir que esse tipo de discriminação ocorra? Afinal, todos devemos contribuir para minorar e de preferência acabar com tais cenários discriminatórios.
Assinado: Krishna Luchetti, mestre em História dos Espaços pela UFRN.
Cara Professora Krishna,
ExcluirNós agradecemos pelo elogio e também ficamos felizes em escutar sobre o fato do filme ter sido pauta de discussão em uma das suas aulas!
Sobre seu questionamento, a história diversas vezes se apresenta de forma cíclica, onde as sociedades passam por ondas de conservadorismo e progressismo - acreditamos que você saiba disso de forma muito mais esmiuçada que nós - e neste momento nos encontramos em mais um período de conservadorismo em alguns países, como no Brasil com o aumento de discursos de 'defesa da família'; enquanto outros já estão na fase do progressismo, como em Cuba onde acabou de ser aprovado com apoio de 66% da população um novo Código de Família, muito mais abrangente e humanitário que o anterior.
Quando nos debruçamos sobre uma questão tão sensível, como de quais formas evitar que comunidades minoritárias sofram ainda mais agressões, por diversas vezes nos sentimos em um beco sem saída. Ainda assim, acreditamos que existem formas de auxiliar a causa e evitar maiores violências.
Um dos pontos, que levantamos no artigo, é a necessidade de representatividade de histórias e de pessoas da comunidade queer nos meios de comunicação. Se algo é invisibilizado, ou tratado como um assunto delicado demais para ser discutido, aumenta as possibilidades de esquecimento do sofrimento desses grupos e da repetição. Por isso, vemos como ponto essencial tratar até mesmo das situações mais viscerais, pois a sociedade necessita ter o conhecimento da sua história e quais consequências trouxe para os diversos grupos.
Outro ponto que vemos como indispensável, é trazer essas pautas para o ensino de forma sensível, desde o nível fundamental ao superior. Onde governo exerce um papel fundamental, devendo se responsabilizar em financiar pesquisas sobre as temáticas, pois observamos o esvaziamento neste ramo de estudos (atualmente não apenas nesse, mas em todo o setor de pesquisa infelizmente). Porque, afinal de contas, a educação necessita ser emancipadora - como defendia Paulo Freire.
Por fim, acredito que outro ponto importante, que abordamos de forma rápida no texto, é a representatividade política desses grupos - não apenas da comunidade queer, mas de mulheres e outras minorias raciais por exemplo -, isto porque deve existir na política aqueles que lutam pelas causas dos grupos que não estão sob a 'proteção' da maioria. Como vimos na história de Taiwan, onde os candidatos queer tiveram problemas em conversar com os eleitores sobre as suas campanhas, pela forma que os civis passaram a ver a comunidade como um todo, por conta de uma pequena parte do grupo.
Questões tão complexas dificilmente podem ser resolvidas de forma simples e rápida, e todos nós infelizmente sabemos disso, mas acreditamos sempre que a forma mais eficaz de lutar contra o preconceito e repressão é através da educação. E neste ponto vemos o trabalho que deve ser realizado pelo Estado em dar liberdade para discussões saudáveis dentro da educação, em financiar pesquisas sobre a temática e dar voz a estes grupos - seja através de ações governamentais voltadas para produção de filmes e outras formas de mídia, como comerciais, ou através do combate às fake news.
Se a Prof. acredita que exista outro ponto além dos apresentados, iriamos amar escutar sobre e agradecemos novamente pelo comentário.
Atenciosamente,
Kawanna Alano Soares e Gabriella Onofre.
Kawanna e Gabriella, novamente fiquei maravilhada com a discussão que vocês abordam! É exatamente como vocês estão falando, e no caso brasileiro, na sala de aula acabo sentindo na pele o quanto estamos vivendo em um tempo perigoso. Alunos trazem de casa pressupostos ultra conservadores, em alguns casos defendendo a morte dos diferentes, a prisão daquilo que foge a sua "norma religiosa". Ainda assim, enquanto professores, e como bem nos ensinou Paulo Freire, resistimos por meio da educação, semeamos o respeito e a empatia por todos os seres humanos.
ExcluirAtt: Krishna Luchetti