O
cotidiano nipônico é percebido e organizado por um elemento que valoriza
estruturas em transição, que destaca o intervalo, o inacabado, o vazio. A
palavra japonesa que incorpora essas e outras semânticas é Ma, na escrita de
ideogramas 間.
Sua conceituação é difícil e não encontra concordância entre pesquisadores. Por
não possuir plena definição ou completude, Ma existe enquanto possibilidade,
enquanto algo em vias de ser. É próprio dessa noção a não anuência a assumir
“aparência” única, metamorfoseando a cada contexto espaço-temporal. “Ma não
possui explicação lógica e que ele é Ma justamente porque não possui essa
lógica. E quando ela é forçada, o Ma distancia-se da sua essência” [KAWAGUCHI
apud OKANO, 2012, p. 14]. Podemos dizer que existe uma complexidade relacional
em Ma e que sua existência se encontra em uma região anterior à do objeto, da
concretude, do fenômeno.
Ma
se apresenta para a cultura japonesa como um modus operandi vivo, um elemento tão presente e arraigado em suas
manifestações culturais, que os japoneses encontram dificuldades em expressar
um significado claro e que abarque toda sua dimensão. Vive-se Ma cotidianamente, nas pequenas e nas
grandes situações; na arquitetura, na arte, na literatura, no vestuário, na
culinária, na fala, nos gestos, no andar, caracterizando o ser e o estar dos
japoneses. É importante ressaltar que a noção e o termo Ma estiveram restritos
ao território japonês até 1978, quando foi realizada em Paris a exposição Ma: Espace-Temps du Japon sobre o tema,
e o mundo ocidental tomou conhecimento de sua existência.
O
termo teria sido usado pelos japoneses desde o século XII [durante a era
Kamakura, 1185-1334]; sua noção, porém, é muito mais antiga e está relacionada
à demarcação de um espaço vazio para uma aparição divina. Esta é a noção
primordial de Ma: a existência de um espaço vazio à espera de uma manifestação
divina que ocorrerá a qualquer momento e instaurará um complexo relacional
entre natureza, homens e deuses. Essa
área vazia e demarcada é encarada como um espaço de potencialidade e possibilidade,
um intervalo espacial para espera, um entre que ata o vazio à ocupação divina
em sua gloriosa aparição – que pode acontecer ou não. Essa divindade veicula-se
ao xintoísmo, mas também ao budismo, uma vez que valoriza o vazio potencial, a
espera e a não ação. Devido a essa noção, um espaço visualmente vazio é
considerado área sagrada.
Em
virtude de suas difíceis compreensão e assimilação, a pesquisadora Michiko
Okano sugere estudar o Ma como um quase signo, como um operador cognitivo. Esse
posicionamento enfatiza os meios pelos quais Ma se mostra perceptivo,
reconhecível e assim estabelece comunicação com o mundo, com as pessoas e as
coisas. Compreender Ma como um quase signo permite valorizá-lo enquanto
percepção, em detrimento de um confronto estritamente conceitual. Ma enquanto
possibilidade, enquanto quase signo, pode ser percebido pelos sentidos ao tomar
forma na arte, no teatro, na arquitetura, por exemplo. Ao concretizar no mundo
sua possibilidade e seu intervalo, Ma se torna passível de reconhecimento,
identificação e discriminação, sendo assim possível estudar suas diversas
acepções.
Nem
mesmo o ideograma de Ma [間] apresenta definição objetiva do termo. Ele é formado
por outros dois ideogramas, um referente ao sol, outro referente à porta. Porta
denota passagem, caminho e transição; afinal, é por meio dela que conseguimos
ir de um lugar para o outro; é um espaço fronteiriço que liga dois ambientes.
Podemos dizer que o ideograma de Ma valoriza o entre, o intervalo, a fronteira,
ao indicar o sol, a iluminação, como aquilo que encontramos nesse espaço
entre.
門 [porta] + 日 [sol] = 間 [entre espaço]
A
paisagem ocidental foi pensada e elaborada para se tornar similar à natureza. A
ideia de paisagem assegura uma visão de conjunto, composta e enquadrada, e, ao
mesmo tempo, constrói nossas percepções sobre o espaço. Compreendemos paisagem
como aquilo que orienta as distâncias, os direcionamentos, os pontos de vista,
as situações, as escalas. A pintura renascentista encontrou na invenção da
perspectiva metodologia capaz de representar e ordenar o espaço. A perspectiva
é uma estrutura geométrica e lógica do espaço. Se o espaço ocidental é marcado
pela dominação e ordenação empreendidas pela perspectiva, o espaço japonês, por
sua vez, é marcado pelo Ma, engendrando outras possibilidades, diferente
daquelas promovidas pela perspectiva. Trata-se de espacialidade caracterizada pelo
vazio, entendendo tal vazio como mediador entre corpos, um espaço que favorece
o movimento, a relação, a interconexão. Essa mediação ou aproximação pode
aparecer como intervalo, passagem, pausa, não ação, silêncio. Ao mesmo tempo em
que a espacialidade Ma pensa a divisão – afinal, o vazio, o intervalo, existe
entre dois elementos – pensa também a relação.
Günter
Nitschke aborda a noção Ma menos como algo físico, objetivo, e mais pelo
caráter subjetivo, imaginativo. Defende Ma como uma consciência do espaço que
ele se refere como “place making”, um lugar que ainda se encontra em processo
de ocorrência – por isso os símbolos externos de Ma, sua manifestação física,
podem aparecer de qualquer tamanho ou forma. Na acepção japonesa, tempo e
espaço estão emaranhados e possuem uma interdependência que não ocorre na noção
ocidental de tempo e espaço. No Ocidente, tempo e espaço são absolutos,
homogêneos e infinitos, enquanto no Japão eles se relacionam e são
indissociáveis. O tempo é percebido a partir da movimentação em determinado
espaço, e o espaço é reconhecido por sua relação com o fluir do tempo. Espaço e tempo estão atrelados também à noção
de “aqui” e “agora”, que teria sido desenvolvido graças aos períodos isolacionistas
que o país enfrentou, fechando suas portas do resto do mundo durante as eras
Heian [794-897] e Edo [1603-1867]. Isolando-se, a atenção se centraria no aqui
e no agora de seu próprio território.
No
palco do teatro Nô existe uma ponte [hashigakari] que une a sala de preparação
do ator ao espaço em que se fará a encenação; essa ponte é considerada elemento
fundamental para a realização do espetáculo. As peças encenadas começam antes
mesmo de os atores chegarem ao palco, dentro dessa sala em que vestem as roupas
e colocam as máscaras. O momento do atravessar é aguardado com atenção, aquela
passagem, aquela ponte, empreende um caminho da escuridão à luz, do mundo dos
mortos ao mundo dos vivos; o ator atravessa tempos e espaços longínquos. A
ponte, medindo cerca de três metros, funciona como zona intervalar, um entre
que une inúmeros elementos e determina relações entre vida e morte, entre os
vivos e os espíritos, entre o humano e o divino; ao percorrê-la, o ator trilha
metaforicamente muitas milhas, encontrando antepassados, grandes mestres, visitando
tempos antigos. Compreendemos o espaço da ponte hashigakari como um espaço
entre.
Para
chegar à casa da cerimônia do chá é preciso atravessar uma passarela de pedras
conhecida como jardim-ruela ou jardim-passarela [roji-niwa]. O visitante salta
de pedra em pedra até chegar à entrada da casa. A distância entre uma pedra e
outra é considerada um Ma, uma vez que é essa distância que determina o tempo
que se leva atravessando a passarela, pois são as pedras que estabelecem o
ritmo da caminhada. A trajetória pela passarela de pedras compreende uma
apreensão daquele espaço como algo que proporciona uma experiência, uma
vivência. Segundo Okano, é recomendável criar um jardim-ruela com apenas seis
pedras para que a caminhada seja lenta e a pessoa possa experimentar o espaço
ao redor e se relacionar individualmente com ele. Ao atravessar a passarela de
pedras, ouvem-se o canto dos pássaros, o sussurro da água, o som dos próprios
pés batendo na pedra, sente-se o aroma das flores, das plantas, das árvores, observa-se
tudo com muito zelo. Cruza-se o jardim-ruela fazendo algumas pausas; disso
resulta o fato de cada pessoa ter diferentes visões do ambiente ao redor. O
singelo caminhar em um jardim une distintas experiências e percepções em ato
único, experiência sonora, tátil, visual. O ambiente ao redor, o jardim, a
passarela de pedras, todo o espaço deixa de ser apenas físico para se tornar
também perceptível, sensorial. Essa experiência permite entender o espaço não
como um elemento estático e imutável, mas como um complexo em constante
movimentação, relacionável, que se apresentará de diversas maneiras a cada vez
que for acessado. O efêmero, o passageiro, são elementos caros ao Ma, por isso
o pavilhão que abriga a cerimônia do chá é tão emblemático, uma vez que sua
organização se faz em função dos convidados que estarão presentes.
A
arquitetura matizada por Ma é marcada pelo movimento, pelo deslocamento, pela
ação. O homem não é pensado como elemento estático em seu interior, mas em
movimento. É essa a razão para encontrarmos a existência de tantos elementos
móveis, transparentes, efêmeros na arquitetura japonesa, empreendendo relação
similar à do jardim-ruela ao amarrar experiências e percepções diferentes.
Sendo assim, podemos argumentar que a arquitetura tradicional japonesa é um Ma
por habitar esse “entre” em que diversos elementos se encontram criando um
ambiente heterogêneo e polissensorial. Os exemplos encontram-se naquelas
construções cujos cômodos não possuem uso específico; no chão há apenas
tatames, e podem ser utilizados de inúmeras formas. Ao trazer uma mesa dobrável
para o ambiente, ele se torna um espaço para refeições, ou jogos de carta e
tabuleiro. As vedações móveis da casa ampliam ou diminuem o espaço conforme o
interesse. O biombo tem uso similar ao fragmentar o espaço. Outros exemplos de
Ma na arquitetura: cortinas de tecido ou bambu; painéis de correr de papel
translúcido ou opaco; grandes janelas de vidro trazendo o exterior para o
interior; os espaços que separam e ao mesmo tempo unem ambientes internos e
externos da casa, gerando um espaço híbrido; o hall de entrada que media
espaços públicos e privados.
O
arquiteto e pesquisador Fred Thompson afirmou que, devido ao seu aspecto
dinâmico, a melhor maneira de descrever Ma é pelo gerúndio, e que Ma não é
exatamente um nome. Segundo ele, Ma é melhor representado pela palavra
“espacializando” [spacing], que consegue dimensionar tempo e espaço, referir-se
a um elemento que está em processo de ocorrência. No Museu de Arte Chichu, em
Naoshima, Japão, há uma série de labirínticos corredores que, a princípio, não
possui outra função se não permitir a transição entre um lugar e outro. Esses
corredores estão mergulhados em penumbra, e seu percurso proporciona ao
visitante a perda de referências de espaço e tempo. Segundo Okano, esses
corredores ligam o homem à natureza e à arquitetura, estabelecendo uma conexão
entre o construído e o natural. É um espaço que organiza a movimentação de um
ambiente para o outro, um espaço para acomodação, preparação e adaptação
gradual desse corpo em movimento. Faz-se a experiência da espacialidade Ma com
o corpo, por meio dos sentidos que são igualmente estimulados. Corpo e lugar se
relacionam e, nessa relação, se constrói uma comunicabilidade, que não é
somente visual, mas polissensível. A participação, portanto, é elemento de
grande importância para o entendimento do espaço japonês, da espacialidade Ma;
porque é a participação do homem que constrói a noção da espacialidade. A
construção do espaço se faz em conjunto com a interação humana.
No
cinema, por sua vez, Ma se apresenta nas cenas esvaziadas, com poucos
elementos, nos diálogos pausados, em narrativas com pouco enredo, na construção
de uma montagem pouco óbvia, em sequências contemplativas. Em Era uma vez em Tóquio [1953], Yasujiro
Ozu apresenta uma narrativa cheia de imagens de corredores vazios, janelas, o
trem passando, um campo onde crianças brincam, diálogos pausados, detalhes
banais flagrados por uma câmera que se movimenta muito pouco. Essas cenas
"esvaziadas" estabelecem uma relação intervalar com as outras cenas
do filme e também com o espectador.
Recheando seu filme de cenas aparentemente triviais, Ozu nos obriga a
prestar atenção àquilo que é cotidiano e simples das relações humanas. A ênfase
ao vazio que permeia o cinema de Ozu não indica o nada ou a ausência da
presença humana, mas outras possibilidades de relações entre as pessoas, entre
as pessoas e o espaço ao redor; uma relação que não está centrada no olhar do
homem. Ozu nos incita a completar as lacunas do seu filme com nossas vivências;
cada um completará a sua maneira, tornando a narrativa viva, sempre se
transformando a cada exibição.
Em
troca de cartas com o compositor Hans-Joachim Koellreutter, Satoshi Tanaka,
professor da Universidade de Tóquio, afirma que a estética japonesa clássica
pode ser chamada de estética delineativa, ou seja, ela não apresenta
determinada coisa em sua completude; apenas delineia, sugere. Na arte, essa
estética que delineia desafia o espectador à participação, a construir junto
com o artista o trabalho. Essa participação tem sentido interpretativo,
subjetivo e pessoal. O professor Satoshi
Tanaka argumenta que a arte ocidental pode ser classificada em três segmentos:
impressionista, expressionista e construtivista. “Nós, japoneses, no entanto,
ainda poderíamos acrescentar uma quarta: delineativa” [TANAKA apud
KOELLREUTTER, 1984, p. 31]. A
dramaturgia do teatro Nô não necessita que o ator realize inúmeras expressões
faciais para o desenvolvimento da narrativa e seu entendimento, tanto que são
usadas máscaras para isso. Basta que a expressão e os sentimentos estejam
delineados, sugeridos. Ao tratar do teatro Nô, Zeami, maior dramaturgo do
teatro japonês, afirmava que escondendo consegue-se a florescência completa. Na
pintura sumi-ê, o artista não necessita pintar as coisas tal como elas são,
basta reduzir seus elementos à forma essencial.
As
sutilezas e o vazio nos filmes de Ozu se assemelham às sutilezas e o vazio de
uma pintura sumi-ê e dos versos reduzidos ao essencial de um haikai.
em
profundo silêncio
o
menino, a cotovia
o
branco crisântemo [BASHÔ, Matsuo. In: RODRIGUES, 1988, p. 13].
Referências
Victor
Vidal é doutorando em Artes Visuais pelo PPGAV-UFRJ, na linha de pesquisa em
História e Crítica da Arte. Sua pesquisa aborda as relações entre o grupo
japonês Gutai e o movimento concretista no Brasil.
KOELLREUTTER,
Hans Joachim. À procura de um mundo sem “vis-à-vis”: reflexões estéticas em
torno das artes oriental e ocidental. São Paulo: Editora Novas Metas, 1984.
NAGIB,
Lúcia; PARENTE, André. Ozu: o extraordinário cineasta do cotidiano. São Paulo:
Editora Marco Zero, 1990.
OKAKURA,
Kakuzo. O livro do chá. São Paulo: Ediouro, 1993.
OKANO,
Michiko. Ma: entre-espaço da arte e comunicação no Japão. São Paulo: Annablume;
Fapesp; Fundação Japão, 2012.
OOSTERLING,
Henk. Ma or sensing time‐space. Towards a culture of the inter.
Berlin: Transmediale. 05 Basics, 2005.
OSHIMA,
Hitoshi. O pensamento japonês. São Paulo: Escuta, 1991.
RODRIGUES,
Alberto Marsicano. Haikai. São Paulo: Editora Oriento, 1988.
MA:
espace-temps du Japon. Paris: Musée des arts décoratifs, 1978.
Prezado Victor, parabéns pelo trabalho. Achei muito interessante seu texto e as considerações em torno do Ma na sociedade japonesa. Pensando que os exemplos destacam aspectos da arte tradicional (arquitetura tradicional, cerimônia do chá, sumiê, haikai, etc.), gostaria de saber se você poderia comentar um pouco sobre como o Ma pode ser percebido/sentido na sociedade “globalizada” japonesa. Ou melhor, se na vida cotidiana urbana do século XXI, com um modo de vida mais padronizado nos grandes centros urbanos, se é possível sentirmos a presença ainda hoje do Ma no modo de vida japonês, seja no cotidiano, seja em manifestações artísticas contemporâneas que sofreram influências ocidentais.
ResponderExcluirMais uma vez, parabenizo pelo trabalho.
Um abraço,
José Carvalho Vanzelli
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, obrigado pela pergunta!
ExcluirMa é um elemento vivo e está presente em todos os aspectos da vida e cultura japonesa. Como indicado no texto, não existe uma definição engessada de Ma, podendo se metamorfosear de inúmeras formas. Sendo assim, no ambiente contemporâneo, Ma se manifesta na arquitetura que pretende unir interior e exterior, em um momento de silêncio durante uma conversa, em um jardim de pedras, cenas de um filme em que ocorre poucas coisas, etc. Ma pode ser entendido como um espaço, um momento, vazio que permite a transformação de algo ou alguém.
Abraços!
Victor Raphael Rente Vidal
Muito obrigado pelas respostas
ExcluirAbraços
José
Bom dia, Sr. Vidal. Parabéns por sua instigante pesquisa. Essencialmente tenho duas questões para o Sr.
ResponderExcluirConforme consta nas referências, percebi que o Sr. estuda o grupo Gutai. Na mesma década de sua formação (e sobretudo na posterior) igualmente vinha despontando uma virada no universo cinematográfico japonês. Agentes de vanguarda ousaram romper com técnicas de filmagem, valores sociais e morais e limites do que até então poderia ser filmado, proporcionando sensorialidades muito peculiares que carimbaram um momento histórico. Neste sentido, uma obra em específico, “Túmulo do Sol” (1960), de Nagisa Oshima (mas por que também não outras experimentais do mesmo autor), parece romper com o quase signo linguístico “ma”. Tal impressão surge devido semelhante trabalho não deixar intencionalmente espaços vazios ao longo da narrativa (como ocorre em Ozu e Kitano, vide as referências de Okano em sua pesquisa de doutorado). Gostaria de saber qual o posicionamento do Sr. em relação a essa questão. Mesmo “ma” estando implícito no inconsciente coletivo nipônico, graças aos milênios que seu surgimento remonta, o Sr. tem conhecimento de movimentos artísticos ou de personalidades que dão brechas de ruptura de ruptura com este “conceito-senso comum”?
Como bem pontuado e evidenciado no decorrer de seu texto, “ma” se faz evidente na pintura, arquitetura, cinema, no cotidiano em geral. Mas e a literatura não poética? Como perceber “ma” nela? Seriam as descrições da natureza em torno ou os devaneios ao estilo “shinkankakuha” que tanto aparecem em Kawabata (que muita influência sofreu do “haikai”) uma marca registrada?
Permita-me outra pergunta, para definitivamente encerrar as reflexões. Como fica “ma” quando há um apreço pelo exagero e ocupação de todo os espaços possíveis, tal qual acontece na televisão japonesa?
Atenciosamente,
João Antonio Machado.
Olá, obrigado pelas questões!
ResponderExcluirAinda que Ma esteja presente na essência da vida e cultura nipônica, essa noção não é a única característica dessa cultura. Muitos outros elementos, como bem pontuado pelo senhor, compreendem a cultura japonesa. No entanto, o apreço pelo vazio potencial ainda é um elemento norteador. O grupo Gutai, por exemplo, possuía como ambição um diálogo com as tendências artísticas internacionais, de modo que existiu um esforço para se "aproximar" daquilo que era produzido na Europa e América do Norte. Nesse sentido, era importante deixar de lado certas características em direção ao diálogo com outras culturas e visões de mundo.
Sobre a literatura não poética, o exemplo dado pelo senhor é perfeito. Descrições de natureza, momentos em que poucas ações ocorrem, conflitos que permanecem em aberto ao final da narrativa, elipses. Esses são algumas características de Ma na literatura. Banana Yoshimoto e Haruki Murakami, ainda que sejam autores bastante influenciados pela literatura estrangeira, apresentam muitas dessas características em suas obras.
abraços!
Victor Raphael Rente Vidal
Obrigado pela resposta e sugestões de leitura.
ResponderExcluirAbraço!
João Antonio Machado.