HISTÓRIA É PODER: CONFLITO ISRAELO-PALESTINO REVOLUÇÃO OU TERRORISMO? por Yasmin Rodrigues Roque e Jeanne Silva


Este breve ensaio tem o objetivo de refletir sobre o papel do professor de História ao levar análises históricas para as instituições educacionais básicas e ao trabalhar o tema dos conflitos entre Israel e Palestina. Orientada à temática dos conflitos orientais, em foco, na disputa territorial israelo-palestino, descolonizando saberes e práticas realizadas até os dias atuais, buscando proporcionar ao leitor uma visão desvinculada ao eurocentrismo e positivismo histórico; no qual visa refletir através de fontes como: a declaração israelense e artigos acadêmicos, a necessidade de mostrar novas perspectivas ao ensino de história, construindo novos saberes críticos e históricos para a compreensão dos conflitos atuais. Logo, será dialogado, as guerras entre Israel, país criado por meio do sionismo, e o território Palestino, analisando a partir do império Otomano, passando pela disputa de suas independências perante os países colonizadores europeus, até os conflitos atuais. A fim de apresentar ao leitor que, o conhecimento histórico é poder, e quem o obtém, detém privilégios e estabelece uma narrativa de vencedor.

 

Introdução

Os desafios atuais para o professor(a) de História é a desvinculação do ensino histórico ao modelo tradicional/positivista e eurocêntrico. A formação à docência influência diretamente nesta desvinculação do saber hegemônico, sendo a projeto político pedagógico dos cursos, responsáveis pela (des)construção para o saber subalterno. Logo, é necessário a busca pela troca de conhecimento e aprendizado a partir da perspectiva da História e Cultura Asiática e Oriental, visando que o Brasil em sua formação enquanto nação, tem influência direta das sociedades orientais, por meio da emigração árabe (sírio-libanesa), japonesa, chinesa até os dias atuais.

 

A Guerra Fria foi um período histórico relevante para países da Ásia e África oriental, os conflitos armados resultaram em (re)conquistas dos territórios orientais colonizados por países europeus, Inglaterra-França-Holanda-Bélgica. Contudo apesar de todas as guerras, revoluções, (re)conquistas sócio-históricas e culturais, o ensino de História e Cultura Asiática é marginalizada nos currículos escolares na educação básica brasileira, influenciando as aulas de história e os direcionamentos do corpo docente.

 

A revisão historiográfica é importante para compreensão de como se constituiu o estereótipo em relação as sociedades orientais (extremo oriente, próximo oriente); os conflitos de poder ocidental perante o território oriental, o imperialismo no século XIX e XX; a construção do estado de Israel através da aliança com os Estados Unidos; A Guerra do Vietnã e a hegemonia dos Estados Unidos da América; e como a produção cultural, cientifica e tecnologia ocidental constrói a imagem do sujeito histórico oriental.

 

A construção deste estereótipo é reconhecida no romance, A volta ao mundo em 80 dias de Júlio Verne, publicado no século XIX, período no qual a discussão e formação da teoria do Darwinismo Social estava em construção. Cientistas, políticos, e homens influentes utilizaram o conceito de seleção natural, de Darwin, para atribuir aos sujeitos históricos a seleção de grupo sociais por meio de suas raças; passando a considerar-se superiores às demais raças, presentes no território Africano – Asiático e Latino Americano. Os discursos utilizaram a raça, como argumento de dominação e superioridade. Independente de sua cultura, contribuições cientificas, mitológicas e religiosas, os grupos que não se encaixassem na supremacia branca eram considerados inferiores cientificamente, culturalmente, socialmente aos homens de raça “branca”, no qual teriam o papel de salvador das demais raças, sendo assim um discurso viável para o processo de colonização e imperialismo. No livro é percebido através do narrador o discurso de que os povos originários da Índia seriam selvagens e precisavam de sua domesticação, sendo ela, feita através do imperialismo europeu:

 

“Mas a Índia inglesa propriamente dita conta com uma superfície de apenas setecentos mil milhas quadradas e uma população de cem a cento e dez milhões de habitantes. Basta dizer que uma parte notável do território ainda escapa à autoridade da rainha, e, de fato entre alguns rajás do interior, selvagens e terríveis, a independência hindu ainda é absoluta” [VERNE, 1873, p.69].

 

A Índia dominada e administrada pela Grã-Bretanha durante os séculos XIX e XX, se localizava na Nova Déli, sendo apoiada pelos árabes influentes. Neste período a Índia possuía uma diversidade de religiões, que influenciaram diretamente na separação dos territórios indianos, predominando os conflitos entre o hinduísmo e o islamismo, que influenciou na divisão territorial turbulenta, influenciada pelo imperialismo da Grã-Bretanha. O Paquistão, predominante um país mulçumano, foi formado por meio destas disputas territoriais e muitas foram as influências imperiais introduzindo a cultura europeia nas cidades árabes. Logo, Para Verne, falar sobre a dualidade entre o civilizado e o selvagem se faz necessário para a divulgação do Império britânico na Ásia Oriental.

 

O território indiano, teve suas religiões, culturas e economia conservada, a economia social é dividida por uma hierarquia, formada por castas, “[...] quatro castas hindus, que são, da superior para a inferior: os brâmanes ou sacerdotes, os xátrias ou governantes e guerreiros, os vaixás ou comerciantes e lavradores e os sudras ou artesões” [FISCHER, 1983, p.160].  Os rajás, citado por Júlio Verne, faz parte da casta dos xátrias, sendo eles considerados os príncipes ou monarcas da região no qual pertence. Verne, aponta os rajás do interior, como selvagens, por não irem de acordo com o posicionamento do império britânico, desrespeitando uma hierarquia importante na Índia.

 

Apesar do Darwinismo Social ter sido uma teoria e discurso superado pelas ciências sociais e humanas, as relações ocidente-oriente foi construída com a narrativa de superioridade, Edward W. Said debate o oriente como invenção do ocidente, sendo necessária a segregação, inferioridade de culturas, para que se tenha a potência no Ocidente. Sendo Israel (criação com influência estadunidense e a ONU) e a Palestina, dois países que representam essa dicotomia oriente-ocidente. O presente trabalho visa, através da declaração de independência do Estado de Israel e de trabalhos acadêmicos, analisar como o ocidente e os estudos históricos eurocêntricos, positivistas e tradicionais veem os conflitos da israelo-palestino, fazendo uma crítica aos costumes e valores do século XIX e a diluição das culturas e tradições para a atual globalização.

 

Criação do território Israelense

Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em decorrência das tragédias ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial, devido ao Holocausto, que pressionou a formação do território de Israel. O Estado de Israel foi proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU), formulando sua declaração de independência; intervinda e baseada nos documentos de declaração dos Estados Unidos da América. Israel proclamou sua independência em maio de 1948, sendo reconhecido como Estado-Nação, pelas Nações Unidas.

 

David Ben-Gurion assumiu o cargo provisório de Primeiro Ministro, nos primeiros anos de formação do Estado-Nação de Israel, em seu discurso durante a declaração de independência, chama atenção as seguintes partes:

 

“O Estado de Israel [...] promoverá o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; terá como base os preceitos de liberdade, justiça e paz ensinados pelos profetas hebreus; defenderá a total igualdade social e política de todos os cidadãos, sem distinção de raça, credo ou sexo; garantirá liberdade total de consciência, culto, educação e cultura; protegerá a santidade e a inviolabilidade de santuários e Lugares Sagrados de todas as religiões; e se manterá fiel aos princípios da Carta das Nações Unidas”. [ISRAEL... 1948].

 

O discurso de David Ben-Gurion, ocorreu junto a declaração da independência de Israel para poucos ouvintes, pois o primeiro ministro tinha receios na eclosão de guerra, pois o processo do período de independência, foi turbulento e cheio de conflitos armados. Em seu discurso prometeu garantir liberdade sobre todas as culturas e religiões presente no território israelo. Entretanto, apesar do discurso comovente de superação nos pós Segunda Guerra Mundial; de 1948 aos dias atuais, os israelenses e palestinos se encontram em permanentes conflitos e guerras; envolvendo países vizinhos, em suma maioria árabes, comovente com a Palestina, gerando diversos conflitos no Próximo Oriente. Como é o caso da fronteira entre Israel e o Líbano.

 

O território cedido pela Organização das Nações Unidades à Israel, pertencia a Palestina, localidade conquistada durante o Império Otomano. O movimento sionista – movimento social judaico – reivindicaram a reconquista do território de Jerusalém, já que tradicionalmente Jerusalém além da terra prometida, foi a capital política e religiosa dos judeus, com a narrativa de defesa à autodeterminação dos povos judaicos e o reconhecimento de suas identidades, como filhos de Deus:

 

“Muitos dos emigrantes [judaicos, após a Segunda Guerra Mundial] optaram pelos Estados Unidos, mas a ideia de estabelecer a Terra de Israel como centro da vida judaica ganhou impulso redobrado entre muitos iluministas (maskilim) e judeus russos [Haskalá foi um movimento do Iluminismo Judaico, marcando ampla participação com a Europa e os Estados Unidos da América, a partir do século XVIII]. Durante os pogroms (distúrbios e massacres nas aldeias do leste europeu), uma rede de novas sociedades Chibat Sion (Amantes de Sion) foram proliferando na denominada Área de Estabelecimento (zona exclusiva restringida aos judeus), mobilizando jovens dispostos a iniciar suas vidas na árida Palestina”. [FAINGOLD, 2010]

 

Apesar da Independência de Israel ter ocorrido somente em 1948, Jovens Judeus começaram a imigrar as terras palestinas já no século XIX, sendo o iluminismo judaico a principal força para o movimento sionista. O movimento sionista conseguiu ganhar apoio das grandes nações europeia apenas no século XX, após a Segunda Guerra Mundial, devido ao Holocausto e a imigração judaica, principalmente na Alemanha.

 

Em 1948, as terras cedidas às regiões de Israel possuíam um menor número de território, desde então o objetivo da nação foi reconquistar e ocupar regiões fronteiriças do Estado-Nação. A Guerra dos Seis Dias ou a Guerra árabe-israelense de 1967, é o exemplo da tentativa e consolidação de novos territórios à Israel, envolvendo um conflito armado entre Israel e os países árabes (Síria, Egito, Jordânia e Iraque). Atualmente Israel, já possui mais de 70% da região onde um dia, fora a Palestina, restando apenas uma pequena porcentagem localizada na Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

 

“Estava iniciando, então, o conflito que dura até hoje, com cerca de 250 mil palestinos fugindo ou expulsos da Palestina. Quando o prazo do mandato [Mandato Britânico da Palestina] expirou em 1948, Ben-Gurion declarou independência de Israel [proclamando o estabelecimento do Estado Judeu na Palestina, que chamaria Israel], causando uma declaração de guerra por parte de uma junta de países árabes, composta por Líbano, Síria, Egito, Iraque e Jordânia”. [SCHIOCCHET, 2011, p. 64]

 

Ken Stein, aponta que após oito horas da declaração lida por Ben-Gurion, a Força Aérea do Egito lançou suas primeiras bombas nos arredores de Tel Aviv [cidade na costa israelense do mar mediterrâneo], a guerra de independência de Israel durou até o início de 1949. 

 

 

 

Palestina Revolução ou Terrorismo?

A Alta comissão árabe, órgão político central da comunidade árabe, criada 1936-1937, teve um importante papel na luta palestina contra as políticas judaicas, durante a nova demarcação presente na resolução nº 181 da ONU, de 1947, que promulga a criação de um novo Estado-Judaico nos territórios palestinos. A comunidade árabe que residia as terras da palestina, foram contra a esta divisão de terras, e os conflitos geopolíticos passaram a ser constante a partir de 1948. Os povos judaicos e os palestinos passaram a defender os projetos nacionais amparados em narrativas e valores que tentam justificar um domínio completo e exclusivista sobre o território da Palestina [ROCHA, 2015].

 

Os movimentos judaicos e palestinos, se apoiam ao passado, defendendo o território de acordo com historicidade antiga e os conflitos antigos; não permitindo que reconheçam suas necessidades presentes, que é o caso do Coronavírus. Israel é uma potência ocupante, e a Palestina um território ocupado e explorado, e apesar do grande sucesso de vacinação em Israel, muitos palestinos acabaram sendo excluídos e colocados como último plano no governo de vacinação eficaz de Israel. Como diz a deputada do Estado "É difícil assistir enquanto esse Estado de apartheid continua a negar (a vacina) a seus vizinhos, as pessoas que respiram o mesmo ar que eles, que vivem nas mesmas comunidades”. [RASHIDA , 2021].

 

Em sua declaração no dia da independência, Israel, promete tratar todos os habitantes de seu território de maneira igual, respeitando costumes, tradições e religiões de todos os povos presente nas novas terras [terras que seriam conquistadas através das ocupações] israelenses, porém essa suposta “igualdade” gerou uma das maiores diásporas contemporâneas no Oriente Médio, em torno de 5 milhões desde a formação do Estado israelense. Com as disputas e conflitos constantes, a Palestina perdeu por volta de 75% de seu território, os países vizinhos além de oferecerem suporte à Palestina e abrigar muitos dos imigrantes, aderiram as disputas e conflitos, entrando em guerras permanentes com o estado de Israel em suas fronteiras, que é o caso do Líbano. Israel conseguiu tomar grandes partes dos territórios palestinos, através de assentamentos judaicos, que em suma maioria é formado por grupos de judeus mais conservadores e radicais.

 

Com os seus estereótipos de árabes-mulçumanos selvagens e terroristas, forjados no período de colonização e imperialismo europeu, a partir de 1800, e com o recente atentado em 11 de setembro nas torres Gêmeas, por Osama Bin Laden. Aprofundou-se as raízes estereotipadas, a dominação ocidental perante o oriente e a xenofobia. Em consequência da modernidade e a globalização, houve uma diminuição de diálogos entre judeus e árabes, o que influenciou diretamente nos conflitos israeleno-palestino.

 

É notório que os dois lados adotam a violência e o terrorismo para validar suas conquistas, em que ambos acabam desrespeitando as culturas, religiões, cultos, ideologias em prol da dominação sobre seus corpos. Porém é importante ressaltar alguns pontos: 1) Israel tem influência geopolítica e econômica direta com os países europeus e norte-americanos, sendo o principal deles, Estados Unidos. 2) Os direitos humanos foram constituídos e moldados por homens europeus e presentes em grandes potências, ou seja, para os povos árabes esta cultura de respeitar o inimigo não se encaixa em suas tradições, deixando claro, que este ponto não é uma justificativa para as ações terroristas, mas sim uma análise de costumes do Oriente e Ocidente. 3) Israel e Palestina, lutam pela a ocupação e permanência de seus territórios, entretanto ocorre uma situação de desigualdade nas conquistas destas terras, visando que Israel têm aporte da maior potência econômica na atualidade, os Estados Unidos.

 

Conclusão

Após o atentado nas Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, Israel só teve dois presidentes, o ex-presidente Shimon Peres e o atual presidente Reuven Rivlin, ambos de partidos voltado a uma ideologia de extrema direita. O Estado de Israel vive uma onda ultraconservadora, em que ambos os presidentes foram votados com a campanha principal de segurança ao país, devido ao atentado ocorrido nas Torres Gêmeas. Para Israel e o mundo ocidental positivista e tradicional, os países árabes foram ligados aos movimentos terroristas, o que fez com que a esquerda israelense, não tivesse apoio o suficiente para chegar ao poder, gerando ainda mais uma dificuldade no diálogo israelo-palestino, e o aumento dos conflitos em terras palestinas e nas fronteiras com demais países árabes.

 

O estudo da História enquanto ciência, permite entender que ela possui poder sob as revoluções contemporâneas. A História é capaz de recontar o passado de acordo com suas fontes e sujeitos históricos, permitindo que novas gerações possam analisa-las e estuda-las afim de compreender o seu presente. O poder da História é capaz de reconstituir culturas e de descentralizar o pensamento eurocêntrico, positivista, tradicional e colonial pelo mundo, permitindo que as demais filosofias, como as orientais, sejam estudadas de acordo com suas histórias, memórias e patrimônios.

 

Por isso é importante entender os conflitos palestinos e israelenses em diversas perspectivas e compreender que a história do dominante é sempre a primeira versão, sendo necessário transitar por diversas versões com o intuito de formular suas próprias analises. É preciso compreender questões geográficas que influenciam diretamente na política de cada país, questões sociais, e religiosas principalmente nos territórios onde a sua base de formação é em torno da religião. Se posicionar fielmente à um lado, evidência a arrogância do historiador, é necessário se apoiar em suportes teórico e metodológicos, para desvincular de estereótipos enraizados, como: “Os islâmicos são naturalmente terroristas” [frase escutada ao longo da minha formação enquanto historiadora], estes estereótipos só reforça a necessidade de desconstruir, e utilizar da História enquanto ciência para gerar poder aos povos marginalizados, desassociado a perspectiva de que os povos europeus, ocidentais, norte-americanos e brancos, são os salvadores do mundo selvagem.

 

Notas biográficas

O presente ensaio foi produzido como resultado do diálogo com a disciplina de História do Mundo Contemporâneo, no curso de História na Universidade Federal de Catalão - UFCAT, realizada no primeiro semestre de 2020.

Yasmin Rodrigues Roque: graduanda do curso de Licenciatura em História, na Universidade Federal de Catalão (UFCAT).

Jeanne Silva: Drª em História Social, Professora da disciplina de História do Mundo Contemporâneo e Estagio Supervisionado do Curso de História UFCAT. Com atuação no Mestrado de História UFCAT. Formação em História e Direito.

 

Referências

FAINGOLD, Reuven. Memória e história do movimento sionista: Nechama Puchachevski, escritora da odisseia sionista. WebMosaica: revista do instituto cultural judaico marc chagall. v.2, n.1 (jan-jun) 2010.

 

FISCHER, Louis. Título do Original: Gandhi, his life and message for the world. Tradução: Raul de Polillo. Nova York, EUA: Círculo do Livro, 1982. p.278.

 

HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

 

ISRAEL. Primeiro Ministro. (1948 – 1953: David Ben-Gurion). Discurso Declaração de Independência de Israel. Tel Aviv, 14 mai. 1948. Disponível em: https://israeled.org/declaracao-de-independencia-de-israel-14-de-maio-de-1948/ Acesso dia: 20 abr. 2021.

 

ROCHA, Ivan Esperança. O conflito esraelo-palestino: entre passado e presente. XXVIII Simpósio Nacional de História. Florianópolis, SC. 2015.

 

SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente Como Invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

 

SANTOS, Ana Carolina dos. Percepções sobre o Império Otomano, na obra de Arnold J. Toynbee. Tese (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, p. 107, 2018.

 

SCHIOCCHET, Leonardo. Extremo Oriente Médio, Admirável Mundo Novo: A construção do Oriente Médio e a Primavera Árabe. Revista Tempo do Mundo. v.3, n.2, p. 39-82, 2011.  

 

VACINAÇÃO em Israel: as acusações de ‘apartheid’ em plano de imunização que exclui palestinos. BBC News. São Paulo, 26 jan. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55811778 Acesso em: 21 abr. 2021. 

 

VERNE, Júlio. A volta ao mundo em 80 dias. Tradução: Juliana Ramos Gonçalves. Jandira, São Paulo: Principis, 2019. p.301.

10 comentários:

  1. Fabio Ehlke Rodrigues

    A questão Israel e Palestina fica presa entre a política e a religião. Mas, qual seria o real interesse no local onde Jesus nasceu. Não seria só essa a resposta para a briga entre os dois envolvidos. Judeus e Palestinos devem ser estudados além das fontes históricas existentes?

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    1. Yasmin Rodrigues Roque7 de outubro de 2022 às 16:31

      Boa tarde, agradecemos pela pergunta e com ela obtivemos as seguintes reflexões, há uma disputa religiosa que nós temos que levar em consideração, por que Jerusalém é o berço das três grandes religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo), mas vai além das questões religiosas e políticas, adentrando uma questão econômica, tendo um peso muito forte, pois a região de Jerusalém é uma fonte turística de grande circulação, de vendas comerciais, sendo um cartão postal para o mundo, trazendo implicações financeiras e econômicas. Todos esses fatores, a política, a fé e o capitalismo estão imbricados neste ponto geográfico, e todos os três setores simbólicos são importantes para analisar as disputas contemporâneas que perpassam por séculos. Para podermos estudar judeus e palestinos nós estudamos várias questões que interligam nessas lutas, sendo possível trabalhar este conflito em vários campos científicos que perpassam pelas fontes históricas, mas com propostas diferentes, como a antropologia, a etnologia, a ciência das religiões, são áreas que aplicam trabalhos de campo com perspectivas diferentes que podem relacionar de maneira interdisciplinar.

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  2. Caros Colegas: Edward.Said nos faz refletir sobre a influencia ocidental na construção da visão sobre o oriente que sempre foi distorcida com distorções da sua realidade Históricas. Vejo como nas suas discussões Israel se fortaleceu no contexto econômico e militar desde o fim da segunda grande guerra ( não desmerecendo aqui a História do Holocausto que foi extremamente para os judeus violento), vemos uma mudança de politicas bélicas em que Israel tem explorado e Jordânia, e que esta reage também de forma violenta. Neste contexto a interferência do Ocidente, principalmente dos Estados Unidos vejo aqui que tem trazido uma nova construção preconceituosa contra os Árabes e da própria Jordânia por parte das nações ocidentais. Notadamente esse movimento pro Israel amplia o preconceito destes povos e que as super potencias como os Estados Unidos constroem a narrativa que os palestinos são terroristas e um perigo para Israel. Uma mistura um tanto perigosa entre politica internacional de exclusão somada com questões de fundamentalismo religioso e de preconceito contra os povos Árabes. Seriam essas questões que causam embates violentos entre Israel a os Palestinos?
    ATENCIOSAMENTE ELOIS ALEXANDRE DE PAULA.

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    1. Yasmin Rodrigues Roque7 de outubro de 2022 às 16:05

      Agradecemos as considerações e reflexões em relação ao nosso ensaio e assim comentamos, da forma como pontuamos ao longo do ensaio, o questionamento terrorismo ou revolução sobre as regiões Israel e Palestina, leva em consideração as observações de Edward Said mostrando que a construção dos conceitos que utilizamos e no ocidente é ambíguo frente as distorções históricas ocorridas na região, e sim os Estados Unidos por seu poder militar, cultural e econômico visa ampliar a ideia simplista de que os palestinos são os terroristas. É justamente esta questão que o texto analisa e discorda, por isso insistimos na ideia que é preciso conhecer os fatos históricos para não realizarmos juízos de valores que sejam apressados, tendo o objetivo de mostrar que a ideia de acreditarmos que os palestinos
      são terroristas é uma ideia preconceituosa e disseminada com interesses políticos dentro do mundo ocidental com o objetivo claro que beneficia o Estados Unidos. E é por isso
      que história é poder, porque só através do conhecimento dos fatos históricos é que nós podemos modificar e construir outras análises que não seja eurocêntrica, bélica, e que não
      narre a partir dos dominantes, (des)construindo novos olhares do que acontece na região.

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  3. Boa tarde! Excelente ensaio!

    Você acha que a fé retornou ao palco principal da História Mundial, como último recurso de dominação político-social das massas? Por este motivo os Estados Unidos retiraram-se do Afeganistão, no intuito de realizar alianças em um futuro próximo e ser fornecedora de armas ao Talibã, assim como é de Israel?

    Vanessa Beltrão

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    1. Prezada Vanessa Beltrão. Agradecemos a sua leitura ao nosso Ensaio e procuramos responder sua pergunta de forma ampla e reflexiva. No nosso entendimento as questões religiosas sempre estiveram entrelaçadas no palco principal da História Mundial. A divisão didática que muitas vezes a Ciência costuma realizar serve somente a um entendimento parcial da realidade complexa de todos os conflitos. Sendo assim fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, jurídicos e tantos outros estão sempre imbricados. Pensamos nesse sentido que sua pergunta procede e vai além de nossa reflexão textual ( o que é muito bom e pertinente). Como historiadoras não podemos avaliar os exatos motivos das intenções norte-americana,mas faz muito sentido sua observação se pensarmos num capitalismo onde o poder está vinculado à compra e venda de mercadorias, ou seja, as armas, os artefatos bélicos e a industria da guerra lucra com esse processo financeiro, não importando muito o lado a quem essas armas estão sendo vendidas. Numa guerra onde as armas são mercadorias de compra e venda, as questões éticas, morais e filosóficas ficam quase sempre em segundo ou terceiro plano. Aproveitamos para comparar, por exemplo o momento histórico que estamos vivenciando, onde no Brasil, o atual governo utiliza em sua propaganda um tipo de fundamentalismo religioso que coloca "Deus acima de todos" e visa explorar a fé das pessoas, utilizando discussões fascistas entre o chamado "nós e o eles", entre o intitulado "bem e o mal". É essa dicotomia que criticamos em nosso ensaio e buscamos analisar, entendendo que o poder usa da boa fé, das boas intenções e dos aspectos religiosos dos grupos e coletividade, não só aqui no Brasil mas em vários países do mundo. Acreditamos que a fé principalmente no contexto ocidente-oriente, não foi de longe o último recurso de dominação político-social das massas, e sim um dos agentes protagonistas para a articulação entre a política e a sociedade ao longo da história mundial, seja em um contexto positivo ou negativo. Logo, a religião sempre foi utilizada para manipulação e dominação de determinado povo, entretanto quando um grupo religioso se estabelece no poder como é o caso do talibã, conseguimos visualizar com maior clareza a dominação das massas. Acreditamos que o fato dos Estados Unidos terem se retirado do Afeganistão diz mais sobre o contexto político que os Estados Unidos enfrentava na período, com o presidente recém eleito, e “democrático”, preferindo se abster do conflito, do que pensando em um futuro que possa ser próximo ou não, mas sem dúvidas uma estratégia, naquele contexto e naquele momento, que levaria e oferecia vantagens devido ao território e ao contexto do jogo político de um momento bem pontual e estratégico.

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  4. Olá. Seria possível então apontar uma relação do sionismo, em sua origem, com o movimento eugenista e supremacista predominante no Ocidente na época para legitimar a ocupação do território palestino?

    Matheus Bittencourt de Oliveira

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    1. Agradecemos a sua pergunta e leitura de nosso Ensaio e realizamos a seguinte reflexão de ideias:

      O termo “sionismo” nasceu por influência da obra O Estado Judeu (Der Judenstaat), escrita por Herzl. Essa obra foi resultado do crescimento do antissemitismo no continente europeu e sua produção foi motivada pelo caso Dreyfus. O Sionismo é um movimento político que defende o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado nacional judaico independente e soberano no território onde historicamente existiu o antigo Reino de Israel. Interessante pensar que a discussão se entrelaça com o conceito de JUSTIÇA, num dos casos mais famosos da história que é o JULGAMENTO do militar Dreyfus. Herzl ganhou notoriedade quando passou a publicar matérias assinadas na imprensa alemã a partir do final da década de 1880 e, graças a isso, recebeu um convite para se tornar correspondente do jornal "Neue Freie Presse" em Paris, onde cobriu o julgamento do militar Alfred Dreyfus - (muita similaridade com algumas discussões realizadas por Hanna Arendt que foi acompanhar o julgamento de Eichemen). Dreyfus era um oficial judeu do Exército Francês acusado injustamente de espionar em favor dos alemães. Ao testemunhar a série de fraudes engendradas por elementos da oficialidade francesa para culpar Dreyfus com alegações antissemitas, Theodor Herzl se deu conta de que nem a assimilação cultural seria capaz de livrar os judeus da discriminação. Não temos condições de analisar o caso Dreyfus em poucas linhas, sugerimos que se aprofunde na questão em outras leituras, mas trazemos aqui para refletir em sua questão, um dos conceitos de Justiça, articulado pelo nosso pensador e jurista brasileiro Rui Barbosa: “justiça é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”. Se a Justiça tratar a todos com a mesma indistinção e sem considerar as particularidades e desigualdades que marcam cada grupo em cada condição histórica, erros serão cometidos, e de fato, a Justiça será cega. O caso Dreyfus foi um equívoco do judiciário francês culminando em um escândalo político, ocorrido na última década do século XIX. O oficial de artilharia de origem judaica, foi acusado de vender segredos militares. Sua condenação pautou-se em documentos falsos e a justiça condenou deliberadamente um inocente de maneira falsa e intencional. Nesse sentido, o que legitima a luta por igualdade, por direito ao território, por regras anti-racistas não são os Tribunais e Legislações abusivas, mas a luta histórica de um povo que justamente, luta contra opressão e reivindica justamente, o direito ao seu território, historicamente usurpado. Seria interessante a leitura de um historiador chamado E. P. Thompson na obra intitulada Senhores e Caçadores, nela o autor explica o contexto histórico de formulação das legislações, arbitrariedades jurídicas e construção histórica das legislações, questionando o que provoca a criação de leis, quais os interesses específicos de sua aprovação, e como funciona os Tribunais, que via de regra determinam quem está com a razão e quem são considerados os usurpadores¿ Nesse sentido o contexto midiático que defende um, ou outro grupo, cria imagens que se aproximam muito ao que aconteceu com o militar Dreyfus. Os domínios das leis podem ser injustos. À Historia cabe a tarefa de compreender, enquanto o direito julga (Ginzburg). Então, a luta pela conquista de direitos históricos, mesmo com o enfrentamento de leis arbitrárias ou deliberadamente manipuladoras, não exclui o direito de um povo de lutar pelo seu direito primordial de acesso à terra, à moradia, à sobrevivência, e ao território que garanta a esse povo o direito de continuar existindo e preservar sua história. Portanto, deixamos aqui como reflexão e provocação intelectual a célebre frase de Thompson: “o domínio da lei é, em última instância uma máscara do domínio de classe” e os revolucionários tem total e ampla liberdade de lutarem contra as injustiças provocadas por leis arbitrárias e injustas.

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  5. Olá.
    Parabéns pelo trabalho, realmente um tema que ao meu ver nos professor sabemos poucos sobre o tema proposto por vocês, há uma ideia geral sobre Israel e a Palestina, mas quase tudo com base em pouca leitura e conhecimento. Na sua opinião não deveria partir das universidades um aprofudamento sobre o tema, para que com isso o tema fosse melhor discutido e posteriormente levedo aos alunos da educação básica?
    Anderson da Silva Schmitt

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  6. Yasmin Rodrigues Roque7 de outubro de 2022 às 22:27

    Boa noite, Anderson, agradecemos pelo comentário e pela reflexão. Acreditamos que o presente ensaio visa iniciar e incentivar um debate sobre o conflito israelo-palestino. Restringir o conhecimento aprofundado apenas as Universidades, impede os debates, as trocas de conhecimento e a formação crítica para com adolescente e jovens que não vão seguir na carreira acadêmica, a fim de desconstruir ideias xenofóbicas, racistas e violentas sobre os diversos povos orientais, os conflitos e a desconstrução da terminologia oriente. Devido ao contexto presente que o Brasil se encontra A universidade segundo a Marilena Chauí é uma instituição social que deveria ser um local de autonomia, de reflexão, de produção de conhecimento e acima de tudo uma instituição republicana e laica, onde educação e a cultura pudessem ser concebidas como uma constitutiva de uma cidadania. Infelizmente nos últimos anos, a universidade tem sofrido ataques dos mais diversos possíveis com reformas que tem de certa forma tentado definir os setores que compõe o estado e que tem retirado da universidade a sua função de instituição social e transformada em uma organização. A universidade deixou de ser um direito e passou a ser considerada um serviço, a educação deixou de ser um serviço público, e considerado um serviço que possa ser privatizado, com essas mudanças e com essas reformas a universidade tem sido oprimida, sofrendo os impactos do sistema capitalismo, onde professores e alunos não conseguem mais realizar num tempo pertinente, pesquisas de qualidade e aulas com reflexões de temáticas com espaços ao diálogo. A universidade está cada vez mais fragmentada do mercado financeiro, os estudantes que passam pelas universidades cada vez mais preocupados em uma formação produtivista para o mercado, consequentemente a universidade adere ao pensamento produtivista e abandona a formação continuada dos professores, as pesquisas dos alunos, e se torna em um ritmo frenético cada vez mais um lugar inserido na lógica do modo de produção capitalista. Isso é importante para entendermos que a universidade através destes ataques que ela vem sofrendo, tem perdido a capacidade que a universidades aprofundem nestas temáticas, dialoguem e que cheguem não só aos professores que estão sendo formado dentro da universidade, mas também aos estudantes do ensino básico. Com essas mudanças, tem ocorrido uma velocidade de produção, os alunos de graduação e pós-graduação tem submetidos a leituras rápidas, falta tempo para se aprofundar em várias questões, e a universidade tem abandonado o seu núcleo fundamental que é a formação permanente e continuada.

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