Os
jesuítas chegaram em Macau durante a década de 1560 e nos anos seguintes
fundaram uma casa, uma escola e finalmente em 1576, foi criada a Diocese de
Macau. Durante o período, religiosos europeus de diversas organizações, como
franciscanos e dominicanos, tentaram obter licença para divulgar sua fé dentro
do território chinês. Os jesuítas foram os primeiros a conseguir essa
permissão, algo que só foi possível graças às ações do Visitador Alessandro
Valignano, que concluiu que a manutenção de uma missão no Império chinês só
seria possível a partir de um processo de acomodação cultural e que seu sucesso
dependeria da capacidade dos missionários em aprender os costumes e a língua
local.
Os
jesuítas iniciaram esse tipo de acomodação a partir das vestimentas e aparência
dos monges budistas, da mesma maneira em que os religiosos da Companhia fizeram
na missão do Japão. Todavia, os monges budistas na China não gozavam da mesma
posição social que os japoneses. Na China, apesar de serem numerosos, a maioria
dos monges budistas não eram conhecidos por sua erudição e seu contato com a
elite chinesa era esparso, o que dificultava a manutenção da missão, pois os
religiosos europeus precisavam da amizade e da proteção da elite chinesa e dos
funcionários de estado. Dessa forma, a abordagem jesuíta foi modificada uma
década depois, devido a influência de Valignano e de Matteo Ricci, que propôs
uma mudança no método, sugerindo a adoção das vestimentas, aparência e do estilo
de vida dos letrados chineses, além do estudo das obras do filósofo Confúcio. O
objetivo de Ricci com essa mudança era de dialogar com a elite letrada da
China, que embora não possuísse a quantidade de seguidores do budismo entre a
população geral, era presença constante nos altos cargos de Estado, o que
facilitaria a proteção e manutenção da missão em curto prazo.
Uma
das características das diversas escolas de pensamento confuciano era a sua
relação com a leitura e a escrita. Toda a doutrina confuciana estava presente
em diversos livros, comentários e revisões. Neste contexto, a escrita jesuíta
acabou por se tornar uma importante ferramenta em seu método de evangelização.
Os missionários participantes da missão da China produziram uma série de obras
escritas em chinês, que contavam com traduções de clássicos europeus e obras
originais, com o intuito de atrair a atenção dos letrados confucianos e
apresentar-lhes a cultura, ciência, filosofia e principalmente, a religião
europeia.
Uma
das obras originais mais importantes produzidas pelos jesuítas durante este
primeiro período da missão foi o Tianzhu
Shiyi (O verdadeiro significado do
Senhor do Céu), elaborada por Matteo Ricci e publicada em 1603. A obra de
Ricci se utiliza de diversos aparatos retóricos e embora fosse classificada
como um catecismo pelo seu autor, o real objetivo da obra era demonstrar uma
alternativa de restauração da doutrina confuciana clássica com a ajuda da razão
cristã, ao invés de focar na instrução do cristianismo em si, ou seja, era uma
obra voltada para não-cristãos chineses [CERVERA JIMENEZ, 2002, p.223].
Todavia, antes de demonstrar a ligação entre os aparatos retóricos clássicos e
as obras de Ricci, é preciso voltar nosso olhar para a Europa, a fim de
demonstrar como o currículo humanista dos colégios da Companhia de Jesus
possibilitou aos jesuítas a utilização de conceitos retóricos e filosóficos
durante o seu trabalho missionário.
A educação jesuítica
Na Europa, os membros da Companhia de Jesus
possuíam um currículo cultural rico, e embora sua educação fosse voltada para
fins religiosos, muitos jesuítas acabavam por se tornar confessores e
conselheiros de príncipes e membros das cortes, em razão de sua sabedoria,
erudição e inteligência. A educação se dava em colégios, que incluíam escolas
de todos os níveis e universidades fundadas em vários países europeus e onde
quer que as missões operassem, como o Colégio de Macau, na China. Renomada pelo
seu rigor educacional, as escolas jesuítas tinham como integrantes não só os
membros da Ordem, mas muitos filhos de nobres europeus que acabavam por não
seguir a carreira religiosa. O método de estudos jesuíta seguia as instruções
contidas no Ratio Studiorum, um plano
de estudos oficial, cuja forma definitiva foi editada por Claudio Acquaviva em
1599. No que tange a retórica e a filosofia, o expoente mais estudado pelos
jesuítas era Aristóteles, enquanto na teologia o posto era de Tomás de Aquino,
que conseguiu combinar a doutrina católica com um sistema de pensamento de
cunho racional.
O
curso de estudos jesuíticos na época de Matteo Ricci consistia em dois anos de
estudos sobre retórica, três de filosofia e mais três de teologia, além do
estudo de línguas, como o latim, grego e hebreu. A decisão da Ordem em ensinar
autores pagãos da antiguidade foi influenciada pelo humanismo, movimento
intelectual que levou ao redescobrimento e apreciação das culturas grega e
latina clássica, embora os textos fossem editados pelas autoridades
eclesiásticas para que exibissem apenas os conteúdos que a Igreja julgasse
pertinente. As leituras de Ricci incluíram autores latinos como Marcial,
Horácio, Ovídio, Virgílio e Quintiliano, assim como os gregos Homero, Hesíodo,
Tucídides, Aristóteles e Demóstenes. O paradigma a ser seguido no setor latino
de estudos era Cícero, considerado na época um exemplo insuperável da retórica
romana. A escrita de Cícero era o modelo a ser seguida nos colégios jesuítas,
considerada elegante e eloquente. Em relação ao paradigma grego, eram estudadas
a lógica, ética, retórica e metafísica contida em Aristóteles. Muito embora os
estudos filosóficos fossem feitos de acordo com a regra de lógica aristotélica
e em nome da razão, o fim ainda era teológico [FONTANA, 2011, pp.7-8].
O papel da retórica
nos escritos de Matteo Ricci
O
estudo constante e os hábitos acadêmicos dos jesuítas seriam de muita valia
durante a missão da China, onde os missionários enfrentavam o desafio de serem
os primeiros europeus a tentarem entender a filosofia confuciana. O estudo das
tradições nativas era essencial para que sua mensagem religiosa despertasse a
curiosidade e atenção dos letrados chineses. Essa tarefa foi largamente
beneficiada pelos estudos retóricos e a predisposição jesuítica para debates,
que era influenciada em diversos seminários e competições nos colégios
jesuítas, na tentativa de persuadir os chineses dos valores da doutrina cristã
e de sua compatibilidade com o confucionismo. Quanto mais Ricci e os outros
missionários estudavam os clássicos de Confúcio, mais se deparavam com um
sistema que lhes parecia mais filosófico do que religioso. Os jesuítas também
percebiam, nos antigos clássicos de Confúcio, ambiguidades que com a
interpretação certa, estariam de acordo com a religião cristã. Este aspecto,
somado ao hábito dos letrados confucianos de leitura e a sua aproximação com a
filosofia, inspiraram as primeiras obras de Matteo Ricci em chinês.
Em
1595 Ricci escreve o Jiaoyou Lun (Tratado Sobre a Amizade, baseado no Sententiae et Exempla, de André de
Resende), centrado na amizade, que era considerada uma das relações
fundamentais na China e também grandemente celebrada na Antiguidade europeia.
Ricci busca inspiração nos clássicos gregos e latinos na composição de sua
obra, cujo modelo de escrita também se espelha no Laelius, de Cícero, que era um diálogo sobre a amizade que acontece
logo após a morte de Cipião, protaganizado por Gaius Laelius, o melhor amigo de
Cipião e seus dois cunhados. A obra de Ricci começa com o recurso retórico de
um diálogo fictício entre o jesuíta e o príncipe Kang Yi, o qual Ricci dedicou
e presenteou o Jiaoyou Lun, durante
um banquete. Na ocasião, o príncipe pergunta a Ricci se ele poderia explicar
como a amizade é vista na Europa. Em sua resposta, o jesuíta faz uso de um
discurso similar ao epidíctico (que tem como público alvo espectadores,
fictícios ou não, que devem ser convencidos, além de censurar ou principalmente
louvar algo ou alguém, no caso de Ricci, o conceito de amizade) [REBOUL, 1998,
p.44] para apresentar setenta e cinco máximas selecionadas entre autores gregos,
latinos e da Igreja. Ricci expõe as máximas de maneira a louvar e enobrecer a
amizade, colocando-o acima das relações familiares, como na máxima 50, onde
Ricci aponta que: “Os amigos superam a
família em um aspecto: é possível para familiares não amarem um ao outro, mas
não é possível com amigos” [RICCI, 2009, p.111]. As máximas do Jiaoyu Lun também serviam para
demonstrar o quão vil podem ser as formas ruins de amizade, como os
bajuladores: “O amigo que bajula não é um
amigo, mas um mero ladrão que rouba e usurpa a amizade” [RICCI, 2009,
p.125] Ou quando Ricci aponta que: “A
intenção do médico é de usar o remédio amargo para curar a doença de uma
pessoa; o objetivo do amigo bajulador é de usar palavras doces para minar a
saúde de uma pessoa” [RICCI, 2009, p.127] Como em outros discursos
epidícticos, o “auditório” fictício de Ricci incluía não só o príncipe, mas
todos os outros convidados do banquete. A prática de suntuosos banquetes era
comum na China Ming, onde letrados confucianos convidavam vários tipos de
personalidades, inclusive budistas e taoistas, para jantares e longas
conversas, com temas que variavam de política e religião a filosofia. As
máximas de Ricci incluíam Horácio, Cícero, Aristóteles, Santo Agostinho,
Marcial, Erasmo de Roterdã e Sêneca. Outras máximas foram buscadas de Ricci da
memória e incluíam reflexões sobre a afeição, sentimentos para com o próximo,
solidariedade, lealdade e entendimento mútuo [FONTANA, 2011, pp.127-128].
O
Jiaoyou Lun também teve influência de
um importante elemento na arte da retórica: a memória. Exercícios para a
memória eram comuns durante o curso de retórica dos colégios jesuítas,
considerado um recurso indispensável de um bom orador. Oradores como Cícero, a
qual relatos diziam ser capaz de falar durante dias no Senado sem consultar
notas de qualquer natureza, e era capaz de armazenar grandes quantidades de
informações em sua mente, para usar em momentos oportunos. Esta era uma
característica que também era marcante em Matteo Ricci. O jesuíta italiano possuía
uma memória extraordinária. O próprio comentara em uma carta, em 1595, ser
capaz de lembrar cerca de 500 asteriscos chineses após os ler apenas uma vez
[FONTANA, 2011, p.37]. A incrível memória de Ricci era treinada a partir de
técnicas mnemônicas inventadas pelos gregos antigos, que haviam sido resgatadas
durante a Idade Média e se tornaram populares nos séculos XV e XVI, e que de
acordo com Cícero em seu Do Orador,
foram inventadas pelo poeta grego Simónides de Ceos [SCATOLIN, 2009,
pp.259-260], que viveu no século V a.C. A referência de Cícero a Simónides e a
lenda contada a respeito das habilidades mnemônicas do grego foram apresentadas
por Ricci em um tratado chamado de Xiguo
jifa, ou “Tratado das artes
mnemônicas”.
Tanto
o Jiaoyou Lun e o Xiguo jifa foram uma espécie de treinamento para Ricci se
acostumar com o estilo de escrita chinesa antes de publicar sua obra mais
significativa, o Tianzhu Shiyi, que
foi produto de dez anos de estudo e reflexão de Ricci sobre o confucionismo
clássico e a principal ferramenta de seu método de evangelização baseada na
acomodação cultural. A estrutura textual do Tianzhu
Shiyi foi feita pensando em seu público alvo, os letrados chineses. Dessa
forma, o texto é integralmente apresentado na forma de um diálogo entre dois
sábios letrados, um ocidental, que expõe a doutrina cristã - e as formas com
que ela interage e se relaciona ao confucionismo clássico - e um sábio chinês, que traz questões,
objeções, observações e – em um movimento estratégico de Ricci – a maioria das
críticas sobre o budismo e o taoísmo. Aproveitando-se da relação próxima entre
religião e filosofia na China, Ricci em seu diálogo apenas expõe as partes do
cristianismo que ele poderia provar com o uso da razão e da lógica e omitindo
aquilo que apenas pudesse ser aceito através da fé, além de suprimir detalhes
que poderiam confundir ou desagradar ao seu público alvo, como o sofrimento e
morte de Jesus.
O
discurso retórico utilizado por Ricci no Tianzhu
Shiyi não segue totalmente um modelo único, embora o estilo deliberativo
esteja mais presente. Na conversa fictícia entre os dois sábios, o ocidental
esclarece as dúvidas de sua contraparte chinesa de maneira a aconselhar ou
desaconselhar, guiando sempre o sábio chinês através de suas respostas, com o
objetivo final de persuadir sua contraparte chinesa e seu leitor, de que o
cristianismo complementa o confucionismo, inclusive a partir dos próprios
pressupostos de Confúcio. A presença de conselhos e da persuasão são as marcas
do discurso deliberativo [REBOUL, 1998, p.44].
Em
várias passagens, Ricci faz uso de argumentos indutivos como forma de expor uma
posição, um tipo de argumentação comum no modelo de discurso deliberativo. Um
exemplo deste caso acontece no momento em que os sábios estão discutindo sobre
a existência do céu e do inferno e se um verdadeiro letrado deveria acreditar
nele ou não, algo que a doutrina confuciana não elabora com detalhes, mas da
qual que existem noções similares no budismo e no taoísmo. Dessa forma, o sábio
ocidental afirma:
“Sobre o céu e o
inferno, na China os budistas e taoistas acreditam, e o confuciano que for
sábio também. Todas as grandes nações do Leste e do Oeste não tem dúvidas sobre
isso. As Escrituras Sagradas do Senhor do Paraíso fazem referência a ambos. Eu
mesmo, em outras ocasiões revelei e provei essa doutrina. Então, ele que
persiste em negar, não pode ser considerado um verdadeiro sábio” [RICCI, 2016, p.275]
Perto
do fim da vida, Ricci também publicou, em 1608, um curto tratado, onde aborda
verdades morais que seriam consideradas evidentes para um cristão, mas que
poderiam não ser vistos dessa forma para um chinês. Chamado de Jiren Shipian (Dez Ensaios Sobre o Homem
Extraordinário], a obra tinha por objetivo ser um “desafio amigável” ao
senso comum da China era persuadir os leitores a se libertarem de algumas
crenças enraizadas em sua cultura, para que pudessem aceitar a mensagem
espiritual do cristianismo com mais facilidade. Ricci tira inspiração de seus
debates e conversas com amigos confucianos e de pensadores gregos e cristãos,
apresentando então dez diálogos fictícios utilizando a si mesmo e a outras
pessoas de seu convívio como participantes, tal qual seus amigos Xu Guangqi e
Li Zhizao, e os ministros Li Daí e Feng Qi.
Para
exemplificar o objetivo de Ricci na obra, um dos paradoxos tratados por ele é o
da morte, que era considerado um forte tabu na China, ao ponto de a maioria das
pessoas não a mencionar, com medo de atrair má sorte. Também eram famosos os
sábios que passavam a vida procurando poções ou meios de atingir a
imortalidade, principalmente entre os taoístas. Em contraste com o medo do
“nada” e do “vazio” que os chineses acreditavam ao chegar no fim da vida, Ricci
expôs a visão paradoxal de que a morte não deveria ser temida, aconselhando
seus leitores a sempre manterem a serenidade em seus pensamentos, na esperança
da vida eterna que aguardava a todos os que acreditavam, e que de acordo com a
doutrina católica, todo o sofrimento da vida terrena acabaria e aqueles que
tivessem vivido de forma justa e correta seriam recompensados no paraíso
[FONTANA, 2011, pp.261-262].
Embora
não tivesse um apelo retórico tão forte quanto o Tianzhu Shiyi, o Jiren
Shipian também continha uma forma de discurso similar ao deliberativo, com
a exposição dos paradoxos e o aconselhamento de Ricci quanto a utilidade (ou
normalmente a falta) da manutenção de certas crenças chinesas.
Conclusão
Os jesuítas que atuaram durante a missão
chinesa tinham diante de si uma difícil tarefa de conversão. Sem contarem com o
apoio de um exército real e de todo um aparato militar ou colonial, como na
Índia e no Brasil, os missionários contavam apenas com a sua capacidade de
aprender a língua local, estudar suas crenças e filosofias chinesas para que
assim pudesse persuadir toda uma classe letrada de confucianos e funcionários
de Estado. A aproximação do confucionismo mais como um sistema filosófico e
menos com um sistema religioso, na visão dos missionários, possibilitou aos
jesuítas fazer uso de todos os conhecimentos que seu currículo humanista tinha
a oferecer. Neste ponto, o conhecimento da filosofia grega e latina e o uso
correto da retórica clássica se tornaram ferramentas indispensáveis na tarefa
de conversão que os missionários tinham pela frente. A partir dos debates,
fossem eles em pessoa ou a partir de livros, os jesuítas fizeram uso
estratégico da arte da persuasão para aproximar dois mundos tão diferentes
quanto o europeu e o chinês e ainda fazer entender a sua mensagem religiosa.
Referências:
Renan
Morim Pastor, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em História pela UFRRJ.
Bolsista CAPES.
CERVERA
JIMENEZ, José Antonio, La Interpretación ricciana del confucianismo. Estudios
de Asia y África (on-line) 2002, XXXVII (maio-agosto) ISSN 0185-0164.
FONTANA, Michela. Matteo Ricci: A Jesuit in the Ming
Court. Maryland. Laham: Rowman & Littlefield Publishers, Inc., 2011.
REBOUL.
Oliver. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998
RICCI,
Matteo. On Friendship: One Hundred Maxims for a Chinese
Prince, trans. Timothy Billings. New York: Columbia University Press. 2009.
RICCI, Matteo. The True Meaning of The Lord of Heaven.
Revised Edition by Thierry Meynard, S.J. Translated by Douglas Lancashire and
Peter Hu Kuo-chen, S.J. Boston. Institute of Jesuit Sources, Boston College.
2016.
SCATOLIN,
Adriano. A Invenção no “Do Orador” de Cícero: um estudo à luz de Ad Familiares,
I, 9, 23. Tese de Doutorado – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
Caro Renan,
ResponderExcluirAchei o seu texto muito interessante, pois consegue recuperar certas coordenadas históricas do processo de evangelização na China.
Gostaria de perguntar:
1) Há outros exemplos de outros missionários e suas respectivas estratégias?
2) Ricci serviu de matriz para a constituição de um tipo mais específico de atuação dos jesuítas em outras partes do mundo?
Ricardo
Olá Ricardo, obrigado pelas perguntas.
ResponderExcluir1 - No decorrer das missões houveram diversos missionários, e localidades diferentes por vezes exigiam estratégias diferentes. Na missão da China, vários missionários se destacaram, pelo uso de estratégias similares a de Ricci: temos Martino Martini, Philippe Couplet, Diego de Pantoja, Nicolas Trigault, Lazzaro Cattaneo etc
2 - Ele certamente inspirou alguns missionários sim, talvez o mais famosos de todos tenha sido Roberto de Nóbili, na Índia, que utilizou uma abordagem similar a de Ricci. Todavia, a maioria das missões não enfrentavam a situação de "desvantagem" (não contar com a presença de um exército europeu no território) que os jesuítas passavam na China, então estas formas de acomodação mais extremas, como utilizadas na China e no Japão não eram necessárias na maioria dos outros territórios nos quais os jesuítas atuavam.
Renan Morim Pastor
Olá Renan! Atualmente desenvolvo uma pesquisa referente aos primeiros vinte anos do ofício missionário no Japão no século XVI realizado pelos integrantes da Companhia de Jesus. Consegui fazer alguns paralelos em relação ao que você discorre no seu texto em relação a minha pesquisa, por exemplo, você comenta como a acomodação foi igualmente fundamental no contexto apostólico japonês. Gostaria de fazer algumas indagações: Você já chegou a averiguar como as táticas utilizadas pelos jesuítas (como as de Matteo Ricci) na China contribuíram para a continuidade do processo de propagação da crença cristã em localidades chinesas? O cristianismo seguiu sendo difundido em algumas regiões da China no decorrer dos séculos ainda que moldado à realidade cultural chinesa? Ou ocorreu algo similar ao que se passou no Japão em que a presença dos padres católicos passou a ser impedida. O parabenizo pelo excelente trabalho, e se por acaso você ainda não conhece, indico a obra: “O Palácio da Memória de Matteo Ricci” por Jonathan D. Spence. Abraço!
ResponderExcluirWillian Carlos Fassuci Larini.
Olá William. Obrigado pelo comentário e pela indicação. Eu conheço o livro do Spence sim, inclusive o tenho citado por algum tempo em minha pesquisa.
ExcluirÉ possível sim que os métodos do Ricci (embora muito voltados para uma elite chinesa) tenham ajudado o cristianismo a se expandir na China. A interação dos jesuítas com as pessoas mais humildes provavelmente não envolviam temas como confucionismo ou debates filosóficos e teológicos profundos, mas o método de acomodação em que os jesuítas vestiam os mesmos robes que os letrados confucianos, seu conhecimento da língua e seu entendimento, mesmo que nem sempre perfeito da sociedade chinesa ajudava na expansão do cristianismo sim.
Já sobre a continuidade...os jesuítas foram expulsos da China em mais de uma ocasião, mas os missionários (e não só os missionários jesuítas) sempre encontravam seu caminho de volta para a China. A religião ainda é praticada nos dias de hoje na China, embora compreensivelmente com um número limitado de fiéis, todavia uma porcentagem de 2 a 4% de cristãos num país enorme como a China não pode ser considerada desprezível.