Introdução
O trabalho tem por objetivo central discorrer
sobre o processo de propagação da história na esfera pública. Pretendemos
discutir sobre a reminiscência do período entre os séculos XVI e XVII, de quase
cem anos da história do Japão, quando o cristianismo foi difundo naquele
território por padres da Companhia de Jesus.
O cristianismo foi introduzido no Japão no
século XVI e banido pelos governantes japoneses algumas décadas depois. Somente
no século XIX a religião cristã voltou a ser oficialmente aceita na Terra do
Sol Nascente. No que concerne à relevância da crença cristã no Japão
atualmente, Michiko Yusa afirma que “[...] o seu impacto no Japão moderno está
longe de ser irrisório. Isto porque muitos destacados intelectuais e educadores
foram cristãos” [YUSA, 2002, p. 102]. Igualmente, a época histórica em que o
cristianismo foi introduzido e disseminado no arquipélago japonês se encontra
evidenciada em algumas localidades do território nipônico. O historiador
lusitano João Paulo A. Oliveira e Costa [1998], no princípio da sua pesquisa
relativa à ação cristã no Japão, faz uma breve alusão às esculturas instaladas em
locais da nação nipônica que remetem à presença europeia naquela região. O
autor menciona que tais imagens geralmente representam membros da Ordem Jesuíta
e que algumas dessas esculturas monumentais relembram os navegantes lusitanos
que acabaram levando em suas embarcações os evangelizadores católicos. Por
conseguinte, o pesquisador português destaca que tenha decorrido tal
procedimento memorial na nação nipônica. Leão discorre sobre dois destes
monumentos, e chama a atenção para o impacto do ofício apostólico idealizado
por Francisco Xavier, ele ressalta que embora a “[...] presença do catolicismo
não sendo unanimidade entre os países contemporâneos, da Índia ao Japão,
atualmente encontram-se inúmeras referências históricas de suas realizações”
[LEÃO, 2017, p.177]. Dentro desse contexto, Leão [2017] comenta brevemente
sobre uma escultura existente no município de Kogoshima a ser evidenciada com
maiores detalhes na continuidade desta pesquisa. Em suma, visamos refletir
sobre o processo de rememoração da presença jesuíta que ocorreu na nação
japonesa.
Rememoração histórica no Japão
Na cidade japonesa de Kogoshima, local
visitado inicialmente pelos padres jesuítas depois de terem aportado pela
primeira vez na costa japonesa em 1549, existe um local cognominado de Parque
Xavier. Por certo, esse espaço recebeu tal identificação em homenagem ao
missionário jesuíta Francisco Xavier, que realizou a primeira missão
evangelizadora ao Japão entre 1549 e 1551. Indubitavelmente, muitos japoneses
transitam diariamente nesse centro urbano, passando pelo espaço com a
denominação que rememora de forma edificante o padre que deu início ao processo
da difusão cristã no arquipélago japonês. Souza discorre sobre a relevância das
denominações nos espaços urbanos:
“[...] uma das formas mais antigas de
reconhecimento dos espaços urbanos, seja para efeito de referência da moradia
de cada um, ou seja, apenas para efeito de indicação do território geográfico,
é a criação de uma convenção, de um código que permita identificar os logradouros
públicos, pela sua denominação. Com referenciais precisos é possível oferecer
uma das condições básicas da cidadania, que é a sensação plena de pertencimento
ao lugar. [...] Os nomes, para identificar cada um desses ambientes, vão
surgindo pela característica dos lugares, em função da construção de algum
equipamento, por homenagens a figuras destacadas da sociedade ou mitos, e
também a partir de uma ordenação por números ou letras” [SOUZA, 2001, p. 138].
Partindo da perspectiva da autora, o Parque Xavier,
além de carregar simbolismo histórico, também pode servir como um ponto de
referência para as pessoas que vivem naquela cidade. Possivelmente, muitos
indivíduos que ali circulam diariamente pronunciam o nome do parque sem
refletir o que ele de fato simboliza. Souza [2001] relata, em seu trabalho,
como as denominações das vias públicas podem sofrer modificações gradualmente e
como o povo pode reagir com condutas diferenciadas em relação a essas
transformações, negando ou consentindo paulatinamente as modificações das
designações. A autora afirma que é costumeiro “[...] o fato de surgir um nome
especial entre os habitantes do lugar, o qual só tem a ver com a vivência dos
mesmos” [SOUZA, 2011, p.139]. Levando em consideração os comentários da
urbanista, é possível ponderar que os habitantes de Kogoshima, talvez, possam
nomear de outra forma o parque Xavier. É importante ressaltar que o texto de
Souza [2001] tem por enfoque o Brasil, especificamente a cidade de Porto
Alegre. É possível que os japoneses possuam relação diferenciada da nossa no
que se refere às designações das localidades dos centros urbanos.
Visamos, essencialmente, neste trabalho,
descrever sobre a área onde se localiza o Parque Xavier. No passado, certamente
seria mais difícil o acesso às imagens desse local, tornando-o hermético para
um pesquisador residente no Brasil. No entanto, com o avanço das novas
tecnologias, os historiadores conseguem achegarem a diferentes localidades,
ainda que virtualmente. O Google maps, ferramenta disponível em rede, nos
possibilitou acesso às fotos do Parque Xavier e a alguns vídeos do local.
O Parque Xavier, em Kogoshima, é um lugar
público, aparentando-se com uma praça. O local é arborizado e ornamentado com
bancos, brinquedos, bem como com estátuas e memoriais arquitetônicos. Há um
busto do missionário Francisco Xavier com o nome do evangelizador escrito em
alfabeto latino e três estátuas de corpo inteiro, sendo uma delas de Xavier e
as outras de japoneses conversos. Um dos nipônicos representados na escultura é
de Angiró, que foi o primeiro nipônico com quem Xavier teve contato. Em outras
cidades japonesas existem também estátuas de Francisco Xavier. Acreditamos que
isso decorre da existência de uma mítica em torno da figura do evangelizador
católico.
Analogamente, outro modelo relevante dessa
rememoração que ocorre no Japão é o Museu e Monumento dos Vinte e Seis Mártires
de Nagasaki. Nesse museu de arte religiosa é referenciada a execução dos
padres, ocorrida no final do século XVI no Japão, depois que se iniciou o
processo de perseguição aos cristãos. Rie Arimura menciona que este local evoca
o martírio dos padres jesuítas:
“Hoy en día el Parque del Martirio, ubicado
en la colina de Nishizaka, Nagasaki, es uno de los sitios más visitados por los
turistas, tanto nacionales como extranjeros. Empero, la visualización del lugar
de martirio mediante la edificación de un conjunto monumental no se realizó
sino hasta mediados del siglo XX. La construcción de un santuario dedicado a
los 26 mártires en el lugar del martirio había sido un anhelo de la Iglesia
católica desde tiempo atrás” [ARIMURA, 2014, p. 115].
Para ressaltarmos o processo de glorificação
do período da difusão do cristianismo ocorrido em determinadas localidades do
Japão, destacamos o texto de Albieri [2011], que ao tratar sobre as facetas da
História Pública, menciona os lugares de memória, termo utilizado no trabalho
do historiador francês Pierre Nora. Conforme a autora:
“Outra
forma instituída de publicação da História está ligada aos ‘lugares da
memória’: museus, monumentos e sítios históricos são objeto de políticas de
conservação, restauração, exposição e visitação. Com frequência, se engendram
esforços para que esse patrimônio cultural seja aberto a algum tipo de
divulgação maior. Buscam-se modos de aproveitar esse acervo de maneiras mais
abrangentes, que atinjam um maior número de pessoas; formas de tornar acessível
a um público comum, não acadêmico, um tipo de patrimônio e de informação que,
de início, seria uma espécie de propriedade intelectual dos especialistas –
como encarregados de identificar o patrimônio e recomendar os melhores modos de
sua preservação. Em vez disso, pretende-se ampliar o acesso a estas
informações, ou a uma parte delas, a um público que, de outro modo, seria
privado desses bens culturais. Exposições didáticas e visitas guiadas visam
colocar o público em contato com um passado que, em geral, é apresentado como
herança comum a todos” [ALBIERI, 2011, p. 21].
Como ressaltado por Albieri [2011],
monumentos e exposições podem possibilitar que as pessoas tenham contato com os
acontecimentos do passado. Evidentemente, os historiadores não podem ignorar o
que historicamente é elaborado fora do meio acadêmico, pois pode ser o único meio
de comunicação que parte do público terá com a história. Infelizmente, muitos
indivíduos passarão o longo de suas vidas sem o contato com as obras
acadêmicas. Na atualidade, cada vez mais se propagam desinformações em
diferentes áreas do conhecimento. Com efeito, os estudiosos precisam se inserir
no debate público para tentar fazer frente ao obscurantismo.
Observando as fotos do Parque Xavier,
identificamos uma placa com informações para os visitantes. Turistas ou
residentes de Kogoshima podem se inteirar, ainda que superficialmente, sobre os
acontecimentos naquela localidade no século XVI. Em consonância, o Museu e
Monumento dos Vinte e Seis Mártires de Nagasaki apresenta um acervo histórico
relativo à época da propagação cristã no Japão, sendo possível adquirir
conhecimentos sobre tal período. Porém, esse processo de exibição do passado
pode também ser algo problemático. Isabela M. Tamaso [2012] examina o grande
estímulo que ocorre desde o século XX em relação às exposições de caráter
histórico, sobretudo nos patrimoniais. A autora também chama a atenção para o
papel de destaque da UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura] no processo de identificação e conservação dos patrimônios
de relevância mundial. Tendo por base múltiplos autores, a acadêmica expõe as
distinções dos patrimônios frente ao conhecimento historiográfico e das
memórias das camadas populacionais. A historiógrafa contrapõe-se em relação a
algumas ideias pré-concebidas enfatizando que: “[...] os processos de
pratrimonialização nem sempre visam fins que tenham a ver com a preservação de
uma identidade [ ...]” [TAMASO, 2012, p. 26]. Em um segmento do seu texto, a
pesquisadora cita o trabalho do historiador e geógrafo norte-americano David
Lowenthal [1998], que diferencia o patrimônio da história, sendo que o
primeiro, de acordo com tal autor “compromete-nos com um credo presente”
[LOWENTHAL, 1998, p. 119 apud TAMASO, 2012, p. 31]. E o segundo, “é um esforço
para compreender o passado em seus próprios termos” [LOWENTHAL, 1998, p. 119
apud TAMASO, 2012, p. 31]. A autora complementa a afirmação do historiador
estadunidense argumentando que:
“Os historiadores dependem de que suas fontes
estejam abertas ao escrutínio acadêmico e às análises comparativas, enquanto o
patrimônio se fecha para qualquer reavaliação, uma vez que não é um relato
plausível e nem mesmo testável sobre o passado, mas antes uma ‘profissão de
fé’. O patrimônio não é equivalente à história nem mesmo quando a imita. Ambos
reconstroem o passado em termos do presente, mas enquanto a história torna
passado compreensível, o patrimônio tende a torná-lo agradável. Podemos
relativizar esta afirmação de Lowenthal com exemplos de museus do Holocausto!
Mas não podemos desconsiderar que na maioria dos casos, patrimônio seleciona,
higieniza e opera uma curetagem nas informações e bens culturais, para atender
à demanda nacionalista ou turística, ou ainda à onda universalizante da UNESCO”
[TAMASO, 2012, p. 31].
É difícil afirmar que o Parque Xavier ou
outras exposições com enfoque voltado para o período em que o cristianismo foi
difundido no Japão se configuraram como patrimônios, mas julgamos que algumas
dessas construções podem estar ligadas ao processo de amenização do passado.
Por mais que esses monumentos consigam evidenciar um período histórico, eles
são incapazes de demonstrar as complexidades ocorridas, tal como o embate das
diferentes culturas ocorrido no arquipélago japonês em relação ao processo de
propagação do cristianismo. Esses monumentos acabaram, de alguma forma,
enaltecendo os jesuítas daquela época, que atuaram como divulgadores da fé
cristã, entretanto esta não deve ser, obviamente, a prerrogativa dos
historiadores que buscam estudar a passagem dos membros da Companhia de Jesus
em território japonês, ainda mais se levarmos em consideração que muitos
pesquisadores ocidentais, com a intenção de trabalhar com esse tema, possuem,
como fonte, apenas os relatos dos evangelizadores católicos. Conforme afirma
Pierre Nora:
“O movimento da história, a ambição histórica
não são a exaltação do que verdadeiramente aconteceu, mas sua anulação. Sem
dúvida um criticismo generalizado conservaria museus, medalhas e monumentos,
isto é, o arsenal necessário ao seu próprio trabalho, mas esvaziando-os daquilo
que, a nosso ver, os faz lugares de memória” [NORA, 1993, p. 9].
Anteriormente, citamos um segmento do texto
de Albieri [2011], em que é utilizado um vocábulo que se tornou célebre no
trabalho desenvolvido por Pierre Nora. Vejamos como o historiador francês exemplifica
o que seriam os denominados lugares de memória:
“Os lugares de memória são, antes de tudo,
restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa
história que a chama, porque ela a ignora. É a desritualização de nosso mundo
que faz aparecer a noção. O que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta,
mantém pelo artifício e pela vontade uma coletividade fundamentalmente
envolvida em sua transformação e sua renovação. Valorizando, por natureza, mais
o novo do que o antigo, mais o jovem do que o velho, mais futuro do que o
passado. Museus, arquivos, cemitérios e coleções, festas, aniversários,
tratados, processos verbais, monumentos, santuários, associações, são os marcos
testemunhas de uma outra era, das ilusões de eternidade. Daí o aspecto
nostálgico desses empreendimentos de piedade, patéticos e glaciais. São os
rituais de uma sociedade sem ritual; sacralizações passageiras numa sociedade
que dessacraliza; fidelidades particulares de uma sociedade que aplaina os
particularismos; diferenciações efetivas numa sociedade que nivela por
princípio; sinais de reconhecimento e de pertencimento de grupo numa sociedade
que só tende a reconhecer indivíduos iguais e idênticos” [NORA, 1993, p.
12-13].
Mediante o exposto, os lugares de memória são
resquícios que expõem aspectos do passado, que não são mais recorrentes e, por
isso, necessitam ser rememorados. O historiador francês menciona que:
“Os lugares de memória nascem e vivem do
sentimento que não há memória espontânea [...] se o que eles defendem não
estivesse ameaçado, não se teria, tampouco, a necessidade de construí-los. Se
vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam
inúteis” [NORA, 1993, p. 13].
No que se refere ao contexto japonês,
verificamos, de igual modo, que os monumentos referentes à disseminação do
cristianismo no século XVI possivelmente se configuram como lugares de resgate
à memória, evocando assim um sentimento voltado para o processo histórico
interrompido, com exígua expressão para a realidade japonesa. Desde os tempos
das investidas de Francisco Xavier, os missionários católicos visavam tornar o
cristianismo expressivo no Japão. Por sua vez, a expansão cristã foi obstruída,
e atualmente o país asiático é formado por uma comunidade minguada de cristãos.
Ressaltamos que além da difusão do cristianismo entre os séculos XVI e XVII,
ocorreu, pela primeira vez no Japão, grande influência da cultura europeia,
sobretudo da portuguesa, existindo ainda hoje fragmentos da influência lusitana
no país asiático. José Yamashiro discorre que:
“No
japonês atual existem termos derivados do português, incorporados ao
vocabulário de uso cotidiano. Alguns exemplos: kappa - capa, pan - pão, karuta - carta de baralho, kasutera - bolo de Castela, pão-de-ló, biidoro – vidro, furasuko - frasco, jiban
– gibão, kapitan – capitão (de
navio), birôdo – veludo. Temos ainda
termos religiosos: Deosu – Deus, baterem - padre, iruman – irmão, kirishintan –
cristãos, Kirisuto – Cristo, amen – amém, Êsu ou Yesu – Jesus, katoriku – católico, misa – missa, santa – santa, Santamaria
– Santa Maria, etc [YAMASHIRO, 1989, p. 141-142].
Recentemente, tivemos a oportunidade de
pesquisar o processo inicial da difusão da religião cristã no Japão.
Indubitavelmente, reconhecer que alguns aspectos pertencentes a esse período da
história ainda continuam sendo evocados no Japão nos faz acreditar que a nossa
temática de pesquisa não se encontra tão distanciada da realidade atual, como
inicialmente acreditávamos. Recentemente, em decorrência dos protestos
antirracistas ocorridos em várias localidades do mundo, a discussão sobre a
significância ou não das esculturas artística dos personagens do passado
ligados ao processo da escravização e do colonialismo ganharam expressivo
destaque. Dentro desse contexto, podemos ponderar como os diferentes japoneses
enxergam os monumentos que enaltecem os missionários católicos. Talvez,
diferentes grupos da sociedade nipônica reprovem a existência de tais
construções, pois, possivelmente, veem o período em que a crença cristã se
propagou no arquipélago japonês como uma tentativa de intervenção estrangeira e
negação dos valores culturais tradicionais do Japão.
Conclusão
Neste trabalho, procuramos ressaltar a
dimensão que o conhecimento historiográfico pode representar para a esfera
pública. No que concerne ao tema do texto, que envolve a rememoração do passado
por meio dos monumentos, acreditamos que esse assunto pode ser utilizado por
historiadores, com o intuito de atrair pessoas fora da esfera acadêmica,
despertando assim o interesse por temáticas históricas. Por certo, enfocamos no
processo de rememoração histórica ocorrida no Japão, no entanto, o Brasil é
igualmente um dos muitos países em que ocorre um processo de reminiscência -
muitas vezes enaltecedor - em relação ao seu passado histórico por meio de
denominações de vias e instituições que evocam figuras do passado. Souza [2001]
ressalta esse processo, indicando ainda a utilização de datas comemorativas
como o dia de Tiradentes, solenizado em 21 de abril. Eventualmente, estudiosos
de história e professores de diversas áreas precisam, na medida do possível,
inserirem-se nas amplas discussões que a rememoração pode suscitar nas pessoas.
Referências
Willian
Carlos Fassuci Larini é mestre e doutorando pelo Programa de Pós Graduação em
História (PPH) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atualmente é bolsista
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
ALBIERI,
Sara. História Pública e consciência histórica IN: ALMEIDA, Juniele R.; ROVAI,
Marta G. O. Introdução à História Pública. São Paulo: Letra e Voz, p. 19- 27,
2011.
ARIMURA,
Rie. La iglesia de San Felipe de Jesús y el Museo de los 26 Mártires en
Nagasaki: un legado de México. HISPANICA/HISPÁNICA, v. 2014, n. 58, p. 113-143, 2014.
COSTA,
João Paulo Oliveira. O Cristianismo no Japão e o Episcopado de D. Luís
Cerqueira. Tese de Doutorado. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
Universidade Nova de Lisboa, 1998.
LEÃO,
Jorge Henrique Cardoso. A Companhia de Jesus e os Pregadores Japoneses: Missões
jesuíticas e mediação religiosa 1549-1614. Tese de Doutorado. Niterói:
Universidade Federal Fluminense. 2017.
NORA,
Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto
História. São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.
SOUZA,
Célia Ferraz. O sentido das palavras nas ruas da cidade. Entre as práticas
populares e o poder do Estado (ou público) IN: BRESCIANI, Maria Stella (org)
Palavras da Cidade, Porto Alegre: Ed. UFRGS, p.137-154, 2001.
TAMASO,
Isabela. Por uma distinção dos patrimônios em relação à História, à memória e à
identidade. IN: PAULA, Zueleide C. MENDONÇA, Lúcia G. ROMANELLO, Jorge L.
(org.) Polifonia do patrimônio.
Londrina: Editora EDUEL, p. 21-46, 2012.
YAMASHIRO,
José. Choque luso no Japão dos séculos XVI e XVII. São Paulo: IBRASA, 1989.
YUSA,
Michiko. Religiões do Japão. Lisboa: Edições, v. 70, 2002.
Caro Willian,
ResponderExcluirEstive pesquisando recentemente sobre relatos indianos sobre a presença portuguesa na Ásia no século XVI. E, de fato, há uma outra percepção, diversa daquela proposta pelos europeus.
Dessa forma, eu gostaria de perguntar como a historiografia japonesa coetânea ou mesmo de caráter contemporâneo percebeu o processo de disseminação do cristianismo.
Ricardo Shibata
Olá Ricardo! Grato pela pergunta! A sua questão é de fato muito pertinente. Infelizmente ainda me debrucei profundamente em relação às obras dos historiadores japoneses no que concerne a óptica deles em relação à época em que a crença cristã foi inicialmente propagada no Japão. O meu conhecimento em relação ao idioma japonês é diminuto, o que torna ainda mais difícil o contato com as obras historiográficas japonesas. Por sua vez, acredito que existam algumas obras de historiadores japoneses traduzidas para outros idiomas. Pretendo num futuro próximo ter contato com alguns pesquisadores japoneses que possam me fazer compreender melhor a visão historiográfica japonesa em relação à época em que o cristianismo foi difundido. Igualmente acredito que seria interessante realizar uma investigação em relação à concepção dos japoneses de diferentes gerações em relação a esses monumentos. Acredito que seja possível que se tenha originado no meio acadêmico do Japão algum trabalho com tal proposta. Atenciosamente. Willian Carlos Fassuci Larini.
ExcluirOlá, Willian, tudo bem? Primeiramente, parabenizo por seu trabalho. É realmente interessante como você traz a rememoração (vias espaços públicos) por parte dos japoneses da presença de um povo que foi até lá propagar seus valores e sua religião. Sei que do lado português, ao menos no campo das artes (especialmente literatura e cinema), quando o Japão é representado, há, ainda em produções muito recentes, uma quase exclusiva rememoração dessa presença lusitana no Japão do XVI. Mas, na maioria dos casos, há o destaque de um “heroísmo português”, em tons bastante ufanistas e nacionalistas. Então, não deixa de ser curioso como os japoneses não fazem o “caminho inverso” (ou seja, não destacam uma resistência contra esses valores externos e exaltam um “heroísmo japonês” de manutenção de valores). Pelo menos não em cidades que contaram com forte presença jesuítica no Japão daquela época, como Kagoshima e Nagasaki.
ResponderExcluirCom isso, fiquei curioso com uma questão: você crê que esse movimento de rememoração destacado em seu texto é algo característico do Japão ou acontece de forma similar em outros países asiáticos, como China, Coreia, Índia, etc.?
Mais uma vez, parabéns e obrigado!
Um abraço,
José Carvalho Vanzelli
Olá José! Grato pelos seus elogios em relação ao trabalho! Primeiramente gostaria de deixar registrado que você me fez refletir sobre algo interessante, pois, nunca havia pesquisado a forma como se decorreu artisticamente em Portugal a interpretação em relação ao Japão. Possivelmente em um futuro próximo buscarei informações sobre esse assunto. Quanto a sua pergunta, acredito que para responder precisamente a essa indagação seria necessário investigar mais profundamente se há em outras nações asiáticas algum processo de rememoração em relação ao período histórico em que se decorreu a intervenção lusitana ou de outras nações europeias. Recentemente pesquisando, tomei conhecimento que existem duas estátuas do padre jesuíta Matteo Ricci: uma em Macau e a outra em Pequim, na China. De igual modo, existe em Macau uma estátua do explorador português cognominado de Jorge Álvares. Não tenho conhecimento se existem esses tipos de construções na Índia. As presenças de tais monumentos atestam que supostamente na China talvez ocorra também alguma forma de rememoração edificante em relação a esse período, mas torna-se complexo definir se tal lembrança é equivalente ao que se decorre em algumas localidades japonesas. Mesmo no que concerne ao Japão é difícil definir (sem um estudo mais aprofundado) o grau de importância desses monumentos para os japoneses no que se refere ao processo de rememoração do passado. Além das estátuas, tenho conhecimento de que em Nagasaki se decorre ainda hoje um rito num festival que soleniza a passagem lusitana por lá, bem como as obras de um célebre escritor japonês do século XX denominado de Shusaku Endō que escreveu pelo menos dois romances históricos sobre esse período. Obrigado mais uma vez pela sua colaboração. Atenciosamente.
ExcluirWillian Carlos Fassuci Larini.
Boa tarde, Sr. Larini. Parabenizo-o por sua pesquisa e gostaria de acrescentar em seu trabalho por meio da recomendação bibliográfica.
ResponderExcluirNo princípio do texto, o Sr. comenta sobre a possibilidade da organização urbana japonesa ser distinta daquela que vigora no Ocidente como um todo. Nesse sentido há dois textos de Barthes que pode vir muito bem a calhar. Eles são “Centro da cidade, centro vazio” e “Sem endereços”. Ambos se encontram na obra “Império dos Signos”.
Outra recomendação que gostaria de lhe fazer é sobre a musealização e o processo de preservação da memória. Existe um texto de Didi-Huberman denominado “Cascas”. Embora retrate Auschwitz-Birkenau, as reflexões suscitadas certamente serão proveitosas.
Atenciosamente,
João Antonio Machado.
Olá João! Grato pelas recomendações! Num futuro próximo, quando me aprofundar mais sobre esse tema, eu levarei em consideração as suas indicações. Atenciosamente.
ExcluirWillian Carlos Fassuci Larini