O escritor Li Liweng, da dinastia Qing, gostava de fazer a seguinte brincadeira: ‘se existe reencarnação, a quem eu estou buscando quando venero meu ancestral? Será que estou venerando a mim mesmo?’ O comentário de Li Liweng é muito importante, pois ele mostra uma tensão que existia entre a ideia material e a ideia espiritual do culto aos antepassados. Pode parecer estranho querer separar o aspecto espiritual do aspecto material, pois o próprio culto informa uma ação de cunho religioso. A devoção espiritual e a dedicação a memória dos falecidos representam uma ação de fé, ligada a crença de que existiria vida após a morte. No entanto, essa mesma vida após a morte possui um aspecto dicotômico em relação à veneração dos ancestrais, e que queremos discutir agora.
Ancestralidade na
China
O culto aos ancestrais é um dos elementos centrais da religiosidade
chinesa, tendo origem na fase neolítica na história da China. Não iremos nos
aprofundar agora em uma discussão sobre as múltiplas e variadas expressões da
história do culto aos antepassados [para isso, ver Granet, 1922; Baker, 1979 e Coe, 2016]. Queremos partir de
nossa provocação inicial para pensarmos como a veneração aos antepassados se
encaixa nas mudanças religiosas que ocorreram ao longo dos milênios. Vamos
iniciar com duas considerações fundamentais; o papel do sonho e o nascimento da
alma, e a formação da concepção genealógica genética de família e de
relacionalidade.
O papel do sonho na
formação do conceito de alma
Como sabemos, as primeiras ideias sobre a existência de alma surgiram
ainda nos tempos primitivos. Imaginemos essa cena: duas pessoas estão
debaixo de uma árvore, e uma delas decide dormir e pede ao seu amigo que
fique de vigia, para que nenhum animal possa ameaçar seu descanso. Mas quando
ele dorme, ele sonha, e nos seus sonhos ele realiza tarefas impossíveis e
entra em contato com parentes e membros da sua Aldeia que já faleceram. Tudo
isso parece muito real. Quando ele acorda, pergunta ao seu amigo se este viu o
que ele fez, e as pessoas com quem ele encontrou. Seu amigo responde: ‘você não
saiu daqui, parecia que estava morto, mas voltou’. Dessa experiência, ambos
concluem que o seu corpo é apenas a casca de alguma coisa que está escondida. É
o seu ‘eu interior’, e que será chamado em algum momento de alma ou espírito, o
nosso verdadeiro sentido de existir. Por essa razão, viver é um estado
transitório, o ‘Sonho da borboleta’ de Zhuangzi [Zhuangzi, cap.2]. Essa concepção é fundamental para estrutura da
religião chinesa, assim como de muitos outros cultos animistas e do xamanismo
[Bueno, 2019]. Os primeiros xamãs usavam os sonhos para realizar em curas e
aprender com os antepassados como viver no mundo, e como se preparar para
caminhada espiritual.
Li Zehou, Jana Rosker
e o Xamanismo
Para autores como Li Zehou e Jana Rosker [2020], o xamanismo foi a base
do nascimento dos rituais, e é considerado a primeira sistematização racional
sobre a realidade espiritual e meio de estabelecer contato com os espíritos. Da
mesma forma, os espíritos dos falecidos estão na base da formação do clã e da
Comunidade, formando os membros que deram origem a sociedade. Essa concepção
ritual foi trabalhada em vários níveis diferentes, existindo os antepassados da
família, da comunidade, e em escala macrocósmica, os antepassados fundadores da
nação e do Estado Imperial. Esperava-se que mundo material manifestasse uma
hierarquia igual a que existia no mundo espiritual, fazendo com o que um mundo
fosse a representação do outro [Feuchtwang,
1992].
Esse processo de interconexão que funciona no plano material e
espiritual dá origem ao que chamamos de pensamento relacional, ou seja, de como
todas as coisas estão conectadas por meio de um sistema de relação, no qual a
categorização das formas corresponde a princípios Genealógicos espiritualizados
de organização. Esse sistema era fundamental para entender que as relações de
organização familiar estavam inseridas no mundo da natureza, e pertenciam a uma
ordem hierárquica da cosmologia criativa que ordenava o universo.
É o que aparece, por analogia, quando estudamos o ‘Livro das mutações’ [Yijing],
que nos apresenta imagens como formas codificadas das expressões da natureza. O
que aprendemos quando deciframos as composições e arranjos de trigramas e
hexagramas é que o mundo pode ser explicado por um sistema de símbolos que
cristalizam, para o nosso intelecto, as leis do sistema Ecológico do mundo. As
representações do Livro das mutações, assim como a escrita chinesa, são
sistemas de expressão invocativa, que pretendem, por meio da imagem, suscitar a
compreensão de uma ideia ou, em um nível metafísico, a expressão da alma.
O sinólogo Ricardo Joppert [1996, 12] definiu isso com grande clareza,
quando demonstrou que a compreensão dos princípios coordenadores da matéria
está subjacente ao processo de lapidação da pedra bruta do Jade, revelando a
joia escondida. Então podemos compreender que existe uma subjetividade aparente
na expressão de símbolos, nas imagens que constituem o código do mundo.
A veneração ao ancestral faria parte da estrutura que conecta o ser
humano com o nascimento da Cultura, atributo fundamental da concepção da
própria humanidade [o ‘Ren’ confucionista]. Por causa disso, acreditava-se que
os ancestrais não apenas fundaram a civilização, mas também protegiam a
família, a comunidade e o país.
A genealogia como
sentido de existir
Por essa razão, desde a antiguidade, o sentido de existir chinês seria
dado pela genealogia familiar que insere uma pessoa dentro do mundo e de
sua comunidade. Ela é material também: sua existência fundamenta o compromisso
da Piedade filial como valor fundamental de continuidade, de respeito à
hierarquia, e de ordem social.
Confúcio concedeu uma importância crucial para a veneração dos
antepassados e a manutenção da Piedade filial como dois elementos responsáveis
pela administração da ecologia social e da conservação da estrutura política.
Confúcio estava preocupado em cultivar o exemplo e o espírito estimulante dos
antepassados para garantir que a cultura chinesa continuaria a sobreviver e a
se desenvolver. Confúcio não era totalmente conservador, nem pretendia que a
cultura parasse no tempo. O que ele desejava é que as grandes ideias e os
grandes personagens que surgiram no passado continuassem a servir de impulso
para o aperfeiçoamento da sociedade. A veneração aos ancestrais fazia
parte da manutenção de uma ideia religiosa e de um sistema epistemológico de
incentivo a criação de conhecimento e de manutenção da harmonia com a natureza.
Contudo, Confúcio deixou uma mensagem ambígua sobre a veneração aos ancestrais.
Não há dúvida de que ele acreditava no mundo espiritual, mas em várias
ocasiões, ele fez questão de deixar bem claro que acreditava nas ações
humanas, e que muitas vezes não deveríamos contar com ajuda dos Deuses. Como
podemos ver nessa descrição que inicia o livro da Piedade filial:
“Pois
bem, a piedade filial é a raiz de toda virtude e o tronco do qual nasce todo
ensinamento moral. Senta-te de novo e te explicarei a questão. Nossos corpos –
cada fio de cabelo, cada fragmento de pele – nós herdamos de nossos pais e não
devemos atrever-nos a danifica-los ou feri-los. Este é o começo da piedade
filial. Quando formamos nosso caráter mediante a prática da conduta filial,
para tornar famoso nosso nome nas idades futuras e glorificar com isso nossos pais,
este é o fim da piedade filial. Começa com o serviço de nossos pais, continua
com o serviço do governante, e se completa pela formação do caráter”. [Xiaojing, 1]
Se Confúcio realmente pronunciou essas palavras, então o sentido de
Sinidade estava calcado em uma herança genética, absolutamente material, e
que se reproduzia na memória. Assim, como ficaria ação espiritual dos
ancestrais na proteção e na orientação cotidiana da família e das
pessoas?
Em geral a população continuou acreditar no intercâmbio entre o mundo
material e o mundo espiritual, como fica evidente nos funerais e nos métodos de
veneração aos antepassados, em que muitos presentes que representam riquezas,
dinheiro e bem-estar material são depositados ou queimados em homenagem ao falecido.
Essa noção é interessante por que ela pressupõe que os espíritos continuam em
contato com o nosso mundo ininterruptamente.
O desafio da
mediunidade e reencarnação
Esse contato é reforçado pelas crenças da religiosidade popular, ou Religião dos Espíritos [Shenjiao], que defende a prática da
mediunidade como uma forma de entrar em contato com o mundo espiritual e
receber orientações e respostas aos dilemas da vida. Há uma discussão,
principalmente a partir de Zhuangzi, se existiria ou não a ideia de
reencarnação na China antiga. Em função de nosso espaço de tempo, não nos
aprofundaremos nessa discussão; o que importa para nós é que, depois da entrada
do budismo na China, não resta dúvida de que a reencarnação passou a fazer
parte da religiosidade popular e também da religião daoísta, e se tornou uma
das crenças fundamentais da sociedade chinesa. Isso criou o interessante dilema
proposto por Li Liweng. Ou seja, em algum momento nossos ancestrais,
aqueles que veneramos como os fundadores de nossa comunidade, podem ser nós
mesmos. Seria estranho que uma pessoa olhasse para o nome do seu avô na tábua
dos ancestrais, ou lesse histórias sobre como ele foi importante para
comunidade, e se inspirasse profundamente nele, já que essa pessoa poderia ter
sido o mesmo espírito que foi o seu avô ou bisavô.
Um caminho para acomodar esse conflito de ideias foi fazer com que a
veneração aos ancestrais fosse colocada cada vez mais em um tempo passado, com
distanciamento de três ou quatro gerações familiares. Mesmo assim isso não
resolve o problema. Quando o médium ou o xamã nos informam que o ancestral não
retornará mais ou que ele desapareceu, isso tanto pode significar que a família
ou comunidade não estão protegidas pelo espírito, como pode significar que esse
espírito retornou ao mundo material. Por essa razão, nos aproximamos da ideia
de que a veneração aos antepassados estaria muito mais próxima de um sistema de
memória histórica baseada nas concepções de Confúcio, perdendo o seu papel
espiritual. No entanto, essas questões se projetam sobre o mundo moderno,
quando vemos que as conexões genealógicas e espirituais continuam a constituir
um elemento central na ideia de família e de deveres sociais.
Questões
contemporâneas
Podemos citar quatro exemplos de como a questão dos antepassados
novamente está conectada ao problema da Piedade filial, e como elas se
transformaram em um dos pontos de maior tensão nas transformações da China
contemporânea.
O primeiro deles é de como podemos migrar para outras regiões ou países
afastando-nos da comunidade geográfica de abrangência do Espírito ancestral
protetor. A veneração ao ancestral concede grande importância ao papel do
território e do domínio da terra ao qual o antepassado se conecta, o que muitas
vezes pode provocar um relativo desconforto em ir morar em lugares distantes.
Os chineses de hoje encontram soluções adequadas para trabalharem em outros
países ou cidade, mesmo assim, 70% dos chineses afirmam continuar praticando o
culto aos ancestrais e visitam ao menos uma vez por ano sua terra natal e sua
família [Woo, 2010; Hu, 2016]. Isso significa que
de alguma forma eles buscam a manutenção de uma ligação com a terra natal e,
por conseguinte, com o mundo espiritual que envolve esse espaço.
Isso gera um segundo problema que é a questão da descendência. Na
China Continental, onde existem regulações sobre o número de filhos, como
estruturar uma família dentro do sistema de veneração aos antepassados? A
formação de novas famílias, a partir de indivíduos que se constituem os últimos
representantes de uma linhagem, constrói novas comunidades espirituais, ao
ampliar a dimensão relacional entre linhagens espirituais e materiais dentro
das novas famílias? Elas reorganizam ou fortalecem uma dimensão
comunitária e o intercâmbio material e espiritual? [Hu & Tian, 2018]
Uma terceira questão é de como ficam os cuidados com os familiares mais
antigos em uma sociedade onde as famílias se reduziram, o custo de vida aumentou,
e as crenças religiosas pressupõem que a piedade filial ainda é uma resposta
para os dilemas da organização social. Lembremos que esses indivíduos
solitários, que compõe uma nova sociedade estruturada dentro de uma ideologia
ateísta, são ao mesmo tempo pessoas que compartilham crenças religiosas
antigas. Eles enfrentam os desafios de contribuir para o sistema de Previdência
Social e para manutenção da ideia de família, em um mundo em que essas questões
foram fortemente abaladas [Bueno,
2017 & 2021].
Como Xinran Xue mostrou em seu livro Compre-me
o céu [2016], a nova sociedade chinesa é forçada a repensar a sua conexão
com o passado a partir da formação de novas estruturas familiares. Nesse
sentido, o desafio proposto pela religiosidade popular e pelas tradições
confucionistas é de saber qual a força e o papel da atuação dos elementos
espirituais na definição das novas condutas éticas e Morais que permeiam a
existência da sociedade chinesa.
O quarto problema a considerar é o uso da veneração dos ancestrais como
um motor para invocações nacionalistas. A manipulação do passado é um recurso
comum, promovido por diversos governos, que defendem interesses de afirmação
política, cultural ou racial. No caso da China, a invocação dos ancestrais está
sendo cada vez mais usada para fortalecer um sentido cultural e étnico que
naturalmente pode excluir minorias e aumentar as tensões sociais. Essa prática
tem sido observada com considerável preocupação, pois pode facilmente resvalar
para discursos xenófobos ou neofascistas.
Uma ‘não-conclusão’
Não devemos esquecer em momento algum que a religiosidade ainda
constitui um forte elemento ordenador dentro da sociedade, e que a concepção de
vida após a morte influencia a maneira como os indivíduos fazem os seus planos
para o futuro. Por isso a veneração dos ancestrais não foi abandonada, e de
fato tem tido um aumento, com o clima de maior liberdade individual que o país
presencia agora.
No entanto, ainda resta saber como essa estrutura se manterá frente ao
desafio de uma metafísica reencarnacionista, que reduz a veneração aos
antepassados em uma ideia vã. Essa questão intrigante, para a qual não temos
resposta agora, provavelmente se tornará pauta das discussões religiosas e
filosóficas que permearão a transformação da sociedade chinesa em um futuro
próximo.
Referências
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Bueno,
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André. 'O Conceito de sonho na China antiga' in Mota, Arlete José; Campos,
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Bueno,
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Coe, Kathryn, and
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Feuchtwang, Stephan.
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Religion des Chinois. Paris: Albin Michel,
2005. [orig. 1922]
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1-36.
Hu, Anning. ‘Ancestor
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Joppert,
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Rosker, Jana. Li
Zehou’s ethics and the importance of Confucian kinship relations: the power of
shamanistic rituality and the consolidation of relationalism (關係主義) in Asian Philosophy, Volume 30, n.3, 2020, 230-241.
Seiwert, Hubert.
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Woo T.L. Chinese
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Studies in Religion/Sciences Religieuses. 2010;39(2):151-177.
Xue, Xinran. Buy Me
the Sky: The remarkable truth of China’s one-child generations. London: Rider &
Co., 2016.
Prezado prof. André Bueno,
ResponderExcluirdesde já gostaria de deixar aqui meus cumprimentos pela comunicação.
Num determinado momento do texto, me deparei com o seguinte trecho que muito me chamou a atenção:
“Em geral a população continuou acreditar no intercâmbio entre o mundo material e o mundo espiritual, como fica evidente nos funerais e nos métodos de veneração aos antepassados, em que muitos presentes que representam riquezas, dinheiro e bem-estar material são depositados ou queimados em homenagem ao falecido. Essa noção é interessante por que ela pressupõe que os espíritos continuam em contato com o nosso mundo ininterruptamente.”
De fato, isso me remete não apenas a “A cidade antiga”, de Coulanges – com as devidas reticências acerca de seu viés positivista –, principalmente ao Livro Primeiro, “Crenças antigas”, no qual aborda, entre outros, a importância do culto dos mortos, do fogo sagrado, bem como dos desdobramentos subsequentes a estes aspectos, mas também à matriz intelectual inspiradora desta obra historiográfica, a filosofia da história da “Scienza Nuova”, de Giambattista Vico, sobretudo pelo viés religioso destacado em tua presente Comunicação, conjugado com tua respectiva abordagem histórica. O trecho no qual Vico estabelece os princípios de sua Ciência Nova vão exatamente ao encontro das premissas da Comunicação:
“Osserviamo tutte le Nazioni così barbare, come umane, quantunque per immensi spazj di luoghi, e tempi tra loro lontane divisamente fondate, custodire questi tre umani costumi: che tutte hanno qualche religione; tutte contraggono matrimonj solenni; tutte seppelliscono i loro morti”
... especialmente no que tange à prerrogativa atribuída à religião e ao culto aos mortos identificados pelo filósofo da história napolitano como costumes comuns a todas as culturas humanas, desde seus respectivos primórdios fundacionais...
Interessante que a cultura chinesa, através da presente Comunicação, venha a confirmar os postulados do “Libro Primo: Dello Stabilimento de’ Principi” (cf. citação italiana acima), sobre a existência de alguma forma de religião/espiritualidade, assim como de veneração aos mortos/antepassados, sem que a obra napolitana a tenha abordado em sua “Tavola Cronologica” – que abarca os hebreus, os caldeus, os citas, os fenícios, os egípcios, os gregos e os romanos.
Ainda resta aqui a pergunta sugerida pelo trecho viquiano da “Scienza Nuona”, professor André: existiriam, então, aspectos matrimoniais solenes, ritualmente celebrados exatamente neste âmbito histórico-cultural abordado pela Comunicação sobre a ancestralidade chinesa, e claramente identificados por toda e qualquer pesquisa histórica baseada nos pressupostos de Giambattista Vico, que se lhe seja dedicada...????
Desde já agradeço pela atenção.
Atenciosamente,
Matheus Landau de Carvalho.
Caro Matheus, grato pela pergunta! Penso que Vico pensava uma estrutura classificatória que, conceitualmente, desenvolveu-se em direção aos estudos sobre Xamanismo, que surgiriam ao longo do século 19. O relacionamento com a morte e as formas de reprodução social tornaram-se elementos fundamentais na ideia ou sistematização da cultura, mas encontram expressões variadas. Contudo, penso que há sim, princípios norteadores que provém desde o paleolítico, e que vão reformular-se de acordo com as transformações do neolítico. =) grande abraço!!!
ExcluirPrezado prof. André Bueno,
Excluirdesde já agradeço pela generosidade da resposta.
Ótimo texto, e muito interessante a proposta de olhar para essa tenção na cultura chinesa. A veneração aos ancestrais parece fazer parte de, além da chinesa, várias culturas asiáticas. Observar a dinâmica da experiência do tempo dessas sociedades, como Koselleck fez com respeito à história do ocidente, pode trazer mais luzes para a dinâmica. O que você acha? Grato pela atenção.
ResponderExcluirDean Tarik Silva Araújo
Caro Dean, obrigado pela pergunta! A ancestralidade marca a relação de algumas culturas asiáticas mais antigas, muito em função da profunda conexão viva com o xamanismo. Nesse sentido, a dimensão histórica e temporal da escrita historiográfica chinesa foi muito diferente, em grande parte por não existirem exigências de cunho religioso [tal como apocalipsismo] que Koselleck analisa na formação do pensamento histórico europeu. Os requisitos para a escrita da história moderna que ele propôs, como estratégia, ausência de fim de mundo, etc, já estavam presentes na China. =)
Excluirgrato!
Prezado prof. André, boa tarde! Parabéns pelo texto! Sobre o xamanismo e a prática de magia, culto a natureza e aos ancestrais durante a China antiga (em especial durante a dinastia Shang), pergunto-lhe: A prática era comum entre os imperadores ou limitava-se a fé popular? Desde já agradeço! RENATA ARY
ResponderExcluirCara Renata, obrigado pela pergunta! O culto aos ancestrais é amplamente difundido, em nível familiar, comunitário e imperial. É parte integrante da noção de sinidade, daquilo que ajudou a formar uma consciência de 'ser chinês', conectando a uma genealogia, as práticas culturais e ao território. =)
Excluirgrato!
Muito obrigada prof. André! =) Renata ary
ExcluirPrezado Professor André Bueno
ResponderExcluirEm primeiro, gostaria de deixar meus parabéns pelo excelente texto. Minha dúvida fica quanto aos tempos atuais. Sabemos que a comunicação com o mundo exterior tem deixado profundas marcas na cultura Chinesa, sobretudo na geração mais jovem, que tem maior facilidade em sair e explorar outras culturas e aprender outros significados para a espiritualidade. Essa comunicação pode representar uma mudança na forma como essa nova geração vê a ancestralidade e sua importância dentro da sociedade Chinesa? Existe a possibilidade de que a influência externa e as diferentes visões acerca da alma e do "pós morte" posdam alterar esse modo de olhar para o passado?
Crislli Vieira Alves Bezerra
Crislli, obrigado por sua pergunta, que toca em um ponto crucial! De fato, os desafios representados pela globalização representam um influxo de novas formas de práticas culturais; em parte, vejo a retomada das práticas de veneração ancestral em escala pública como uma reação tradicionalista, uma forma de resistência, e o retorno a uma conexão com uma visão de cultura antiga da China imperial. Isso implica, com certeza, numa mudança na visão sobre o passado, mas qual será... isso está em disputa. O saudosismo já existe, entre aqueles que gostavam do Maoísmo e aqueles que achavam que o império era melhor.... o resultado disso será algo novo, e há projetos nesse sentido, como o da República Neoconfucionista. =)
Excluirgrato!!!
Prof. André Bueno, Parabéns pelas excelentes reflexões que partilhou.
ResponderExcluirEu dedico-me ao estudo da emigração chinesa através de Macau para Cuba e para o Peru (1851-1874) e a sua comunicação levou-me a pensar sobre o suicídio praticado por vários destes emigrantes, habitualmente designados por cules. Alguns suicídios aconteciam ainda durante as viagens transoceânicas, mas eram mais frequentes nos espaços rurais e urbanos, após a sua dispersão pelos territórios de acolhimento. Pergunto: será que esta forma de agir, antecedida por vários rituais, que prosseguiam após o ato cometido, representa apenas uma libertação de um quotidiano de injustiça e de escravidão, ou os seus autores pretendiam atribuir um carácter sagrado ao corpo e conectar-se por esta via com os seus antepassados e com a Piedade Filial?
Obrigado pela atenção. Maria Teresa Lopes da Silva
Cara Maria Teresa, obrigado por sua pergunta! Ela toca num ponto crucial das tradições chinesas e nos dilemas enfrentados pela desterritorialização causadas pelas migrações. Os impactos psíquicos, somados a desconexão com a família e a segurança da terra ancestral com certeza fomentaram episódios de depressão, que levaram a situações trágicas. Penso que a relação com os antepassados, e a pressão dos tradições culturais, foram fatores com grande peso nesses processos.
ExcluirGrato! =)
Olá, Professor André Bueno!
ResponderExcluirTudo bem? Espero que sim.
Professor, parabéns pelo interessante ensaio.
Enquanto eu avançava na leitura não pude deixar de relacionar a veneração aos ancestrais de lá com a veneração que se faz aqui. Dadas as devidas proporções, no Sertão nordestino é, ainda, forte o sentido de existência pela família (os vivos e os mortos) e pelo território. Um vínculo ao "tronco" familiar, mesmo em “desterro”. O senhor acha tal relação absurda?
Abraço!
Caro Antonio, obrigado por sua pergunta! pois olha... quanto mais estudo, mais me convenço de que algumas tradições remontam a práticas neolíticas. Vejo uma proximidade muito grande entre as ideias de ancestralidade na China e em África, o que me faz supor que muitas delas são construídas a partir de perspectivas cognitivas similares. Não estranho, de modo algum, que os influxos afro-asiáticos tenham contribuído, desde os tempos da colônia, para a formação de crenças nesse sentido. =) grato!!!
ExcluirEu que agradeço, professor pela atenção e instrução. Abraço!!!
ResponderExcluirA questão da ancestralidade e local de origem pode explicar parte do receio, ou melhor, desprezo, que os chineses sentem por conterrâneos que migram para outro país?
ResponderExcluirOi Vittoria, obrigado pela pergunta! Não sei ao certo se é desprezo, talvez receio mesmo. É um sentimento comum de desconexão com raízes, de estranhamento frente a outra dimensão de vida - tal como alguém que sai do interior para a cidade grande, ou vice versa, e quando volta, parece 'alguém diferente'. Extrapole isso com os impactos culturais e mudanças de estar em um novo ambiente, e isso aumenta ainda mais as diferenças. Por outro lado, o rompimento com a unidade familiar-ancestral-local causa o estranhamento, a dúvida, o receio da perda de contato com a genealogia cultural e social do indivíduo, o que é um tema de debate e pesquisa. =) grande abraço!
ExcluirMuito obrigado como sempre professor :)
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