Introdução
O século XX é carregado de vários
acontecimentos que ocorreram pelo mundo, um deles é o fenômeno da Guerra Fria e
seus conflitos externos, como os processos revolucionários e ditatoriais que
atingiram diversos países. Com base nisso, este breve resumo irá abordar os
processos ditatoriais na Coreia do Sul no período correspondente de 1961 a 1988
e do Brasil em 1964 a 1985, com o objetivo de compará-los a fim de expor suas
semelhanças e diferenças, se houver, no decorrer deste processo. Bem como,
explicar rapidamente como se deu o processo de redemocratização em ambos, dessa
forma procuramos destacar figuras femininas que se fizeram relevantes nesse
período onde o direito à liberdade da livre expressão, por exemplo, foram
exterminados com os Atos Inconstitucionais no Brasil e na Coreia do Sul com os
movimentos de contestação.
Para entendermos os processos ditatoriais
é relevante destacar que estes são formados em sua essência por conflitos
políticos autoritários, sua manutenção é mantida pela violência, são governos
ilegítimos e de exceção. A partir disso, vale ressaltar que sua principal característica
é a centralização do poder, mantendo este nas mãos de um indivíduo ou de um
grupo com o monopólio deste, com o objetivo de manter o controle utiliza como
de meio de restrição de informações, a censura nos meios de comunicação, como
por exemplo, a empresa e em alguns casos os outros poderes compostos pelo
Estado como o legislativo e o judiciário, mantendo constantemente essa divisão
extinta, somente havendo o ditador com o controle do Estado.
Nesse sentido, busca-se analisar como se
deu esses processos na Coreia do Sul e no Brasil no século XX. No caso do
Brasil, será abordado o papel do feminino no processo ditatorial brasileiro e
suas principais características, já no caso Sul Coreano, iremos apresentar como
a figura feminina no audiovisual é apresentado nos governos autoritários, bem
como analisar o K-drama Reply 1988, onde se mostra tal característica. Além
disso, a análise sobre o processo de redemocratização faz-se necessário para se
compreender a pós- ditadura e como em cada país essa execução se deu.
A ditadura sul coreana
e a perspectiva do audiovisual: o feminino em questão
A história da Coreia do Sul no século XX
é carregada de processos históricos e marcantes. Começando com o fim da última
Dinastia Coreana – Joseon (1392-1910) – com a anexação da Península Coreana ao
Japão, começando assim o período de Ocupação Japonesa (1910-1945). Logo após, o
mundo passava pelo período de pós Segunda Guerra Mundial, e os coreanos também
estavam em conflito, que eclodiu na Guerra da Coreia (1950-1953), com a divisão
peninsular em Coreia do Norte – República Popular Democrática da Coreia (RPDC)
– e Coreia do Sul – República da Coreia – com ideologias políticas distintas,
por conta do cenário de Guerra Fria.
E este período de conflitos ideológicos
que os movimentos sociais ficaram em evidência na Coreia do Sul, assim como os
regimes autoritários. Em 1961, começa com o golpe de estado de 16 de Maio,
pondo fim a 2° República da Coreia – que durou de 1961 a 1963. Durante o
período de 1963 a 1972, houve a ditadura militar de Park Chung-hee (1961-1979).
Esse foi um período de fragilidades e tentativas de reestruturação da Coreia do
Sul, no pós divisão da península no Norte e Sul, que acarretou, em mudanças e
débitos industriais, que afetaram a economia do país e politicamente – com a
ameaça comunista. Assim como afirma Quý:
“[...] o regime de Park Chung-hee, no
entanto, foi também o pior período sob o aspecto social. A ditadura militar
(1961-1987) fez toda a sociedade sul-coreana apenas viver e trabalhar de acordo
com apenas três regras, como “anticomunista”, “governo ditatorial” e “economia
desenvolvimentista” [...] Durante os anos de 1960 até 1970, as condições de
vida da força de trabalho que migraram de setores agrícolas para as cidades ou
áreas industriais foram extremamente cheio de dificuldades [...].” (QUÝ, 2012,
p. 6).
De acordo com a citação, esse governo e
as práticas de repressão contra os sul-coreanos permaneceram durante um bom
tempo. Porém, não foi só com a liderança de Park Chung Hee, que existiram tais
ações, nos próximos também ocorreram. Nesse sentido, foi a partir da década de
80 que os regimes ditatoriais começaram a ficar intensos, a exemplo temos o
Massacre de Gwangju, para demonstrar uma das consequências que esse regime
acarretou. Segundo Mi, “depois que o presidente Park Chung-hee foi assassinado
em 1979, a Coreia desfrutou de um breve período de democratização [...] O
general Chun Doo-hwan, no entanto, frustrou esta esperança de democracia ao dar
um golpe militar” [MI, 2005, p. 265]. General este que massacrou bastante civis
no massacre mencionado acima, tornando seu governo uma continuação de mais um
período ditatorial. E foi a partir desse novo regime militar, que o papel dos
movimentos de contestação estudantil entrou em vigor entre os coreanos.
E é nesse pano de fundo que a temática
irá se voltar, nesse aspecto, a década de 80 – tempo de redemocratização na
Coreia do Sul – também passou por um golpe militar, assim como nos anos anteriores.
Assim como governo de Chung-hee, Chun Doo-hwan continuou com a prática dos
chaebols – conglomerados empresariais coreanos – porém, de acordo com Heo et
al. “[...] a economia internacional ambiental não era favorável às
exportações coreanas [...] para enfrentar esses problemas, o governo [...]
adotou medidas políticas agressivas para a desenvolver a economia [...]” (HEO et
al., 2008, p.8). O que fez com que esse governo, procurasse novas formas
para lidar com o aspecto econômico – algo crucial no comando de um país – além
do quadro internacional com outros países. Ademais, mesmo com a economia tendo
melhoras, no aspecto social, ainda continuava a forte repressão que o governo
detinha sobre as pessoas. Em 1987 – um ano antes das Olimpíadas de Verão que
seriam sediadas em Seul - houve um incidente que fez mudar os cursos do governo
de Chun, que foi:
“[...] os protestos pela democracia
aumentaram devido o abuso dos direitos humanos e o regime autoritário do
governo. O movimento culminou na morte acidental de um estudante universitário,
Park Jong-Chul, que foi causado por uma surra policial. Milhares de pessoas
saíram às ruas para protestar contra o governo de Chun e pedir uma eleição
direta para o próximo presidente [...] 29 de junho de 1987, o governo fez um
anúncio para ceder para a transição para a democracia, que incluiu: 1) uma
eleição direta do presidente; 2) garantia dos direitos humanos; 3) garantias de
liberdade de expressão; 4) autonomia local; e 5) garantir a liberdade de
partidos políticos.” (HEO et al., 2008 p. 11).
Nessa corrida presidencial que estava
ocorrendo, a vitória foi de Roh Tae-woo – que também teve seu governo
questionado por seu apoio a Chun Doo-hwan e pela sua formação militar – dando
assim o cenário do k-drama que será apresentado como análise de gênero nos
movimentos populares a favor da democratização. Dito isto, Reply 1988 é uma
telenovela sul-coreana do ano de 2015 e, produzida pela CJ E&M e
distribuída pela tvN. É uma telenovela ambientada nos anos de 1988, e que
mostra a vida de cinco amigos e suas famílias e também, como foram a década de
80 na Coreia do Sul. Em 1988, ano da Olimpíadas de Seul uma das personagens –
Sung Deok-sun (Hyeri) – é escolhida para ser piquete e representar um país na
Cerimônia de abertura, sua irmã Sung Bo-ra (Ryu Hye-young) – a que será parte
importante desta análise – porém, alerta sobre a realidade das olimpíadas e os
planos de governo, assim como afirma Chade em “Seul, 15% da população foi
violentamente expulsa e 48 mil edifícios foram demolidos em 1988 durante a
preparação dos Jogos Olímpicos. A especulação imobiliária aumentou em mais de
20% o valor dos apartamentos e em mais de 27% o de terrenos.” (CHADE, 2010, p.
2).
Por meio de outras falas, Sung Bo-ra
obtém papel importante nos primeiros episódios que retratam parte do que foram
os movimentos de contestação dos direitos civis na Coreia do Sul. Ela além de
tudo é estudante de Matemática da SNU (Seoul National University), e se
encaixa em uma das categorias que mais faziam parte dos protestos, a categoria
estudantil. Nesse k-drama é possível ver como a relação de gênero, como Joan
Scott, afirma: “[...] o que é talvez mais importante, "gênero" era um
termo proposto por aquelas que sustentavam que a pesquisa sobre as mulheres
transformaria fundamentalmente os paradigmas disciplinares”. (SCOTT, 1995, p.
73).
Diante disso, a escolha de retratar o
papel da mulher nesse movimento de ditadura e redemocratização é algo essencial
como perspectiva ampliada, assim como, no aspecto do audiovisual. Embora esta
proposta seja abordada como uma jovem que busca sempre estar atenta a realidade
política em que vive, sendo assim, ao usar produtos essencialmente coreanos – como
roupas e sapatos – e ler sempre livros de conteúdo político-crítico a fizeram
se tornar parte dos protestos, algo que sua família é contra. Entretanto, mesmo
assim, ela continua tendo seu senso político forte – e de personalidade –
demonstra ser uma figura feminina de poder nesse cenário político conturbado,
até conseguir se formar em outra faculdade, em Direito – desta vez – e sendo
uma pessoa política importante durante o k-drama.
A ditadura militar brasileira e as mulheres
No
Brasil, o golpe de Estado de 1964 que teve seu início em 31 de março a 1º de
abril do mesmo ano foi o primeiro passo dos militares para se perdurar no
poder, mantendo este sem dúvida com a violência, para Fábio José Cavalcanti de
Queiroz “o golpe de Estado não significa somente a modelagem de um novo bloco
de poder, mas de uma nova forma de dominação política, assentada sobre as
ruínas da classe trabalhadora.” (QUEIROZ, 2015, p. 113). Em vista disso, os
meios de dominação exercidos pela nova ordem são ilegítimos e quando nos referimos
ao golpe, é entendível que se tenha em mente que essa articulação se expande de
forma ilegal, derrubando governos constitucionais e trazendo em vigência um
meio de controle que se constitui em atrito com a constitucionalidade. Desse
modo, todo o resultado desse governo é de caráter autoritário, e por se
constituírem de forma ilícita utilizam de meios como a tortura - um dos vários
aparatos da violência – para manter a exclusividade do regime.
Após
o golpe, a ditadura militar brasileira permanece em 21 anos, que foram marcados
por diversas irregularidades nos meios constitucionais e com inúmeras denúncias
de ataques à integridade dos indivíduos, não prevalecendo a Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Por isso, não é incomum que as Forças Armadas
sejam os detentores do poder neste cenário, pois são esses que possui o
controle sobre grande parte do armamento bélico e de indivíduos patriotas que
juraram sacrificar suas próprias vidas a pátria amada, como podemos destacar de
um recorte do juramento à bandeira que diz “na esfera das minhas atribuições, a dedicar-me
inteiramente aos interesses da Pátria, cuja honra, integridade e instituições
defenderei, com o sacrifício da própria vida." (BRASIL, 1996). Diante
disso, o patriotismo é um elemento importante para se construir um Estado
autoritário e dar continuidade e legitimidade a um processo de caráter ilegal.
Inerente
aos ideais produzidos aos longos dos anos, surge na Ditadura a Doutrina de
Segurança Nacional que foi uma política para garantir os interesses nacionais,
esta “visava garantir a conquista ou manutenção dos objetos nacionais, tendo
diretrizes governamentais com contra ofensivas capazes de superar os óbices.” (CRESTANI, 2011, p. 4).
Criada para assegurar sua ilegitimidade como autoridade, realiza uma política
dos “inimigos internos”, esse sistema é bem mais complexo do que se parece,
pois este faz com que se crie no imaginário do outro a vigilância do próprio
indivíduo e de terceiros, provocando a normatização da autoridade imposta em
todos os seus 21 anos de governo. Produz-se um imaginário que precisa enquadrar
a sociedade e as instituições em um molde, e se por acaso existisse
inconsistências, estas se encontram fora dos padrões, viram automaticamente
inimigos internos do país.
Os
discursos ideológicos tornam-se comuns, se impregnam em todas as camadas
sociais e criam a normalização para se
manterem no poder, como resultado se legitimam as ações de violência. Em vista
disso, a Doutrina Nacional insere o Sistema Nacional de Informações (SNI), que
segundo Ana Lagôa “não é meramente um aparelho repressivo sofisticado, no
sentido policial da palavra. Ele faz parte de uma estratégia global."
(LAGÔA, 1983, p. 11). A formação do imaginário do cidadão comum que há um
inimigo interno e que pode ser o seu vizinho, por exemplo, cria um estado de
atenção simultânea. Essas e outras questões são meios comuns de processos
autoritários, este prevalece no domínio da força seja bélica ou de homens que
são comungados com estes ideais. Toda a trajetória da ditadura militar no
Brasil é marcada por incontáveis casos de torturas – principalmente físicas –
desde o golpe de Estado até a queda de João Figueiredo, último presidente da
ditadura. Fica evidente que no processo de 1964 a 1985, onde os seis
presidentes gozaram de prerrogativas para serem eleitos sem a participação do
povo, pode se afirmar que, a censura, violência, centralização do poder, a
cassação dos direitos políticos e a ilegitimidade são características
intrínsecas desse processo ditatorial, utilizando cada uma destas para se
legitimar e permanece no poder.
Sendo
assim, o feminino é exposto a um cenário onde as regras sociais são construídas
historicamente e vivenciadas desde a pré história, que consequentemente ocorrem
em looping e são novamente remodeladas as crenças, os hábitos e as
regras do que o feminino pode ou não cumprir. No período ditatorial as figuras
femininas e suas representações são rejeitadas logo a desqualificação da mulher
que lutava contra a ditadura no Brasil é vista como “desviante”, as relações
entre os gêneros mesmo nos meios mais alternativos, como no grupos militantes,
são evidenciados níveis hierárquicos e como resultado a desigualdade de um
grupo sobrevalece o outro, dessa forma o autor Marcus Aurélio Taborda de
Oliveira afirma que, “Homens e mulheres esqueciam que a luta pela igualdade
passa pelo reconhecimento das diferenças.” (DE OLIVEIRA, 2004, p. 8).
Nesse
sentido, o estudo do papel feminino é importante no processo de
redemocratização onde as militantes tiveram um papel essencial, estando à
frente nas “Diretas já”, que infelizmente não ocorreu de forma planejada, pois
a proposta foi rejeitada. Além disso tudo, as mulheres lutam diariamente com
cobranças sociais e preconceitos advindos de um processo que foi formado no
meio do machismo e de crenças limitantes. Assim como afirma a autora,
"como na época colonial
de que falava Spivak, sobre o corpo das mulheres são consumidas batalhas de poder
e de controle que esquecem o desafio transformador da sociedade que o feminismo
colocou”. Nesse sentido, não podemos romantizar esse movimento de
redemocratização, pois estratégias foram criadas para camuflar a oposição entre
as classes, como por exemplo, a expressão “transição democrática” que o
ex-presidente Ernesto Geisel afirmou que tal transição ocorreria uma
"distensão lenta, gradual e segura”.
Considerações finais
Conclui-se
assim, que os processos ditatoriais analisados de formas sucintas, são
caracterizados em sua maioria como violentos e como exposto ao longo do texto
foram erguidos de forma inconstitucional. Como são governos autoritários e de
exceção eles possuem uma ideologia muito marcada em cima do anticomunismo, e de
um plano de governo desenvolvimentista, as figuras destacadas do feminino foram
cruciais nos processos sociais, e com o decorrer dos anos essa movimentação
acaba influenciando no declínio do governo ditatorial.
Dessa
forma, podemos afirmar que toda a elaboração do golpe até a redemocratização
foram atividades exercidas por diferentes sujeitos em suas devidas proporções,
e a mulher que ousou lutar contra a ditadura sofreu socialmente e fisicamente
do Estado. Assim, como no âmbito realístico – no que tange as ditaturas por si
mesmas – e no ficcional, é possível ver que as mulheres, e a relação de gênero
é algo de destaque no decorrer dos processos citados ao longo do texto.
Utilizar a categoria de gênero, como ferramenta de análise, traz a tona a
questão da participação feminina, e quebra o estereótipo – principalmente o
asiático, da mulher frágil e que sempre necessita de ajuda – imposto sobre a
mulher.
Referências
Eduarda Christine Souza Pucci e Vitória D’Oliveira
Abrantes são discentes do curso de Licenciatura em História, pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ.
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Boa noite, Eduarda, Vitória, me perdoem pelo texto anterior e pela poluição da página como anônimo. Não consegui conectar da rua e o texto acabou sendo enviado de forma anônima.
ResponderExcluirDesconsiderem o texto anterior e fiquem apenas com esta versão. Me chamo Luis Sérgio Bentes Lopes, sou historiador e professor. Paraense, porém residindo no Distrito Federal. Mas vamos ao trabalho:
É com grande satisfação que leio o trabalho de vocês. Gostaria de ir diretamente ao artigo de vocês com uma pergunta específica, porém antes de mais nada, que fique registrado que a leitura deste material foi aprazível de duas formas diferentes: uma delas é por ter assistido o drama e ter ficado satisfeito com a representação que os sul coreanos deram a sua própria história, embora seja retratada no final de seu período ditatorial.
Como historiador, gostaria de um prolongamento para temas mais profundos, porém é compreensível pelo número de episódios. Outras mídias o fizeram, como o cinema, em "1987: When the day comes", de Joon-Hwan Jang, em que temos o trágico desfecho do caso Park Jong-Chul, assim como diversas outras obras que revisitam este momento tortuoso da cronologia histórica da Coreia no pós guerra. Com todas estas abordagens e observações feitas, percebemos que a indústria das artes e do entretenimento sul coreana é competente e progressista ao afirmar, quase de forma documental, que sua história é permeada por momentos de falhas graves como sociedade, paralelo que, parece-me, está distante do Brasil, haja visto os recentes acontecimentos de nossa história, a eleição de políticos sob o discurso de restauração de ditaduras como momentos de glória e pela pseudo-salvaguarda de uma ordem nacional, diante de uma "ameaça" comunista. Todos estes estelionatos políticos nos mostram que nossa progressão como sociedade - diante da própria evolução em direitos sociais e reconhecimentos de crimes, como os que foram documentados pela CNV, buscando catalogar as mortes e paradeiros desconhecidos durante o período ditatorial - está muito aquém do ideal e com muita dificuldade produzimos um pequeno quinhão de obras que traduzem nosso "mea culpa" como sujeitos da história. Gostaria de saber de vocês duas, o que pensam a respeito de tal tema? Enquanto na Coreia do Sul temos diversas obras, entre quadrinhos, filmes e K-dramas, no Brasil podemos citar talvez nos dedos de uma mão as obras que visitam a ditadura militar. Vocês acreditam que em nossa história próxima, na curta duração, o Brasil terá a hombridade de mostrar as vísceras de sua própria falha em obras do cinema ou da televisão? Agradeço muito pela cansativa leitura de uma pergunta tão extensa como a que fiz, porém de grande importância para minha curiosidade pessoa. Uma grande felicitação a vocês pelo trabalho e pela resistência. Parabéns e continuem o grande trabalho!
Olá Luis, estamos felizes que tenha gostado do nosso trabalho! Respondendo em partes, também gostamos desse k-drama, por mais que retrate pouco sobre o período de redemocratização, mas acreditamos que ele mostra bem o papel da classe estudantil nesse processo. Em vista disso, acreditamos ser notório os movimentos - principalmente após esses períodos ditatoriais, sobre o reconhecimento de crimes, e a divulgação destes para a sociedade, porém ainda existe um grau de insatisfação documental, muito retratada por uma cultura de censuras impostas que se tornaram uma realidade aceitável e o fato de ser deixar a história no “passado” e tentar apagar memórias a longo prazo. Essas problemáticas são antigas e ocasionam uma produção insatisfatória envolto da temática.
ExcluirNo caso da Coreia do Sul, realmente, podemos ver um catálogo extenso sobre a temática, porém é importante estar atento ao que essas obras estão produzindo e se confirmam com a historiografia – lembrando sempre que pode haver a licença poética e ficcional, como no caso do audiovisual. No caso do Brasil, observamos um caminho diferente da Coreia do Sul, mesmo sendo um país bastante conservador, tentam expor sua história - mesmo que com óticas divergentes da historiografia - enquanto no Brasil, em sua a atualidade existem poucas obras no audiovisual sobre a ditadura no Brasil, e mesmo quando são lançadas sofrem discriminização - de uma sociedade conservadora e que não parece ter vergonha do seu passado - mesmo sendo obras muito bem produzidas, observando que há versões distintas sobre um tema e que a licença poética e a ficcional mencionadas anteriormente precisam estar em questão. Especificamente a curto prazo, não acreditamos que o Brasil enquanto instituição tenha coragem de mostrar os fatos em rede aberta e nacional, tendo em vista impasses, onde na atualidade, o governo exalta a ditadura. Entretanto, ainda temos esperança que algum dia exista uma reparação histórica e social e que mesmo com os movimentos hoje fragmentados, provavelmente ao longo prazo e com políticas de valorização da História, seja provável que o país mostre com mais detalhes suas imperfeições.
Eduarda Christine Souza Pucci e Vitória D` Oliveira Abrantes
Caras, parabéns pelo texto! Contemplando o cenário histórico, vemos que, de fato, o século XX foi atravessado pelo fenômenos das ditaduras, e a consequente repressão sobre os corpos. Tendo em vista as dimensões culturais - uma milenar, coreana, outra mais recente, brasileira - e possível pesar qualitativamente o caráter dessas formas de repressão? Pode-se pensar que na Coreia ela foi mais pesada [pelas tradições antigas], ou atenuada? E o saldo pós-ditatorial, representa avanços mais efetivos para o feminino em ambas as sociedades, ou mais em um do que em outra? Grato! André Bueno
ResponderExcluirMuito Obrigada André pela pergunta, e por gostar da leitura do nosso texto! Respondendo a primeira pergunta, acreditamos que por meio das historiografias pesquisadas, percebemos que as formas de repressão se assemelham até no discurso de uma chamada “ameaça comunista” – algo que é compartilhado nos dois processos – assim como, a tortura, censura e desaparecimento, também se fizeram presentes. Em relação à Coreia do Sul, acreditamos – e vou tirar pela ótica do audiovisual, que alguns k-dramas retratam como pode ter ocorrido – que as formas de repressão foram pesadas, sim, mas pode ser equiparada com outras formas de ditaduras, o que mudaria seriam os desfechos, e com o início e desenvolvimento parecidos. Apenas mudando alguns movimentos em luta pela democracia e ambos mantendo um conturbado período de redemocratização. Deste modo, com relação ao avanço das políticas de gênero – em especial ao feminino – é possível observar modos divergentes de tratamentos das mulheres, mesmo após o período ditatorial, e até mesmo em um status democrática, onde ainda se vê formas de opressão referentes às mulheres. Na Coreia do Sul, houve avanços, sim, porém, ainda há muito o que as mulheres podem e devem alcançar. Já no Brasil, o que entra em destaque na primeira pergunta são os instrumentos de violência que torna todo o processo mais árduo observados nos dois países, em visões qualitativas é evidente que esses processos se dão de forma ilegal, mas são extremamente inteligentes para se manter no poder, mesmo sendo a custo de vidas. Em segunda questão, no Brasil pós-ditadura o feminino não foi tratado com a devida hombridade, isso porque a figura feminina nunca foi respeitada - no passado recente e na atualidade, como um ser autônomo e próprio de vontades que são distintas as de quem os tenta controlar, é notório que na Coreia do Sul o processo de lutas sociais são mais avançados em torno desta problemática, mesmo assim, no Brasil e na Coreia do Sul carecem de avanços sociais como sociedade e especificamente com o feminino equiparando essa como um ser convergente a sociedade. Esperamos que tenhamos conseguido responder a sua pergunta!
ExcluirEduarda Christine Souza Pucci e Vitória D` Oliveira Abrantes
Grato! =D
ExcluirAndré
Olá! Quero parabenizar pelo texto incrível! Foi uma leitura muito boa! Assim, gostaria de saber: existe alguma personagem feminina de destaque nos movimentos contra a ditadura que vocês acham relevante citar? Tanto no caso brasilero quanto no coreano.
ResponderExcluirAdemais, como desenvolvo um trabalho com uma temática similar, gostaria de pedir o endereço de email de ambas ou alguma de vocês para pedir algumas indicações. Obrigada!!
Gabriela Soares Lima dos Santos
Oi Gabriela, ficamos felizes que tenha gostado no nosso texto, no contexto do Brasil existem diversas figuras femininas que ganham destaque na ditadura, talvez a mais famosa seja a ex-presidente Dilma Rousseff entre tantas outras que foram torturadas, no Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) você vai conseguir encontrar diversos relatos de personagens femininas na ditadura no Brasil - esse é o documento mais completo sobre esse período na atualidade, onde trazem as falas das vítimas ou dos familiares, se quiser estudar figuras femininas antes deste período Olga Prestes também é bem relevante e se faz uma figura bem interessante para estudos futuros, sem contar com Lélia Gonzalez que foi uma importantíssima intelectual para a época. Na Coreia do Sul, temos alguns exemplos como Han Myeong-sook, a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra, sendo também candidata à presidência, mas obteve sucesso. Ela atuou bastante nos movimentos pró-trabalhadores e dos direitos das mulheres na década de 80. Temos outras mulheres de outros movimentos feministas que atuaram nesse período. Como mencionadas no texto escrito neste simpósio com o título “ IGUALDADE DE GÊNERO E DEMOCRACIA: A COREIA DO SUL E O MOVIMENTO FEMININO por Amanda de Morais Silva”. Aconselhamos que dê uma olhada que está ótimo e ela dá vários exemplos! Esperamos que tenhamos respondido sua pergunta! :)
ExcluirEmail: vitoriadoliveiraabrantes@gmail.com / eduardapucci123@gmail.co;m
Link do CNV: http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/
O site Memórias da Ditadura é um meio bem interessante, no caso do Brasil.
- Eduarda Christine Souza Pucci e Vitória D` Oliveira Abrantes