PARATOPIA CRIADORA E WEBTOONS: OS CASOS DE “TRUE BEAUTY” E “FROM A DISTANCE, A GREEN SPRING” por Vitória Ferreira Doretto e Júlio Cézar de Souza


A autoria é constituída por diversos fatores que envolvem aspectos sociais, pessoais e do próprio campo literário. Neste sentido, este texto propõe tecer comentários sobre a constituição da autoria de Yaongyi e Genie’s Picture, autores de duas webtoons de sucesso, e como suas gestões e gestos de publicização (ou não) modificam as possíveis representações das suas instâncias de autoria.

 

Embasados no quadro teórico da análise do discurso de linha francesa, em especial nas proposições de Dominique Maingueneau [2006] para o estudo do funcionamento do literário como um regime de criação e produção (como um discurso), analisaremos a autoria desses autores de webtoon e como a circulação ampla de suas obras influencia nesse aspecto.

 

Entretanto, antes de nos debruçarmos nas questões autorais, é necessário entender melhor o gênero literário dessas produções e autores.

 

As webtoons (junção dos termos “web” e “cartoons”) são histórias em quadrinho publicadas em ambiente digital, com regularidade semanal — alguns webtoons contam uma história em cada volume, outros contam histórias mais longas durante vários meses. Elas estão no mercado há pelo menos duas décadas, por isso são elemento do cotidiano sul-coreano — estimativas afirmam que uma em cada três pessoas no país lê alguma webtoon pelo menos uma vez ao dia [Lynn, 2016]. Este gênero literário se distingue pelo idioma, local de produção, uso sistemático da rolagem vertical, ferramentas da web e efeitos visuais e sonoros multimídia [Lynn, 2016; Koo, 2020] — é recorrente o uso dos espaços em branco “estrategicamente colocados de modo que quando a leitura é feita pelo celular, apenas uma cena se enquadre por vez na tela, permitindo que o leitor acompanhe ação por ação da narrativa baseada nos seus quadros” [Sohn, 2014].

 

As webtoons cresceram rapidamente na Coreia do Sul desde seu início nos anos 2000. Em 2010, formavam apenas 7,1% de todo o valor monetário do mercado de quadrinhos do país, mas elas revolucionaram o mercado existente [Koo, 2020] e são o setor de mais rápido crescimento em conteúdo digital, marcando 35% do valor total do mercado em 2019. Segundo dados apresentados por Koo [2020], os IPs de webtoon podem superar as limitações do mercado de entretenimento e se tornar o “superlativo no mercado de conteúdo global” — em 2020, o mercado de conteúdo geral estava avaliado na casa dos trilhões, 1.091 trilhões de won nos Estados Unidos e 238 trilhões de won no Japão.

 

Neste contexto, analisamos a constituição das autorias de Yaongyi, autora do webtoon “True Beauty”, e de Genie’s Picture, de “From a Distance, a Green Spring”. Vamos então conhecer os dois casos.

 

A autora de “True Beauty” é Yaongyi (야옹이), que significa Meow, pseudônimo de Kim Na-young (김나영). Segundo ela conta, apesar de nutrir interesse e desejo de se tornar uma criadora de quadrinhos desde a infância, ela precisou passar por diversos trabalhos até lançar, em 27 de março de 2018, sua primeira e até então única obra, “True Beauty (여신강림)”, pela plataforma LINEWebtoon, do conglomerado Naver Corporation. Após apenas três semanas de seu lançamento, a obra atingiu o ranking Top Comics do servidor e possui mais de 4 bilhões de leituras ao redor do mundo.

 

O sucesso da webtoon fez com que no ano seguinte a autora fosse entrevistada para o Webtoon.com — site que disponibiliza o acervo de webtoons traduzidas em inglês de forma oficial — e divulgada em sua conta do Twitter (@webtoonoficial). Na entrevista, Yaongyi revela que, semanalmente, para roteirizar e desenhar cada episódio são exigidas em média quatro noites sem dormir. Questionada também sobre o visual de seus personagens, em termos de roupas e estilo, ela contou que suas inspirações vêm pelo seu gosto em moda, curiosidade e constante busca por esses tópicos e trends nas redes sociais.

 

A obra conta a história de Im Ju-kyung, uma adolescente que após sofrer bullying na escola por conta de sua aparência, descobre no aprendizado e uso das técnicas de maquiagem uma forma de encontrar a beleza e ser aceita em seu ambiente social. É por conta desta breve sinopse que a obra também teve seu título traduzido para o inglês como “The Secret of Angel” [O segredo do Anjo] ou “The Advent of a Goddess” [O Advento de uma Deusa]. 

 

A adaptação televisiva feita pela emissora sul-coreana tvN foi exibida entre 9 de dezembro de 2020 e 4 fevereiro de 2021 — com 16 episódios que podem ser assistidos internacionalmente através da plataforma de streaming como Viki. A webtoon, ainda não finalizada, está no capítulo 222 e tem atualizações semanais. 

 

A adaptação da tvN fez com que a webtoon fosse tomada de novos leitores, mas também que a autora passasse a ser buscada nas redes sociais e se tornasse conhecida. Seu perfil no Instagram (@meow91_) hoje conta com 1,4 milhões de seguidores e possui 133 publicações — aqui cabe comentar que entre o primeiro período de análise de dados (outubro de 2021) e o momento de escrita deste texto (setembro de 2022), observamos um decréscimo no número de seguidores, 1,5 milhão para 1,4 milhão, e de publicações, de 289 para 133, num claro exemplo do funcionamento das redes sociais, com números que flutuam. No perfil, ela só começou a postar fotos de si mesma após o primeiro ano de publicação da obra, impressionando os seguidores com sua beleza e aptidão para moda, o que lhe rendeu o título de “um anjo desenhando outro anjo”. 

 

Contudo, não foi apenas a beleza da autora que surpreendeu seus seguidores, mas também o fato de falar abertamente sobre ser mãe solteira, divorciada e não ter intenção de casar novamente — estes temas foram abordados em carta aberta postada em seu perfil no Instagram em 16 de fevereiro de 2021. Sua vida pessoal, então, entrou para os holofotes tanto quanto sua webtoon, o que não ocorreu com nosso próximo autor. 

 

Conhecido pelo pseudônimo de Genie’s Picture (지늉 글그림), quem escreve a webtoon “From a Distance, a Green Spring” mantém sua identidade privada, sendo extremamente difícil encontrar informações precisas sobre sua idade, gênero ou formação profissional. Em seu perfil no site Webtoon Guide, Genie explica que a escolha do pseudônimo se deu por seu nome de batismo — não mencionado — ser muito comum. Neste mesmo perfil, define seu gênero como 기타 (guitar), reafirmando o distanciamento de sua imagem da obra e dos holofotes que ela trouxe. 

 

Em seu blog/página no Naver, sob outro pseudônimo, ppumkinj, explica que, devido a sua personalidade, não se sente confortável com contas em redes sociais e por isso não as têm — cabe apontar aqui que, entre o período de produção da análise e a escrita deste texto, Genie deixou todas as suas postagens privadas, de forma que não temos mais acesso a elas. Sua conta no Twitter (@ppumkinJN) ficou ativa até 2017, período em que necessitava da interação para a promoção da publicação de seus livros. Mas quais livros? 

 

Por ser uma produção mais antiga que a de Yaongyi, “From a Distance, a Green Spring” foi adaptada para diferentes meios: foi impresso pela editora Garden of Books em três livros, cada um contendo uma temporada da webtoon, lançado como um áudio drama, em 2015, por meio de um processo de crowdfunding organizado pelos fãs e, mais recentemente, para a televisão em formato de drama. 

 

A obra começou a ser serializada em 12 de abril de 2014 na plataforma Kakao, e foi finalizada na terceira temporada, em 4 de junho de 2022 — apenas os primeiros 20 capítulos da primeira temporada são gratuitos para leitura. Em 2021, seus direitos foram adquiridos pela emissora sul-coreana KBS, parte do conglomerado Kakao Corporation, e os 12 episódios da adaptação foram exibidos entre junho e julho do mesmo ano e também podem ser assistidos na plataforma de streaming Viki. Contudo, a adaptação trouxe questões para Genie, que demonstrou sentir pressão a dar declarações sobre sua narrativa em sua página no Naver. 

 

De acordo com a sinopse disponibilizada no MyDramaList (site/comunidade para espectadores de séries e novelas), a história:

 

“retrata dois jovens em seus vinte e tantos anos e os problemas que enfrentam na universidade. Nam Soo Hyun e Yeo Joon, dois garotos com personalidades contrastantes, se tornam amigos ao trabalharem juntos em um projeto acadêmico. Apesar das preocupações reais  e os conflitos de jovens em seus anos na universidade, a história é centrada em Yeo Joon, que apesar da vida abastada e cheia de privilégios pelo seu poder financeiro, carrega dores profundas em seu interior. Sua personalidade, amigável, faz com que ele faça de tudo para se aproximar de seu veterano, o seguindo por todos os cantos, levando a uma amizade inesperada entre duas pessoas de personalidade tão diferentes.” [MyDramaList, 2021]

 

A partir da sinopse, muitos espectadores, principalmente com a adaptação, questionaram o conteúdo e se ele se enquadraria dentro do “selo” BL (Boys Love) — histórias sobre casais homossexuais compostos por dois homens. Genie veementemente refuta esta ideia em dois posts de seu blog, “Por favor distinga entre o original e a adaptação” e “Sobre <Mulfubom> e BL. FAQ/Resumo”, onde explica o que lhe inspirou e critica o olhar dos leitores ao não aceitar uma relação de amizade profunda entre dois homens sem que seja romantizada ou erotizada e, inclusive, se questiona se deveria ter escrito a obra.

 

Genie parecia muito sincero nos posts e falava abertamente sobre suas incertezas, irritações, frustrações, e sempre esclarecia que, apesar dos leitores serem apreciadores de sua obra, ela ainda pertencia a ele — como fica evidente no post “Por favor distinga entre o original e a adaptação”:

 

“Os comentários na página do trabalho têm uma responsabilidade profissional que o artista deve suportar apenas para receber feedback sobre o trabalho, mas fora isso, não há razão para eu suportar desconforto. 

Não devo nada a ninguém que não conheci, nem fiz nada de errado.

Onde quer que eu esteja como escritor, quando falo, tento ser educado, pondero as palavras, refletindo sobre as frases e escrevendo. [...]

Eu não sou seu amigo. Não me entenda mal. Eu não te conheço. 

Acabei de desenhar minha webtoon com o melhor da minha capacidade. Não sou uma pessoa que tem a obrigação de ‘comunicar’, de ser amigável e gentil. Não espera que eu esteja agradável e confortável. Isso não está na minha ética de trabalho. Se escrevo feedback com sinceridade, é apenas afeto, não uma obrigação, seja para o leitor ou para o meu trabalho.

Por favor, não vamos ter problemas um com o outro.“ [ppumkinj, 2021]

 

A partir destas descrições, podemos tecer algumas considerações.

 

Tanto Yaongyi quanto Genie’s Picture são levados a criar perfis e utilizar redes sociais (Instagram no primeiro caso, Twitter e Naver Blog no segundo) em razão do sucesso de suas publicações. O uso desses perfis, no entanto, não é o mesmo.

 

Yaongyi faz publicações sobre sua vida pessoal, conta detalhes de sua biografia e posta fotos de si mesma — é a partir de sua imagem que surge o apelido “um anjo desenhando outro anjo” —, sua projeção como autora está intrinsecamente ligada ao aspecto pessoal de sua vida. Conforme aponta Maingueneau [2006, p. 156], os autores precisam “multiplicar os gestos conjuradores, mostrar a si mesmo e ao público os sinais de sua legitimidade” e Yaongyi, enquanto sua webtoon era publicada e adaptada, era levada a buscar legitimação tanto de si mesma como autora quanto de sua obra, por isso reforçava as influências de construção de seus personagens em si mesma (no caso da personagem principal) e em outras celebridades sul-coreanas [Oliveira, 2022]. Por outro lado, nas publicações em seu blog (agora privado), Genie’s Picture não buscava legitimação, mas afirmação de seu papel como autor — o que envolvia suas escolhas narrativas — e reconhecimento da comunidade leitora como tal.

 

Quando tratamos de criação literária, Maingueneau [2006] propõe uma noção que nos é muito cara neste estudo de caso, a de paratopia criadora. Este conceito diz respeito à impossibilidade de pertencimento de um autor no processo de criação literária. Como “não é possível produzir enunciados reconhecidos como literários sem se colocar como escritor, sem se definir com relação às representações e aos comportamentos associados a essa condição” [Maingueneau, 2001, p. 27], pensar em paratopia como um lugar paradoxal do escritor é considerar um ir e vir do autor em relação a sua vida pessoal, ao mundo social e ao mundo literário. Nesta perspectiva, a autoria é constituída dinamicamente entre três instâncias que formam uma unidade que existe apenas durante e através da criação e enunciação. Essas instâncias dizem respeito às relações entre o escritor e a sua obra, o escritor e a sociedade, e a obra e a sociedade e podem ser entrelaçadas de diversas formas, conforme a lógica de formulação deste conceito, que as designa como pessoa, escritor e inscritor.

 

Pessoa, escritor e inscritor se relacionam aos aspectos que constituem uma autoria: a instância pessoa se refere ao autor como um indivíduo social e considera os dados biográficos; a instância escritor se refere ao autor como um ator com trajetória na instituição literária e se relaciona também à circulação das obras; e a instância inscritor se refere ao indivíduo como enunciador, compreendendo suas práticas e ritos de inscrição, sua forma de produção de enunciados e inclui até mesmo o que um autor mobiliza para construir sua obra. Ainda que as descrevamos de forma separada, as instâncias se atravessam umas às outras, numa relação tripla que, enfim, constitui a autoria — autoria que é, então, “um complexo entrelaçamento que é preciso gerir” [Salgado, 2016a, p.197].

 

Para facilitar a visualização destas instâncias e de seus desdobramentos para cada caso de autoria abordado aqui, faremos uso da representação gráfica do entrelaçamento das instâncias da paratopia criadora como um nó borromeano proposta por Salgado [2016b].

 

Figura 1 - Representação das instâncias de autoria de Yaongyi

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Como observado na Figura 1, para Yaongyi, o sucesso de sua webtoon e sua eventual adaptação televisiva influenciou na significativa ampliação de sua instância pessoa, pois, é em momento posterior à publicação da webtoon que ela passa a postar fotos de si mesma. Antes de mostrar seu rosto, a autora tinha em relevo sua instância escritor, uma vez que era este aspecto de sua autoria que era conhecido — era possível, por exemplo, inferir que sua remuneração como autora de webtoon fosse significativa dado o sucesso de “True Beauty” e a posterior adaptação — e só tivemos informações que pudessem compor sua instância inscritor após o primeiro ano da publicação da história (na entrevista mencionada anteriormente) e, ainda assim, não foram tantas a ponto de interferir significativamente nesta instância. 


Figura 2 - Representação das instâncias de autoria de Genie’s Picture

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Quanto a Genie’s Picture, sua representação das instâncias de autoria (Figura 2) mostra uma modificação acentuada na instância escritor — dado a quantidade de adaptações de sua webtoon e a sugestão de recebimento de alguma remuneração com a leitura de sua obra, que após o vigésimo capítulo é de acesso pago e restrito, além disso, antes de impossibilitar o acesso ao blog, o autor promovia a venda de wallpapers e imagens da obra para telas de bloqueio —, já que suas instâncias pessoa e inscritor não reúnem informações suficientes e  englobam apenas alguns vestígios já não disponíveis em seu blog sobre seu empenho e dedicação aos desenhos, de forma que suas “condicionantes pessoais [não] se imponham com vigor” [SALGADO, 2016b, p. 10].

 

Podemos verificar o caráter mutável das instâncias dentro de uma mesma autoria e em comparação de autorias a partir das representações do nó borromeano com as configurações das instâncias de cada autor, de acordo com o que seus dados, sua obra e sua circulação sugerem. Assim, verificamos que cada uma das instâncias podem ficar em relevo em determinados momentos de acordo com a gestão de autoria de cada indivíduo designado como autor, porque: 

 

“A paratopia é o clinamen que torna possível o nó e que esse nó torna possível; não se trata de alguma separação “inaugural” que mais tarde se desfaria diante da obra, mas de uma diferença ativa, incessantemente retrabalhada, renegociada, diferença que o discurso está fadado tanto a conjurar como a aprofundar.” [Maingueneau, 2006, p. 137].

 

Outro ponto a ser mencionado é a diferença de percepção pessoal de suas adaptações: enquanto Yaongyi se sente feliz pela adaptação de sua webtoon e a divulga em suas redes sociais, Genie faz um post para que as pessoas entendam as diferenças que as duas obras têm devido a plataforma de veiculação e formas de produção, já que a adaptação não parte dele. Neste aspecto, Yaongyi entende a adaptação como uma conquista de novos fãs e leitores, enquanto Genie considera a expansão de circulação uma exaustiva necessidade de educação dos novos leitores sobre a história e as interpretações feitas pelos fãs, o que parece provocar a ampliação do distanciamento entre leitor e autor [ação que evoca a imagem irreal do autor como intocável e leitor apenas no seu lugar de passividade leituresca] — o que é corroborado pelo apagamento de sua instância pessoa, evidenciando apenas o escritor. Ainda, essa (im)possibilidade de designar aspectos que possam ser entendidos como característicos da instância pessoa faz parte da própria criação de Genie’s Picture como autor — uma não-presença intencionalmente criada, pois sua ausência é parte integrante de sua construção. 

 

Em resumo, ao observar, individual e comparativamente, a construção e gestão de autoria desses dois autores, percebemos que ainda que dentro de um mesmo campo — noção de Bourdieu [2018] que designa um espaço social de certa forma autônomo em que seus agentes (no caso do campo literário, escritores, editores, agentes literários, resenhistas etc.) cooperam e disputam posições centrais —, as figuras de autor se instituem de formas distintas. Então, é na relação de atravessamento entre as instâncias, com apagamento ou destaque de seus aspectos constituintes, que as autorias se constroem e refletem posicionamentos e sentidos das empresas, do próprio autor…, enfim, do funcionamento do campo.

 

Referências

Ma. Vitória Ferreira Doretto é doutoranda em Estudos de Literatura pela Universidade Federal de São Carlos com bolsa CAPES (código de financiamento 001), professora-voluntária de português língua estrangeira no Instituto de Línguas/UFSCar e integrante do Grupo de Pesquisa COMUNICA - inscrições linguísticas na comunicação (UFSCar/CEFET-MG/CNPq) e do Laboratório de Escritas Profissionais e Processos de Edição (CEFET-MG/UFSCar).

 

Júlio Cézar de Souza é licenciando em Letras Português-Inglês pela Universidade Federal de São Carlos, professor de português língua estrangeira no Instituto de Línguas/UFSCar e integrante do Grupo de Pesquisa COMUNICA - inscrições linguísticas na comunicação (UFSCar/CEFET-MG/CNPq) e do Laboratório de Escritas Profissionais e Processos de Edição (CEFET-MG/UFSCar).

 

BOURDIEU, Pierre. “Uma revolução conservadora da edição” in Política & Sociedade, v. 17, n. 39, 2018. DOI: doi.org/10.5007/2175-7984.2017v17n39p198.

 

KOO, Min-ki. “How Korean platform giants disrupted the digital comics market with webtoons” in The Korea Economy Daily Global Edition, 2020. Disponível em: www.kedglobal.com/newsView/ked202008200004. Acesso em: out. 2021.

 

LYNN, Hyung-Gu. “Korean Webtoons: Explaining Growth” in 国研究センター年報 Kyushu,v. 16, 2016. Disponível em: https://apm.sites.olt.ubc.ca/files/2016/02/HG-Lynn-Korean-Webtoons-Kyushu-v16-2016.pdf.

 

MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

 

MAINGUENEAU, Dominique. Discurso Literário. Trad. Adail Sobral. São Paulo: Contexto, 2006. 

 

MYDRAMALIST. At a distance, Spring is green, 2021. Disponível em: https://mydramalist.com/22160-seen-from-a-distance-green-spring. Acesso em: 28 out. 2021.

 

SALGADO, Luciana Salazar. Ritos Genéticos Editoriais: Autoria e Textualização. Bragança Paulista: Margem da Palavra, 2016a.

 

SALGADO, Luciana Salazar. Grupo de pesquisa “Comunica – Inscrições linguísticas na comunicação”: Um trabalho no limiar. In: Jornada Internacional Geminis, 2., 2016. Anais [...]. São Carlos: UFSCar, 2016b.

 

SOHN, Ji-young. “Korean webtoons going global: Diverse genres, communication with authors, dramatic plots keep readers hooked” in The Korea Herald, 2014. Disponível em: www.koreaherald.com/view.php?ud=20140525000452. Acesso em: 28 out. 2021.

 

OLIVEIRA, Greyce. “Yangyi, autora de ‘true beauty’ revela quais idols estão no seu radar como inspiração”, in KoreaIN, 2022. Disponível em: https://revistakoreain.com.br/2022/04/yaongyi-autora-de-true-beauty-revela-quais-idols-estao-no-seu-radar-como-inspiracao/. Acesso em: 16 set. 2022. 

 

ppumkinj. “Por favor distinga entre o original e a adaptação”, Naver, [2021].  Disponível em: https://m.blog.naver.com/PostView.naver?blogId=ppumkinj&logNo=222387249744&navType=by. Acesso em: 28 out. 2021. 

 

WEBTOON. Happy 1 year annyversary to our makeup goddes… Twitter, 2019. Disponível em: https://twitter.com/webtoonofficial/status/1110980985749803008.

7 comentários:

  1. Oi, Vitória e Júlio! Acabei a leitura do texto intrigada demais. Gostei muito do texto, está muito bem estruturado. Ele segue um fluxo bom de leitura. Parabenizo-os pela produção. O assunto foge um pouco do meu espectro de estudo.
    Por causa disso aprendi muita coisa com a explanação de vocês e anotei algumas coisas para pesquisa futura. Fiquei pensando o papel da primeira autora no que concerne a promoção da imagem dela como estratégia de venda da obra. Sei que vocês trouxeram três características que definem o escritor, mas fico me perguntando se essa personificação não seria negativa de alguma forma. A relação praticamente obrigatória de que para vender um livro, eu preciso do rosto do autor. Pelos resultados, essa relação foi muito positiva para 야옹이, mas fico me perguntando se essa relação seria similar caso a autora não estivesse dentro dos padrões de beleza esperado.
    Um outro ponto que me ocorre agora é a relação dos fãs com o autor, o que vocês abordam principalmente na relação com a segunda autora. Por não saber quem ela é, cria-se uma relação maior com a obra do que com o autor.
    Na opinião de vocês, essas relações díspares interferem no reconhecimento da obra? Não conhecia o termo "nó borromeano", uma das coisas que anotei para pesquisar a posteriori. Contudo me chamou atenção essa relação entre o imaginário e o real; e acredito que isto pode ser trabalhado talvez na medicina narrativa [outra nota que tomei para fazer minha pesquisa]. Por fim, gostaria de entender melhor a escolha das obras. Por que especificamente estas e não outras?
    Novamente, agradeço a leitura.
    Maria Clara Pessoa de Moraes

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  2. Júlio Cézar de Souza6 de outubro de 2022 às 19:41

    Oi, Clara!
    Vamos tentar ir respondendo suas perguntas do final para o começo rs

    A escolha das obras se deu majoritariamente por dois motivos: a proximidade que tínhamos com elas (ou pela leitura das webtoons ou por acompanhar os K-dramas) e o segundo foi justamente como você apontou, a disparidade entre os dois autores - como se fossem dois pólos opostos que permitiriam tanto apresentar o conceito de paratopia criadora para quem não o conhece quanto analisar a pluralidade do mercado. E por estarem em duas posições diferentes, a visualização do funcionamento do campo pôde ficar mais direta.

    No caso da autora de True Beauty, sua beleza chamou a atenção, sim… mas caso a autora não correspondesse a padrões de beleza sul-coreanos, acreditamos que a construção midiática se voltaria para fazer a aproximação dela com a outra “faceta” da protagonista - a excluída e fora do padrão -, mas que encontra a beleza dentro de si (moral da história). A construção midiática ocorreria de qualquer forma, mas não foi apenas a beleza que chamou a atenção, porque apesar dela ser uma mãe solteira que não deseja se casar e isso não ser visto com bons olhos pela sociedade sul-coreana, este aspecto foi proveitoso para a construção da imagem dela de “pessoa” (como indivíduo com vida social e tudo mais).

    Quanto a questão das instâncias, a instância pessoa não é considerada negativa nem positiva, na verdade, porque é uma combinação de fatores da própria autoria - essa noção de paratopia criadora que mobilizamos considera que para que haja a criação literária é preciso que a autora tente fazer esse movimento de ser um indivíduo na sociedade e ao mesmo tempo ser um escritor (alguém que participa de uma série de eventos ou ações que a coloque como “autora”) e um indivíduo com traços inscricionais (escreve de forma x ou y, por exemplo); o que fazemos com as informações que vamos recolhendo dos autores é justamente tentar identificar onde cada uma delas se encaixa e qual se sobressai a partir do tipo de gesto (autoral ou midiático) que vai sendo feito por eles.

    Interfere no reconhecimento, justamente porque é uma escolha de publicização de cada um dos autores, são duas formas de gerenciamento e criação de autoria, e cada uma consegue ser identificada e ambas são afiançadas de formas distintas. Contudo, para um escritor independente, desconhecido, uma instância “pessoa” menos proeminente ou quase inexistente pode dificultar a circulação do texto a não ser que essa falta da instância seja construída de forma a gerar curiosidade, o que não é o caso com o autor de From a distance. a green spring. O autor escolhe não se mostrar para preservar sua privacidade e tentar reafirmar o domínio sobre o que escreve - e até mesmo proteger o próprio texto de seus leitores, o que, se pararmos para pensar, parece contrariar o próprio gesto de publicação…

    Esperamos que tenhamos conseguido sanar suas questões!
    Júlio
    Vitória

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    1. Responderam sim. Muito obrigada! Vou acompanhar o trabalho de vocês.

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  3. Júlio e Vitória, parabéns pelo texto!

    Uma leitura bastante fluída, mesmo que vocês tenham trazido alguns conceitos de difícil compreensão. Eu gostaria de tirar uma dúvida com vocês: há umas semanas eu vi uma conversa sobre literatura num podcast em que o autor deu como certa as webtoons como o próximo "hit" da Hallyu. Pelo levantamento que vocês fizeram, só dessas duas, já se dá para ver que não é o próximo, já está sendo o novo hit. Na opinião de vocês, essa característica apresentada de paratopia criadora é presente nas criações de webtoon no geral? Seria a paratopia a responsável por esse diálogo mais próximo entre leitor e autor, alimentando uma cultura de fã?

    Novamente parabéns pelo texto e pelo estudo interessantíssimo!

    Maria Gabriela Wanderley Pedrosa

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    1. Júlio Cézar de Souza6 de outubro de 2022 às 21:49

      Oi, Maria!
      Agradecemos pelos elogios e pelas perguntas.

      A paratopia criadora é uma noção para pensar a construção da autoria, de todos os gêneros. Então sim, podemos dizer que ela pode ser identificada em todos os autores de webtoon (ou de outros gêneros). O que a paratopia criadora nos permite é analisar, a partir dos dados dos autores - ou da falta deles -, e identificar a construção de autor/autora dentro dessas três instâncias.
      A paratopia não é bem a responsável por um diálogo, porque ela é um conceito que ajuda o analista a identificar como são os gestos do autor de se fazer autor, então isso depende do autor propriamente - às vezes o próprio não-diálogo é uma proposta do autor. São diversas possibilidades.
      A questão com a cultura de fã também é um pouco complexa, porque não depende necessariamente do autor - fãs irão gerar conteúdo e engajar em outros conteúdos com o apoio ou não dos autores, por exemplo. As webtoons permitem um diálogo com o leitor, pois por serem postadas regularmente (como os antigos folhetins, ou as fanfics ou até mesmo as histórias originais postadas em plataformas de escrita como o Wattpad) podem ser comentadas diretamente na plataforma, quotadas em redes sociais e afins. Assim, com hashtags, ou grupos de leitores em redes sociais ou mensageiros, os fãs podem se encontrar virtualmente e criar uma comunidade.
      Acreditamos que a cultura de fã - as comunidades e fandons - cresce com a movimentação dos próprios fãs e devido ao crescimento da notoriedade e popularização da obra e/ou as interações com os autores são fatores que a solidifica e amplia - mas talvez não sejam necessariamente responsáveis pelo diálogo, já que para que haja o diálogo é preciso que, primeiro, o autor queira. Contudo o não-diálogo com o autor não é limitante na projeção da obra ou na criação de comunidades de fãs.
      A cultura do fã, como co-responsável pelo sucesso de uma obra por conta de seu engajamento e disseminação de conteúdo se deve a uma combinação, possivelmente, da divulgação de marketing (ou dos rankings das plataformas em que são postados, ou pela quantidade de hashtags no Twitter) e da gestão da autoria - aí esses aspectos variam de caso a caso.

      Esperamos que tenhamos conseguido sanar suas questões!
      Júlio
      Vitória

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  4. Júlio e Vitória, parabéns pelo excelente texto!

    Ao ler o texto de vocês fiquei me perguntando sobre a questão das reescritas e em como isso acaba afetando de certa forma o que vocês estão chamando de autoria. Vocês viram as adaptações para outras mídias e como isso "alavanca" o perfil das obras e como cada autor lida com isso, mas eu fiquei pensando principalmente num tipo de reescrita que é a tradução, porque esses produtos acabam sendo traduzidos e circulando em outros idiomas que não o original. Fiquei me perguntando se o referencial teórico de vocês chega a tratar disso ou que implicações isso poderia ter quando pensamos nessas diversas autorias.

    Alexsandro Pizziolo

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    1. Júlio Cézar de Souza6 de outubro de 2022 às 22:44

      Oi, Alexsandro!
      Agradecemos pelos elogios e pelas perguntas.

      A questão da reescrita das obras se relaciona bastante com um outro conjunto de noções (como de espaço canônico e associado) e parece que ela fica mais explícita na transposição de uma mídia para outra... Entendemos que o processo de tradução é uma questão um pouco mais complexa, pois precisa considerar tanto a língua de origem quanto a língua de chegada - o que permite que as traduções tenham certa liberdade de “alterar” piadas ou expressões que não funcionariam na língua de chegada, mas que funcionam na língua de origem. Contudo, o nome que se escreve na capa e a “posse” do texto que a edição (impressa ou digital) possui é sempre do autor que a escreveu e não do tradutor ou equipe tradutora (salvo alguns casos específicos que precisam de uma certa “validação” do tradutor/a que irá agregar valor simbólico ou ser diretamente fiador da obra). Assim, por mais que seja lida uma obra traduzida, o comum é que o leitor busque o autor “original” - com muitas aspas - ao invés do tradutor… Então, por mais que em línguas diferentes, é a paratopia criadora do autor que é alterada em suas instâncias justamente porque a obra ganha nova circulação - poderíamos pensar também na paratopia criadora do tradutor, mas aí seria uma outra questão. A tradução vai interferir mais diretamente também no número de leitores que podem ser atingidos com a nova edição da obra. A paratopia criadora é uma noção que pensa a criação literária, e pensamos que a tradução, como parte da criação literária, também pode ser pensada por esse viés, mas entendendo o tradutor como partícipe da escrita e com mais cuidado e sempre caso a caso.

      Esperamos que tenhamos conseguido sanar suas questões!
      Júlio
      Vitória

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