Introdução: a guerra no
Ocidente medieval
Ao tratar sobre Idade
Média, os grandes veículos de mídia tendem a reproduzir imagens de batalhas
campais envolvendo dezenas de milhares de soldados em confronto direto.
Evitando a discussão sobre o modus operandi da composição destes
materiais midiáticos, nossa proposta visa atingir uma discussão geral sobre os
confrontos militares empreendidos no período em questão, focalizando, em
particular, os séculos XIII e XIV e comparando a atividade guerreira sob o
comando de Fernando III e Temür.
Afinal, não poderíamos
propor uma discussão teórica que desse conta de mais de mil anos de história
válida enquanto noção universal. Contudo, debater as campanhas militares e a
prática da atividade militar em termos comparativos, partindo das fontes e da
historiografia, nos possibilita evidenciar semelhanças e distanciamentos em
contextos tão distintos.
Para fazê-lo, traçamos
elementos gerais comparativos sobre a prática da guerra no Oriente e no
Ocidente durante os séculos finais do que se convencionou chamar de Idade Média.
De início, se recorremos aos textos mais tradicionais sobre a temática, nos
deparamos com o Medieval Warfare [1999], organizado por Maurice Keen. O
livro elaborado pela Oxford pretendia dar conta de um processo de
desenvolvimento da atividade guerreira explorando aspectos como a
complexificação das fortificações no contexto europeu, a elaboração de táticas
de cerco, etc.
Ainda assim, a fim de
propor uma noção geral que desse conta de explicar a atividade guerreira nesta
conjuntura, podemos fazer uso do conceito de guerra de posição definido por
Francisco García Fitz [2001]. As batalhas em campo aberto se tornavam cada vez
mais escassas enquanto as campanhas militares passaram a visar a tomada de
castelos e vilas importantes. A partir da conquista de fortificações deste
tipo, os exércitos se reagrupavam, organizavam seus recursos e partiam para
novas investidas ofensivas.
Para isso, as tropas
promoviam ações de cerco combinadas com movimentos de desgaste. O objetivo
imediato era o isolamento dos habitantes de determinada cidade ou vila. Era
necessário um contingente significativo de guerreiros para este bloqueio do
adversário dentro das próprias defesas e, aliado a este aprisionamento, ações
de desgaste como cavalgadas, ataques a mantimentos e privação de acesso a vias
fluviais se demonstravam ótimas combinações ofensivas.
Diversas fontes
apresentam exércitos desgastados psicologicamente, mas, sobretudo, exaustos
diante de longos cercos sem acesso à água e comida. O cerco liderado por
exércitos cristãos em Sevilha em 1247 exemplifica este movimento [Primera
Crónica General de España, 1955, p. 765]. Com tantos meses em privação de
mantimentos, a derrota parecia até mesmo inevitável.
Os maquinários também se
desenvolveram no contexto em questão. Como assegura Richard Jones [1999, p.
174], máquinas de lançamento de longa distância, como balistas,
trabucos e manganelas eram empregados em alguns casos. Evoluções do
legado tecnológico-militar romano, as ferramentas utilizavam tração ou
contra-pesos e poderiam alcançar até 150 metros de distância, o que as tornava
mais eficazes diante de muralhas sólidas.
Havia ainda a
possibilidade de instalação de minas subterrâneas para fragilizar as defesas de
castelos ou a opção de invasões furtivas que, quando bem-sucedidas,
representavam uma significativa economia de tempo e recursos. Quando ocorriam,
os guerreiros costumavam agir durante a noite e com clima chuvoso,
potencializando o efeito surpresa e dificultando a visibilidade de defensores
em torres. Esta técnica aparece empregada na tentativa cristã de domínio de
Córdoba [Crónica Latina de los Reyes de Castilla, 1999, p. 97].
As campanhas militares
tinham custos distintos; eram mais caras, especialmente, quando o cerco se
estendia por meses a fio. Para viabilizar as operações, monarcas firmavam
acordos até mesmo com inimigos estratégicos e buscavam apoio diante da nobreza
aliada para garantir suporte bélico e econômico. Neste contexto, documentos
jurídico-militares cumpriam o papel de regulamentar e facilitar a continuidade
da vida pública enquanto os exércitos marchavam para confronto [Palomeque
Torres, 1944, p. 207].
Afinal, quando
discutimos a dominação territorial no medievo, nos referimos a projetos
políticos sólidos que, além de expansionistas, procuravam estabelecer alianças
estratégicas para a efetividade das operações militares.
Se enfatizamos como
exemplo o caso da Península Ibérica, notamos a multiplicação das fortificações,
sobretudo, a partir do século IX. Ali, tratamos sobre uma sociedade moldada
pela guerra e para ela [Palomeque Torres, 1944]. Marcados por conflitos
acentuados desde o século VIII, os peninsulares conviviam com elementos
pensados a partir da atividade militar em todas as áreas das suas vidas. Os
reinos da região elaboraram as construções adaptadas aos terrenos. Aonde havia
morros, os monarcas e senhores ordenavam que os castelos fossem erguidos sobre
eles para facilitar a visão externa em casos de ataque [Gutierrez Gonzalez,
1992].
Os reinos cristãos
ibéricos, até mesmo pela longa convivência — que, ainda que tenha sido marcada
por diversos embates, contou com momentos de trégua — incorporaram diversos
elementos trazidos pelos muçulmanos até mesmo em suas construções militares. A
utilização de cubos semicirculares nos castelos foi uma prática notória
[Gutierrez Gonzalez, 1992, p. 37].
Ao retomarmos reinados
como o de Fernando III, podemos notabilizar uma série de aspectos militares
supracitados. O rei castelhano-leonês [1230–1252] promoveu diversas investidas
contra os reinos muçulmanos da Península Ibérica e se tornou um dos maiores
conquistadores da região.
Recortamos o reinado do
monarca enquanto demonstrativo válido para a compreensão da teoria da guerra e
de projeto expansionista para domínio territorial, sobretudo ao tratarmos do
caso hispânico. Afinal, em seu reinado, os avanços por etapa foram evidentes.
Promovendo guerras de cerco e longos bloqueios que contavam com ações de
desgaste, como foi o caso de Jaén, cujas plantações foram atacadas antes mesmo
de um projeto efetivo de conquista, ele avançou sobre todo o Vale do
Guadalquivir.
Ademais, as alianças
políticas internas, contando com senhores de relevância e setores do episcopado
castelhano em seu favor, foram capazes de patrocinar as investidas que realizou
até sua morte, que resultaram na anexação de diversos reinos inimigos.
Utilizando os autores
mencionados, ressaltamos que o domínio territorial e as ações militares no
contexto europeu durante a Idade Média clássica estiveram marcados por uma
teoria e prática da guerra específica, definida em termos de avanços e
conquistas graduais. Instrumentos como a noção de guerra de posição nos
possibilitam o entendimento de campanhas que raramente se desenrolavam para
batalhas campais, mas que estavam articuladas em torno de fortificações que se
tornavam cada vez mais eficazes [Verbruggen, 1997, p. 327].
Podemos assegurar que,
grosso modo, as defesas medievais, especialmente no caso ocidental, estiveram
em vantagem sobre o desenvolvimento de elementos ofensivos. A cavalaria, maior
arma de combate do período, ainda que eficaz para movimentação de tropas e
relevante nos cercos e desgastes, era anulada pela solidez defensiva na maioria
dos casos onde não era planejada enquanto elemento de conquista a ser combinado
com outros fatores decisivos, como o isolamento político dos sitiados.
Tendo em vista os
elementos supracitados, este artigo possui o objetivo de traçar paralelos entre
o modelo de guerra utilizado no Ocidente medieval e as táticas utilizadas no
Oriente, em específico, as que eram empregadas por Temür. Desse modo, na seção seguinte,
apresentamos as campanhas realizadas por Temür e a constituição de seu Império
e, na sequência, realizamos uma comparação entre as táticas militares presentes
no exército timúrida e as táticas de Fernando III.
Guerra no Oriente: o
caso de Temür
As extensões
territoriais que eram anteriormente governadas por canatos mongóis
encontram-se, no século XIV, fragmentadas e, por vezes, sob o comando de
líderes que não participavam da linhagem de descendentes de Genghis Khan. Neste
contexto, a partir da dissolução das lideranças mongóis, especialmente nas
regiões localizadas ao oeste dos domínios que conformavam o Império Mongol,
tribos turco-mongóis assumiram o poder [Manz, 1989]. No cenário em questão
podemos situar a ascensão de Temür e, consequentemente, algumas de suas
campanhas militares.
A segunda metade do
século XIV é marcada, no Oriente, pelo início das conquistas realizadas por
Temür. Em um primeiro momento, o objetivo era a liderança de sua tribo
[Barlas]. Posteriormente, sua intenção era controlar o canato de Chagatai e,
por fim, expandir suas conquistas por todos os territórios conhecidos [Manz,
1989]. Podemos observar que, conforme Temür obtinha sucesso em suas pretensões,
seus objetivos eram expandidos e, como resultado, foi possível a constituição
de um Império. “A este império foram incorporadas, além da Transoxiana e da
Corásmia, as regiões ao redor do Mar Cáspio, Irã, Iraque, parte do sul do
Cáucaso e o território do atual Afeganistão e norte da Índia” [Ashrafyan, 1998,
p. 323, tradução nossa].
Desse modo, a expansão
territorial do Império Timúrida ocorreu de forma gradual, sendo que em um
primeiro estágio as conquistas estavam focalizadas na região Transoxiana. A
partir da década de 1380, começam as tentativas de adquirir regiões mais distantes
[Burgan, 2009]. Beatrice Forbes Manz [1989] afirma que as campanhas militares
destes dois períodos apresentam distinções: as primeiras eram mais frequentes e
relativamente curtas, com isso, mesmo o exército estando frequentemente fora
dos domínios, ele ainda estava em seu território original; por sua vez, no
segundo momento Temür lidera seus homens para longe do território de origem e
os mantém distantes por longos períodos de tempo.
Decorrente da grande
extensão temporal das expedições militares, três empresas foram nomeadas de
acordo com sua temporalidade, sendo elas: “Campanha dos Três Anos” [1386, ano
em que inicia-se a primeira grande campanha de Temür em direção ao Irã e ao
Cáucaso]; “Campanha dos Cinco Anos” [Temür realiza novamente uma expedição ao
Irã em 1392]; “Campanha dos Sete Anos” [campanha mais longa empreendida por
Temür, iniciada no ano de 1399] [Manz, 1989; Burgan, 2009].
Seguindo as tradições
militares dos líderes mongóis, o exército timúrida, de caráter nômade, possuía
sua principal força militar na cavalaria, a qual era proveniente de populações
tribais. Além disso, a infantaria era formada por um contingente de povos
sedentários, os quais eram responsáveis pelo manuseio dos maquinários,
utilizados, principalmente, em ataques às cidades [Ashrafyan, 1998].
“As campanhas de Temür
eram árduas e às vezes lutavam sob circunstâncias muito destrutivas para o
gado. Um grande número de animais morria, especialmente durante as expedições
que Temür realizava contra seus vizinhos do norte. O exército de Temür era
nômade, acompanhavam-nos as esposas e os filhos dos soldados, o que implicava
na necessidade de grandes quantidades de comida. Para prover-lhes, deveriam
renovar os estoques pegando animais dos nômades que eles encontravam ao longo
do caminho” [Manz, 1989, p. 101-102, tradução nossa].
O armamento utilizado
era composto por: arcos [grandes e pequenos]; espadas; shamshīr [modelo
de espada com a lâmina curva]; lanças de arremesso; escudo; e armaduras
[Ashrafyan, 1998]. Por sua vez, para atacar fortificações, os maquinários eram
utilizados [catapultas e balistas] com a intenção de abrir buracos, a partir
dos quais cavavam-se túneis. Já para ultrapassar as muralhas construídas ao
redor de fortalezas, “[...] os guerreiros utilizavam escadas e cordas
específicas para momentos de cerco, os quais eram lançados sobre as muralhas”
[Ashrafyan, 1998, p. 331, tradução nossa].
A organização do
contingente militar liderado por Temür baseava-se em costumes mongóis. Nesse
sentido, de acordo com Ashrafyan [1998], o exército timúrida era organizado por
meio de um sistema decimal. Isto é, dividia-se em contingentes nomeados de
acordo com a quantidade de membros, sendo eles: tümens [dez mil]; mingliks
[milhares]; yüzlüks [centenas]; onluks [dezenas]. Esta
organização tradicional é descrita no relato de viagens redigido por Giovanni
da Pian del Carpini
“[...] Gengis Khan
decretou que à frente de dez homens fosse posto um, e chama-se ele, à nossa
maneira, um decano; que à frente dez decanos fosse posto um que se designa
centenário; que à frente de dez centenários fosse posto um que se chama
milenário; que à frente de dez milenários fosse posto um, e esse número é
chamado de ‘trevas’” [CARPINI, 1929, p. 35].
Além disso, o exército
dividia-se em duas frentes, o centro, no qual localizavam-se os líderes, e a
vanguarda, auxiliada por postos avançados e que, usualmente, era o primeiro a
entrar em confronto com os inimigos. Acerca do acampamento, Ashrafyan [1998]
afirma que, em ocasiões em que era necessário montá-lo nas proximidades dos
inimigos, trincheiras eram construídas, assim como torres móveis.
Após a realização de
invasões bem-sucedidas, o exército era, de certa forma, separado. Uma vez que,
ao carregar os espólios e pessoas escravizadas, o ritmo do contingente era
prejudicado. Com isso, parte do exército ficava responsável pelo transporte e a
outra parte continuava os ataques, deixando os primeiros “para trás”
[Ashrafyan, 1998]. Ademais, Temür implementou algumas novidades táticas na
disposição do contingente militar e inspecionava regularmente os exércitos, de
modo a reforçar a disciplina dos que eram liderados por ele.
De acordo com Beatrice
Forbes Manz [1989], a organização militar timúrida aproveitou estruturas
remanescentes dos líderes anteriores e as uniu com contingentes nômades e
sedentários. Com isso, Temür foi capaz de mobilizar uma grande quantidade de
recursos em pouco tempo. A autora declara que, após realizar conquistas
territoriais, Temür adicionava ao seu contingente militar certos grupos que
haviam sido subjugados, com isso: “[...] o exército de Temür era descrito como
uma grande aglomeração de diferentes pessoas – nômades e sedentários,
muçulmanos e cristãos, turcos, árabes e indianos [...]” [Manz, 1989, p. 90,
tradução nossa].
As guerras empreendidas
ininterruptamente constituíam-se como fonte de poder para o imperador
turco-mongol. Tais empresas, além de objetivarem o ganho de riquezas, eram
promovidas para conquistar o controle de regiões estratégicas para o comércio
[Ashrafyan, 1998; Tibor, 2007].
Para conquistar e
subjugar novos territórios, Temür utilizava de sua força militar e, por vezes,
estabelecia acordos com outros líderes, os quais auxiliavam-no em novas
conquistas. Estas alianças não eram duradouras, devido aos próprios costumes
dos povos turco-mongóis e mongóis, no qual os interesses “pessoais” dos
comandantes eram mais importantes do que criar laços militares/políticos
duradouros [Tibor, 2007].
Estabelecendo paralelos:
a guerra ibérica e a guerra timúrida
Ao traçarmos comparações
entre as campanhas militares ocidentais e orientais, em específico, as ibéricas
e as desempenhadas por Temür, elencamos dois pontos comparativos. O primeiro
trata-se do objetivo das conquistas e o segundo, de que forma elas eram
realizadas.
As empresas lideradas
por Fernando III, rei castelhano-leonês, visavam a “reconquista” de territórios
que estavam sob comando mulçumano, mas que anteriormente eram de domínio hispânico.
Por sua vez, as campanhas empreendidas por Temür tratavam-se de conquistas para
a consolidação de um novo Império [fundado nas bases do sucesso de Genghis
Khan]. Dessa forma, é possível evidenciarmos a existência de objetivos
diferentes, quando comparamos os dois líderes em questão.
A despeito do
catalisador das conquistas serem distintos, o quê deveria ser
conquistado eram, em ambos os casos, territórios. Porém, enquanto Fernando III
organizava seus exércitos para lutarem contra muçulmanos, Temür liderava suas
tropas contra diferentes povos. Nesse sentido, no caso timúrida, o controle era
exercido de diversas maneiras, devido à própria multiplicidade de povos e
culturas. De acordo com Beatrice Forbes Manz [1989], no norte da Índia, na
Anatólia e na Síria, por exemplo, as invasões tinham o propósito de coletar
riquezas e destruir ou castigar os inimigos, não deixando uma administração
permanente após a vitória. Já em regiões como Irã, líderes próximos à Temür
foram colocados como comandantes dos locais conquistados.
Ademais, é relevante
notar como o sucesso de campanhas militares expansionistas estava atrelado a
uma combinação de fatores internos aos conquistadores, mas também à
desorganização dos derrotados. Enquanto percebemos a ausência dos canatos
mongóis como contexto favorável ao avanço na região, a desagregação da presença
muçulmana em pequenos reinos denominados taifas, a partir do século XI,
também possibilitaram os ataques de reis cristãos.
Tratando-se da forma
utilizada para realizar as conquistas territoriais, conforme supracitado, na
Península Ibérica, nos deparamos com um contexto em que as campanhas raramente
culminavam em batalhas campais. Em contrapartida, no cenário do Império
Timúrida, os ataques em “assalto” eram comumente aplicados, em consonância com
a rapidez atrelada à cavalaria.
Análogos aos assaltos
orientais, as cavalgadas funcionavam como elemento de desgaste dos inimigos e
para, extraordinariamente, os guerreiros reunirem mantimentos necessários para
a manutenção de cercos [Cardoso, 2015].
De modo convergente,
ocidentais e orientais utilizavam-se dos cercos para a conquista de cidades e
fortificações, assim como possuíam a disponibilidade de maquinários de guerra
para ultrapassarem muralhas. Os cercos de Córdoba, no caso de Fernando III, e
de Damasco, no caso de Temür, são exemplos de ocasiões em que os líderes
utilizaram tal tática para vencer seus oponentes.
Uma série de ferramentas
nos permitem aproximar as conjunturas tão distintas evocadas. Ao propormos este
estudo, defendemos que a teoria da guerra e a difusão de elementos essenciais
da sua prática podem ser apreendidas a partir das fontes históricas e dos
debates promovidos pela historiografia até então.
As variadas estratégias
militares empregadas pelos combatentes medievais no decorrer do período em
questão demonstram a relevância da atividade bélica para aqueles sujeitos e,
sobretudo, reforçam como o planejamento de campanhas militares era central para
qualquer projeto político expansionista, por mais que este devesse e, na
maioria das vezes, contasse com alianças relevantes para a aquisição e
manutenção de territórios.
Referências
Lucas Vieira dos Santos
é mestrando no Programa de Pós-Graduação em História [PPH] da Universidade
Estadual de Maringá [UEM] e membro do Laboratório de Estudos Medievais [LEM].
Sofia Alves Cândido da
Silva é mestranda no Programa de Pós-Graduação em História [PPH] da
Universidade Estadual de Maringá [UEM] e membro do Laboratório de Estudos
Medievais [LEM].
ASHRAFYAN, K. Z.
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VERBRUGGEN, J. F. The
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Olá Lucas e Sofia, saudações!
ResponderExcluirTimur se mostrou um estrategista notável em que usava a adaptabilidade do ambiente, uso dos recursos, mobilidade e outros meios para implementar suas ações de estratégias nas campanhas de expansões rápidas e isso foi importante para suas conquistas. No entanto, no ocidente era retratado como tirânico, hostil, cruel e outros adjetivos. Essa visão na construção da imagem de bárbaro que usava da espada ao invés da capacidade política e diplomática foi uma estratégia de Timur para causar terror aos inimigos ou dos narradores ocidentais de mostrar apenas um lado com o objetivo de satanizá-lo?
Clésio Fernandes de Morais
Olá, Clésio, muito obrigado pela pergunta!
ExcluirInteressante debater esta construção narrativa ocidental. É possível enquadrar a temática no debate que François Hartog propõe em O Espelho de Heródoto [1999], quando trata sobre a negativação do outro marcando-o por meio da alteridade. Nas palavras de Sandra Pesavento [2003, p. 48]: "A produção de identidades, no caso, é sempre dada com relação a uma alteridade com a qual se estabelece a relação."
Há uma tendência à autoafirmação histórica dos governantes ocidentais enquanto bons diplomatas e, muitas vezes, isso se faz pela marcação da diferença em relação ao outro [neste caso, oriental e "barbarizado"]. É possível afirmar que isto ocorre com uma marcação particular da negativação da figura de Temür.
Olá!
ResponderExcluirTexto e reflexões bem interessantes.
Sabe-se que Gêngis Khan transformou seu exército em uma verdadeira máquina de guerra: estrutura de alistamento, agrupamentos definidos, comando, controle e comunicação.
Pois bem, Temür utilizou-se do know how do grande Khan para a organização de suas tropas?
Grato pela atenção.
Saudações!
Willian Spengler
Olá, Willian Spengler!
ExcluirPode-se dizer que Temür utilizou sim de estruturas comumente associadas à Genghis Khan. Conforme mencionado no texto, a forma de organização do contingente militar mostra-se como um dessas situações. Porém, em alguns casos, a maneira e/ou os objetivos da utilização do aparato militar são distintos entre Temür e Genghis Khan. Isto pode ser atribuído à necessidade de Temür de reiterar frequentemente seu poderio.
Saudações Lucas e Sofia, gostei do texto e até me surpreendi de encontrar tal assunto sendo abordado em português.
ResponderExcluirMinha pergunta se relaciona com as inovações existentes nas táticas e estratégias empregadas por Temür, muitas vezes a ascensão de sua figura é vista como apenas uma ''copia'' do sucesso militar do Império Mongol e que Temür teria apenas utilizado do mesmo ''modus operandi'' .
Em suas leituras vocês encontraram aspectos militares que seriam considerados inovadores ou que se diferenciavam do exército de Genghis Khan ? Desde já agradeço
Meus cumprimentos, Gabryel Garcia Lima
Olá, Gabryel Garcia Lima!
ExcluirHá aspectos militares que diferenciam-se entre Temür e Genghis Khan que podem ser atribuídos à origem cultural e temporal dos líderes em questão. Por exemplo, Temür possuía o intuito de conquistar algumas das áreas que já haviam sido exploradas por Genghis Khan, por outro lado, as conquistas de Genghis Khan foram as primeiras em algumas regiões. Nesse sentido, a própria primazia de Genghis Khan gera a necessidade de organizações e táticas distintas, quando comparamos os líderes. Tratando-se de aspectos culturais, a própria formação pessoal de Temür levou-o a tornar-se um conquistador, enquanto Genghis Khan pode ser considerado enquanto um "unificador". Com isso, os objetivos dos líderes são distintos, mesmo que para atingi-los, fosse necessário conquistar territórios. Além disso, os desenvolvimentos culturais e científicos, para Temür, eram bastante relevantes e, por conta disso, as práticas após a conquista de localidades direcionou Temür à atitudes como enviar homens (artistas, engenheiros, etc.) para cidades como Samarcanda, de modo que estas pessoas, que haviam sido conquistadas, fossem usadas como mão-de-obra na cidades.
Boa noite e saudações,
ResponderExcluirEmbora o império de Timur possuísse um aparato militar organizado, capaz de grandes conquistas, ele não conseguiu se manter unido depois da morte do seu fundador. Por que isso ocorreu, enquanto o reino de Castela manteve sua unidade territorial ao longo dos séculos, eventualmente se tornando a Espanha atual?
Seria possível fazer uma correlação isso e os métodos de guerra adotados por ambos os lados, nesse caso o uso de longos cercos pelos castelhanos e o uso massivo da cavalaria pelos timúridas, que abriu caminho para conquistas muito mais rápidas e extensas, mas talvez com maior dificuldade de serem consolidadas?
Olá, Vinicius!Excelente pergunta. No caso castelhano-leonês, após o fim da unidade política do califado na Península Ibérica a partir do século XI, Fernando III avança contra os reinos muçulmanos denominados taifas com certa facilidade [MORETTI JUNIOR, 2015]. É possível afirmar que, especialmente, as alianças com reis cristãos e a dinâmica política que o permitiu o monarca reunir a coroa de Castela e Leão garantiram um poder militar ímpar naquele contexto. A partir de então, a política de anexação dos inimigos se tornou possível e se demonstrou segura, como notamos. A questão da consolidação resulta mais da unidade política interna e externa do que da logística militar. O império de Temür, por outro lado, sofreu com conflitos tribais internos que intensificaram o processo de desagregação.
ExcluirBoa noite e saudações,
ResponderExcluirEmbora o império de Timur possuísse um aparato militar organizado, capaz de grandes conquistas, ele não conseguiu se manter unido depois da morte do seu fundador. Por que isso ocorreu, enquanto o reino de Castela manteve sua unidade territorial ao longo dos séculos, eventualmente se tornando a Espanha atual?
Seria possível fazer uma correlação isso e os métodos de guerra adotados por ambos os lados, nesse caso o uso de longos cercos pelos castelhanos e o uso massivo da cavalaria pelos timúridas, que abriu caminho para conquistas muito mais rápidas e extensas, mas talvez com maior dificuldade de serem consolidadas?
Grato,
Vinícius Andrade de Araújo.
Olá, Vinicius!Excelente pergunta. No caso castelhano-leonês, após o fim da unidade política do califado na Península Ibérica a partir do século XI, Fernando III avança contra os reinos muçulmanos denominados taifas com certa facilidade [MORETTI JUNIOR, 2015]. É possível afirmar que, especialmente, as alianças com reis cristãos e a dinâmica política que o permitiu o monarca reunir a coroa de Castela e Leão garantiram um poder militar ímpar naquele contexto. A partir de então, a política de anexação dos inimigos se tornou possível e se demonstrou segura, como notamos. A questão da consolidação resulta mais da unidade política interna e externa do que da logística militar. O império de Temür, por outro lado, sofreu com conflitos tribais internos que intensificaram o processo de desagregação.
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