Adolf é um mangá
[obra quadrinizada em
estilo japonês] publicado por Osamu Tezuka entre os anos de 1983 e 1985
no Japão, quando foi lançado no formato de capítulos, sendo depois republicada no formato tanko,
que é um encadernado para
colecionador: formato que normalmente é o traduzido para os outros países. Após três anos do início de sua publicação, no ano de 1988, a obra já
foi encomendada para este formato, o que é considerado um indicativo do apelo da série entre os
leitores japoneses no período em que o mangá foi lançado.
Embora tenha ficado conhecido inicialmente por
suas obras voltadas ao público mais infantil, esse título é considerado uma obra voltada ao público adulto, e também, uma das mais
importantes criadas por Tezuka.
Na história, enquanto tenta
traçar uma visão
multinacional e multifacetada sobre a Segunda Guerra Mundial e o destino
humano, Tezuka se utiliza de elementos da história reconhecida sobre a acensão do nazismo, o impacto da
Segunda Guerra Mundial, bem como dos conflitos entre Israel e Palestina, nos
anos após o encerramento da guerra. Assim, sua narrativa
começa nas Olimpíadas de 1936, quando o personagem que vai
narrar toda história - um jornalista
japonês chamado Sohei
Toge - está na Alemanha cobrindo o evento. Nesse momento, ele é envolvido em uma trama por seu
irmão que tinha sido assassinado, e era membro da juventude comunista , para
manter a posse de determinados documentos - que
teriam o potencial de acabarem com o nazismo. A partir daí, a vida de nosso repórter vive uma constante de turbulências, fugas e tortura por meio da Gestapo.
Enquanto essa parte do enredo se desenrola, somos apresentados aos outros dois personagens que são determinantes para a
narrativa; Duas crianças, de nome Adolf Camil e Adolf Kauffman. Os dois são
amigos, crianças alemãs vivendo na cidade japonesa de Kobe.
Essa história então passa a trabalhar narrativamente com o destino
de três personagens homônimos, que precisam administrar identidades
conflitantes; um judeu nascido no Japão, mas descendente de uma família alemã, um menino filho do embaixador alemão
com uma japonesa e o ditador nazista. Osamu Tezuka opta em sua obra por acompanhar todo o desenrolar da Segunda Guerra Mundial,
preocupado em apontar a participação do Japão, chegando a representar
graficamente a rendição representada pelas bombas atômicas. Mas o seu foco narrativo está
na figura dos diferentes
homônimos, o judeu, focado em organizar a resistência a Hitler em território japonês, ajudando refugiados; o alemão–japonês, que se torna membro da SS e tem que lidar com
um conflito identitário triplo, entre seu relacionamento de amizade com um
judeu, sua natureza de mestiço e a constante indecisão que vem com ela, e a
construção de seu senso de pertencimento ao povo alemão; e o ditador nazista,
retratado como uma figura insana. A trama estende-se ao longo da história, mostrando um último embate entre os Adolfs fictícios por ocasião da ocupação da Palestina, onde o autor
representa o exército israelense reproduzindo antigas práticas nazistas frente aos diferentes soldados
mercenários que apoiam a
causa palestina. Kaufman, o personagem alemão se encontra lá, ao lado de outros ex-membros do exército alemão.
O conhecimento histórico é pano de fundo e uma espécie
de norte para a construção dessa obra, ainda que dentro de uma lógica da indústria cultural que abre mão da profundidade em nome de uma narrativa de fácil compreensão. Mostra
o período como um momento perigoso, onde todas as liberdades eram
retiradas e os questionamentos inexistiam sem que houvesse alguma consequência posterior. Um certo penhor pela interpretação histórica e discussão do passado a partir de referências concretas sustenta as escolhas do estilísticas do autor, como ele enfatiza nos dois
momentos:
"Se fosse possível, adoraria ter ido a Berlim, mas acabei não
tendo essa oportunidade. O mesmo aconteceu no caso de Kobe. Isso significa que
há uma grande parcela de chute nas coisas que desenhei. O que me
salvou foram os materiais de referência que a editora me enviou. O editor responsável pela série trabalhava no
setor de arquivos e se empenhou bastante para coletar informações para mim.
Portanto, acredito que pelo menos as datas e as estatísticas correspondam à
realidade". [TEZUKA,
2006, p.8]
"A única coisa que deu trabalho foi conseguir
materiais de referência. Foram três pessoas trabalhando em tempo integral, dois editores e um
especialista em coletar materiais de arquivo. Afinal
de contas, mangás são produtos essencialmente visuais. Não funcionam sem
verossimilhança. Por exemplo, se um escritor quisesse usar o hall de um
hotel famoso de Kobe como cenário, basta descrevê-lo em um parágrafo como “o hall do hotel XX”. No meu caso, precisaria ter, antes de qualquer
coisa, uma foto do local. Teria que saber como são o teto e o chão, para poder
mudar o ângulo de visão. Precisaria saber até como se vestiam as
pessoas que passaram por lá na época ou quais flores enfeitavam o local em determinada estação do ano. A
maior parte dos materiais de referência foi queimada na época da guerra. Tínhamos uma grande escassez de informações. Por
isso, fiquei muito feliz quando alguns leitores reconheceram o trabalho detalhado que fizemos nessa obra. No entanto, ressalto que
não tive a oportunidade de ir à Alemanha dessa vez [risos]. Desenhei
exclusivamente as lembranças que guardo de 25 anos atrás". [TEZUKA, 2006, p.9]
Apesar da preocupação com a busca por informações
para uma retratação mais fiel do momento da Segunda
Guerra Mundial, a obra não tinha como objetivo primário um estudo histórico sobre aquele período, e sim a produção de um mangá, uma história, uma mensagem,
e até mesmo, um sucesso editorial. Escrita nos anos 1980 é uma das únicas obras em que o autor se utiliza do estilo
Gekiká, mais realista e
intimista, onde a narrativa adquire, por vezes, um tom policial. Ainda assim,
para Tezuka, o resgate histórico figurou como
um ponto crucial para sua escolha e tratamento da temática.
O argumento principal da história, as interações entre três homens, que carregam o nome Adolf [Camil, Kauffman e o próprio Hitler, respectivamente] e que tem conhecimento da
existência de um dossiê, que por comprovar a descendência hebraica de Hitler
pode comprometer o avanço da ideologia nazista permeia toda trama e em a partir
desse conflito que a ideia de Guerra e a importância da paz são exploradas. Em uma mistura entre os gêneros policial, espionagem e aventura, Osamu
Tezuka constrói uma história repleta de questionamentos sobre esse período histórico, a humanidade e os valores sociais em torno das
motivações das pessoas. O discurso pacifista é um traço sempre presente nas obras do autor, que via nos
mangás uma oportunidade
de difundir ainda mais uma mensagem contra a guerra,
a violência e a discriminação como uma espécie de alerta:
"Eu vivi a época da guerra, por
isso sempre tive vontade de deixar um registro ao meu estilo daquela época [...] As crianças de hoje em dia vem a Segunda
Guerra Mundial da mesma forma que encaram a batalha de Sekigahara ou a Guerra
Russo-Japonesa, ou seja, a distância, através dos livros de
história. Mas no meu caso aquilo não foi história foi realidade. A cada ano que passa a menos gente capaz
de contar o que aconteceu naquela época por isso eu quis fazer a minha parte deixando mangá
para posteridade[...]
Muitas imagens se misturavam na minha cabeça, muitos temas e um e vinham e talvez haja até alguns pontos incoerentes na história, mas o que eu
fiz foi levantar a questão. O resto fica a cargo da
imaginação dos leitores”. [TEZUKA, Osamu. 2006 s./p.]
Neste trecho, publicado incialmente na revista
Jose Seven, ainda no ano de 1986. Osamu Tezuka explora suas motivações para,
naquela altura da carreira, já um mangaká consagrado, ou “o Deus do Mangá”, em explorar um estilo e uma temática não tão presentes em sua obra. Isso se dá
no entendimento do mangá
como um artefato que
lidaria com a memória, o passado e o tempo histórico, de uma maneira diferente, portanto, do que usualmente se associa ao conhecimento histórico escolar ou do conhecimento histórico acadêmico. De certa maneira, nessa passagem, Tezuka encara sua
obra como um espaço em que o regime de memória se manifestaria
de maneira diferente, e que, onde a tensão entre
passado presente e futuro pudesse ser dessacralizada. Que passasse, portanto, a
fazer parte de uma experiência, de um elemento de formação de sentido do passado,
tornado presente para cada leitor.
Neste sentido, o que quadrinho nos faria experimentar quase sensorialmente no processo de leitura
das imagens, também trabalharia com uma nova dimensão do sentido
político deste passado.
A partilha é estética ao ser efetuada num comum sensível, "como um sistema das formas a
priori determinando o que se dá a sentir. É um recorte dos tempos e dos espaços, do visível e do invisível, da palavra e do ruído que define ao mesmo tempo o lugar e o que está
em jogo na política como forma de experiência". [Rancière, 2005, p.86]
Genericamente no Ocidente, os quadrinhos de temática histórica primam por uma tentativa de “reconstituição histórica”, existindo na nossa cultura uma valoração cada
vez maior pela fundamentação factual. No mangá “histórico”
esta demanda não existe para validar a obra como parte do estilo, alterando o tipo de relação com o passado: trazendo
aberturas maiores para a interpretação [valorando a noção autoral] e o espaço que este passado ocupa, o que exige uma
observação distinta.
Essa dinâmica é bem presente no
mangá Adolf. Construída em uma perspectiva de
retrospecto, a primeira cena se dá em um cemitério. Ao contemplar
a lápide de Adolf Camil
e registrar que o último sobrevivente da história não mais existe, é que o narrador -
Soge - se sente livre para contar a história dos três Adolf - O que
justifica o nome do mangá. O narrador, embora personagem de toda ação ao longo dos
cinco volumes que compõe a obra, ocupa, algumas vezes uma espécie de alter-ego para o mangaká que escreve: especialmente quando cumpre o papel
de um personagem que explica e, portanto, analisa e
descreve a história a partir de um ponto de vista elaborado a
posteriori. Esse é um recurso que permeia toda a história, do começo ao fim. Apresento, a seguir, um exemplo, no momento em
que o personagem Toge, no canto inferior direito, ao
assistir o pronunciamento de Hittler toma uma perspectiva separada da multidão
e disseca o processo estético em que a
organização do partido é montada: "é como um ator de
teatro subindo ao palco para receber a ovação de seu público", como pode
ser visto na figura abaixo. Essa é considerada uma crítica posterior, na medida que a opção usual da imprensa em
1936, o momento que é retratado no mangá
na página a seguir não
apresenta essa percepção crítica do fascismo de maneira geral.
Fonte: TEZUKA,
2006, pág.
72.
Chama a atenção o fato de que a preocupação de Tezuka era construir uma experiência estética, ética, prática e política que não está
limitada a uma espécie de resgate de um passado a ser transmitido, no sentido dado ao passado-monumento, sendo portanto, um objeto de consulta, mas de maneira muito
mais presente está sua busca em resgatar uma experiência, quase como o narrador proposto por Walter Benjamin apresenta suas formulações. Ao reconhecer suas motivações de trazer a história para o leitor
comum, que, na opinião do autor já estava perdendo o contato direto com aquele passado e seus
significados, Osamu Tezuka tentou dar voz às ações e sensibilidades e, especialmente, abrir um espaço de sensibilização e empatia, permitindo uma mobilização por meio de sua narrativa, ou em suas
palavras apontar a importância de levantar a questão para as gerações seguintes. De
uma certa maneira a guerra figura aqui como um acontecimento traumático, que deve ser lembrado, e o autor narrador assume o compromisso com a posteridade ao construir uma
história em que esse passado mais do que retomado, é explicado a partir de sua constituição e seu ponto de vista. Segundo Rüsen:
"Não acredito que a história de hoje seja um
culto de ancestrais, mas ao menos possui alguma semelhança
lógica com ele: devemos nos dar conta que o
pensamento histórico, em si, em sua própria lógica, segue a lógica do luto, ao
menos de maneira
parcialmente formal: transforma
o passado ausente, que é parte da identidade de alguém, em vida presente
e atual. De fato, é só
o próprio passado que é importante para a
pessoa no presente
que pode se tornar
história".
Se pensarmos no quadrinho como uma experiência narrativa dinâmica, com um espaço de mobilidade múltiplas, podemos considerar que o quadrinho histórico é um elemento importante nesse processo de tornar o
passado ausente parte da identidade de alguém. Abrimos um leque
de possibilidades a ser considerado, tanto no uso desse tipo de material para o ensino de história, quanto no
trabalho de mangás enquanto fonte.
Tezuka, no momento em que escreve o quadrinho
representa um posicionamento clássico da sociedade japonesa de sua época: encara a guerra como um ponto da história a ser superado, como um efeito
do militarismo japonês e exalta a decisão posterior do posicionamento politico
pacifista que marcou a reconstrução da sociedade japonesa nos anos do pós guerra.
No mangá Adolf, essa opção
é bastante marcada em toda a narrativa e por
diferentes momentos o argumento de que o Japão
seria o único país que “aprendeu com a guerra”
se apresenta. Essa
formulação é influenciada pela
elaboração da história japonesa do pós guerra: uma “narrativa fundadora”, que era comum no Japão no período em que a obra foi
pensada:
"No final da Guerra, os EUA e o Japão, em
certo sentido, escalaram a si mesmos como personagens de um melodrama que
culminou na demonstração de um poder atômico nunca antes visto. Através da bomba, os EUA, classificados como um sujeito salvaram e converteram o Japão, classificado como objeto
feminino. A chamada decisão divina de Hirohito, participou deste drama ao
aceitar o poder superior dos EUA. Apesar dessa hipérbole, essa narrativa popular foi efetiva ao definir a
percepção dos dois países da guerra e como
ela chegou ao fim”.[IGARASHI, 2011, pp. 59-60].
Tezuka apresenta
uma linha semelhante também na apresentação
visual e narrativa do personagem histórico principal do
seu enredo, o Adolf Hitler, que é construído como uma pessoa cruel e mentalmente desequilibrada, o que permite que a história se desenrole explorando a possibilidade da Guerra ter
sido efeito da loucura de um homem. Percebemos portanto, que o mangá
Adolf é reflexo das leituras de seu tempo e o entendimento de seu autor e do pensamento nipônico do momento em que foi escrito, mas a obra e
sua permanência podem ser exploradas em diferentes sentidos, e está
sempre tornado presente no
processo de construção de sentidos e identidades históricas de cada um de nós, seja nos
ambientes formais de aprendizagem, ou nos objetos de
cultura histórica, como no caso do mangá.
Referências
Dr Janaina de Paula do Espírito Santo é professora de História na Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde pesquisa
quadrinhos e mangás, e seu diálogo com a história e a didática da história. É integrante do Grupo de Estudos em Didática da História [GEDHI].
IGARASHI, Yoshikuni. Corpos da Memória: narrativas do pós guerra na cultura
japonesa. São Paulo Annablume, 2011.
RANCIÈRE, Jacques. A
partilha do sensível: estética e política. Tradução: Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO Experimental / Editora 34, 2005.
RÜSEN, J. Como dar sentido ao passado: questões relevantes de meta-história. História da
Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 2, n. 2, p. 163–209, 2009. DOI: 10.15848/hh.v0i2.12. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/12.
TEZUKA, Osamu. Adolf, Vol. 1. São Paulo: Editora Conrad, 2006.
TEZUKA, Osamu. Adolf,
Vol. 2. São Paulo: Editora
Conrad, 2006.
TEZUKA, Osamu. Adolf, Vol. 3. São Paulo: Editora Conrad, 2006.
TEZUKA, Osamu. Adolf, Vol. 4. São Paulo: Editora Conrad, 2006.
O uso de mangás como ferramentas do ensino/aprendizagem de história é realmente fascinante, abrindo portas para diversas possibilidades.
ResponderExcluirLi algumas vezes que o conhecimento geral da população japonesa referente a Segunda Guerra mundial, não trespassa muito as fronteiras de seu país, e que o aspectos considerados no ocidente como "padrões" no ensino da história de Segunda Guerra Mundial, não são abordados no ensino japonês.
Você acredita que a obra de Tezuka abriria possibilidades para o ensino de história no contexto escolar japonês?
Eder Milesky
Oi Eder, tudo bem? Agradeço sua pergunta. Acredito, de maneira geral que os mangás abrem possibilidades para o ensino de História de como um todo. No caso de Adolf ni Tsugu (アドルフに告) e do Japão especificamente, a obra é encontrada em bibliotecas escolares. Ainda assim, não faz parte de discussões programáticas. É interessante lembrar que em alguns momentos, mangás também são alvo de disputas narrativas a respeito da história japonesa, e embora Gen pés descalços apareça com mais frequência nesse tipo de debate, é um indicativo de que esse diálogo encontra espaço na sociedade como um todo.
ExcluirJanaina de Paula do Espírito Santo
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ResponderExcluirAcredito que o uso de quadrinhos em sala de aula possa enriquecer e muito a experiencia dos alunos por ensiná-los a ler mídias e objetos.
ResponderExcluirPensando nisso, gostaria de saber: uma história em quadrinho está limitada ao sentido que o autor gostaria que sua obra tenha e ao seu contexto histórico ou novas visões/interpretações são possíveis na medida em que outros leitores tem contato com a obra?
Felipe Lomba Ferreira
Oi Felipe, obrigada por sua pergunta. Em uma visão mais clássica, especialmente na historiografia, o quadrinho estaria limitado ao seu contexto de produção e circulação de origem. Entretanto, se pensarmos na circularidade e na cultura da convergência em que as obras e mídias circulam atualmente, acho que pode se pensar que visões e interpretações são sempre possíveis de serem recuperadas e analisadas. Especialmente em sala de aula, penso que a grande riqueza, é justamente essa, possibilitar e explorar visões e interpretações na construção de sentidos históricos.
ExcluirJanaina de Paula do Espírito Santo
Olá Janaina! Achei muito interessante o seu texto. Em um dado segmento do seu trabalho é ressaltado que o mangá Aldolf retrata a visão da sociedade japonesa quando o mangá foi originado, como por exemplo, o enaltecimento da postura governamental mais apaziguadora do Japão após a segunda guerra mundial. Você acredita que os mangás e os animes mais recentes podem também refletir a concepção da sociedade japonesa na atualidade em relação a sua história? Acredito que recentemente se decorrem diferentes discussões referente as mensagens do mangá e anime Shingeki no Kyojin (Attack on Titan) que teve uma grande popularidade fora e dentro do Japão. Abraço! Willian Carlos Fassuci Larini.
ResponderExcluirOi Willian, acredito muito que sim. Na minha tese de doutorado analisei diferentes mangás e percebi algumas diferenças de construção histórica e de enredo que marcam essas novas tensões, sociais e/ ou historiográficas. Nesse sentido, um exemplo interessante é o mangá "o zero eterno", que é uma adaptação do romance de mesmo nome e que toma a segunda guerra de um ponto de vista extremamente conservador e nacionalista e fez muito sucesso, recentemente, além do Shingeki no Kyojin que vc já citou. Essa postura apaziguadora tem arrefecido, para dizer o mínimo, nos últimos 20 anos.
ExcluirJanaina de Paula do Espírito Santo.
Adorei o relato de pesquisa aqui apresentado, um ótimo texto, Janaina. Como pesquisador de Japão acho uma obra super válida para manter a memória da Segunda Guerra Mundial viva no Japão, uma vez que o "esquecimento" é primado nessa questão, como aponta Shuichi Kato "deixa a água levar o passado". Gostaria de perguntar sua opinão enquanto pesquisadora do tema sobre a necessidade do uso de obras como está e talvez até o manga "Showa"(também sobre 2ºGM, mas sob a ótica do Império niponico): se este é , talvez, o melhor caminho para tornar a memória da 2ºGM viva nos jovens nipônicos.
ResponderExcluirDouglas Pastrello
Olá Douglas, muito obrigada. Acredito que cada vez mais quadrinhos e obras da cultura de massas fortalecem esses espaços de memória, já que a ficção 'as vezes ajuda a encarar o real. Acredito que os quadrinhos, por sua natureza empática (de uma certa maneira, como diz Scott Mccloud - cada leitor é protagonista do processo e da história junto com os personagens). Por isso acredito que esse tipo de obra deve ser olhado com cuidado e considerado sim como um elemento de uso público do conhecimento histórico e da memória coletiva, com certeza. O ministro Shinzo Abe usou desse argumento para incentivar os jovens a assistirem e consumirem Eien no Zero por exemplo, o que é um indicativo de que mangás, animes e filmes tem essa força sim, em manter esses espaços de memória.
ExcluirJanaina de Paula do Espírito Santo
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ResponderExcluirBoa tarda Janaína. Gostei muito do texto e a partir dele me interessei pelo mangá, que já tinha ouvido breves recomendações. Minha dúvida é mais no sentido de pensar esse texto em sala de aula. Você chegou já a utilizá-lo em sala de aula para alguma atividade ou mesmo elaborou algum tipo de sequência didática a partir dele ? Se puder compartilhar como foram essas experiências, agradeceria muito.
ExcluirGratidão
Oi Harlan, já usei mangás em sala de aula e já orientei pesquisas sobre isso (em breve vai sair um artigo sobre a metodologia que costumo usar) mas, de forma resumida, o importante ao se levar mangás para escola é pensar que é uma atividade em que a leitura e a interpretação de texto devem ser mediadas, a todo momento pelo professor - especialmente, pq temos um tempo pré determinado nas aulas. Se trabalha com trechos, então o aluno tem que conhecer a história de antemão, a leitura deve ser acompanhada e o olhar crítico, para os detalhes e os diálogos com o conteúdo que o professor pretende fazer, são o elemento essencial do processo. Por isso, eu sempre comento com os alunos que é bom levar uma obra que a gente enquanto professor tenha gostado - isso transparece no caminho. Gosto muito de trabalhar mangás e quadrinhos em sala de aula.
ExcluirOlá, Janaina!
ResponderExcluirGostei muito do seu texto, nunca li o mangá e fiquei bastante interessada.
Sei que você não usou como referência o Koselleck, mas a citação do Rüsen me fez pensar no conceito de espaço de experiência. Você acha possível essa aproximação? Ou, dito de outra forma: você acha possível pensar a temporalidade da obra Adolf a partir dessa chave?
Obrigada desde já :)
Bem, se pensarmos que o espaço de experiência é um grupo de lembranças, acontecimentos e entendimentos que fazem parte do presente, tendo, portanto, um aspecto também inconsciente e que de maneira geral para o Koselleck ela é passada a diante por um sem número de fatores, há uma semelhança com o que o Rüsen define como Cultura Histórica, que é uma espécie de consciência histórica coletiva das sociedades. Uma vez que ambos os autores trabalham a partir do Droysen, acredito que essa é uma aproximação possível, com certeza. Existe um texto de Gustavo Castanheira Borges de Oliveira que se chama: Filosofia da história, utopia e crise: semelhanças e diferenças entre Reinhart Koselleck e Jörn Rüsen onde ele estabelece várias aproximações interessantes. Obrigada pela pergunta!
ExcluirJanaina de Paula do Espírito Santo
Que maravilha, muito obrigada pelo retorno e pela indicação!!
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