IGUALDADE DE GÊNERO E DEMOCRACIA: A COREIA DO SUL E O MOVIMENTO FEMININO por Amanda de Morais Silva


Introdução

De acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Organização das Nações Unidas, que compõem um plano global para um futuro sustentável, em termos sociais, econômicos e ambientais, uma das metas a serem atingidas é a igualdade de gênero, reafirmando compromissos como o projeto a eliminação da discriminação e da violência de gênero (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2022). Essas metas são postas como formas de eliminação dos elementos que sustentam a exacerbação das vulnerabilidades de mulheres e garotas, pondo-as em situações de risco desproporcionais.

 

Em 2021 a reunião da Comissão das Nações Unidas sobre o Status das Mulheres enfatizou que o status das mulheres é o status da democracia, tendo em vista que o empoderamento de mulheres e sua participação ativa na tomada de decisões na esfera pública, bem como a participação na esfera privada, fortalecem a democracia (MARKHAM; FOSTER, 2021). Afirmações como essa são sustentadas por pesquisas e resultados de experiências de campo, tais como os relatados pela Brookings Institution, em seu policy brief “Democracia, igualdade de gênero e segurança” (PICCONE, 2017), que mostra que instituições democráticas como Ministérios, corpos de tomada de decisão, partidos políticos e organizações da sociedade civil são mais fortes quando são estabelecidos maiores níveis de igualdade de gênero. Como resultado disso, gera-se maior participação política feminina, que resulta em ganhos tangíveis para a democracia, incluindo-se maior responsividade para as necessidades dos cidadãos e um aumento na cooperação entre linhas étnicas e partidárias. Para além disso, trabalhos publicados pelo Grupo do Banco Mundial indicam ainda que maiores números de líderes políticas femininas correspondem também a padrões mais altos de vida, melhores resultados em índices de acesso à educação, à infraestrutura e à saúde (MARKHAM, 2013).

 

Assim, não obstante a manutenção de uma democracia demande, imprescindivelmente, a defesa e a promoção da igualdade de gênero, junto ao papel ativo de mulheres na esfera pública e no centro de tomada de decisões políticas, é possível resgatar contextos democráticos que foram erguidos com indiscutível protagonismo feminino, mas que encontram dificuldades na efetivação dessa agenda.

 

É nesse contexto que se busca situar a Coreia do Sul. A nação, que viveu duros anos sob o controle do Império Japonês, entre 1910 e 1945, sob influência do militarismo americano, entre 1945 e 1948, e da Guerra da Coreia, de 1950 a 1953, passou também, no período de 1963 a 1987, pelo o autoritarismo de um governo militar. Contudo, foi em sua época ditatorial que, livre do controle e administração de outras nações, o  seu período de soerguimento econômico - ou “milagre econômico” - floresceu, conjuntamente com a efervescência dos movimentos sociais em prol da instituição de uma democracia. Não por acaso, o movimento de mulheres  exerceu um importante protagonismo feminino para a constituição de um regime democrático no país, especialmente tendo em vista as fortes marcas que governos militaristas e patriarcais imprimiram na construção de um ideal democrático.

 

O movimento feminino sul-coreano se constitui, nessa medida, como importante chave para se pensar os percalços enfrentados no período de redemocratização do país, bem como para se compreender um dos pilares nos quais se deve erguer uma nação: o da igualdade de gênero. A defesa da igualdade de gênero na Coreia do Sul, tal como em diversos outros países, enfrenta percalços para o apoio de demandas levantadas por mulheres e grupos minoritários frente às desigualdades estruturais vividas (KIM; LEE; SHIN, 2016). Apesar disso, atualmente, mesmo sob fortes ataques de um crescente conservadorismo e anti-feminismo (BICKER, 2022), é verdade que o movimento feminino também se expande e se faz ouvir, na mesma ou em maior intensidade.

 

O milagre econômico e o movimento feminino sul-coreano

O movimento feminino coreano emerge em meados do fim do século XIX como forma de resistência à política e à cultura confucionistas que estabeleciam moldes patriarcais, como guias para a educação de mulheres, cujas expectativas de um comportamento feminino obedeciam noções da “ideologia da mulher confucionista”, isto é, “boa esposa, mãe sábia” ou hyeonmo-yangche o [현모양처] (KOH, 2008, p. 355; HUR, 2011, p. 181). Seguindo-se ao período de colonialismo japonês e ditaduras posteriores, o movimento de mulheres continuou a lutar em prol de direitos sociais e de liberdade política. Apesar disso, inseridos em contextos de governos e regimes autoritários, o movimento feminino viu-se diluído em mobilizações políticas mais “amplas” pró-democratização, o que fez com que a pesquisa relacionada ao próprio movimento feminino sul-coreano fosse majoritariamente confinada a contextos de regimes liberais democráticos e posta em segundo plano em situações de autoritarismo governante - haja vista a pauta “maior” da democratização (LEE; CHIN, 2007, p. 1205). Apesar dessa precedência de questões acerca da liberdade política sobre as preocupações políticas relacionadas a demandas de mulheres, é possível defender um protagonismo feminino no fomento do período de transição democrática. Em especial, quando se faz um balanço acerca do sucesso ou fracasso do movimento feminino, dentro da vivência de um período autoritário ditatorial no qual a Coreia do Sul estava imersa, analisar o impacto e os resultados de sua mobilização para a sociedade coreana e especificamente para as mulheres implica também analisar reformas em termos legislativos e institucionais voltadas à proteção das mulheres como um todo.  

 

Com o golpe militar liderado pelo General Park Chung-hee em 1961, e com a instituição da lei marcial - isto é, a instituição de leis militares na administração ordinária da justiça -, os governos autoritários que se seguiram usufruíram de seus poderes para efetivar um rápido desenvolvimento econômico através de uma série de iniciativas diretas, promovendo, conjuntamente, princípios confucionistas como o de lealdade ao governante e de piedade filial (JUNG, 2014, p. 80). A divisão nacional foi frequentemente utilizada no regime militar de Chung-hee como justificativa para a adoção de uma política anti-comunista de Estado, reforçando as medidas de segurança nacional baseadas na supressão de liberdade de expressão e de criticismo às políticas governamentais adotadas. Mulheres foram, então, mobilizadas para propagar e reforçar a mensagem de segurança que o governo pretendia transmitir na medida em que foram convocadas para integrar o “Movimento de Nova Comunidade” - ou Saemaeul Undong  [새마을 운동] -, plano de governo de modernização da economia da área rural do país, buscando a diminuição da disparidade dos padrões de vida entre os centros rurais e os centros urbanos, estes últimos os quais passavam por uma rápida modernização e industrialização (JUNG, 2014, p. 81). Mulheres foram, então, o objeto do impulso estatal modernização: mulheres da zona rural, fazendeiras e donas de casa no movimento tiveram protagonismo na promoção e condução de campanhas promovidas pelo Estado. Políticas como o programa de planejamento familiar,  que almejava a redução de nascimentos indesejados através de um plano de serviços de saúde básica materna e infantil, ofertando concessões monetárias a mulheres hipossuficientes que aceitassem esterilização “voluntária”, visavam à diminuição da densidade populacional e à melhoria da renda per capita (DAVIS, 1994, p. 228; JUNG, 2014, p. 93).

 

Como um sintoma do conservadorismo do período, até o surgimento de organizações progressistas de mulheres nos anos 1980, a maior parte do movimento feminino viu-se liderada por organizações conservadoras. Instituições como a Associação Nacional de Mães Coreanas, ou a Associação Nacional Coreana de Mulheres Universitárias, das quais grande parcela estava filiada à organização guarda-chuva de grupos femininos sancionada pelo governo, o Conselho Nacional Coreano de Organizações de Mulheres, não estavam particularmente preocupados com questões relacionadas aos direitos das mulheres e igualdade. Apesar disso, movimentos femininos orgânicos, tal como o Movimento de Trabalhadoras nos anos 1970, tendo em vista que a busca por um rápido desenvolvimento econômico levou à mobilização de mulheres como força de trabalho barata em indústrias de trabalho intensivo, mulheres essas sem as quais o milagre econômico coreano não teria sido possível (PALLEY, 1994, p. 281 apud JUNG, 2014, p. 93). A demanda pela garantia de um padrão mínimo legal de condições  de trabalho foi conduzida por ativistas trabalhadoras de fábricas de tecidos, sapatos, perucas, roupas e eletrônicos, e embora as questões levantadas pelo movimento de trabalhadoras não fossem restritas às mulheres, foi ele que teve papel decisivo na mudança de consciência de mulheres universitárias e jovens mulheres em geral (JUNG, 2014, p. 94).

 

Ao longo das décadas de 1960 e 1970, o avanço econômico e social sem precedentes em conjunto à industrialização e à urbanização permitiu com que oportunidades educacionais para mulheres fossem expandidas e abriu margem pra uma aproximação das relações entre o movimento estudantil e os movimentos de trabalhadores. Números significativos de estudantes deixaram as universidades, assumindo empregos em fábricas para educação e mobilização de trabalhadores em prol da criação de sindicatos, apoiando as greves trabalhistas organizadas por trabalhadoras. Em troca, as trabalhadoras contribuíram para o sucesso do movimento de democratização e do movimento feminino nos anos 1980 e 1990 , período no qual a maior parte das organizações progressivas femininas foi estabelecida (JUNG, 2014, p. 82). Não obstante o forte autoritarismo do regime militar de Chun Doo-hwan entre os anos de 1980 e 1986, a política de apaziguamento adotada em dezembro de 1983 reduziu a opressão do governo e abriu margem para o estabelecimento público de organizações progressistas do movimento de mulheres, as quais participaram em movimentos contra o regime autoritário militar, assumindo uma posição anti-Estado. Essa postura fez com que o plano de ação do movimento não vislumbrasse políticas institucionais e políticas públicas como ferramentas para solução dos problemas das mulheres. Similarmente aos posicionamentos do movimento mais amplo pró-democracia, o movimento feminino assumia o Estado como um corpo burocrático que ofuscava a sociedade civil pelo exercício da força contra a democracia e os direitos civis (JUNG, 2014, p. 84). Em razão disso as pautas do movimento feminino não chegavam a se concentrar tanto em problemas advindos de questões de gênero, mas sim no alcance da democracia e na derrubada do aparato estatal que oprimia a classe trabalhadora em prol da manutenção do capitalismo. Durante o período , o movimento feminino estava focado na crítica às políticas governamentais ou forças de estado, como a polícia, mantendo uma distância institucional.

 

A institucionalização do movimento feminino? O Estado sul-coreano e as políticas de gênero

Reformas políticas e institucionais que foram a certo ponto o objetivo final de uma organização de mulheres tornaram-se, então, variáveis que contribuíram com o processo de reforma social desse período de transição democrática na Coreia do Sul. Em meio a tais demandas, para além da expansão de um local político de atuação e representatividade, o movimento feminino adotou táticas não-convencionais e disruptivas, tais como ocupações, e ativamente promoveu campanhas públicas e protestos para trazer atenção às demandas femininas e impulsionar uma maior aceitação pública de suas pautas. À princípio, o movimento progressivo de mulheres não recebia, portanto, apoio tampouco assistência financeira do governo, haja vista a hostilidade desse ator político para com movimentos sociais de mulheres e estudantes. Apesar disso, as organizações eram sustentadas através da filiação de seus membros (JUNG, 2014, p. 84).

 

Havia, portanto, uma clara distinção dessas organizações em relação àquelas apoiadas pelo governo, isto é, aquelas que eram dominadas por mulheres de classe média ou alta, que estavam alienadas da grande população de mulheres trabalhadoras e sem preocupações com os problemas ou interesses de mulheres mais pobres (NAM, 2000, p. 96). Em contraste, organizações progressivas, majoritariamente afiliadas à Korean Women’s Association United, ou Associação de Mulheres Coreanas Unidas - fundada em 1987 como uma organização guarda-chuva para vinte e três organizações de movimentos progressistas femininos - cresciam em força e tamanho na década de 1980. Com a grande industrialização, mulheres passaram a integrar gradativamente o mercado de trabalho e experienciar diretamente, e coletivamente, a discriminação em espaços segregados por sexo, resultando no desenvolvimento de uma consciência de gênero a partir da experiência de problemas comuns às mulheres. Os sofrimentos e lutas de mulheres jovens trabalhadoras de fábrica dos anos 1970 moldaram significativamente o movimento feminista da década posterior. Seus protestos geraram indignação e preocupação humanitária em meio às mulheres progressistas de classe média, membros de igreja radicais e outras ativistas femininas. O ativismo de classe trabalhadora feminina, então, contribuiu substancialmente para o desenvolvimento da consciência de gênero de mulheres trabalhadoras, mas também de mulheres de classe média  (NAM, 2000, P. 97).

 

Grupos progressistas de mulheres, portanto, preocupados com os direitos de mulheres trabalhadoras e das classes mais baixas recusaram-se a cooperar com o Estado que controlava e limitava suas atividades, tendo em vista que, sob o regime militar de Park Chung-hee (1963-1979) e de Chun Doo-hwan (1980-1988) posições anti-governo eram frequentemente interpretadas como pró-comunistas e pró-Coreia do Norte. Nesse contexto, as políticas voltadas às mulheres nos anos 1980 eram determinadas exclusivamente pelo Estado, seja em razão de sua natureza autoritária, seja em razão da relutância do movimento feminino em estabelecer um engajamento com instituições governamentais (KIM, 2002, p. 29). Nesse sentido, a gestão de assuntos relacionados às mulheres, à época, era liderada por apenas três grandes instituições nacional: O Instituto de Desenvolvimento de Mulheres Coreanas, o Comitê Nacional em Políticas de Mulheres e o Ministério de Assuntos Políticos II, organização administrativa essas que demonstraram ser resultado de pressão doméstica e internacional, especialmente no que concerne às questões levantadas na Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas As Formas de Discriminação Contra Mulheres de 1979 (JUNG, 2014, p. 96)

 

A coesão dos grupos femininos cresceu consideravelmente, culminando na solidariedade entre sindicatos por meio de greves lideradas por mulheres no Complexo Industrial Guro - o coração das indústrias leves de mão-de-obra intensiva da Coreia do Sul - em 1985 (SHIM, 2021; NAM, 2000, p. 97). Embora o governo não tenha convidado mulheres ativistas na participação do processo de construção de políticas públicas de seus órgãos administrativos - ao tempo focados na proteção do bem-estar de mulheres e crianças e não exatamente nos direitos das mulheres, tampouco na igualdade de gênero -, civis com prestígio social foram convidadas para participar de órgãos como o Comitê Nacional (JUNG, 2014, p. 84) A recuada do governo militar, já ao fim da década de 1980, e a introdução de eleições presidenciais diretas impulsionou a participação política feminina durante a eleição do governo civil liderado por Kim Young-sam em 1993, possibilitando um cenário político de alargamento de movimentos femininos com grande influência política. Essa abertura de terreno para a atuação do movimento feminino, já sob um novo governo democrático, junto à pressão para promoção de políticas de transversalização de gênero - ou gender mainstreaming - também como objetivo fixado na Conferência Mundial sobre a Mulher das Nações Unidas de 1995, acabou por impactar a visão que o movimento feminista tinha sobre a possibilidade de aproximações com o governo coreano. Antes temidas, institucionalização do movimento feminino ganhou atenção dos grupos e organizações de mulheres, na medida em que, ao mesmo tempo que a institucionalização de suas pautas poderia representar um tolhimento de suas ações, criando certa hierarquização do movimento e desvio ideológico, poderia também ser uma medida de buscar uma resposta do Estado para a diminuição do esgarçamento da desigualdade e da violência de gênero contra mulheres (JUNG, 2014, p. 85).

 

Nesse sentido, feministas reuniram seus esforços na colocação de pautas femininas na agenda de políticas públicas. O engajamento do movimento feminino sul-coreano com o Estado, combinado aos esforços nacionais e internacionais em torno da igualdade de gênero possibilitaram progresso significativo na diminuição da igualdade de gênero, em especial ao refletirem em mudanças legislativas e estruturais da própria Administração pública sul-coreana, tal como a edição da Lei sobre a Punição dos Crimes de Agressão Sexual e Proteção das Vítimas em 1994 e a Lei do Emprego Igualitário em 1995. Em 1997, com a vitória presidencial do ativista pró-democracia Kim Dae-jung levou a um maior progresso na área de políticas públicas voltadas às mulheres, sendo a criação do Ministério da Igualdade de Gênero - hoje, Ministério da Igualdade de Gênero e da Família - em 2001 um de seus maiores feitos.

 

Democratização e igualdade de gênero: as plataformas do movimento feminino

As dificuldades no avanço da igualdade de gênero ao longo do tempo impeliram a incorporação de constelações novas entre sociedade civil e atores do Estado, bem como a interação com uma matriz institucional em constante mudança durante o aprofundamento do curso democrático a fim de manejar aberturas e coalizões que impliquem em mudanças concretas na administração das políticas de gênero no vislumbre da sobrevivência e da resistência do movimento feminino durante todos esses anos (JONES, 2006, p. 3).

 

Avanços legislativos como a abolição do sistema hoju em 2005, a instituição de uma política de cotas em eleições locais e nacionais de parlamentares, em 1995 e 2000, respectivamente, bem como a indicação de mulheres para ocupação de cargos ministeriais, demonstraram um aumento na representação feminina sustentada pelo suporte financeiro estatal de pautas feministas e de movimentos femininos. Considerando, então, que o movimento feminino sul-coreano enquanto mobilização sócio-política e ideológica que, em termos políticos, sociais e econômicos, visa a igualdade entre homens e mulheres, ele contribui para o impulsionamento da participação de mulheres nas mais diversas esferas, públicas e privada, de forma que o legado de suas ações e intervenções na estrutura política e social sul-coreana ressoa ainda fortemente nos dias atuais.

 

Embora um crescente conservadorismo em torno de pautas afetas à igualdade de gênero tenha ganhado novamente espaço nas plataformas políticas mais jovens (PARK, 2021), não perdeu o movimento feminino sua força. Ainda que diverso, o movimento feminino ressoa por diversos canais, o `cyberfeminismo` e o `legal feminism` sendo algumas de suas formas. Certificando sua influência política ainda hoje, segue em forte discussão, por exemplo, o projeto de lei anti-discriminação Assembleia Nacional da Coreia do Sul (HUMAN RIGHTS WATCH, 2021) que intenta consolidar as intenções do movimento em reformas institucionais que ecoarão por toda a sociedade coreana. Nesse sentido, ainda que plural, e talvez justamente por isso, o movimento feminino, que ajudou a construir os pilares da democracia sul-coreana hoje vigente, e procurar abrir caminhos para que não mais a igualdade de gênero seja tratada como agenda secundária, mas sim como questão que indiscutivelmente afeta todos e todas.

 

Referências biográficas

Amanda de Morais Silva é graduada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e pesquisadora associada da Coordenadoria de Estudos da Ásia - CEASIA na Curadoria de Coreia do Sul e Curadoria de Assuntos do Japão

 

Referências bibliográficas

BICKER, Laura. Why misogyny is at the heart of South Korea's presidential elections. BBC, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-asia-60643446

 

DAVIS, Lisa Kim. “Korean Women’s Groups Organize” In: Gelb, Joyce, and Palley, Marian Lief (eds.), Women of Japan and Korea: Continuity and Change, Philadelphia, PA: Temple University, 1994, p. 223–239.

 

HUMAN RIGHTS WATCH. National Assembly of South Korea should act swiftly to enact anti-discrimination legislation, 2021. Disponível em: https://www.hrw.org/news/2021/11/11/national-assembly-south-korea-should-act-swiftly-enact-anti-discrimination.

 

HUR, Song-Woo. Mapping South Korean Women’s Movements During and After Democratization: Shifting Identities, 2011. Disponível em: 10.1007/978-0-387-09626-1_9.

 

JONES, Nicola Anne. Gender and the political opportunities of democratization in South Korea. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2006

 

JUNG, Kyungja. Practicing feminism in South Korea: the women's movemente against sexual violence. New York: Routledge, 2014.

 

KIM,, Jinyoung; LEE, Jong-Wha; SHIN, Kwanho. Impact of gender inequality on the Republic of Korea's long-term economic growth: An application on the theoretical model of gender inequality and economic growth. Asian Development Bank Economics Working Paper Series, n. 473, Jan. 2016. Disponível em: https://www.adb.org/sites/default/files/publication/179689/ewp-473.pdf

 

KIM, Kyounghee. “A Frame Analysis of Women’s Policies of Korean Government and Women’s Movement in the 1980s and 1990s,” Korean Journal, v. 42, n. 2, 2002, p. 5–36.

 

LEE, Aie-Rie; CHIN, Mikyung. The women's movement in South Korea. Social Science Quarterly, v. 88, n. 5, p. 1205-1226, 2007. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/42956240.

 

MARKHAM, Susan; FOSTER, Stephenie. Gender equality is fundamental to promoting democracy. Just Security, 2021. Disponível em: https://www.justsecurity.org/75681/gender-equality-is-fundamental-to-promoting-democracy/#:~:text=Indeed%2C%20gender%20equality%20strengthens%20democracy,All%20must%20include%20women's%20voices.

 

MARKHAM, Susan. Women as agents of change: having voice in society and influencing policy. World Bank, Washington, DC. 2013. Disponível em: https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/21031

 

NAM, Jeong-Lim. Gender politics in the Korean transition to democracy. Korean Studies, v. 24, p. 94-112, 2000. Disponível em:] https://doi.org/10.1353/ks.2000.0012

 

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS Objetivo de desenvolvimento sustentável 5: igualdade de gênero. 2022. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/5

 

PARK, S. Nathan. Why so many young men in South Korea hate feminism. Foreign Policy, 2021. Disponível em: https://foreignpolicy.com/2021/06/23/young-south-korean-men-hate-liberals-feminists/

 

PICCONE, Ted. Democracy, gender equality, and security. Brookings Institute: Democracy and Security Dialogue Policy Brief Series. Setembro, 2017. Disponível em: https://www.brookings.edu/research/democracy-gender-equality-and-security/.

 

SHIM, Woo-hyun. A glimpse into Guro, S. Korea’s first industrial complex. The Korea Herald, 2021. Disponível em: www.koreaherald.com/view.php?ud=20211202000521.

26 comentários:

  1. AMANDA quero parabenizar pelo trabalho, notadamente é uma discussão atual e que a Coreia do Sul está a frente com relação a politicas de gênero e de empoderamento feminino. Já aqui no Brasil no atual contexto tem ido ao retrocesso e ao medievalismo, em que vemos ataques a quem tem ações politicas de gênero. Assim a Coreia do Sul tem muito a ensinar a quem como no Brasil está no conservadorismo e do preconceito de gênero? Uma questão importante para analisarmos.
    ATENCIOSAMENTE
    ELOIS ALEXANDRE DE PAULA

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    1. Obrigada pelos elogios, Elois! Pelo que tenho percebido pelas últimas atualizações políticas da Coreia do Sul, podemos notar um cenário bem dividido em relação à pauta da igualdade de gênero e ao combate ao preconceito de gênero. Neste ano de 2022, a Coreia passou também pelo processo de eleição presidencial marcado por um forte conservadorismo e crescimento de movimentos anti-feministas, religiosos e conservadores. O novo presidente Yoon Seok-yeol é um resultado desse recrudescimento conservador no país, visto que ele já demonstrou apoio aberto a representantes do anti-feminismo e já proferiu falas marcadamente misóginas, como por exemplo quando falou que a culpa da baixa natalidade no país seria do feminismo, ou quando demonstrou o interesse em abolir o próprio Ministério da Igualdade de Gênero e da Família, fundado em 2001 na Coreia do Sul, quando assumisse o cargo. Alguns jornais como Times e Korea Herald chegaram inclusive a afirmar que a eleição de Yoon se deu justamente em razão dessa postura em relação às pautas de igualdade de gênero.

      No entanto, por outro lado, temos também um fortalecimento de grupos feministas no país, demandando uma maior representatividade política na Assembleia Nacional, mas também levantando a necessidade de políticas públicas e legislação de combate à violência de gênero, tal como se vem clamando a edição da Lei Anti-discriminação no país. Um exemplo da força do movimento é a recente descriminalização do aborto no país em janeiro de 2021, a qual, apesar de não ser ainda idealmente executada, pode ser sim considerado como um avanço gigantesco para o país, tendo em vista a considerável população de religiosos e conservadores no país.

      Diante disso, é possível dizer sim que o Brasil tem muito a absorver em relação à atuação feminista e às políticas de gênero sul-coreanas, mas também pode-se afirmar que a Coreia do Sul também passa por um preocupante aumento de grupos conservadores e impasse político em relação a pautas mais progressistas voltadas à proteção de mulheres e de minorias de gênero, especialmente em relação à população jovem, entre os 20 e 30 anos.

      Espero que tenha esclarecido suas dúvidas. Obrigada novamente pela pergunta!
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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    2. Lembrei de um documentário na Netflix que assisti esse ano, “Cyber Hell: Exposing an Internet Horror”, recomendo. Fica explícito no documentário, o descaso da população em relação aos crimes sexuais contra adolescentes no país, demonstrando o quanto o sexismo ainda é pulsante.

      Gisele Oliveira de Lima

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. Interessante! Não havia ouvido falar desse documentário, vou dar uma olhada. De fato o cyberbullying é uma questão muito muito séria na Coreia do Sul. Há inclusive demandas da população de políticas punitivas dos usuários que tenham esse tipo de conduta violenta e discriminatória. Houve dois casos recentes relacionados a pessoas famosas na Coreia do Sul que foram alvos de comentários ofensivos e sexistas relacionados à orientação sexual e comentários misóginos, respectivamente para o jogador de vôlei profissional Kim In-hyeok e a streamer Cho-jang mi, que foram vítimas dessa violência e tiraram suas vidas em razão disso ainda esse ano.
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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  2. Antonio José de Souza5 de outubro de 2022 às 13:21

    Olá, Amanda!
    Tudo bem? Espero que sim.

    Parabéns pelo texto!
    Pergunta: É possível estabelecer paralelos entre o Movimento Feminista no Brasil e na Coreia do Sul?

    Abraço!

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    1. Olá, Antonio! Muito obrigada!
      Sua pergunta é um pouco complexa, visto que o movimento feminista no brasil e o movimento feminista sul-coreano em seus próprios países são bastante heterogêneos. Quero dizer que no Brasil, por exemplo, o movimento feminista guarda muitas vertentes que destoam entre si, tal como o feminismo liberal e o feminismo ecossocialista. Na Coreia do Sul, por outro lado, pelo que tenho visto e lido a respeito, a heterogeneidade diz respeito não ao endereçamento identitário, visto que é um pouco complicado atribuir o rótulo de certos movimentos feministas sul-coreanos como 'liberais' ou 'radicais', por exemplo. Enquanto o movimento feminista brasileiro tem uma considerável liberdade política e atuação pública sólida, por exemplo, por meio de representação de figuras de poder que se dizem feministas e por meio de políticas públicas e instituições que abraçam abertamente a ideologia feminista, o movimento feminista sul-coreano ainda se depara com certo receio da população feminina e das minorias de gênero de se declararem abertamente como feministas no cenário político atual sul-coreano. Se declarar feminista no Brasil e se declarar feminista na Coreia do Sul possui um peso diferente para aqueles e aquelas que assumem esse compromisso político.

      Os pontos que encontro em comum de pronto são as demandas de maior representatividade nos órgãos e instituições onde são tomadas as decisões políticas. Além disso, demandas de mudança legislativa, como a descriminalização do aborto ou a edição de uma lei antidiscriminação na Coreia do Sul, e o reforço da implementação de medidas combativas à violência de gênero são pautas fortemente levantadas em um plano geral dos movimentos feministas dos dois países.

      Espero ter respondido sua pergunta satisfatoriamente!
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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  3. Oi Amanda, que texto incrível! Gostei muito da leitura, ainda mais que ele se aproxima da proposta de texto que publiquei também. Porém, minha análise busca mais a narrativa audiovisual do feminino. Enfim, quero perguntar como você chegou a essa temática? E também, como você poderia identificar o movimento feminista na indústria cultural sul-coreana, como nos k-dramas e até mesmo no universo dos idols de kpop? Se há essa possibilidade! Deixo aqui embaixo meu email, caso esteja disponível para trocar informações. E mais uma vez que texto ótimo!!!

    - eduardapucci123@gmail.com (aguardo seu contato) :)

    - Eduarda Christine Souza Pucci

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    1. Olá, Eduarda! Fico muito agradecida com os elogios :) é um assunto que me é de muito interesse! Eu acabei esquecendo de inserir meu e-mail no texto, mas é amndmorais@gmail.com ou você pode também mandar para amanda.moraiss@ufpe.br!

      Eu cheguei a essa temática a partir dos trabalhos que tenho feito sobre o movimento feminino sul-coreano nesse último ano. Fui introduzida na temática a partir de um curso de história japonesa que fiz na UFPE, no qual consegui pincelar alguns aspectos sobre as mulheres de conforto. Na época eu fazia pesquisa científica sobre Direito e Gênero e me interessei pela temática trazida no contexto da Coreia do Sul. Desde então tenho me dedicado a pesquisar a respeito do movimento feminista e do movimento feminino em geral na Coreia do Sul, e venho acompanhando notícias que dizem respeito ao tema, como a edição da Lei Anti-discriminação e as ameaças ao Ministério da Igualdade de Gênero e da Família no país. Diante disso, pude contemplar a importância que o movimento feminino teve desde a metade do século XX até hoje para o processo de democratização da Coreia do Sul e resolvi pincelar um pouco sobre isso nesse meu trabalho!

      A respeito da indústria cultural sul-coreana, acredito que seja muito arriscado afirmar que haja alguma representatividade feminista em razão desse protagonismo feminino na indústria musical e na indústria cinematográfica coreana. Falo isso porque as artistas e grupos femininos, por exemplo, não reivindicam essa pauta, ou mesmo não são sequer permitidas de se posicionar, ainda que queiram, em razão dos ataques que receberiam e de como a empresa e a imagem dessas artistas seriam "mal vistas" pelo público em geral. Isso aconteceu por exemplo, quando a cantora Naeun do APink publicou uma foto em seu instagram segurando um case de celular com a frase "girls can do anything" e foi prontamente atacada pelos "fãs", o que levou a artista a apagar a foto e a sua agência a lançar uma nota desvinculando a artista do movimento. Algo similar aconteceu também com a cantora Irene do Red Velvet, quando ela declarou ter lido o romance Kim Ji Young nascida em 1988, que um livro que denuncia o sexismo na Coreia do Sul, mas é visto de forma negativa como um símbolo feminista. Então, acho que não preciso nem falar do posicionamento dos idols homens, né.

      Diante desses casos, muitos ainda recentes, é possível ver a dificuldade de associar esse protagonismo feminino ao movimento feminista, tendo em vista ainda a imagem negativa que ele carrega na sociedade coreana. Por isso não gosto de associar esses dois fenômenos, apesar de a indústria cultural possuir muito potencial para a extensão desse debate tão importante e tão urgente.

      Espero que tenha respondido suas dúvidas! Qualquer outra questão pode me contatar, ficarei muito feliz em trocar informações! :)
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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  4. Olá Amanda!
    Primeiramente gostaria de parabeniza-la pelo excelente trabalho! A minha pergunta é: existe alguma relação entre o crescimento do cristianismo na Coreia do Sul e o movimento de igualdade de gênero no país?

    Gostaria também de pedir o seu endereço de email, pois desenvolvo uma pesquisa no mesmo seguimento e gostaria de entrar em contato para algumas indicações!
    obrigada!

    Gabriela Soares Lima dos Santos

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    1. Olá, Gabriela! Fico feliz que tenha gostado do trabalho!
      Essa questão é muito interessante, pois o movimento feminino no século XX foi muito auxiliado pelo movimento cristão.
      A Academia Cristã, ou Christian Academy, fundada em 1965 e liderada pelo reverendo Kang Woon-yong, se destacou na década de 1970 educando líderes dos setores da indústria, agricultura, movimento feminino e igreja, baseando-se na teologia da libertação. Muitos desses que participaram desse treinamento tornaram-se líderes em suas áreas respectivas. Por volta do fim dos anos 1970, a Academia estava no centro do movimento pró-democratização, protestando contra o regime ditatorial sul-coreano. Além disso tudo, a Academia Cristã oferecia programas de educação social para mulheres, programas esses que incluíam ideias feministas que foram fundamentais para a conscientização de mulheres. Muitas mulheres que participaram dessa academia cristã se tornaram ativamente envolvidas posteriormente no movimento progressista de mulheres e nas políticas feministas alavancadas nos anos de 1980 na Coreia do Sul. Um exemplo dessas ativistas é a antiga primeira-ministra Hang Myung-sook, que foi a primeira mulher a ocupar um cargo ministerial no país. O cristianismo também teve muita influência na primeira metade do século XX na educação de mulheres e na inserção de meninas e mulheres no ensino básico, fundamental e superior na Coreia. Sobre o tema eu recomendo bastante a leitura dos livros Politics of Gender in Colonial Korea - Education, Labor and Health 1910-1945, de Theodore Jun Yoo e e o Practicing Feminism in South Korea - The women's movement against sexual violence de Kyungja Jung!

      Espero que tenha sanado um pouco de suas dúvidas. Apesar de não conhecer muito a fundo as origens do movimento cristão e da ascensão conservadora religiosa na Coreia do Sul, acredito que essas recomendações que fiz possam auxiliar melhor!

      Qualquer outra dúvida, ou troca de informação meu e-mail é amndmorais@gmail.com, ou amanda.moraiss@ufpe.br. Ficarei muito feliz com seu contato!
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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    2. Muito obrigada pela resposta! Ajudou muito!
      Gabriela Soares Lima dos Santos

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  5. Olá! Tudo bem?

    As mulheres podiam ascender socialmente, ou estavam condicionadas a materialidade do marido?

    Obrigada pelo conhecimento!

    Gisele Oliveira de Lima

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    1. Olá, Gisele! Obrigada pela pergunta!
      Primeiramente, temos que, apesar do milagre econômico sul-coreano, as mulheres não ocupavam todas a mesma classe social. Diante disso, mulheres de classes sociais economicamente menos favorecidas tinham a necessidade de entrar no mercado de trabalho, ao contrário de mulheres de classes sociais mais economicamente favorecidas, o que faziam com que estivessem menos dependentes de seus maridos. Apesar disso, o Estado sul-coreano tinha também mecanismos de regulação desse vínculo de dependência da mulher ao homem, como o sistema hoju, abolido em 2005, que condicionava a mulher e seus filhos a, no momento do registro de casamento, escolherem a figura que representariam o "chefe da família", que era usualmente, se não sempre, atribuída ao homem, quem tomava para si a responsabilidade de representar a família em nome de todos. Diante disso, nesse aspecto, a mulher estaria civilmente e legalmente ligada à figura de seu marido, sim, afetando inclusive direitos de herança, de casamento e a liberdade de praticar atos na esfera civil, por exemplo. Então, nessa perspectiva, a ascensão social da mulher casada estaria também condicionada à ascensão do seu marido e de toda sua família.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas!

      Att.
      Amanda de Morais Silva

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    2. Obrigada por responder! Você me deixou apaixonada e curiosa sobre o tema, já quero pesquisar, aprender mais.

      Muitissímo obrigada!

      Gisele Oliveira de Lima

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  6. Boa noite!

    Ótimo texto!

    Essas mulheres tinham acesso limitado ao mercado de trabalho, assim como as ocidentais da segunda onda?

    Vanessa Beltrão

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    1. Olá, Vanessa! Obrigada pela pergunta!
      Até certo ponto sim, quando se pensa em mulheres que ocupavam as classes sociais mais baixas. Estudiosas feministas da Coreia do Sul costumam afirmar que a forma de incorporação da mulher no modelo de desenvolvimento econômico, através da mobilização dessas enquanto força de trabalho barata ou exclusão da economia formal, restringiu o acesso de mulheres ao mercado de trabalho em posições mais altas. A mobilização de mulheres para a indústria manufatureira, que foi a engrenagem principal do desenvolvimento econômico coreano, manteve essas mulheres em um grau de emprego que não condizia com as conquistas educacionais que haviam alcançado. Os padrões de emprego submetiam as mulheres à discriminação no processo de recrutamento e à entrada no setor informal ou de baixo pagamento nas posições de trabalho em indústria. Os números recordes que indicavam a entrada de mulheres no mercado de trabalho entre os anos 1960 e 1980 indicavam a mobilização de mulheres enquanto força de trabalho temporária, "barata" e "dócil", fazendo com que mulheres trabalhassem mais horas que homens e ganhassem significativamente menos.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas!
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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  7. Bom dia, Amanda

    Eu havia feito uma pergunta pelo celular, mas só agora vi que não foi salva (esqueci que precisava usar o computador). Não lembrarei tudo que escrevi, pois era um texto bem grande, contudo farei minha questão.
    Gostei bastante do seu texto e sei que há um longo caminho (tanto no Brasil quanto na Coreia do Sul) para um cenário onde prevaleça a igualdade de gênero. Sou fã de k-dramas e é inegável que as personagens fortes e decididas, atualmente não estão representando apenas vilãs (como se uma mulher independente e com opinião própria fosse algo ruim). É importante para as meninas de todo o mundo verem figuras femininas que fujam aos estereótipos criados pelo patriarcado e é exatamente nessa questão de representatividade que está minha pergunta:
    Ao longo de seu texto há referência às "ativistas trabalhadoras", "grupos progressistas de mulheres" e, ainda, "grupos femininos", sem apontar algum nome que tenha feito parte da luta feminista. Em suas pesquisas não foi possível encontrar nenhuma mulher que se destacasse no movimento? Ou os nomes dessas possíveis ativistas foram apagados da história assim como o Japão tentou calar o sofrimento das "moças de conforto"? Caso saiba o nome de alguma personalidade histórica que tenha contribuído, escreva aqui (por favor).

    Abraço,
    Mayara Pereira Coelho Palandi Ruzene Bassanelli

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    1. Olá, Mayara! Obrigada pela ótima pergunta. Eu já havia respondido sua pergunta, acho que o comentário foi apagado.
      Posso citar o nome de algumas, sim! No movimento progressista feminino dos anos 1980, há por exemplo Han Myung-sook, que foi uma mulher ativamente envolvida com o movimento progressista e com as políticas feministas desde essa época, se tornando, posteriormente a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro da Coreia do Sul. Há também Shin In-ryong, que foi uma das primeiras presidentes da Ewha Woman's University; Shin Nak-gyun, que foi ministra da cultura e turismo; Lee Ke-gyung, a fundadora do jornal Feminist Weekly; e também a professora de estudos das mulheres da Universidade Ewha, Chang Phil-wha; bem como Hong Sook-ja, apontada como a primeira mulher diplomata e a primeira candidata mulher ao cargo presidencial nas primeiras eleições democráticas de 1987.

      Espero ter ajudado!
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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    2. Muito obrigada, Amanda!! Irei pesquisar mais a fundo sobre cada uma dessas mulheres. Novamente, parabéns pelo trabalho!

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  8. Bom dia! Primeiramente gostaria de parabenizar a autora pelos apontamentos e discussões em sua pesquisa e agradecer pela sugestão de conteúdo a ser trabalhado em sala de aula. Pergunto sobre a possibilidade de utilizar o cinema e as séries coreanas atuais como objeto dessa pesquisa ou como recurso didático em sala de aula. Obrigado!

    Grande abraço!

    José Otávio Aguiar UFCG

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    1. Olá, Otávio! Obrigada pela pergunta! Eu não havia pensado na possibilidade de recursos audiovisuais coreanos como objeto dessa pesquisa! Não tenho tanto conhecimento assim acerca do cinema sul-coreano, mas sei que, por exemplo, há o filme "Kim Jiyoung, nascida em 1982", baseado em livro homônimo que trata de uma narrativa ficcional de denúncia da violência de gênero e desigualdade vivida pelas mulheres durante a década de 1980 em diante na Coreia do Sul. Eu particularmente sou um pouco crítica ao livro, tendo em vista que ele se propõe como um romance, mas na minha visão acaba servindo como um livro didático, ou um artigo que visa à exposição da desigualdade de gênero na Coreia. Não nego a sua importância diante dessa finalidade, mas como recurso narrativo e como romance deixa um pouco a desejar. Além dessa obra não lembro agora de nenhuma que vá abordar diretamente ou indiretamente o tema, mas é algo que vale pesquisar também! Afinal filmes e séries também são ótimos pontos de partida para estudos. Agradeço o comentário e apoio bastante a ideia!
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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  9. Oi, Amanda!!
    Quero parabenizá-la pelo texto. Ele está muito bem escrito e o tema é muito pertinente.
    Interessante notar toda a movimentação na Coreia do Sul em torno do feminismo através do seu texto. Durante as minhas pesquisas o termo "feminismo" toma força e representatividade há pouco tempo no País. Será por isso que você opta por utilizar o termo "movimento feminino"?
    Um outro ponto que me chama atenção, muitos ocidentais tem uma visão atravessada pelo estrangeiro que Freud fala um pouco nos seus textos, no sentido similar ao que Said debate com o conceito de orientalismo. Isso gera uma falsa sensação de que as mulheres coreanas são muito submissas e aceitam o machismo social como fatalidade. O seu texto entra em conflito com isso ao mostrar diversos momentos no qual a mulher consegue espaço dentro do sistema social e político coreano. Contudo, uma pergunta que advém de algumas pesquisas que fiz é: As mulheres coreanas muitas vezes estão atreladas aos papeis de mãe e filha / esposa dentro da sociedade. No seu texto, você demonstra que houve conquistas nessas áreas. Porém o ser mulher não se restringe a isso. Existe, então, algum movimento que traga a mulher de maneira mais integral, fugindo dessa lógica conservadora?
    Muito obrigada mais uma vez pela possibilidade de discussão!
    Maria Clara Pessoa de Moraes

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    1. Oi, Clara!!! Muito obrigada pela pergunta!!
      Eu optei utilizar por vezes o termo "movimento feminino", tendo em vista que falar de um movimento feminista implica em um compromisso ideológico sólido com o combate da disparidade de gênero em seus mais diversos níveis - econômicos, jurídicos, políticos -, compromisso esse que não se configurou plenamente, por exemplo, para as mulheres trabalhadoras de fábrica, que não se viam inicialmente homogeneamente empenhadas nessa oposição. Falo também em movimento feminino porque a tomada de consciência em torno do problema da desigualdade de gênero foi se estabelecendo paulatinamente em diferentes setores, apesar de demandas específicas serem postas pelas mulheres, a ideia de que essas demandas surgiam em razão da desigualdade de gênero estrutural foi aos poucos tomando forma na consciência coletiva dessas mulheres. Também falo em movimento feminino, porque a ideia de movimento feminista que hoje temos é diferente da que se põe e da que se pôs na Coreia do Sul, tendo em vista que também é necessário que essas mulheres se reconheçam como reivindicantes desse endereçamento, o que ainda hoje é difícil de ser efetivo.

      Quanto à questão sobre o lugar que a mulher era posta dentro do movimento, em relação às suas posições como mães, filhas e esposas, acredito que seja complexo fazer uma separação nítida dessas funções. Isso porque a opressão que sentiam irradiava-se em todos os papéis que exerciam na sociedade e em suas vidas privadas, e isso é o que representa também, a mulher em sua maneira integral: as relações que estabeleciam, ou eram permitidas de estabelecer em sociedade. Aos poucos mulheres de classes sociais vão se mobilizando em conjunto e os contornos dessas relações passam a ser menos nítidas, mas ainda assim os problemas que adivinham de suas relações como mães, esposas, filhas, empregadas, eram os que as formatavam enquanto pessoas. É difícil visualizar a coalisão de um movimento fora desses eixos porque é justamente em razão deles que o movimento de oposição feminino e feminista começa a tomar forma.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas, agradeço muito o comentário!
      Att.
      Amanda de Morais Silva

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  10. Amanda, primeiramente quero dizer que o texto é muito bom, muito preciso no recorte histórico sobre essa construção do movimento feminino coreano. Por ser um texto muito bom, várias questões pulularam na minha mente, mas vou trazer apenas uma aqui: você apontou que se tem registro de um início dos movimentos femininos na coreia a partir do século XIX. No seu ponto de vista seria improvável pensar que antes disso não havia manifestações de alguma natureza em relação a uma semente de um movimento feminino coreano?

    Abraço e muito sucesso na pesquisa!

    Maria Gabriela Wanderley Pedrosa

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  11. Suéllen Sulamita Gentil de Oliveira6 de outubro de 2022 às 23:23

    Olá, Amanda! Tudo bem?

    Primeiramente, parabéns pelo trabalho incrível e necessário. Eu poderia passar horas tecendo elogios, mas vou tentar ser mais objetivo em vista da imensa quantidade de comentários que você já tem recebido. :)

    É notável a dedicação e pesquisa atenta que você deve vir fazendo sobre o tema. Seu argumento aliado a um processo cronológico do movimento são muito bem construídos.

    Um ponto que me chamou muita atenção foi sobre classe social, que você bem cita como mulheres de classe média e alta recebiam mais apoio governamental em suas demandas e, portanto, o ativismo da classe trabalhadora foi primordial, tanto para avanço das pautas quanto para a conscientização da própria classe média feminina. Partindo dessa relação ativismo x classe social, lembrei de uma fala de um pesquisador que disse que os movimentos ativistas LGBTQIA+ sul-coreanos costumam ter mais espaço e avanços na esfera política e isso se dá porque, um parte é constituída de pessoas das classes mais altas da sociedade, o que gera mais pressão sobre os governos. Você vê esse tipo de relação no movimento feminino coreano? Apesar dos avanços, haveria uma relação classe x governo nos estraves que esse movimento enfrenta?

    No mais, parabéns e sigo ansiosa para comtemplar mais trabalhos seus.

    Suéllen Sulamita Gentil de Oliveira

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