ANTES DO RECIFE, O PARÁ: A BREVE PASSAGEM DE HEIJI E IKU GEMBA EM UMA CAMBALEANTE ACARÁ E A POSTERIOR PROSPERIDADE DA PIMENTA-DO-REINO Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

 Passada a fase inicial do fenômeno imigratório japonês no Brasil (que se desenvolveu nas regiões Sudeste e Sul deste país), as empresas nipônicas responsáveis pelo recrutamento e transporte de trabalhadores de seu território para os dos seus parceiros econômicos agora voltaram seu foco para a Região Norte, com destaque para o estado do Pará. A que tomou a frente deste processo foi a Nambei Takushoku Kabushiki Kaisha (Em português, Companhia Colonizadora América do Sul [KUREMATSU, 1996, p. 29], ou Companhia de Exploração da América do Sul Ltda  [A EXPLORAÇÃO da Amazônia, 2009, on-line]. Foi criada em 11 de agosto de 1928 e tinha como presidente Hachiro Fukuhara, um de seus fundadores e diretor da KANEBO [DE CASTRO, 1979, p. 41], também conhecida pela sigla NANTAKU), que era subordinada à Kanegafuchi Bosseki Kabushiki Kaisha (Em português, Companhia de Fiação Kanegafuchi, uma produtora japonesa de tecidos [KUREMATSU, 1996, p. 29], ou simplesmente KANEBO).

 

Esta empresa se instalou em tal região com os propósitos de fomentar a organização de colônias em áreas fornecidas pelo governo paraense, criar a Companhia Nipônica de Plantação do Brasil (Fundada em janeiro de 1929 pela NANTAKU para assumir o contrato de doação das terras no estado do Pará, principalmente na região de Acará [A EXPLORAÇÃO da Amazônia, 2009, on-line]) e preparar os 600 mil hectares de terra em Acará (atual Tomé-Açu) para a ida dos imigrantes japoneses, além de 400 mil hectares em Monte Alegre (DE CASTRO, 1979, p. 41).

 

Os trabalhadores nipônicos partiram do porto de Kobe no navio Montevidéu Maru em 24 de julho de 1929. Eram ao todo 43 famílias, que totalizavam 189 pessoas, e foram os primeiros trabalhadores japoneses que se instalaram na região (In: CARNEIRO, M. L. T.; TAKEUCHI, M. Y., orgs., 2010, p. 48). Alguns destes já adentraram o norte do país de maneira independente, oriundos de outros polos de imigração, mas estes imigrantes de Acará eram os primeiros que chegavam para o formato de colônia na região (A EXPLORAÇÃO da Amazônia, 2009, on-line). Chegaram ao porto da cidade do Rio de Janeiro em 7 de setembro do mesmo ano. Este se encontrava decorado para as comemorações relacionadas à Independência do Brasil, mas alguns imigrantes acreditavam que as festividades diziam respeito a sua chegada. De lá, partiram no dia seguinte a bordo de outro navio, o Manila Maru, com destino à cidade de Belém, no estado do Pará, onde atracaram no dia 16 de setembro. No dia 22 do mesmo mês, chegaram ao município de Acará, onde puderam se instalar na colônia em formação, que seria a sua moradia daí em diante (DE CASTRO, 1979, p. 42).

 

Esta colônia em Acará era administrada da mesma forma que as gerenciadas pela Bratac (Brasil Takushoku Kumiai, ou Sociedade Colonizadora do Brasil Ltda.), pois “contava com assistência médica e educacional, além de benfeitorias que possibilitassem o desenvolvimento da produção dos colonos japoneses” (In: CARNEIRO, M. L. T.; TAKEUCHI, M. Y., orgs., 2010, p. 48), porém, o início do trabalho dos imigrantes foi extremamente conturbado principalmente por conta da adaptação ao clima (muito úmido e bastante diferente daquele que os japoneses estavam acostumados) e das doenças da região.

 

Para tentar atender às necessidades deste momento inicial atribulado, foi criada a Cooperativa dos Horticultores de Acará (Também conhecida como Cooperativa de Hortaliças [DE CASTRO, 1979, p. 42]) em 1931 (In: CARNEIRO, M. L. T.; TAKEUCHI, M. Y., orgs., 2010, p. 48). Nela, os trabalhadores poderiam negociar os seus produtos de forma conjunta, o que seria uma forma de garantir a sobrevivência da própria colônia. Como as dificuldades só aumentavam, e também se mostrou necessário comprar os bens de consumo para a subsistência de todos em condições mais favoráveis, a cooperativa passou a ser administrada diretamente pelos colonos e foi rebatizada para Cooperativa Agrícola de Acará em 19 de novembro de 1935 (A EXPLORAÇÃO da Amazônia, 2009, on-line) de acordo com uma recomendação da Companhia Nipônica de Plantação do Brasil.

 

Ao longo deste processo inicial de estabelecimento dos imigrantes japoneses em Acará, chegaram outras levas de trabalhadores nipônicos. Dentre estes, estava Iku Gemba (A grafia de seu nome aparece como “Ikuo Gemba” na dissertação da pesquisadora Reiko Muto [MUTO, 2010, p. 334], porém, na base de dados “Ashiato”, feita com informações de alguns imigrantes japoneses que vieram ao Brasil, é registrada como “Iku Gemba”, assim como na obra de Shiro Kurematsu [ASHIATO – SISTEMA DE BUSCA (Brasil)]), recém-casada com o imigrante Heiji Gemba, um dos japoneses mais conhecidos dentro do fenômeno imigratório nipônico no Recife. De acordo com Shiro Kurematsu, autor do livro “Pré-História da Imigração Japonesa em Pernambuco”, “em 1927, com a volta de seu pai ao Japão, Heiji mudou-se para Belém do Pará, juntando-se ao irmão Matsuichi, com quem aprendeu a fabricação de sorvetes.” (KUREMATSU, 1996, p. 19). De acordo com Kurematsu, Heiji mudou-se de Recife para Belém antes do início da colônia de Acará, mas não cita exatamente onde ele ficou até a chegada da sua futura esposa Iku. Sobre o casamento dos dois, Kurematsu somente cita que:

 

“Enquanto isso, o pai, no Japão, arranjou o casamento de seus filhos no Brasil e tratou do embarque das duas moças, sendo uma, sobrinha dele, para Matsuichi e a outra, chamada Iku, sobrinha da falecida esposa dele, para Heiji. Ambas chegaram a Belém sem novidades.” (KUREMATSU, 1996, p. 19)

 

Outro detalhe que Kurematsu não menciona é se Heiji, seu irmão e as suas respectivas esposas mantêm-se em Belém ou se participam do novo empreendimento colonial japonês em Acará. A base de dados Ashiato (esta base de dados só contém registros dos imigrantes japoneses que vieram diretamente de seu país natal ao Brasil, não disponibilizando informações daqueles que fizeram migrações internas ou vieram de outros países após imigrarem do Japão), por sua vez, só reforça que Iku partiu diretamente do Japão para Belém. Porém, na dissertação da pesquisadora Reiko Muto, podemos encontrar uma clara referência à chegada de Iku Gemba, no navio Montevidéu Maru (o mesmo utilizado na viagem dos primeiros colonos de Acará no percurso Kobe - Rio de Janeiro em 1929), à colônia de Acará no dia 2 de julho de 1932 (MUTO, 2010, p. 334), mesma data de chegada disponibilizada na base Ashiato. Ou seja, podemos entender que Iku Gemba chegou diretamente da cidade de Okayama, no Japão, para a colônia de Acará, no Pará, onde lá estava esperando o seu futuro marido, Heiji Gemba. Sendo assim, Heiji passou alguns anos com a sua esposa, irmão e cunhada neste empreendimento colonial recente do império japonês (Shiro Kurematsu diz, em sua obra, que Heiji e Iku viajaram ao Recife definitivamente em 1931 para criar uma sorveteria [KUREMATSU, 1996, p. 19], a futuramente conhecida “Sorveteria Gemba”. Esta data bate de frente com a encontrada na base de dados Ashiato e na dissertação de Reiko Muto, que cravam a chegada de Iku em Tomé-Açu, na cidade de Acará, em 1932, gerando dúvidas a respeito da veracidade da data informada por Kurematsu).

 

Retomando a discussão a respeito das dificuldades iniciais da colônia de Acará, a cultura do cacau, vista no momento como a principal produção da colônia, não prosperou como o imaginado, afetando as atividades da Companhia Nipônica. Este fracasso levou o presidente Hachiro Fukuhara a pagar parte do prejuízo com recursos próprios e voltar frustrado ao Japão. Somado a este fato, veio a piora do quadro das doenças endêmicas que assolavam a região, através das quais muitas vidas foram perdidas. Com isso, vários colonos abandonaram Acará (DE CASTRO, 1979, p. 44).

 

Como dito, a colônia de Acará tentava sem sucesso o cultivo do cacau. A alternativa encontrada foi dar início à cultura da pimenta de uma variedade nativa da região amazônica, também sem sucesso. Após anos de tentativas, os japoneses trocaram a variedade amazônica pela indiana e finalmente a produção da pimenta começou a ser feita de forma satisfatória. Porém, a Companhia Nipônica, que vinha em baixa desde a época do cultivo do cacau, se viu obrigada a reduzir as suas atividades. Mesmo com o apoio financeiro feito pela NANTAKU neste momento, a situação não se reverteu. Por conta disso, o sistema de colonato foi abolido em 3 de abril de 1935 (DE CASTRO, 1979, p. 45).

 

Essa escalada na crise em Acará continua com a piora, mais uma vez, nas doenças endêmicas, principalmente a malária. A saída de várias famílias da colônia é retomada como única solução possível para aqueles com algum recurso que possibilitasse esta alternativa. Os imigrantes que não possuíam meios para tal ação, fixavam-se definitivamente na colônia, criando as bases para o atual município de Tomé-Açu (DE CASTRO, 1979, p. 44). De acordo com Fernando Moreira de Castro, “o êxodo está patente nos seguintes dados: de 1935 a 1942 abandonaram a Colônia nada menos de 276 famílias, permanecendo ali, em 1942, apenas 98 famílias.” (DE CASTRO, 1979, p. 45).

 

A colônia de Acará passa a ter novos líderes neste momento, que decidem, dentre outras mudanças, transformar a Cooperativa de Hortaliças em Cooperativa Agrícola do Acará para centralizar a venda dos produtos e fornecer gêneros de subsistência aos cooperados. Nesta época, o cultivo da pimenta-do-reino já vinha sendo praticado de maneira experimental. Esta variação foi inserida por Makinosuke Ussui. Este, que partiu de Tóquio para o Brasil a bordo do navio Hawai-Maru, parou em Cingapura para realizar o enterro de outro imigrante japonês que havia falecido na viagem. É nesta ocasião que Ussui adquire vinte mudas da pimenta-do-reino e leva-as à Belém (DE CASTRO, 1979, p. 46). Destas vinte, somente três sobreviveram ao serem cultivadas na fazenda Açaizal, de propriedade do imigrante Kozo Yoshida. Quando esta fazenda foi fechada em 1935, os colonos Tomoji Kato e Enji Sato levaram estas mudas para a sua fazenda, mesmo sendo praticamente os únicos interessados nelas (DE CASTRO, 1979, p. 46).

 

As dificuldades financeiras na colônia de Acará se estenderam até o ano de 1943, quando, no dia 28 de janeiro, houve “o rompimento das relações diplomáticas nipo-brasileiras, passando os colonos japoneses do Acará a serem tratados como súditos de país inimigo.” (DE CASTRO, 1979, p. 47) devido ao acirramento da Segunda Guerra Mundial e a configuração do Brasil como adversário do Japão. A partir daí, a colônia de Acará passou a ser um “local de refúgio para os imigrantes nipônicos no norte” e a administração passou às mãos da CETA (Colônia Estadual de Tomé-Açu). Com isso, as atividades da Cooperativa foram reduzidas devido a obrigação dos colonos se dirigirem à CETA para a entrega de seus produtos, pelo fato deste órgão representar o Governo do Estado do Pará (DE CASTRO, 1979, p. 47) e servir como órgão de controle e vigilância.

 

Com o final da Segunda Guerra em 1945, havia a necessidade, por parte dos colonos de Acará, que a situação fosse normalizada. Para tanto, solicitaram o reestabelecimento das atividades da Cooperativa. Enquanto a autorização por parte do Governo do Estado não vinha, os colonos se organizaram através da União dos Lavradores, criada por aproximadamente 20 colonos (DE CASTRO, 1979, p. 47). Esta organização durou até 1949 e exerceu as funções realizadas pela Cooperativa no período antes do conflito mundial. Ao perceber a necessidade cada vez maior de normalizar a situação, finalmente o Governo do Estado autorizou a reorganização da Cooperativa (DE CASTRO, 1979, p. 48).

 

É principalmente a partir deste momento que esta situação de adversidades começa a ser revertida (In: CARNEIRO, M. L. T.; TAKEUCHI, M. Y., orgs., 2010, p. 48). A pimenta-do-reino já estava sendo produzida em pequena quantidade, porém, com a reestruturação da Cooperativa, há um aumento na cultura deste gênero, que gerou um “surto desenvolvimentista que culminou com a organização legal da sociedade em 30 de setembro de 1949, que passou a denominar-se Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu” (DE CASTRO, 1979, p. 48).

 

A cultura da pimenta do reino teve um salto na sua valorização no mercado interno em 1953 devido à chegada da primeira leva de imigrantes no período pós-Segunda Guerra, formada por 23 famílias que viajaram a bordo do navio América-Maru, restaurando o povoado de Tomé-Açu (DE CASTRO, 1979, p. 48). Este cresce de tal forma que, em setembro de 1959, foi elevado “a categoria de Município, o 60º Município do Estado do Pará, desligando-se do Município do Acará” (DE CASTRO, 1979, p. 62). Com a consolidação da colônia em Tomé-Açu, o fenômeno imigratório japonês no Brasil dá sinais de ampla transformação neste cenário no pós-Segunda Guerra.

 

Referências

Ronaldo Sobreira de Lima Júnior é professor efetivo de História e História da Cultura na Rede Municipal de Ensino da Vitória de Santo Antão-PE, graduado em Licenciatura e em Bacharelado em História (UFPE), especialista em História do Nordeste do Brasil (UNICAP) e mestrando em História Social da Cultura Regional (UFRPE), além de membro da Rede de Pesquisadores Visões da Ásia.

 

A EXPLORAÇÃO da Amazônia. 100 anos de imigração japonesa no Brasil. National Diet Library, Japão, capítulo 4 – A emigração vista como solução para as questões internas, parte 2, 2009. Disponível em: https://www.ndl.go.jp/brasil/pt/s4/s4_2.html. Acesso em: 26 mai. 2021.

 

ASHIATO – SISTEMA DE BUSCA (Brasil). Imigração Japonesa no Brasil. Disponível em: http://imigrantes.ubik.com.br/. Acesso em: 27 mai. 2021.

 

CARNEIRO, M. L. T. & TAKEUCHI, M. Y. (orgs.). Imigrantes Japoneses no Brasil: Trajetória, Imaginário e Memória. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010.

 

DE CASTRO, F. M. 50 Anos da Imigração Japonesa na Amazônia. Belém: Falangola Offset, 1979.

 

KUREMATSU, S. Pré-História da Imigração Japonesa em Pernambuco. 2. ed. Recife: Associação Cultural Brasil Japão, 1996.

 

MUTO, R. O Japão na Amazônia: condicionantes para a fixação e mobilidade dos imigrantes japoneses (1929-2009). 2010. Dissertação (Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento) – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém, 2010.

9 comentários:

  1. Suéllen Sulamita Gentil de Oliveira3 de outubro de 2022 às 18:53

    Olá, Ronaldo! Tudo bem?

    Inicialmente, parabéns pelo excelente trabalho! Muito interessante entender como a região foi se estabelecendo em torno de práticas agrícolas e como essas foram evoluindo até chegar na pimenta-do-reino, levando Tomé-Açu a ser conhecido, até os dias de hoje, como A Terra da Pimenta.

    Uma curiosidade que seu texto me despertou foi a respeito de quem dirigia empresas como Bratac. que eram responsáveis pelo desenvolvimento dos colonos da região. Pergunto porque, em seu texto, você menciona que era fornecido assistência médica, mas ainda assim, doenças endêmicas foram uma das principais adversidades que essas pessoas tiveram que lidar por muito tempo, levando a mortes e uma forte baixa de trabalhadores nas colônias. Então, fico pensando quais eram os reais esforços dessas empresas para solucionar essas questões e o quanto isso pode ter relação ou não com quem(s) estava na direção. Será que você poderia falar um pouco mais sobre isso?

    No mais, parabéns novamente pela pesquisa!

    Suéllen Sulamita Gentil de Oliveira

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    1. Olá, Suéllen!
      Muito obrigado por prestigiar o meu trabalho!

      Sua dúvida é muito pertinente. Neste momento inicial do fenômeno imigratório japonês no Brasil, era muito comum vermos os trabalhadores nipônicos morrerem por falta de acompanhamento médico adequado nas várias regiões do país. Isto aconteceu nas fazendas do interior do estado de São Paulo, do Paraná, e não foi diferente na Região Norte. O que diferenciou estes momentos foram as questões que motivaram essas tragédias.
      A entrada de japoneses na Região Norte acontece depois da chegada dos primeiros imigrantes no ano de 1908 em São Paulo e os seus deslocamentos para regiões mais próximas. Nesta época, houve negligência das autoridades japonesas de imigração e, principalmente, dos fazendeiros paulistas. Após muita pressão da imprensa japonesa, o governo passou a dar mais atenção aos seus conterrâneos que vinha ao nosso país e a cobrar dos latifundiários brasileiros, além de buscar outros tipos de iniciativa.
      Porém, quando os japoneses vão pra Região Norte, mesmo contando com um acompanhamento médico para questões elementares após este período de considerável descaso, as doenças tropicais (como a malária) causaram grande estrago para estes trabalhadores que desconheciam a gravidade e a variedade das doenças encontradas no Brasil (principalmente em regiões de florestas densas como as da Amazônia brasileira).
      Então, neste momento específico da imigração japonesa, vejo muito mais como um despreparo das autoridades nipônicas do que negligência propriamente dita.

      Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

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  2. Marcos José Soares de Sousa4 de outubro de 2022 às 21:24

    Parabéns pelo texto Prof. Ronaldo, ele descreve com clareza as agruras dos imigrantes japoneses em uma região que nem sempre é lembrada para o público em geral que é o norte do País.
    Minha indagação é sobre como o governo brasileiro acolhia esses imigrantes japoneses e qual era o lucro para as empresas japonesas responsáveis pelo transporte dos imigrantes ????
    Marcos José Soares de Sousa

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  3. Saudações professor Ronaldo
    Muito interessante a leitura deste texto que nos traz uma visão diferenciada da imigração japonesa que muitas vezes é ensinada nas escolas como um movimento concentrado apenas em São Paulo, conhecer os esforços dos imigrantes japoneses em outras regiões como a do Norte do Brasil foi incrível.
    Uma pergunta que me veio à cabeça ao longo da leitura do texto é sobre a malária que atingia muitas pessoas na época, entretanto o tratamento para malária já existia quando os primeiros japoneses foram morar na região.
    Baseado no que você pesquisou, as mortes por malária naquele contexto estão mais ligadas a negligencia das autoridades do governo ou a falta de recursos materiais ?

    Atenciosamente. Gabryel Garcia Lima

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    1. Olá, Gabryel!
      Fico muito feliz que tenha prestigiado o meu trabalho!

      Sua pergunta remete bastante ao que respondi à Suéllen, quando mencionei as causas destas mortes dos imigrantes japoneses por doenças tropicais, a exemplo da malária.
      As autoridades japonesas, neste momento da imigração nipônica no Brasil, já buscavam oferecer serviços básicos a esses trabalhadores, como acompanhamento médico. Porém, ele tratava de questões muito elementares.
      A dificuldade de acesso ao tratamento destas doenças tropicais aconteceu não somente por conta dos recursos limitados, mas principalmente pela falta de conhecimento destas autoridades a respeito dos problemas a serem encontrados nas colônias.
      Mortes causadas por malária e doenças tropicais em geral aconteceram em vários momentos da imigração japonesa no Brasil, mas nestas comunidades formadas em regiões de florestas densas (como na colônia de Acará), o problema chegou a um nível de quase obliterar os esforços empenhados no estabelecimento destes trabalhadores.

      Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

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  4. Ronaldo, primeiramente parabéns pelo texto esclarecedor sobre um assunto tão complexo.

    Uma pergunta que veio à mente enquanto lia o texto é sobre a base de dados Ashiato. Você menciona no texto que é uma base que só contém registros dos imigrantes japoneses que vieram diretamente de seu país natal ao Brasil, ou seja, numa conexão direta entre Japão e Brasil.

    No entanto, essa base não oferece os dados daqueles que imigraram internamente ou de outros países. O Ashiato não tem essa informação, mas tem algum outro banco de dados que pode fazer esse mapeamento? Caso não exista outro banco de dados, do teu ponto de vista, essa espécie de lacuna no rastreamento de dados impede uma ampliação nos estudos imigratórios dos japoneses no Brasil, ou até mesmo um apagamento identitário desses imigrantes não registrados?

    Abraço e novamente parabéns pelo texto!

    Maria Gabriela Wanderley Pedrosa

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    1. Olá, Maria Gabriela!

      Muito obrigado por prestigiar o meu trabalho!
      De fato, não há outro sistema de busca que possa trazer à tona estas informações que você citou e que são mencionadas no trabalho. Além do Ashiato, há um acervo digital do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, que contém listas de bordo e alguns outros documentos dos imigrantes que vieram diretamente do Japão.
      Esta realidade dificulta os estudos imigratórios japoneses no Brasil, pois as informações destes deslocamentos alternativos só poderiam ser encontradas em fontes mais escassas e de difícil acesso, como os poucos acervos familiares existentes, ou de forma mais ampla e genérica, como em matérias de jornais.
      Quando temos dados específicos do imigrante, podemos analisar melhor os elementos que o levaram a fazer parte do fenômeno de uma forma micro e pensar de forma mais clara o recorte macro.
      Diferentemente do que vemos no processo de escravização de africanos e o seu consequente tráfico para o Brasil e demais nações americanas, esta falta de informações não diz respeito a uma tentativa de apagamento de dados de uma etnia por questões racistas ou econômicas (como quando os dados dos escravizados eram destruídos com finalidades de sonegação de impostos por parte dos traficantes).
      Eu penso que no caso da imigração japonesa, apesar dos pensamentos eugenistas muito fortes no início deste processo, estas limitações nos estudos sobre ela retratam mais que temos muito a ampliar no nosso olhar sobre o fenômeno (produzindo mais bancos de dados e reunindo mais fontes) do que uma manifestação sistematizada de apagamento e silenciamento.

      Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

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  5. Valéria Cristina da Silva6 de outubro de 2022 às 23:47

    Parabéns pelo excelente texto. O mesmo descreve com clareza a migração japonesa na região Norte, assim como suas dificuldades na área agrícola, e por fim a insistência em desenvolver uma cultura que até os dias atuais é bastante utilizada, como a pimenta do reino.
    Sem deixar de mencionar a trajetória da colônia para município, devido a organização da cooperativa, juntamente com as pessoas que participavam do projeto.
    Obrigada por ter exposto sua pesquisa, foi de grande valia para historiadores e pesquisadores.
    Parabéns!!

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    1. Olá, Valéria!

      Muito obrigado por suas palavras e por ter prestigiado o meu trabalho.
      Este artigo consiste em um fragmento da minha dissertação, na qual trabalho com mais profundidade a imigração japonesa no Recife, utilizando como estudo de caso o imigrante Heiji Gemba, citado no presente texto.
      Além destes motivos citados por mim e os mencionados por você, abordar a imigração japonesa na Região Norte do país é fundamental pois trata-se de uma das maiores comunidades de imigrantes desta nacionalidade no Brasil. Falar do fenômeno imigratório nipônico no Pará é falar de um dos recortes mais significativos neste processo.
      Não se pode discutir a imigração japonesa no Brasil sem tratar do seu recorte amazônico, ainda mais no meu caso que trabalho este fenômeno no Nordeste, que possui suas relações com o que aconteceu na região vizinha.

      Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

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