Considerações
iniciais
Nem
sempre nos atentamos à relevância ímpar do alfabeto para as sociedades. Todavia
a escrita foi tão imprescindível à humanidade que só passamos a falar em
História (e não mais Pré-História ou Proto-História) a partir de sua invenção e
uso. A Coreia medieval parece ter sido obrigada a pensar a pertinência da
escrita, uma vez que, por não deter um alfabeto próprio ao seu idioma,
utilizava um sistema de escrita estrangeiro [NATIONAL INSTITUTE OF KOREAN LANGUAGE, 2008]. Dessa
necessidade nasceu o Hangul (한글), o alfabeto da língua coreana, que foi deliberadamente
pensado e projetado para que suas características atendessem às exigências do
idioma e povo coreanos [PAE, 2018, p. 335-336]. Tal alfabeto, por sua história
e formação linguística bastante singulares, tornou-se abundante temática nas
mais diversas áreas do conhecimento. Entendendo a origem do Hangul, este
texto visa apresentar o processo de permutação da escrita chinesa à coreana,
bem como fazer uma introdução às estruturas linguísticas do alfabeto
supostamente desenvolvido pelo Rei Sejong no século XV.
Formação
histórica: do chinês ao coreano
Os
caracteres chineses, Hànzì (漢字), já eram conhecidos
na Coreia desde antes da Dinastia Han (206 AEC a 220 EC) e foram amplamente
utilizados pela administração local durante esse período. A primeira evidência
do uso da escrita chinesa na Coreia provém de uma inscrição em pedra datada de
414 EC [KING, 1996, p. 218]. Durante um longo período o idioma e os caracteres
chineses foram utilizados como língua franca em todo o Leste da Ásia (assim
como foi com o latim para a Europa medieval), inclusive no Japão, Coreia e
Vietnã [MARINO, 2020, p. 11]. O alfabeto chinês permaneceu, embora com notáveis
dificuldades, arraigado na vida literária coreana [NATIONAL INSTITUTE OF KOREAN LANGUAGE, 2008]. Dois dos
principais problemas verificados foram: a lacuna entre a língua coreana e os
caracteres da escrita chinesa e a dificuldade na alfabetização em chinês que,
por sua complexidade e diversidade, gerava uma crescente restrição ao acesso à
escrita e leitura. Evidentemente, não devemos desconsiderar as relevâncias
sociopolíticas do desenvolvimento de um alfabeto coreano próprio. Como bem
definiu Marcos Bagno [2015], a linguagem (escrita ou falada) é uma entidade
social que atua enquanto instrumento de poder. O idioma é, certamente, um
importante patrimônio cultural que carrega a história e o espírito de um povo [NATIONAL INSTITUTE OF KOREAN LANGUAGE,
2008]. Portanto, a dependência coreana do alfabeto chinês gerava
complicações políticas internas (a restrição da escrita às elites) e externas
(a resignação ao poder político-cultural da China).
O
primeiro sinal de ruptura entre as escritas chinesa e coreana se deu pela
tentativa de escrever com caracteres emprestados do alfabeto chinês – ou seja,
escrever nomes coreanos transliterados no chinês encontrado na literatura e nos
textos budistas. Chamou-se tal sistema de Hanja (漢字) [MARQUES, 2021]. Esse alfabeto de caracteres sino-coreanos era
proveniente da adição de leituras e significados coreanos a certos ideogramas
genuinamente chineses. O que não era de se espantar, afinal a Coreia possuía
vasta experiência no uso da escrita proveniente da China [KING, 1996, p. 218].
Todavia, tal sistema ainda era ineficiente, pois expressava imperfeitamente a
língua coreana, de modo que idioma e escrita estavam desempenhando funções
desassociadas e imprecisas [PAE, 2018, p. 336].
Em vista disso, Rei Sejong (r. 1418-1450), o Grande (朝鮮世宗 세종대왕), quarto monarca da dinastia Joseon (1392-1897), teria desenvolvido
o Hunminjeongeum (훈민정음) – nome
inicial do alfabeto coreano.
Os
autores ainda discordam quanto à criação dessa escrita. Alguns afirmam que o
próprio Sejong foi o único responsável por sua composição, algo que teria feito
secretamente para não encontrar oposição das elites e dos intelectuais, como
exposto pelo National Institute
of Korean Language [2008];
outros atribuem a formação do alfabeto ao Instituto Real, Jiphyeonjeon (집현전), sendo o rei apenas
um intermediário político para aprovação e cumprimento do novo sistema
[MARQUES, 2021]. A criação do Hangul, segundo o Rei Sejong, deu-se para
que a leitura e a escrita fossem aprendidas e ensinadas com clareza e agilidade
[BINDI, 2015]. Os caracteres deveriam ser suficientemente fáceis para que
fossem assimilados por todos com semelhante simplicidade, para o monarca o
alfabeto deveria ser aprendido em menos de uma semana. Pode parecer estranho
àqueles que não possuem familiaridade com o idioma [FRANCISCO, 2018, p. 137],
entretanto, para os nativos em língua coreana, isso se mostrou verídico, visto
que: “as letras do alfabeto formam o desenho da letra ao serem pronunciadas”
[MARQUES, 2021].
Salienta-se
que, mesmo após a propagação do Hangul, no século XV, a escrita chinesa
permaneceu dominante na cultura coreana até a segunda década do século XX
[KING, 1996, p. 218]. Isso ocorreu, pois a utilização do Hangul era
associada aos ignorantes (mulheres, crianças e classes inferiores) e por isso
foi rejeitado pelas elites locais, yangban (양반), e pelos
intelectuais coreanos que permaneceram utilizando o Hanja. Por outro
lado, o alfabeto coreano encontrou uma fértil aceitação nas camadas populares
da época, pois era muito mais simples e poderia ser aprendido de maneira
independente, sem educação proveniente da escolaridade formal [MARQUES, 2021].
Cabe
ressaltar a proibição ao Hangul durante o período de política de
assimilação imposta pelo governo do Império do Japão (1868-1947), que invadiu a
Coreia em 1910 [Cf. MACEDO, 2017]. Nesta época o uso do Hangul passou a
ser um símbolo da resistência coreana ante ao invasor [MARINO, 2020, p. 12].
Ross King [1996, p. 219, tradução nossa] comenta que:
“Desde
a libertação do Japão em 1945, a Coreia concedeu um papel muito menos
importante aos caracteres chineses do que nos tempos tradicionais, ou mesmo
pré-libertação. A Coreia do Norte aboliu o uso de caracteres chineses na
escrita pública em 1949, mas continua a ensinar um número limitado nas escolas.
A política sul-coreana tem sido menos consistente; certos ministérios do
governo usam mais caracteres chineses do que outros, mas a maioria dos
principais jornais diários ainda os usa, e os alunos aprendem aproximadamente
um mil e oitocentos caracteres [chineses] antes de terminar o ensino médio. O
papel dos caracteres chineses na escrita coreana foi um assunto de acalorado
debate público na República da Coréia na década de 1990”.
O
nome Hangul surgiu de um neologismo criado pelo linguista Cwu Si-Kyens
(1876-1914), membro do movimento de reforma e promoção da língua e escrita
coreanas. Até a década de 1910, o alfabeto também era conhecido como cengum
(sons corretos), enmun (escrita vulgar) ou kwukmun (escrita
nacional), sendo o nome original do coreano Hwunmin Cengum (訓民正音) [KING, 1996, p.
219]. Atualmente é considerado por vários linguistas como o melhor sistema de
escrita existente [BINDI, 2015]. O Hangul: “É uma das escritas mais
cientificamente projetadas e eficientes do mundo” [KING, 1996, p. 219, tradução
nossa]. De fato, o alfabeto coreano é bastante preciso e original [PAE, 2018,
p. 335], afinal foi o produto deliberado de um planejamento linguístico
encabeçado pelo rei Sejong, em 9 de outubro de 1446 [MARQUES, 2021].
Nesta
data, nove de outubro, comemora-se o Dia do Hangul (한글날) na
República da Coreia, o mesmo evento é celebrado no dia quinze de janeiro na
Coreia do Norte. Desse sistema de escrita conhecemos as
explicações e os porquês de suas formas e regras, sobretudo por terem sido
esmiuçadamente expostas na obra Hunminjeongeum ou Hwunmin cengum
(“Os sons corretos para a instrução do povo”) de 1446 – livro que havia sido
perdido e foi redescoberto apenas em 1940 [KING, 1996, p. 219].
Formação
linguística: do Hunminjeongeum ao Hangul
O
Hunminjeongeum (훈민정음), elaborado pelo rei Sejong, é
constituído por 28 letras, sendo 11 vogais e 17 consoantes. Trata-se de um
alfabeto fonético com um sistema de escrita segmentado, onde cada caractere
corresponde a um fonema (diferente do Hanzi chinês, onde cada caractere
representa uma palavra). A formação de palavras em coreano não se dá de maneira
linear, como em outros alfabetos, mas sim com a disposição de consoantes e
vogais em blocos silábicos (por exemplo, o nome “Hangul” escrito linearmente: ㅎㅏㄴㄱㅡㄹ;
em blocos silábicos: 한글) [LEE, 2013, p. 51]. As explicações para a
constituição do alfabeto coreano deram-se através do Hunminjeongeum haerye (Hanja:
訓民正音解例; Hangul:
훈민정음 해례), documento dividido em duas grandes partes: Yeuipyeon
(例義篇) e Haeryepyeon (解例篇).
A
primeira, “Seção de Exemplos e Definições”, escrita pelo próprio rei Sejong,
contém um prefácio sobre o propósito da criação das novas letras, além de uma
seção mais longa para explicar cada uma das vogais e consoantes e a maneira
como são combinadas para formar as sílabas. Já no Haeryepyeon (“Seção de
Explicações e Exemplos”), escrita pelos estudiosos de Jiphyeonjeon (집현전), sob ordem do rei, é dividida em 6 (seis) capítulos: Jejahae (制字解,
“Explicação do Desenho das Letras”), Choseonghae (初聲解,“Explicação
dos Sons Iniciais”), onde apresenta as 17 consoantes que aparecem em posição
inicial na sílaba; Jungseonghae (中聲解, “Explicação dos Sons
Mediais”), que apresenta as 11 vogais; Jongseonghae (終聲,
“Explicação dos Sons Finais”), sobre as consoantes que aparecem na posição
final da sílaba; Hapjahae (合字解, “Explicação dos Métodos para Combinação das
Letras”), como se dá a formação das sílabas; Yongjarye (用字例, “Exemplos
do Uso das Letras”), em que palavras coreanas são escritas com o novo alfabeto;
além de posfácio feito pelo estudioso Jeong In-ji (1396-1478) [UNESCO, 1997].
Segundo consta no capítulo Jejahae (制字解), sobre a origem dos
desenhos das letras, os caracteres do alfabeto coreano foram feitos para
“imitar formas”. As cinco consoantes básicas (ㄱ, ㄴ, ㅁ, ㅅ, ㅇ) representam o
movimento dos órgãos articulatórios ao serem pronunciadas – por exemplo, quando
a ponta da língua toca na crista alveolar, o som de ㄴ[n] é
emitido. Em relação às vogais (,ㅡ, |), seu formato foi inspirado nas
ideias Neoconfucionistas de “Três Poderes” – Céu, Terra e Homem – derivadas da
obra I Ching (易經), o Livro das Mutações
(composto antes da dinastia Chou, c. 1150-249 AEC) [PRATT; RUTT, 2013, p. 174].
As consoantes básicas também são frequentemente associadas aos cinco elementos
(Árvore, Fogo, Terra, Metal, Água), cinco estações (Primavera, Verão, Último
verão, Outono, Inverno), cinco notas musicais (Gak, Chi, Gung, Sang, U) e as
cinco direções (Leste, Sul, Centro, Oeste, Norte), presentes na filosofia
oriental [LEE, 2013, p. 49].
Por
ㄱ[k], ㄴ[n], ㅁ[m], ㅅ[s], e ㅇ[ɦ] fazerem referência
ao local de articulação, a seção Jejahae do Hunminjeongeum haerye
teve a explicação dos sons dividida em: molares, linguais, labiais, incisivos e
laríngeos. Dependendo das características fonéticas, as consoantes podem ser
divididas em: wholly clear, partly clear, wholly muddy, neither
clear nor muddy. Respectivamente, sob a ótica da fonologia moderna, essas
denominações equivalem: surdo ou desvozeado, aspirado, tensionado, sonoro. Já
em relação aos pontos de articulação, o som molar corresponde ao velar, labial
ao bilabial, laríngeo ao glotal, lingual ao apical, incisivo ao dental [LEE,
2013, p. 45]. No que concerne à intensidade sonora, as cinco consoantes básicas
são consideradas as de pronúncia fraca. Para representar um som mais forte,
foram adicionados traços aos seus desenhos, dando origem às novas letras: ㅋ[kh], ㄷ[t], ㅌ[th], ㅂ[p], ㅍ[ph], ㅈ[ts], ㅊ[tsh], ㆆ[ʔ], ㅎ[h]. Há, ainda, outras
consoantes cujas formas foram alteradas, resultando em: ㆁ[ŋ], ㄹ[l], ㅿ[z], entretanto a adição
de traços não fortaleceu suas sonoridades [LEE, 2013, p. 38-39].
Com relação às vogais, o Hunminjeongeum
haerye apresenta onze caracteres, dos quais três são considerados
básicos: [ʌ],
ㅡ[i], ㅣ[i]. Diferente das
consoantes, que possuíam sons equivalentes no chinês, os sons médios
(posicionados no meio da sílaba) não tinham correlatos na fonologia tradicional
chinesa. Portanto, as vogais do alfabeto coreano apresentavam um conceito
fonológico novo para o Leste Asiático do século XV [LEE; RAMSEY, 2011, p. 120].
Em relação ao formato das vogais, rei Sejong se inspirou no princípio de que os
sons humanos e os fenômenos universais advêm da harmonia entre Yin e Yang,
presente no Neoconfucionismo. Sendo assim, ㅡ [i] é desenhada plana como a Terra, que possui
qualidade de Yin; [ʌ] é redonda como o
Céu, ligada ao Yang; |[i] representa
o Homem em pé, sendo considerada harmonicamente neutra – uma vez que pode
coexistir tanto com as vogais Yin quanto com as Yang. Os demais
oito sons vocálicos são provenientes da união das três letras básicas ( , ㅡ, ㅣ) e estão, também,
condicionados ao Yin-Yang: ㅜ[u], ㅓ[ə], ㅠ[yu], ㅕ[yə] possuem [ʌ]
localizada
na parte inferior/interna, ou seja, essas vogais emergiram da Terra (Yin);
enquanto ㅗ[o],
ㅏ[a], ㅛ[yo], ㅑ[ya] possuem [ʌ] localizada
em cima/fora, já que surgiram do Céu (Yang). Esse tipo de classificação
permite que vogais Yin se relacionem bem com outras vogais Yin,
enquanto as Yang combinam melhor entre si [LEE, 2013, p. 49-50].
Segundo
descrito no Hunminjeongeum haerye, as consoantes também podem ser
combinadas para formação de novas letras. Para isso são apresentados dois
métodos diferentes: Byeongseo (Hangul: 병서; Hanja: 並書),
no qual as letras são agrupadas lado a lado (ㄲ, ㄸ,
ㅃ, ㅆ,
ㅉ, ㆅ) e Yeonseo (Hangul:
연서; Hanja: 連書),
em que duas consoantes são empilhadas para formar outra (ㅸ, ㆄ,
ㅹ, ㅱ) [LEE, 2013, p. 53-54]. Com o passar do
tempo, muitas dessas letras criadas tornaram-se obsoletas. Atualmente o Hangul
possui 51 Jamos (자모) ou Natsuri (낱소리), nomenclaturas
dadas às unidades que compõem o alfabeto coreano. Estão inclusas as 24 letras
básicas: 10 vogais (ㅏ, ㅑ,
ㅓ, ㅕ, ㅗ, ㅛ, ㅜ,
ㅠ, ㅡ,
ㅣ) e 14 consoantes (ㄱ, ㄴ, ㄷ, ㄹ,
ㅁ, ㅂ, ㅅ, ㅇ, ㅈ, ㅊ, ㅋ, ㅌ, ㅍ, ㅎ); além das 5 letras
duplas (ㄲ, ㄸ, ㅃ, ㅆ, ㅉ), dos 11 ditongos (ㅐ, ㅒ, ㅔ, ㅖ,
ㅘ, ㅙ, ㅚ, ㅝ, ㅞ, ㅟ, ㅢ) e dos 11 encontros
consonantais (ㄳ, ㄵ, ㄶ, ㄺ, ㄻ,
ㄼ, ㄽ, ㄾ, ㄿ, ㅀ, ㅄ) [LEE, 2019, p. 5-6].
Considerações
finais
Atualmente
a cultura coreana tem sido bastante observada em todo o mundo, inclusive no
Brasil – seja pelos avanços tecnológicos, pelas séries televisivas ou pela
música popular (K-pop). Isto tem gerado um maior conhecimento a respeito do
idioma e alfabeto coreanos que se apresentam como importantes caracteres para
sua história e cultura. Com esse texto buscamos introduzir os elementos que
levaram à criação e adoção do Hangul, cuja história se apresenta
bastante condicionada às tenções político-sociais enfrentadas pela Coreia. Do Hunminjeongeum,
proposto pelo Rei Sejong, ao atual Hangul, foram mais de quinhentos anos
até ser finalmente aceito e estabelecido como sistema de escrita oficial.
A
cientificidade e simplificação que envolviam o projeto de desenvolvimento do Hangul
fizeram deste alfabeto uma arma importante no combate aos altos índices de
analfabetização presentes na Coreia do século XV, motivo pelo qual seu
promulgador (o rei Sejong) nomeia, desde 1989, o maior prêmio de contribuição à
luta contra o analfabetismo no mundo (UNESCO King Sejong Literacy Prize)
[Cf. UNESCO, 2021]. Ademais, ressalta-se que o alfabeto coreano vem
influenciando e sendo influenciado ao longo do tempo. Por exemplo, na
atualidade o idioma vem incorporando diversas palavras do inglês que circulam
cotidianamente na Coreia do Sul e passam por um processo de adaptação para a
fonologia do coreano, fenômeno nomeado Konglish (콩글리시) [Cf. MARINO, 2020].
Em suma, vislumbramos uma introdução ao alfabeto coreano, em sua história e
linguística, percebendo-o como um projeto deliberado e bem-sucedido para que a
língua coreana não estivesse limitada ao uso dos caracteres chineses.
Referências
Mayara
Bassanelli é graduanda em Licenciatura em Letras Português-Inglês pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Formada pelo Colégio Técnico Industrial
de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista (CTIG/UNESP), possui Técnico
de Informática Industrial. Atuou em projetos de pesquisa e extensão pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal (UFMS/CPAN).
Membro do grupo de pesquisa Literatura e Tempos Sombrios/UFMS, sob orientação
da Prof.ª Dr.ª Carina Duarte.
Felipe
Daniel Ruzene é graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR) e no Bacharelado em Filosofia pelo Centro Universitário
Claretiano (BAT). Também estudou no Colégio Técnico Industrial de Guaratinguetá
da Universidade Estadual Paulista (CTIG/UNESP), na Escola de Especialistas de
Aeronáutica (EEAr) e na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Membro discente do grupo de pesquisa Antiga e Conexões/UFPR, sob orientação da
Prof.ª Dr.ª Renata Senna Garraffoni.
BAGNO,
Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
BINDI,
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https://brazil.korean-culture.org/pt/1/board/182/read/3247
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e cultura brasileira na Coreia do Sul” in Revista Entre Línguas, v. 4, n. 1,
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MACEDO,
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http://simporiente2017comunics.blogspot.com/p/o-imperialismo-japones-na-asia-era.html
MARINO,
Clariana Borges Gaíva. O fenômeno Konglish na música popular coreana (k-pop).
Monografia: (Graduação em Tradução) - Instituto de Letras e Linguística,
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Boa tarde, Mayara Bassanelli e Felipe Ruzene. Lendo o trabalho de vocês, uma dúvida surgiu acerca do aprendizado formal, ou seja, em escolas coreanas acerca do novo alfabeto. É claro que pessoas nascidas na década de 1920 dificilmente estariam vivas, no entando, gostaria de saber se em algum momento da pesquisa de vocês foi possível entender como é a convivência com uma língua que mudou (além de correções ortográficas como conhecemos) em diversas gerações.
ResponderExcluirOlá, Fernando. Tudo bem?
ExcluirPrimeiramente, agradeço pela dúvida!
No que diz respeito ao uso do Hangul em finais da Idade Média (isto é, desde a publicação do Hunminjeongeum em 1446 à invasão japonesa de 1592 na Guerra Imjin), realmente encontramos escassas citações em relação à aprendizagem do novo alfabeto pela população. Os autores (ao menos aqueles pesquisados até então), inspirados por fontes governamentais, religiosas e acadêmicas (LEE; RAMSEY, 2011, p. 101), limitam-se a afirmar que o sistema foi capaz de “deixar todas as pessoas aprenderem facilmente” (Ibidem, p. 235). Cita-se, também, o interesse popular pela poesia e o surgimento de novas formas literárias como elementos difusores do Hangul no século XVIII. Isso teria acarretado o aumento do interesse e facilitado a aprendizagem do novo alfabeto (Ibidem, p. 242). Na década de 1910, quando da Ocupação Japonesa, o sistema alfabético coreano já era profundamente difundido e utilizado cotidianamente (embora ainda sobrevivessem os caracteres chineses). Assim sendo, com a libertação em 1945, há um retorno ao uso amplo do Hangul que havia sido proibido, embora não esquecido (Ibidem, p. 289).
Referência: LEE, Ki-Moon; RAMSEY, S. Robert. A History of the Korean Language. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.
Espero ter sanado sua dúvida!
Felipe Ruzene
Obrigado pela explicação! Sanou sim.
ExcluirOlá! Gostaria de saber se os autores possuem a informação de a partir de qual momento a elite coreana passou a aceitar e utilizar o alfabeto hangul. Obrigada!
ResponderExcluirGabriela Soares Lima dos Santos
Olá, Gabriela. Tudo bem?
ExcluirPrimeiramente, agradeço pela dúvida!
Na Coreia Medieval a publicação escrita era amplamente controlada e supervisionada por uma elite real e aristocrática, principalmente para fins pedagógicos ou para o proselitismo budista (LEE; RAMSEY, 2011, p. 242). Até meados do século XIX, o chinês clássico, permaneceu sendo o mais prestigiado sistema alfabético e o meio de escolha para a escrita formal, pelo menos entre os membros dessa elite (Ibidem, p. 287-288). O interesse popular pela poesia e o aparecimento de novas formas literárias, destacam-se como elementos difusores do Hangul a partir do século XVIII. Ainda assim, a última barreira a ser vencida para a aceitação do alfabeto coreano pelas elites locais foi, segundo Ross King (1996, p. 219), a Ocupação Japonesa de 1910. Ao tornar o Hangul um símbolo da resistência coreana ante ao invasor, o alfabeto passou a receber status de marcador cultural e se tornou ferramenta para as mais diversas classes sociais da Coreia. Não obstante, porém, é preciso salientar que a resistência das elites não foi homogênea, sobretudo porque as origens do sistema alfabético foi justamente a Academia Real e a própria figura do rei.
Referência: KING, Ross. Korean writing. In: DANIELS, Peter; BRIGHT, William (Org.). The World's Writing Systems. Oxford: Oxford University Press, 1996. p. 218-227.
LEE, Ki-Moon; RAMSEY, S. Robert. A History of the Korean Language. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.
Espero ter sanado sua dúvida!
Felipe Ruzene
Muito obrigada pela resposta!
ExcluirGabriela Soares Lima dos Santos
O hangul é o único alfabeto que a gente sabe realmente suas origens né? O índice de analfabetismo na Coreia do Sul se não é zero, chega a ser quase isso. Minha pergunta na verdade é uma curiosidade: na Coreia do Norte, o Hangul tem a mesma estrutura da Coreia do Sul? Ou tem algumas diferenças em consoantes e vogais?
ResponderExcluirSuelen Bonete de Carvalho
Boa noite, Suelen
ExcluirAgradeço por ter lido nosso texto e estar curiosa para saber mais. Realmente o Hangul é um dos poucos alfabetos usuais que temos conhecimento sobre a sua formação. Como seu estabelecimento como sistema coreano de escrita se deu antes da separação das Coreias, a Coreia do Norte utiliza o Hangul assim como a República da Coreia. A diferença é que, na Coreia do Norte, o uso de Hanja e de palavras provenientes do chinês, bem como de outras línguas estrangeiras, foi proibido. Também, lá não se chama o alfabeto de Hangul, mas de Chosŏn'gŭl (조선글) – nome que vem de Chosŏn, considerada a região que deu origem às Coreias. Outra diferença está relacionada à pronúncia das palavras, uma vez que o dialeto Pyŏngan (da capital Pyongyang) é a base para o idioma falado na Coreia do Norte. Caso tenha interesse em compreender melhor esse dialeto, Ross King tem um escrito muito interesse intitulado “Dialect, Orthography and Regional Identity: P’yong’an Christians, Korean Spelling Reform, and Orthographic Fundamentalism”. Por esse texto dá para ver algumas diferenças entre o Hangul e o dialeto Pyŏngan.
Inclusive, achei um site interessante com uma listagem de dialetos coreanos (tanto da República da Coreia, quanto da Coreia do Norte). Deixarei registrado aqui se sua curiosidade aumentar: https://scientiapt.com/dialetos-coreanos
Espero ter conseguido responder sua dúvida.
Abraço,
Mayara Bassanelli.
Quero agradecer a resposta e a indicação do site! Até o salvei, achei super didático!
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