AS CRISES QUE ORIGINARAM AS MIGRAÇÕES E A DIÁSPORA CHINESA EM MEADOS DO SÉCULO XIX por Maria Teresa Lopes da Silva


Durante mais de dois mil anos a organização política, a estrutura social e o modo de produção na China sofreram poucas alterações. O império estava dividido em várias regiões, cada uma com a sua estrutura administrativa, identidade económica e social, mas unidas pelo dever de obediência ao imperador. Nos finais do século XVIII apareceram os primeiros sinais inquietantes de degradação do Estado e do equilíbrio social, porque a população começou a crescer e a economia, fundamentalmente agrária, deixou de responder às novas exigências (Spence, The search for modern China).

 

As despesas da aristocracia e da corte manchu aumentaram significativamente nos últimos anos do governo de Qianlong (1736-1799), facto que arruinou irremediavelmente as finanças públicas. Para tentar inverter esta situação, o imperador centralizou o poder e procurou conciliar os interesses locais, regionais e centrais, que muitas vezes se opunham. No entanto, a nova estrutura político-administrativa revelou-se ineficaz, por falta de coordenação, excessiva e minuciosa regulamentação e ao grande atraso com que as decisões imperiais chegavam às províncias mais longínquas, facilitando assim o aumento da corrupção. Prova-o o facto de muitos cargos administrativos serem comprados, incluindo as magistraturas, procurando depois os seus titulares reaver o dinheiro investido. Por outro lado, o governo central também estava mal informado sobre a situação das províncias e a evolução das campanhas militares.

 

Ao nível demográfico, entre 1741 e 1850 a população chinesa passou de cerca de cento e quarenta e três milhões para quatrocentos e trinta milhões (Hsu, The rise of modern China). À semelhança dos séculos anteriores, a terra pertencia a uma pequena elite, que possuía entre 50 a 60% das terras aráveis. Aproximadamente 10% das propriedades eram dos funcionários do Estado e apenas cerca de 30% estava na posse dos quase quatrocentos milhões de agricultores.

 

Sendo assim, a esmagadora maioria dos camponeses não eram proprietários de terras e gastavam quase 50% da produção no pagamento das rendas. Estas eram pagas sobretudo em dinheiro, pelo que cerca de 30% do respectivo valor era desperdiçado no câmbio de sapecas de cobre, cada vez mais desvalorizadas, por moedas de prata. O crescimento da população e a ausência de novos recursos contribuíram assim para a subida dos preços e para o empobrecimento geral da população. Por todas estas razões, a partir de 1795 começaram a surgir revoltas de camponeses no Noroeste da China e em Henan, Hunan e Guizhou e aumentou a pirataria nas costas do Guangdong e de Fujian (Fairbank, The great chinese revolution (1800-1985).

 

Pelos mesmos motivos, no ano de 1796 deflagrou no Norte da China a rebelião camponesa do Lótus Branco, extinta em 1804, e reactivada entre 1811 e 1814, na bacia inferior do rio Amarelo, que contava com a cumplicidade de altos funcionários da Corte, também eles descontentes com a contenção financeira do imperador Jiaqing, sucessor de Qianlong.

 

Estas sublevações foram controladas, mas as suas causas mais profundas continuaram bem vivas, nomeadamente a escassez de terras aráveis e o aumento das rendas. Nem mesmo os arroteamentos e a difusão de novas culturas, como o milho e o amendoim, conseguiram atenuar o problema. Não admira, por isso, que tenham aumentado as revoltas campesinas ao longo de toda a primeira metade do século XIX. Entre 1832 e 1833, por exemplo, o Sul da China, entre Hunan e Guangxi, foi devastado por grandes insurreições motivadas pela posse da terra.

 

Em meados do século XIX as regiões chinesas mais densamente povoadas eram o delta do rio Yantze, os distritos do Norte e, no Sul, a região do Guangdong. Nesta última província, que forneceu maior número de emigrantes para Cuba e para o Peru, a população concentrava-se em pequenos vales, sobretudo entre o rio Si Kiang e os seus afluentes, Pei Kiang e Tong Kiang, que formam o delta do rio das Pérolas. Junto a estes rios existiam milhares de canais, diques e riquíssimas planícies aluviais que, no início da segunda metade do século XIX, faziam desta região uma das mais férteis de toda a China.

 

Sendo assim, todas as parcelas de terra eram ínfimas e rigorosamente medidas. Uma família ocupava em média um hectare de terra arável, outras vezes apenas metade, ou até menos. Não eram criados animais para auxiliar nas actividades agrícolas porque a terra era demasiado rica para ser transformada em pastos, pelo que todo o trabalho era feito manualmente, com recurso a alfaias construídas pelos próprios agricultores. Nesta economia de subsistência não havia contratação de mão-de-obra, nem comercialização de produtos. A maior parte da população vivia em barcos e às vezes o espaço era até exíguo para os amarrar à terra. Se ocorresse algum desastre natural, formavam-se grupos de mendigos que procuravam alimentos noutras aldeias ou cidades, mas muitos sucumbiam à fome (Huc, L’empire chinois).

 

Por outro lado, desde a primeira metade do século XIX que a sociedade chinesa, particularmente no Guangdong, estava a sofrer alterações devido à ambição dos comerciantes britânicos introduzirem o ópio no Império (Collis, Foreign Mud; Sheng, From the opium war; Fairbank, Trade and diplomacy; Osterhammel, «Britain and China (1842-1914)». A importação crescente desta mercadoria ilegal, sobretudo a partir da década de 1830, criou uma complexa estrutura de relações e de novos empregos, como marinheiros, trabalhadores portuários, piratas, contrabandistas, traficantes e funcionários imperiais, que iludiam as proibições oficiais a troco de benefícios particulares. Porém, estas novas profissões não conseguiram de forma alguma resolver o problema do desemprego e da fome. Acresce que a generalização do consumo do ópio debilitou os organismos e diminuiu ainda mais os escassos orçamentos familiares.

 

A pressão britânica para forçar a entrada desta mercadoria no Império levou a Grã-Bretanha e a China a envolverem-se, a partir de 1839, na chamada I guerra do ópio. Neste conflito, as forças imperiais foram incapazes de travar a progressão das potências ocidentais. Por outro lado, as milícias camponesas que se organizaram em 1841 em Cantão, e que reprimiram com êxito algumas pilhagens levadas a cabo pelos militares britânicos, foram desaprovadas pela administração local e central, com receio de que elas se revoltassem também contra os poderes estabelecidos.

 

A contenda terminou em 1842, com a assinatura do tratado de Nanquim, que forçou a China a abrir ao comércio internacional os portos de Cantão (província de Guangzhou), Amoy, Nanquim, Ningbo e Xangai, a ceder Hong Kong à Grã-Bretanha, a pagar uma indemnização de 21 milhões de dólares de prata e a suprimir o monopólio do Cohong (associação comercial de Cantão que controlava o comércio com a Ásia do Sudeste, Índico e Europa). Este convénio abriu caminho ao tratado adicional de 1843, que impôs a favor da Grã-Bretanha o princípio da extraterritorialidade e a cláusula de nação mais favorecida. No ano seguinte, em 1844, a França e os Estados Unidos celebraram tratados idênticos com a China. A autoridade e o poder manchu ficaram desacreditados pela facilidade com que cederam às exigências ocidentais.

 

Em virtude de o tratado de Nanquim não incluir medidas contra o tráfico do ópio, os comerciantes britânicos intensificaram a introdução desta droga no Império. Os pagamentos eram feitos em prata, facto que contribuiu ainda mais para esvaziar os cofres públicos e privados. Os preços de quase todos os produtos também subiram, principalmente no Sul da China, o prejudicou sobretudo as classes mais desfavorecidas, cujos impostos eram calculados com base na moeda de prata. À semelhança do que se passava internamente com a prata e o cobre, também o bimetalismo ouro – prata, usado à escala mundial, arruinou significativamente a economia chinesa no século XIX.

 

Com a deslocação do eixo económico em direcção ao Norte, a região de Xangai adquiriu grande prosperidade em relação à de Cantão, tanto na distribuição do ópio como na comercialização do chá (Hsu, The rise of modern China). Esta recessão económica no Sul da China, particularmente no Guangdong, Guangxi e Hunan, provocou a ruína dos comerciantes que viviam nos arredores de Cantão e nas grandes rotas do interior, ao longo dos vales dos rios Xiang e Gan, que doravante ficaram sob controlo dos ocidentais. A venda dos escassos produtos agrícolas e manufacturados chineses também baixou, devido às barreiras alfandegárias impostas pelos europeus. Esta decisão permitiu a introdução no Império, ainda que lentamente, dos excedentes da produção industrial do Ocidente. Como a China não tinha grandes indústrias para absorver o excesso de mão-de-obra agrícola e artesanal o desemprego subiu novamente.

 

O Estado chinês, que a partir de 1843 enfrentava ainda maiores dificuldades financeiras, aumentou os impostos, reduziu os orçamentos das províncias e os salários dos seus funcionários. Estes factos levaram ao aparecimento de importantes seitas e sociedades secretas nas minas de carvão, como o Turbante Amarelo, Lótus Branco e Tríade. O governo encerrou as minas com receio de desordens, causando ainda mais desemprego. O espectro da fome levou muitos homens a vaguearem como moços de fretes, a dedicarem-se à pirataria nas costas do Guangdong, Fujian e Zheijiang, a entregarem-se ao banditismo, e a fomentarem sublevações em todo o Sul da China.

 

Nas décadas de 1840 e de 1850 esta situação agravou-se devido às grandes calamidades naturais. Neste âmbito destaca-se a seca severa em Honan (1847) e as inundações ao longo do rio Yantze, que atingiram as províncias de Hupeh, Anhwei, Kiangsu e Chekiang. No ano de 1849 a fome extrema atingiu Kwangsi. Em 1852, as alterações no curso do rio Amarelo, próximo da foz, na zona de Shantung, provocaram grandes inundações e a devastação de terras e de culturas. Milhões de pessoas foram vítimas destes desastres, o que provocou mais sublevações populares.

 

A maior e mais mortífera foi a revolta dos Taiping (Spence, God’s chinese son. The Taiping e Chesneaux, Movimientos campesinos en China (1840-1949). A rebelião iniciou-se em 1850, no Sul da China, na província de Guanxi. A inspiração cristã do líder, mesclada pelo budismo, taoísmo e maniqueísmo, que se opunham ao confucionismo da dinastia manchu, imprimiu ao movimento um carácter religioso. A ideologia Taiping alicerçava-se em objectivos igualitários, revolucionários e puritanos. As terras das regiões submetidas eram confiscadas e distribuídas de igual forma entre todos os que estavam em idade de as poderem cultivar. Ambicionava-se a criação de um regime sem propriedade privada e em que as necessidades básicas dos indivíduos seriam asseguradas pela comunidade. A industrialização e a melhoria dos transportes eram apontados como factores decisivos para o desenvolvimento económico. Nesta sociedade ideal, as drogas, o luxo e o jogo lucrativo eram proibidos.

 

Não admira, por isso, que milhões de chineses desempregados e famintos tenham aderido a este movimento, quer como soldados, quer como simples seguidores. Foi por estes motivos que a rebelião alastrou rapidamente a todo o Sul, Sudeste e Leste da China. Em 1853 Xangai caiu em poder dos Taiping e tornou-se a sua capital.

 

Inicialmente as potências ocidentais, nomeadamente a Grã-Bretanha e os EUA, apoiaram este movimento rebelde, pela sua política de não hostilização. Fizeram-no devido ao seu rápido avanço, à oposição que movia às forças imperiais e às ligações que mantinha com o protestantismo. Beneficiando desta estratégia, usada entre 1853-1854, os Taiping avançaram em direcção ao Norte, mas fracassou a sua tentativa de conquistar Pequim, no ano seguinte.

 

Enquanto o Sul e o Leste da China mergulhavam assim numa sangrenta guerra civil, a partir de 1856 a Grã-Bretanha e a França envolveram-se novamente num conflito militar com as forças chinesas para alargar e consolidar a sua presença político-económica no Império. Esta segunda guerra do ópio terminou em 1858, quando as tropas franco-britânicas ocuparam Tianjin. Seguiram-se os tratados assinados separadamente pela China com as potências beligerantes: Grã-Bretanha, França, EUA e Rússia. Estes convénios abriram mais dez portos ao comércio internacional. Os negociantes passaram a ter permissão para irem mais para o interior e Norte da China. Por este motivo, foram abertos quatro portos ao longo do rio Yangtze (Hankou, Jiujiang, Nanquim e Zhenjiang). Em simultâneo, foi aberto um porto na Manchúria, outro em Shandong, dois em Taiwan, um no Guangdong e outro na ilha de Hainan. Prevista estava também a possibilidade de os estrangeiros circularem livremente pelo Império.

 

As dificuldades de ratificação dos tratados levaram, no entanto, as tropas anglo-francesas a entrar em Pequim em 1860. A partir desta altura, a China foi forçada a render-se definitivamente aos interesses ocidentais. Este avanço das forças estrangeiras no Império acentuou a degradação do Estado e agravou a crise social no Nordeste e na região atravessada pelo rio Yantze. O desemprego aumentou, facto que levou à deslocação de muitos chineses em direcção ao Sul, onde os ocidentais os aliciavam com propostas de emigração e de enriquecimento fácil. A partir de 1862, à semelhança do que aconteceu após a I guerra do ópio, as companhias de navegação britânicas e americanas dominavam o tráfego no rio Yangzi, na região entre Cantão e Xangai, que antes estava a cargo das embarcações fluviais e dos juncos chineses. Em 1872 Li Hongzhang criou a companhia chinesa de barcos a vapor, para tentar inverter esta tendência, mas as empresas ocidentais baixaram subitamente os preços e destruíram a concorrência.

 

Quanto às promessas dos chefes Taiping, também não estavam a ser cumpridas. Fracassaram os projectos de desenvolvimento industrial e dos transportes e muitos dos pequenos e médios proprietários de terras estavam descontentes com a sua repartição. Por outro lado, o luxo em que viviam alguns dirigentes deste movimento começou a gerar grande descontentamento e hostilidade entre os seguidores.

 

A partir de 1860, por incitativa da administração das províncias, dos letrados e com o apoio moral e material das elites, surgiram novos exércitos e chefes recrutados localmente, que lutaram contra os Taiping. Dois anos depois, as potências ocidentais, com receio de perderem o controlo das alfândegas de Xangai, apoiaram as tropas ao serviço do Império. Terminou desta forma, no ano de 1864, uma das maiores e mais sangrentas guerras civis da História, que matou pelo menos vinte milhões de pessoas (Chang-Rodriguez 1958/ Gernet 1991).

 

Apesar de extinta a revolta, permaneceram inalteráveis as causas que estiveram na sua origem e que continuaram a dar novo alento a outros levantamentos populares. Entre estes destacam-se: a rebelião dos Nian (1851-1868), no Norte, que colaboraram com os Taiping na tentativa falhada de tomar Pequim; a insurreição dos aborígenes em Guizhou (1854-1872); a agitação dos Miao no Sudoeste; as revoltas das comunidades muçulmanas do Noroeste, sobretudo nas províncias de Shenxi e Gansu (1855-1873) e que, ao contrário das anteriores, lutavam essencialmente contra a discriminação religiosa.

 

Na sequência destas rebeliões, a economia chinesa foi gravemente afectada. A emergente zona industrial, desde Nanquim até Taihu e Hangzhou, conhecida também pelos seus centros intelectuais, foi em grande parte saqueada e destruída. Ultrapassada esta fase, foi necessário reconstruir as cidades, celeiros e diques e dar aos camponeses a possibilidade de adquirirem alfaias agrícolas, sementes e animais a preços mais acessíveis. Para evitar novas sublevações, o imperador viu-se obrigado a reduzir os impostos aos camponeses e a aumentar ligeiramente os tributos ao artesanato e à indústria. Porém, as finanças públicas arruinaram-se ainda mais e o comércio interno diminuiu. O alívio inicial da pressão demográfica, que resultou das guerras com o Ocidente e das rebeliões internas, não produziu o efeito esperado. A pobreza do Império acabou por favorecer os nobres e os grandes proprietários agrícolas, que viviam das rendas e da comercialização dos produtos agrícolas.

 

As alternativas encontradas por milhões de chineses famintos foram as migrações internas e a procura de novos destinos fora do Império. Com efeito, muitos foram primeiro para o Nordeste, para as regiões aráveis do Liaodong, e depois para o Norte, para as montanhas arborizadas e geladas. Alguns rumaram a Taiwan, para se dedicarem à agricultura, outros foram para o Sudoeste, onde tiveram que enfrentar as tribos hostis das montanhas, enquanto outros optaram pelas zonas fronteiriças do Vietname e da Birmânia, pelas terras áridas do Tibete ou ainda pelos vastos desertos de Xinjiang. Um número significativo de chineses migrou para as cidades em desenvolvimento, como Hankou, Xangai e Tianjin, onde as novas indústrias começavam a empregar alguma mão-de-obra.

 

A longa de tradição de contactos comerciais entre os habitantes das províncias do Sul e os povos de outras regiões, nomeadamente de Java, Ceilão, Índia, Costa Arábica, Sul de África, Japão, Filipinas, Bornéu, Sumatra, Indonésia, Austrália, Singapura e Península de Malaca, fez com que muitos chineses emigrassem também para estas regiões.

 

A convivência dos habitantes do Sul da China com os ocidentais levou-os desde a década de 1840 a ambicionar de forma crescente emigrar para os seus países ou colónias. Este desejo correspondia também à necessidade crescente de mão-de-obra barata que era particularmente sentida pelos fazendeiros de Cuba, do Peru e da costa Oeste dos Estados Unidos da América.

 

Esta emigração começou em Amoy em 1847, mas foi Macau, território sob administração portuguesa, que se tornou entre 1851 e 1874 o seu principal porto de embarque. Nesta cidade foi montada uma complexa estrutura, constituída por uma rede consular, agentes das casas importadoras, engajadores, funcionários do governo, donos de armazéns, entre outros, que colaboraram activamente neste sistema.

 

Em Cuba, desde 1820 os escravos começaram a escassear e os preços subiram nos mercados da ilha, devido aos movimentos abolicionistas britânicos, às frequentes doenças e à elevada mortalidade. Desde 1847 que a mão de obra chinesa representava uma alternativa para responder às exigências das grandes plantações e dos engenhos de cana-de-açúcar, numa tentativa de evitar o aumento dos preços, e desenvolver novas obras públicas.

 

No Peru também havia grande necessidade de mão de obra, devido às doenças dos escravos, à sua escassez e encarecimento no mercado e posterior libertação.  Os chineses destinavam-se à exploração do guano, à produção da cana-de-açúcar e de algodão, produtos que eram solicitados de forma crescente pelo mercado europeu, e à construção dos caminhos de ferro.

 

Mais de 250 000 chineses assinaram contratos de oito anos, o que na prática era sinónimo de semi-escravidão, dos quais a maior parte se libertou com muita dificuldade. Aqueles que conseguiram fazê-lo abriram os seus negócios e integraram-se lentamente nas sociedades locais, mas poucos conseguiram regressar à China.

 

Referências

Maria Teresa Lopes da Silva é Professora - Doutoranda na FLUL (Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)

 

CHANG-RODRIGUEZ, E., «Chinese Labour Migration into Latin America in Nineteenth Century», Revista de História da América, Vol. 46, Dezembro de 1958, Instituto Panamericano de Geografía e Historia, México, pp.375-397.

 

CHESNEAUX, Jean, Movimientos campesinos en China (1840-1949), siglo XXI, Madrid, Siglo XXI, 1978.

 

COLLIS, Maurice Collis, Foreign Mud: the opium imbroglio at Canton in 1830’s and the Anglo-Chinese war, Londres, Faber & Faber, 1964.

 

FAIRBANK, John K., China. A New History, The Belknap Press of Harvard University Press, Massachusetts, 1992.

 

FAIRBANK, John K., The great Chinese revolution 1800-1895, Nova Iorque, Harper & Row Publishers, 1986.

 

FAIRBANK, John K., Trade and diplomacy on the China Coast: The opening of the treaty ports, 1842-1854, Vols. I e II, Cambridge Mass, Harvard University Press, 1953-1956.

 

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GERNET, Jacques, El mundo chino, Barcelona, Ed. Crítica, 1991.

 

HSU, C.Y. Immanuel, The rise of Modern China, Oxford, Oxford of University Press, 1995.

 

HUC, Padre Évariste, L’empire Chinois. Paris, Ed. Omnibus, 2001.

 

MARSH, Robert M., The Mandarins: The Circulation of Elites in China, 1600-1900, Nova York, The Free Press of Glencoe, 1961.

 

Osterhammel, Jurgen, «Britain and China (1842-1914)» in The Oxford History of the British Empire. The nineteenth century), Oxford, Oxford University Press, 1999.

 

SHENG Hu, From the opium war to the may fourth movement, Beijing, Foreign Languages Press, 1991.

 

SPENCE, Jonathan D., Chinese Son. The Taiping Heavenly Kingdom of Hong Xiuquan, Nova Iorque, Norton Company, 1996.

 

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SPENCE, Jonathan D., The search for modern China, Nova Iorque, W.W. Norton Company,1991.

4 comentários:

  1. Boa noite,

    O texto mostrou como a região de Guangdong, de onde saiu a maioria dos imigrantes chineses no século XIX, era cheia de sociedades secretas e seitas. Existe algum tipo de evidência que grupos similares existiram dentro das comunidades chinesas no Ocidente, pelo menos naquelas formadas por pessoas oriundas do sul?

    Grato,
    Vinícius Andrade de Araújo.

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    1. Maria Teresa Lopes da Silva6 de outubro de 2022 às 14:32

      Caro Vinícius Andrade de Araújo.
      Muito obrigado pela sua pergunta.
      Os chineses que foram para a Cuba e para Peru com um contracto de 8 anos, ou seja até 1874, e que enfrentaram um quotidiano muito diferente daquele que ambicionavam, tiveram um nível muito baixo de aculturação. Num contexto em que os chineses podiam ser objecto de troca, e em que a sua junção ou separação dos compatriotas de outras aleias ou regiões era prática corrente, e em que o trabalho diário desde o alvorecer até ao anoitecer era imposto como regra, não sobrava muito tempo para se dedicarem às seitas ou às sociedades secretas. Na segunda vaga de emigração, a partir de 1874, sobretudo no Peru, os chineses tinham melhores condições económico-financeiras e laborais. Estes chineses começaram a entender os modelos culturais da sociedade em que estavam integrados e, no domínio público, aceitavam essa cultura. Porém, no âmbito privado, continuavam a observar a sua matriz cultural. Foi nesta altura que começaram a surgir as Associações Culturais Chinesas, que já integravam as seitas, e perduram nos séculos seguintes.
      Mas as seitas tiveram outras portas de saída da China. Cito dois exemplos: partir de 1949, quando o partido comunista assumiu o poder, os territórios de Hong Kong (administrado pela Grã-Bretanha) e de Macau (sob administração portuguesa) também desempenharam neste âmbito o seu papel. Efectivamente, só em Hong Kong estimava-se que existiam nesta altura cerca de 300.000 cidadãos que faziam parte de alguma seita. Algumas delas eram mesmo tríades, como lhe chamavam os ingleses, devido ao seu carácter violento. Alguns destes grupos, parecem ter nascido de um movimento revolucionário que referi na minha comunicação – a seita do Lótus Branco – que se supunha ter nas suas fileiras mais dois milhões de membros e que provocaram muitas revoltas. A partir daqui a passagem para o ocidente, apesar do vazio documental, não parece ter constituído grande problema. Ainda hoje se acredita que alguns membros destas seitas poderão estar ligados à prostituição, às drogas ilícitas, ao contrabando de cigarros, de munições, roubos, jogos de azar, etc. etc. Mas para muitos membros das seitas, esta é também uma forma de manter o seu status quo cultural.

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  2. Olá Prof. Maria

    Gostaria de parabenizar o texto e aproveitar para perguntar acerca da atualidade na China. Está cada vez mais comum a saída dos jovens chineses do país em busca de novas oportunidades e conhecimentos. Essa interação com os demais países pode oferecer um risco para a China?

    Desde já agradeço a atenção

    Crislli Vieira Alves Bezerra

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    1. Maria Teresa Lopes da Silva6 de outubro de 2022 às 16:02

      Cara Crislli Vieira A.Bezerra,
      Muito obrigado pela sua pergunta.
      De acordo com os dados divulgados pela OCDE em 2011, depois da Índia, a China aparece em 2º lugar na lista da chamada ‘diáspora científica’ (1,6 milhões). Não creio que esta situação constitua um problema para a China, antes pelo contrário. A China entende esta circulação de ´cérebros´ como uma questão estratégica. Os jovens chineses completam a sua formação académica sobretudo nos Estados Unidos da América, mas aparecem de modo crescente noutros países, como Portugal, por exemplo. Para a China, a saída destes jovens representa uma forma de fomentar as colaborações científicas e de ajudar a economia chinesa a desenvolver-se, nomeadamente a sua indústria, que pretende ingressar cada vez mais no mercado internacional, nomeadamente no mercado norte-americano.
      Ainda segundo os dados da OCDE, a China, ao facilitar a saída de cientistas, e ao trazer parte deles parte deles de volta, quase conseguiu duplicar a percentagem de colaborações científicas internacionais entre 2005 e 2015, tendo passado de 7,4% para 12,2% do número total de artigos publicados. Estes dados elucidam bem a forma como a China encara este fenómeno, que é completamente diferente do que se verificou com a emigração chinesa contractada e livre que aconteceu no século XIX.

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