O PROCESSO DE REMEMORAÇÃO DA PRESENÇA PORTUGUESA NO JAPÃO NO SÉCULO XVI por Willian Carlos Fassuci Larini

Introdução

O trabalho tem por objetivo central discorrer sobre o processo de propagação da história na esfera pública. Pretendemos discutir sobre a reminiscência do período entre os séculos XVI e XVII, de quase cem anos da história do Japão, quando o cristianismo foi difundo naquele território por padres da Companhia de Jesus.

 

O cristianismo foi introduzido no Japão no século XVI e banido pelos governantes japoneses algumas décadas depois. Somente no século XIX a religião cristã voltou a ser oficialmente aceita na Terra do Sol Nascente. No que concerne à relevância da crença cristã no Japão atualmente, Michiko Yusa afirma que “[...] o seu impacto no Japão moderno está longe de ser irrisório. Isto porque muitos destacados intelectuais e educadores foram cristãos” [YUSA, 2002, p. 102]. Igualmente, a época histórica em que o cristianismo foi introduzido e disseminado no arquipélago japonês se encontra evidenciada em algumas localidades do território nipônico. O historiador lusitano João Paulo A. Oliveira e Costa [1998], no princípio da sua pesquisa relativa à ação cristã no Japão, faz uma breve alusão às esculturas instaladas em locais da nação nipônica que remetem à presença europeia naquela região. O autor menciona que tais imagens geralmente representam membros da Ordem Jesuíta e que algumas dessas esculturas monumentais relembram os navegantes lusitanos que acabaram levando em suas embarcações os evangelizadores católicos. Por conseguinte, o pesquisador português destaca que tenha decorrido tal procedimento memorial na nação nipônica. Leão discorre sobre dois destes monumentos, e chama a atenção para o impacto do ofício apostólico idealizado por Francisco Xavier, ele ressalta que embora a “[...] presença do catolicismo não sendo unanimidade entre os países contemporâneos, da Índia ao Japão, atualmente encontram-se inúmeras referências históricas de suas realizações” [LEÃO, 2017, p.177]. Dentro desse contexto, Leão [2017] comenta brevemente sobre uma escultura existente no município de Kogoshima a ser evidenciada com maiores detalhes na continuidade desta pesquisa. Em suma, visamos refletir sobre o processo de rememoração da presença jesuíta que ocorreu na nação japonesa.

 

Rememoração histórica no Japão

Na cidade japonesa de Kogoshima, local visitado inicialmente pelos padres jesuítas depois de terem aportado pela primeira vez na costa japonesa em 1549, existe um local cognominado de Parque Xavier. Por certo, esse espaço recebeu tal identificação em homenagem ao missionário jesuíta Francisco Xavier, que realizou a primeira missão evangelizadora ao Japão entre 1549 e 1551. Indubitavelmente, muitos japoneses transitam diariamente nesse centro urbano, passando pelo espaço com a denominação que rememora de forma edificante o padre que deu início ao processo da difusão cristã no arquipélago japonês. Souza discorre sobre a relevância das denominações nos espaços urbanos:

 

“[...] uma das formas mais antigas de reconhecimento dos espaços urbanos, seja para efeito de referência da moradia de cada um, ou seja, apenas para efeito de indicação do território geográfico, é a criação de uma convenção, de um código que permita identificar os logradouros públicos, pela sua denominação. Com referenciais precisos é possível oferecer uma das condições básicas da cidadania, que é a sensação plena de pertencimento ao lugar. [...] Os nomes, para identificar cada um desses ambientes, vão surgindo pela característica dos lugares, em função da construção de algum equipamento, por homenagens a figuras destacadas da sociedade ou mitos, e também a partir de uma ordenação por números ou letras” [SOUZA, 2001, p. 138].

 

Partindo da perspectiva da autora, o Parque Xavier, além de carregar simbolismo histórico, também pode servir como um ponto de referência para as pessoas que vivem naquela cidade. Possivelmente, muitos indivíduos que ali circulam diariamente pronunciam o nome do parque sem refletir o que ele de fato simboliza. Souza [2001] relata, em seu trabalho, como as denominações das vias públicas podem sofrer modificações gradualmente e como o povo pode reagir com condutas diferenciadas em relação a essas transformações, negando ou consentindo paulatinamente as modificações das designações. A autora afirma que é costumeiro “[...] o fato de surgir um nome especial entre os habitantes do lugar, o qual só tem a ver com a vivência dos mesmos” [SOUZA, 2011, p.139]. Levando em consideração os comentários da urbanista, é possível ponderar que os habitantes de Kogoshima, talvez, possam nomear de outra forma o parque Xavier. É importante ressaltar que o texto de Souza [2001] tem por enfoque o Brasil, especificamente a cidade de Porto Alegre. É possível que os japoneses possuam relação diferenciada da nossa no que se refere às designações das localidades dos centros urbanos.

 

Visamos, essencialmente, neste trabalho, descrever sobre a área onde se localiza o Parque Xavier. No passado, certamente seria mais difícil o acesso às imagens desse local, tornando-o hermético para um pesquisador residente no Brasil. No entanto, com o avanço das novas tecnologias, os historiadores conseguem achegarem a diferentes localidades, ainda que virtualmente. O Google maps, ferramenta disponível em rede, nos possibilitou acesso às fotos do Parque Xavier e a alguns vídeos do local.

 

O Parque Xavier, em Kogoshima, é um lugar público, aparentando-se com uma praça. O local é arborizado e ornamentado com bancos, brinquedos, bem como com estátuas e memoriais arquitetônicos. Há um busto do missionário Francisco Xavier com o nome do evangelizador escrito em alfabeto latino e três estátuas de corpo inteiro, sendo uma delas de Xavier e as outras de japoneses conversos. Um dos nipônicos representados na escultura é de Angiró, que foi o primeiro nipônico com quem Xavier teve contato. Em outras cidades japonesas existem também estátuas de Francisco Xavier. Acreditamos que isso decorre da existência de uma mítica em torno da figura do evangelizador católico.

 

Analogamente, outro modelo relevante dessa rememoração que ocorre no Japão é o Museu e Monumento dos Vinte e Seis Mártires de Nagasaki. Nesse museu de arte religiosa é referenciada a execução dos padres, ocorrida no final do século XVI no Japão, depois que se iniciou o processo de perseguição aos cristãos. Rie Arimura menciona que este local evoca o martírio dos padres jesuítas:

 

“Hoy en día el Parque del Martirio, ubicado en la colina de Nishizaka, Nagasaki, es uno de los sitios más visitados por los turistas, tanto nacionales como extranjeros. Empero, la visualización del lugar de martirio mediante la edificación de un conjunto monumental no se realizó sino hasta mediados del siglo XX. La construcción de un santuario dedicado a los 26 mártires en el lugar del martirio había sido un anhelo de la Iglesia católica desde tiempo atrás” [ARIMURA, 2014, p. 115].

 

Para ressaltarmos o processo de glorificação do período da difusão do cristianismo ocorrido em determinadas localidades do Japão, destacamos o texto de Albieri [2011], que ao tratar sobre as facetas da História Pública, menciona os lugares de memória, termo utilizado no trabalho do historiador francês Pierre Nora. Conforme a autora:

 

 “Outra forma instituída de publicação da História está ligada aos ‘lugares da memória’: museus, monumentos e sítios históricos são objeto de políticas de conservação, restauração, exposição e visitação. Com frequência, se engendram esforços para que esse patrimônio cultural seja aberto a algum tipo de divulgação maior. Buscam-se modos de aproveitar esse acervo de maneiras mais abrangentes, que atinjam um maior número de pessoas; formas de tornar acessível a um público comum, não acadêmico, um tipo de patrimônio e de informação que, de início, seria uma espécie de propriedade intelectual dos especialistas – como encarregados de identificar o patrimônio e recomendar os melhores modos de sua preservação. Em vez disso, pretende-se ampliar o acesso a estas informações, ou a uma parte delas, a um público que, de outro modo, seria privado desses bens culturais. Exposições didáticas e visitas guiadas visam colocar o público em contato com um passado que, em geral, é apresentado como herança comum a todos” [ALBIERI, 2011, p. 21].

 

Como ressaltado por Albieri [2011], monumentos e exposições podem possibilitar que as pessoas tenham contato com os acontecimentos do passado. Evidentemente, os historiadores não podem ignorar o que historicamente é elaborado fora do meio acadêmico, pois pode ser o único meio de comunicação que parte do público terá com a história. Infelizmente, muitos indivíduos passarão o longo de suas vidas sem o contato com as obras acadêmicas. Na atualidade, cada vez mais se propagam desinformações em diferentes áreas do conhecimento. Com efeito, os estudiosos precisam se inserir no debate público para tentar fazer frente ao obscurantismo.

 

Observando as fotos do Parque Xavier, identificamos uma placa com informações para os visitantes. Turistas ou residentes de Kogoshima podem se inteirar, ainda que superficialmente, sobre os acontecimentos naquela localidade no século XVI. Em consonância, o Museu e Monumento dos Vinte e Seis Mártires de Nagasaki apresenta um acervo histórico relativo à época da propagação cristã no Japão, sendo possível adquirir conhecimentos sobre tal período. Porém, esse processo de exibição do passado pode também ser algo problemático. Isabela M. Tamaso [2012] examina o grande estímulo que ocorre desde o século XX em relação às exposições de caráter histórico, sobretudo nos patrimoniais. A autora também chama a atenção para o papel de destaque da UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura] no processo de identificação e conservação dos patrimônios de relevância mundial. Tendo por base múltiplos autores, a acadêmica expõe as distinções dos patrimônios frente ao conhecimento historiográfico e das memórias das camadas populacionais. A historiógrafa contrapõe-se em relação a algumas ideias pré-concebidas enfatizando que: “[...] os processos de pratrimonialização nem sempre visam fins que tenham a ver com a preservação de uma identidade [ ...]” [TAMASO, 2012, p. 26]. Em um segmento do seu texto, a pesquisadora cita o trabalho do historiador e geógrafo norte-americano David Lowenthal [1998], que diferencia o patrimônio da história, sendo que o primeiro, de acordo com tal autor “compromete-nos com um credo presente” [LOWENTHAL, 1998, p. 119 apud TAMASO, 2012, p. 31]. E o segundo, “é um esforço para compreender o passado em seus próprios termos” [LOWENTHAL, 1998, p. 119 apud TAMASO, 2012, p. 31]. A autora complementa a afirmação do historiador estadunidense argumentando que:

 

“Os historiadores dependem de que suas fontes estejam abertas ao escrutínio acadêmico e às análises comparativas, enquanto o patrimônio se fecha para qualquer reavaliação, uma vez que não é um relato plausível e nem mesmo testável sobre o passado, mas antes uma ‘profissão de fé’. O patrimônio não é equivalente à história nem mesmo quando a imita. Ambos reconstroem o passado em termos do presente, mas enquanto a história torna passado compreensível, o patrimônio tende a torná-lo agradável. Podemos relativizar esta afirmação de Lowenthal com exemplos de museus do Holocausto! Mas não podemos desconsiderar que na maioria dos casos, patrimônio seleciona, higieniza e opera uma curetagem nas informações e bens culturais, para atender à demanda nacionalista ou turística, ou ainda à onda universalizante da UNESCO” [TAMASO, 2012, p. 31].

 

É difícil afirmar que o Parque Xavier ou outras exposições com enfoque voltado para o período em que o cristianismo foi difundido no Japão se configuraram como patrimônios, mas julgamos que algumas dessas construções podem estar ligadas ao processo de amenização do passado. Por mais que esses monumentos consigam evidenciar um período histórico, eles são incapazes de demonstrar as complexidades ocorridas, tal como o embate das diferentes culturas ocorrido no arquipélago japonês em relação ao processo de propagação do cristianismo. Esses monumentos acabaram, de alguma forma, enaltecendo os jesuítas daquela época, que atuaram como divulgadores da fé cristã, entretanto esta não deve ser, obviamente, a prerrogativa dos historiadores que buscam estudar a passagem dos membros da Companhia de Jesus em território japonês, ainda mais se levarmos em consideração que muitos pesquisadores ocidentais, com a intenção de trabalhar com esse tema, possuem, como fonte, apenas os relatos dos evangelizadores católicos. Conforme afirma Pierre Nora:

 

“O movimento da história, a ambição histórica não são a exaltação do que verdadeiramente aconteceu, mas sua anulação. Sem dúvida um criticismo generalizado conservaria museus, medalhas e monumentos, isto é, o arsenal necessário ao seu próprio trabalho, mas esvaziando-os daquilo que, a nosso ver, os faz lugares de memória” [NORA, 1993, p. 9].

 

Anteriormente, citamos um segmento do texto de Albieri [2011], em que é utilizado um vocábulo que se tornou célebre no trabalho desenvolvido por Pierre Nora. Vejamos como o historiador francês exemplifica o que seriam os denominados lugares de memória:

 

“Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. É a desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção. O que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artifício e pela vontade uma coletividade fundamentalmente envolvida em sua transformação e sua renovação. Valorizando, por natureza, mais o novo do que o antigo, mais o jovem do que o velho, mais futuro do que o passado. Museus, arquivos, cemitérios e coleções, festas, aniversários, tratados, processos verbais, monumentos, santuários, associações, são os marcos testemunhas de uma outra era, das ilusões de eternidade. Daí o aspecto nostálgico desses empreendimentos de piedade, patéticos e glaciais. São os rituais de uma sociedade sem ritual; sacralizações passageiras numa sociedade que dessacraliza; fidelidades particulares de uma sociedade que aplaina os particularismos; diferenciações efetivas numa sociedade que nivela por princípio; sinais de reconhecimento e de pertencimento de grupo numa sociedade que só tende a reconhecer indivíduos iguais e idênticos” [NORA, 1993, p. 12-13].

 

Mediante o exposto, os lugares de memória são resquícios que expõem aspectos do passado, que não são mais recorrentes e, por isso, necessitam ser rememorados. O historiador francês menciona que:

 

“Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea [...] se o que eles defendem não estivesse ameaçado, não se teria, tampouco, a necessidade de construí-los. Se vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam inúteis” [NORA, 1993, p. 13].

 

No que se refere ao contexto japonês, verificamos, de igual modo, que os monumentos referentes à disseminação do cristianismo no século XVI possivelmente se configuram como lugares de resgate à memória, evocando assim um sentimento voltado para o processo histórico interrompido, com exígua expressão para a realidade japonesa. Desde os tempos das investidas de Francisco Xavier, os missionários católicos visavam tornar o cristianismo expressivo no Japão. Por sua vez, a expansão cristã foi obstruída, e atualmente o país asiático é formado por uma comunidade minguada de cristãos. Ressaltamos que além da difusão do cristianismo entre os séculos XVI e XVII, ocorreu, pela primeira vez no Japão, grande influência da cultura europeia, sobretudo da portuguesa, existindo ainda hoje fragmentos da influência lusitana no país asiático. José Yamashiro discorre que:

 

 “No japonês atual existem termos derivados do português, incorporados ao vocabulário de uso cotidiano. Alguns exemplos: kappa - capa, pan - pão, karuta - carta de baralho, kasutera - bolo de Castela, pão-de-ló, biidoro – vidro, furasuko - frasco, jiban – gibão, kapitan – capitão (de navio), birôdo – veludo. Temos ainda termos religiosos: Deosu – Deus, baterem - padre, iruman – irmão, kirishintan – cristãos, Kirisuto – Cristo, amen – amém, Êsu ou Yesu – Jesus, katoriku – católico, misa – missa, santa – santa, Santamaria – Santa Maria, etc [YAMASHIRO, 1989, p. 141-142].

 

Recentemente, tivemos a oportunidade de pesquisar o processo inicial da difusão da religião cristã no Japão. Indubitavelmente, reconhecer que alguns aspectos pertencentes a esse período da história ainda continuam sendo evocados no Japão nos faz acreditar que a nossa temática de pesquisa não se encontra tão distanciada da realidade atual, como inicialmente acreditávamos. Recentemente, em decorrência dos protestos antirracistas ocorridos em várias localidades do mundo, a discussão sobre a significância ou não das esculturas artística dos personagens do passado ligados ao processo da escravização e do colonialismo ganharam expressivo destaque. Dentro desse contexto, podemos ponderar como os diferentes japoneses enxergam os monumentos que enaltecem os missionários católicos. Talvez, diferentes grupos da sociedade nipônica reprovem a existência de tais construções, pois, possivelmente, veem o período em que a crença cristã se propagou no arquipélago japonês como uma tentativa de intervenção estrangeira e negação dos valores culturais tradicionais do Japão.

 

Conclusão

Neste trabalho, procuramos ressaltar a dimensão que o conhecimento historiográfico pode representar para a esfera pública. No que concerne ao tema do texto, que envolve a rememoração do passado por meio dos monumentos, acreditamos que esse assunto pode ser utilizado por historiadores, com o intuito de atrair pessoas fora da esfera acadêmica, despertando assim o interesse por temáticas históricas. Por certo, enfocamos no processo de rememoração histórica ocorrida no Japão, no entanto, o Brasil é igualmente um dos muitos países em que ocorre um processo de reminiscência - muitas vezes enaltecedor - em relação ao seu passado histórico por meio de denominações de vias e instituições que evocam figuras do passado. Souza [2001] ressalta esse processo, indicando ainda a utilização de datas comemorativas como o dia de Tiradentes, solenizado em 21 de abril. Eventualmente, estudiosos de história e professores de diversas áreas precisam, na medida do possível, inserirem-se nas amplas discussões que a rememoração pode suscitar nas pessoas.

 

Referências

Willian Carlos Fassuci Larini é mestre e doutorando pelo Programa de Pós Graduação em História (PPH) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atualmente é bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

 

ALBIERI, Sara. História Pública e consciência histórica IN: ALMEIDA, Juniele R.; ROVAI, Marta G. O. Introdução à História Pública. São Paulo: Letra e Voz, p. 19- 27, 2011.

 

ARIMURA, Rie. La iglesia de San Felipe de Jesús y el Museo de los 26 Mártires en Nagasaki: un legado de México. HISPANICA/HISPÁNICA, v. 2014, n. 58, p. 113-143, 2014.

 

COSTA, João Paulo Oliveira. O Cristianismo no Japão e o Episcopado de D. Luís Cerqueira. Tese de Doutorado. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1998.

 

LEÃO, Jorge Henrique Cardoso. A Companhia de Jesus e os Pregadores Japoneses: Missões jesuíticas e mediação religiosa 1549-1614. Tese de Doutorado. Niterói: Universidade Federal Fluminense. 2017.

 

NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.

 

SOUZA, Célia Ferraz. O sentido das palavras nas ruas da cidade. Entre as práticas populares e o poder do Estado (ou público) IN: BRESCIANI, Maria Stella (org) Palavras da Cidade, Porto Alegre: Ed. UFRGS, p.137-154, 2001.

 

TAMASO, Isabela. Por uma distinção dos patrimônios em relação à História, à memória e à identidade. IN: PAULA, Zueleide C. MENDONÇA, Lúcia G. ROMANELLO, Jorge L. (org.) Polifonia do patrimônio. Londrina: Editora EDUEL, p. 21-46, 2012.

 

YAMASHIRO, José. Choque luso no Japão dos séculos XVI e XVII. São Paulo: IBRASA, 1989.

 

YUSA, Michiko. Religiões do Japão. Lisboa: Edições, v. 70, 2002.

6 comentários:

  1. Caro Willian,
    Estive pesquisando recentemente sobre relatos indianos sobre a presença portuguesa na Ásia no século XVI. E, de fato, há uma outra percepção, diversa daquela proposta pelos europeus.
    Dessa forma, eu gostaria de perguntar como a historiografia japonesa coetânea ou mesmo de caráter contemporâneo percebeu o processo de disseminação do cristianismo.
    Ricardo Shibata

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    1. Olá Ricardo! Grato pela pergunta! A sua questão é de fato muito pertinente. Infelizmente ainda me debrucei profundamente em relação às obras dos historiadores japoneses no que concerne a óptica deles em relação à época em que a crença cristã foi inicialmente propagada no Japão. O meu conhecimento em relação ao idioma japonês é diminuto, o que torna ainda mais difícil o contato com as obras historiográficas japonesas. Por sua vez, acredito que existam algumas obras de historiadores japoneses traduzidas para outros idiomas. Pretendo num futuro próximo ter contato com alguns pesquisadores japoneses que possam me fazer compreender melhor a visão historiográfica japonesa em relação à época em que o cristianismo foi difundido. Igualmente acredito que seria interessante realizar uma investigação em relação à concepção dos japoneses de diferentes gerações em relação a esses monumentos. Acredito que seja possível que se tenha originado no meio acadêmico do Japão algum trabalho com tal proposta. Atenciosamente. Willian Carlos Fassuci Larini.

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  2. José Carvalho Vanzelli3 de outubro de 2022 às 14:33

    Olá, Willian, tudo bem? Primeiramente, parabenizo por seu trabalho. É realmente interessante como você traz a rememoração (vias espaços públicos) por parte dos japoneses da presença de um povo que foi até lá propagar seus valores e sua religião. Sei que do lado português, ao menos no campo das artes (especialmente literatura e cinema), quando o Japão é representado, há, ainda em produções muito recentes, uma quase exclusiva rememoração dessa presença lusitana no Japão do XVI. Mas, na maioria dos casos, há o destaque de um “heroísmo português”, em tons bastante ufanistas e nacionalistas. Então, não deixa de ser curioso como os japoneses não fazem o “caminho inverso” (ou seja, não destacam uma resistência contra esses valores externos e exaltam um “heroísmo japonês” de manutenção de valores). Pelo menos não em cidades que contaram com forte presença jesuítica no Japão daquela época, como Kagoshima e Nagasaki.
    Com isso, fiquei curioso com uma questão: você crê que esse movimento de rememoração destacado em seu texto é algo característico do Japão ou acontece de forma similar em outros países asiáticos, como China, Coreia, Índia, etc.?

    Mais uma vez, parabéns e obrigado!

    Um abraço,

    José Carvalho Vanzelli

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    1. Olá José! Grato pelos seus elogios em relação ao trabalho! Primeiramente gostaria de deixar registrado que você me fez refletir sobre algo interessante, pois, nunca havia pesquisado a forma como se decorreu artisticamente em Portugal a interpretação em relação ao Japão. Possivelmente em um futuro próximo buscarei informações sobre esse assunto. Quanto a sua pergunta, acredito que para responder precisamente a essa indagação seria necessário investigar mais profundamente se há em outras nações asiáticas algum processo de rememoração em relação ao período histórico em que se decorreu a intervenção lusitana ou de outras nações europeias. Recentemente pesquisando, tomei conhecimento que existem duas estátuas do padre jesuíta Matteo Ricci: uma em Macau e a outra em Pequim, na China. De igual modo, existe em Macau uma estátua do explorador português cognominado de Jorge Álvares. Não tenho conhecimento se existem esses tipos de construções na Índia. As presenças de tais monumentos atestam que supostamente na China talvez ocorra também alguma forma de rememoração edificante em relação a esse período, mas torna-se complexo definir se tal lembrança é equivalente ao que se decorre em algumas localidades japonesas. Mesmo no que concerne ao Japão é difícil definir (sem um estudo mais aprofundado) o grau de importância desses monumentos para os japoneses no que se refere ao processo de rememoração do passado. Além das estátuas, tenho conhecimento de que em Nagasaki se decorre ainda hoje um rito num festival que soleniza a passagem lusitana por lá, bem como as obras de um célebre escritor japonês do século XX denominado de Shusaku Endō que escreveu pelo menos dois romances históricos sobre esse período. Obrigado mais uma vez pela sua colaboração. Atenciosamente.
      Willian Carlos Fassuci Larini.

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  3. Boa tarde, Sr. Larini. Parabenizo-o por sua pesquisa e gostaria de acrescentar em seu trabalho por meio da recomendação bibliográfica.
    No princípio do texto, o Sr. comenta sobre a possibilidade da organização urbana japonesa ser distinta daquela que vigora no Ocidente como um todo. Nesse sentido há dois textos de Barthes que pode vir muito bem a calhar. Eles são “Centro da cidade, centro vazio” e “Sem endereços”. Ambos se encontram na obra “Império dos Signos”.
    Outra recomendação que gostaria de lhe fazer é sobre a musealização e o processo de preservação da memória. Existe um texto de Didi-Huberman denominado “Cascas”. Embora retrate Auschwitz-Birkenau, as reflexões suscitadas certamente serão proveitosas.

    Atenciosamente,
    João Antonio Machado.

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    1. Olá João! Grato pelas recomendações! Num futuro próximo, quando me aprofundar mais sobre esse tema, eu levarei em consideração as suas indicações. Atenciosamente.
      Willian Carlos Fassuci Larini

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